SOCIEDADE
BÍBLICA TRINITARIANA DO BRASIL – QUE EDITA A BÍBLIA NA VERSÃO “CORRIGIDA E
FIEL”, CONSIDERADA A MELHOR NA LÍNGUA PORTUGUESA – ESCLARECE ALGUNS PONTOS QUE
TODO ESTUDANTE DE BÍBLIA DEVE SABER SOBRE O TEXTO GREGO DO NOVO TESTAMENTO
Nos últimos anos tem havido muita
confusão a respeito das modernas traduções e edições do Novo Testamento em
grego. Algumas pessoas fazem reivindicações sobre o Novo Testamento em grego,
sem terem informações suficientes que as apoiem. Muitos têm a pretensão de que
suas traduções são exatas porque tais versões se baseiam nos melhores textos
gregos disponíveis. Alguns supõem que suas traduções são melhores que a Versão
Autorizada porque esta e seu subjacente Textus Receptus grego
acrescentam variantes e leituras extras ao texto. Outros, entretanto,
reivindicam que o texto grego do Novo Testamento não é importante porque sua
tradução favorita é melhor que qualquer texto grego. Há, ainda, outros que
afirmam que o texto grego não é importante porque a maioria das pessoas não
pode ler o grego da época do Novo Testamento. Entretanto, o texto grego sobre o
qual uma tradução se baseia terá um impacto tanto sobre a leitura devocional
das Escrituras pelo cristão como sobre a proclamação da Palavra de Deus no
testemunho da graça salvadora de Jesus Cristo. É necessário que o cristão da
atualidade entenda a importância do texto grego tradicional na vida cristã.
Antes de
tudo, é necessário entender que se quer dizer com o termo “texto tradicional”.
Durante o primeiro século após a ressurreição de Cristo, Deus moveu homens que
escrevessem Sua Palavra (2 Pedro 1.21). O resultado foi um
conjunto de cartas e livros, escritos em grego koine (chamados de
“autógrafos originais”). Essas cartas e esses livros foram copiados e
recopiados através dos séculos e distribuídos por todo o mundo. Essas cópias
consistem os manuscritos do Novo Testamento. Mais
de 5.000 desses manuscritos gregos sobreviveram até os dias atuais.
O grande número desses manuscritos apóia a chamada tradição textual bizantina
(bizantina porque veio do mundo falante do grego da época). Esses manuscritos bizantinos formaram o que chamamos de
texto tradicional do Novo Testamento. A representação mais bem
impressa desse texto-tipo bizantino é o Textus Receptus (ou Texto
Recebido). Em acréscimo aos manuscritos, também temos à disposição
muitas obras nas quais numerosos Pais da Igreja fizeram citações dos
manuscritos. A obra de John Burgon estabeleceu que o texto básico
usado por muitos Pais da Igreja é o mesmo texto que hoje conhecemos como texto
bizantino.
O Textus Receptus foi compilado a partir de uma quantidade de
manuscritos bizantinos por vários editores do início do século XVI. Houve edições de editores tais
como Erasmo, Stephens, Beza, dos Elzevires, Mill e Scrivener.
Essas edições diferem sutilmente umas das outras, mas ainda assim referem-se ao
mesmo texto básico. Alguns editores foram populares em diferentes países e
geraram as bases para as traduções do Novo Testamento. O Textus Receptus (como
mais tarde ficou conhecido) foi o texto usado por Tyndale e por
outros tradutores da Versão Autorizada inglesa (King James), de
1611 e outras traduções reformadas. [
Durante os séculos XIX e XX, entretanto, uma outra forma do Novo
Testamento grego surgiu e foi usada pelas traduções mais modernas do Novo
Testamento. Esse Texto
Crítico, como é chamado, difere largamente do texto tradicional, pois
omite muitas palavras, versículos e passagens que são encontrados no Texto
Recebido e nas tradições que se baseiam nele.
As
versões modernas baseiam-se, principalmente, sobre um Novo Testamento grego que
é derivado de um pequeno punhado de manuscritos gregos do quarto século em
diante. Dois desses manuscritos, que muitos dos eruditos modernos dizem ser
superiores ao bizantino, são o manuscrito do Sinai e o manuscrito
do Vaticano (c. século IV). Estes, por sua vez, originam-se de um tipo
de texto conhecido como texto alexandrino (por causa de sua
origem egípcia), referido pelos críticos textuais Westcott e Hort
como “texto neutro”. Esses dois manuscritos
formam a base do Novo Testamento grego, conhecido como Texto Crítico, cujo uso
tem sido muito difundido desde o final do século XIX. Nos
últimos anos tem havido uma tentativa de se aperfeiçoar esse texto, chamando-o
de texto “eclético” (querendo dizer que muitos outros manuscritos foram
consultados em suas edições e evolução), mas ainda é o texto que tem sua base
central naqueles dois manuscritos.
Há muitos
problemas de omissão que caracterizam esse Novo Testamento grego. Versículos e passagens, que são encontrados nos escritos
dos Pais da Igreja dos anos 200 e 300 a.D., estão faltando nos manuscritos do
texto alexandrino (que data de cerca de 300 a 400 a.D.). Além
disso, essas traduções antigas são encontradas em manuscritos que datam de 500
a.D. em diante. Um exemplo disso é Marcos 16.9-20: essa passagem
é encontrada nos escritos de Irineu e de Hipólito,
no segundo século, e em quase todos os manuscritos do Evangelho de Marcos de
500 a.D. em diante. Essa passagem está omitida nos manuscritos alexandrinos, o
do Sinai e o do Vaticano.
Este é
somente um dos muitos exemplos desse problema. Há muitas palavras, muitos
versículos e muitas passagens omitidos nas versões modernas que são encontrados
no texto tradicional ou bizantino do Novo Testamento e, portanto, no Textus
Receptus. O Texto Crítico diverge do Textus
Receptus 5.337 vezes, de acordo com alguns cálculos. O
manuscrito do Vaticano omite 2.877 palavras nos Evangelhos; o manuscrito do
Sinai, 3.455 palavras nesses mesmos livros. Esses problemas entre o Textus
Receptus e o Texto Crítico são muito importantes para as corretas tradução e
interpretação do Novo Testamento. Contrariamente à argumentação dos que apoiam
o Texto Crítico, essas omissões afetam a vida cristã quanto à doutrina e à fé.
Westcort e Hort, os descobridores do texto que
viria a ser chamado de “Texto Crítico”.
Seguem-se
muitos exemplos de problemas doutrinários causados pelas omissões do Texto
Crítico. Esta não é, de modo algum, uma lista exaustiva. O moderno Texto
Crítico reconstruído:
- Omite referência ao nascimento virginal, em Lucas 2.33;
- Omite referência à deidade de Cristo, em 1 Timóteo 3.16;
- Omite referência à deidade de Cristo, em Romanos 14.10 e 12;
- Omite referência ao sangue de Cristo, em Colossenses 1.14
Adicionalmente,
cria-se um erro bíblico em Marcos 1.2: nesta passagem, no Texto Crítico, Isaías
torna-se autor do livro de Malaquias. Em numerosas
referências no Novo Testamento o nome de Jesus é omitido, no Texto Crítico:
“Jesus” é omitido setenta vezes e “Cristo”, vinte e nove vezes.1
Outra problema com o Texto Crítico moderno é que os dois manuscritos
mais importantes sobre os quais o texto é construído, o do Sinai e o do
Vaticano, discordam entre si mais de 3.000 vezes, somente nos Evangelhos. Assim, o texto alexandrino
apresenta-se como um texto-tipo que se caracteriza, em muitos lugares, por
leituras que não são comuns aos manuscritos de sua própria tradição. O Texto
Crítico é caracterizado por um fraseado que, na língua original, é difícil,
confuso ou mesmo impossível. Parece que não importa quão singular ou anômala
seja a leitura variante, deve estar nos autógrafos originais porque (como
algumas se defende) um escriba jamais faria uma mudança que estivesse em
desacordo com os outros manuscritos; ao invés disso, ele faria uma alteração
que daria à passagem uma leitura mais fácil.
Muito foi
dito sobre o fato de os manuscritos alexandrinos serem muito antigos. Isso é
verdade, mas a ênfase no estudo da crítica textual não deveria recair sobre
quão antigo é o manuscrito, mas sim, sobre quantas cópias foram feitas a partir
dele. Um manuscrito datado como sido copiado durante o século X poderia ser o
quinto numa linhagem de cópias feitas a partir do autógrafo original, enquanto
um manuscrito datado como tendo sido copiado durante o terceiro século, poderia
ter sido o centésimo numa outra linhagem de cópias. Uma vez que é difícil contar a genealogia, a família de
qualquer dado manuscrito, é importante observar que a idade é relativa no
sentido de que se pode ter um manuscrito originário do terceiro século,
corrompido; ou um outro, do século dez, confiável.
Eis aqui
uma boa ilustração: suponha que, no ano 3000, uma cópia da Bíblia em português
é achada, datada da década de 1970. Admite-se que tal Bíblia é a mais antiga
existente à disposição, e que tal Bíblia difere em centenas de lugares da
Bíblia então em uso pelos cristãos do ano 3000. Pode-se imaginar os críticos
científicos, com sua metodologia, enaltecendo as virtudes da idade avançada de
tal Bíblia, a diagramação de qualidade, o cuidado no layout e no papel desse
volume em particular, a encadenação e assim por diante. Porém, seus argumentos
cairão por terra quando, depois de começar a traduzir a Bíblia para as línguas
modernas, com base nos livros antigos, os cristãos descobrirem que essa versão
das Escrituras era a tradução Novo Mundo dos Testemunhas de Jeová (cuja
tradução difere muito do texto tradicional, ex.: João 1:1). [
O Texto
Tradicional do Novo Testamento é visto pelos cristãos conservadores que crêem
na Bíblia como tendo sido providencialmente preservado por Deus. Deus prometeu
em Sua Palavra que Ele não só preservá-la-ia para as gerações vindouras mas,
também, que Sua Palavra seria eterna e completamente livre de corrupção.
- Mateus 5.18 afirma: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido”.
- Isaías 59.21 diz: “Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o SENHOR, desde agora e para todo o sempre”.
- João 10.35 nos fala: “a Escritura não pode ser anulada”.
Esses
versículos demonstram que Deus não deixou Sua Igreja, por séculos, sem uma
cópia autorizada de Sua Palavra, mas que o povo de Deus através dos séculos
copiou e recopiou fielmente manuscritos a partir dos autógrafos originais. A
Igreja por todo o mundo tem usado o Texto Tradicional em todas as suas variadas
formas, e Deus tem considerado apropriado multiplicar uma infinidade de cópias
e, assim, levar a salvação a muitas gerações, através de Seu processo de
preservação. Esta doutrina da preservação providencial é declarada sucintamente
na Confissão de fé de Westminster, capítulo 1, parágrafo VIII:
“O Velho
Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo
Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no
tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo
seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são
por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve
apelar para eles…”
Esta
preciosa doutrina da preservação providencial tem sido totalmente esquecida
pelos estudiosos de texto modernos. Muitos deles tratam a Palavra de Deus como
um outro livro qualquer, que pode ser submetido aos caprichos e às normas de
alteração dos métodos científicos modernos. Muitas
das formas destrutivas da alta crítica do século XIX advêm de uma falha na
crença de que a Bíblia é um livro sobrenatural. A Bíblia tem as
marcas de inspiração que podem ser claramente vistas pelos olhos dos que crêem,
mas que, também, podem ser esmagadas sob os pés dos homens que marcham
apressadamente para a destruição. Porém, apesar disso tudo, Deus tem levantado
Seu povo, que ama e cuida de Sua Palavra e reconhece as marcas de inspiração
que os primeiros crentes reconheceram, e que essas cópias, manuseadas através
dos anos representam bem o que Deus queria que fosse conhecido. Isso não
significa que qualquer edição impressa do Novo Testamento em grego, em
particular, seja perfeita, mas, sim, que o Novo Testamento que temos hoje é
essencialmente o mesmo que os que já passaram, através dos anos, através dos
vários grupos de crentes que amaram e guardaram a Sua Palavra.
A força
dessa preservação no Antigo Testamento é vista na qualidade do escriba que
copiou o Antigo Testamento hebraico. No Novo Testamento, isso é percebido na
abundância de manuscritos que possuímos hoje em dia. Este tem sido o método de
Deus para manter Sua Palavra pura. Essa preservação estabelece que nenhum texto
local, como o de Alexandria, Egito, poderia se tornar o texto dominante. O
liberalismo e a descrença desafiaram esse processo de preservação. Nunca ficou
provado que esses poucos manuscritos alexandrinos tenham jamais existido fora
de Alexandria, no Egito. Muitos dos filhos de Deus, ao redor do mundo,
rejeitaram o Texto Crítico em todas as suas formas. A aplicação prática da
preservação providencial é que o crente contemporâneo deve escolher um texto
moderno reconstruído, baseado essencialmente sobre dois manuscritos do século
IV, que omite a deidade de Cristo em muitos lugares e que, estima-se, deixa de
lado aproximadamente 200 versículos (o equivalente a 1 e 2 Pedro); ou escolher
um texto que Deus tem usado através dos séculos. Vamos usar o texto que Deus
abençoou e que melhor honra e glorifica o Senhor Jesus, ou não?
As edições impressas do Novo Testamento grego que foram publicadas entre
1500 e 1600 foram produzidas por homens que entendiam o que significava a
glória de Deus e a importância de se ter cópias exatas da Bíblia. Da obra conhecida como Poliglota
Complutensiana até as várias edições de Erasmo, as quatro edições de Robert
Stephens (dentre as quais, a mais conhecida é a de 1550, que é a base
do que chamamos de Berry Interlinear ou The Englishman’s
Greek New Testament), a obra do grande crítico Teodoro de Beza
(em suas cinco edições), as edições dos Elzevires (em 1624 e em
1633) e, por último, o trabalho de F. H. A. Scrivener (nas
décadas de 1870 e 1880), temos conhecimento da crítica textual e a mais fiel e
cuidadosa atitude com relação aos manuscritos que se pode imaginar. O Texto
Tradicional do Novo Testamento foi o texto do período da Reforma, tanto que,
seja no trabalho de Erasmo ou no de Stephen, na própria tradução de Lutero
ou naquela dos herdeiros da Reforma, tais como os clérigos de Westminster e os
tradutores da Versão Autorizada em inglês, este texto tem sido largamente usado
e tremendamente abençoado por Deus.
O crítico
textual J. Harold Greenlee diz:
“A crítica textual do Novo Testamento é, portanto, o estudo bíblico básico, um
pré-requisito para todo o outro trabalho bíblico e teológico”. 2
Isso não é dar importância exagerada a este assunto. Como crentes, temos a
responsabilidade em nossos dias e era de proclamar o Evangelho, o Evangelho
puro, o Evangelho não diluído. Também temos o direito e o privilégio de sermos
os próximos na linha sucessória da proteção e da proclamação da Palavra de
Deus. Cada cristão, individualmente, decidirá a respeito desse assunto, sobre
qual texto é o correto. Evidentemente, esta decisão será feita, consciente ou
inconscientemente, por todo crente, individualmente. Esta decisão é tomada
quando o crente decide qual edição da Bíblia usará para ler e estudar; e, caso
escolha uma tradução baseada em manuscritos corruptos, que refletem pontos de
vista que omitem a deidade de Cristo, a expiação por Seu sangue, Seu nascimento
virginal, então a decisão é de estender esse erro à próxima geração. Se,
entretanto, o cristão de hoje escolhe uma tradução da Palavra de Deus que é
feita a partir do texto tradicional do Novo Testamento, a decisão é no sentido
de ver Deus trabalhando através de Sua providência para o fornecimento de Sua
Palavra em sua forma completa, não só para esta geração, mas também para as que
virão.
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Fonte: SBTP