Podemos definir a filosofia como a ciência das
causas primeiras, para resolver o problema da vida.
A filosofia é ciência, conhecimento das coisas
pelas causas, pelas razões: a saber, como ciência, nos diz que a
coisa conhecida não só é assim, como nos aparece, mas tem de ser
necessariamente assim. E distingue-se do saber vulgar, da opinião,
que nos diz que as coisas conhecidas estão de uma determinada
maneira, mas não dá a razão pela qual estão necessariamente assim.
Daí o saber vulgar, a opinião, não ser estável e segura, mesmo
quando verdadeira. A filosofia, portanto, ainda que coincida,
materialmente, com o assim chamado bom senso, senso comum – que
pertence à opinião – dele formal e essencialmente se diferencia pela
sua certeza absoluta.
A filosofia é ciência pelas causas primeiras,
porque é metafísica, quer dizer, transcende a experiência e não para
até esgotar o interrogativo causal e resolver plenamente o enigma
do universo. É ela, portanto, a ciência da essência profunda das
coisas e não dos fenômenos, do todo e não das partes: precisamente
porque as causas primeiras explicam o todo. Destarte se distingue de
todo saber científico, que não atinge as causas primeiras, mas se
restringe às causas segundas, isto é, se distingue de toda ciência
natural particular.
A filosofia é a ciência pelas causas primeiras,
para resolver o problema da vida. Isto quer dizer que a solução
do problema da vida é a finalidade última da filosofia, mas tal
solução é unicamente possível através de uma metafísica. A filosofia
é sumamente humana, prática; mas, ao mesmo tempo, sumamente
especulativa, teorética. O problema da vida não tem solução a não
ser através de um sistema da realidade.
A filosofia, se representa a unificação máxima do
saber e da realidade, divide-se, ao mesmo tempo, em algumas partes
fundamentais. Antes de construir uma metafísica, é mister
demonstrar a capacidade da razão humana para tamanho empreendimento
(gnosiologia); e da metafísica decorre, necessariamente, uma
moral indicando ao homem a sua ação, o seu dever, conforme à
realidade, à razão.
Como é preconceito comum que a filosofia seja um
saber abstrato, afastado da realidade e da vida, é também opinião
vulgar que a metafísica seja fruto de uma espécie de intuição
mística, uma construção pelas idéias inatas, uma dedução lógica
dessas, um roupão transcendente que se impõe à realidade. Na
verdade, porém, como é insubsistente o primeiro preconceito, é falsa
também a segunda opinião, pois a metafísica constrói-se começando
pela experiência, do mesmo modo que a filosofia é a mais profunda
penetração da experiência. Ela – em seu fundamento, em seu ponto de
partida –, é indutiva como as demais ciências e como todo saber
humano em geral, ainda mesmo de modo diverso e com diferente ponto
de chegada. E, por certo, é dedutiva em seu desenvolvimento; mas são
também dedutivas todas as ciências em sua sistematização.
A filosofia é, portanto, uma construção – a mais alta
e sólida construção - da razão humana, que parte do terreno firme da
experiência para justificá-la. Em abstrato e substancialmente,
poderia a filosofia ser realizada pela (sã e eficiente) razão humana
do indivíduo, posta em frente ao enigma do mundo; entretanto, em
concreto e plenamente, o sistema da filosofia é realizado aos
poucos, através do gradual progresso da humanidade, mediante a
história da filosofia – como acontece a respeito de todos os
valores humanos.
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Texto Produzido Por Rosana Madjarof - 11/06/2011 - Respeite os Direitos Autorais