Os
termos versão e tradução têm sido empregados indiferentemente para o ato de
transladar de uma língua para outra, porém, versão usa-se com mais frequência a
respeito das antigas traduções da Bíblia.
De
acordo com Fuentes Bíblicas página 72, trabalho preparado pelos alunos do
Colégio Adventista del Plata, as versões das Escrituras podem ser classificadas
da seguinte maneira:
a) Parciais
ou completas – segundo constem de uma parte da Bíblia ou de toda ela;
b) Críticas ou populares – se foram preparadas para um estudo crítico ou
se visam a leitura do povo;
c) Oficiais ou particulares – se preparadas por uma nação, Igreja ou por
uma pessoa isoladamente;
d) Autorizadas e não autorizadas – se têm ou não a sanção de algum corpo
eclesiástico;
e) Antigas e modernas – dependendo do tempo em que o trabalho foi feito.
NECESSIDADE
DAS TRADUÇÕES
A
Bíblia não foi logo traduzida, porque o grego era a língua de todo o mundo
civilizado, mas quando o cristianismo chegou às partes menos helenizadas do
Império Romano e a influência da cultura grega declinava, traduções de fizeram
necessárias, para que os crentes lessem a Bíblia no seu próprio idioma.
Traduções apareceram quando as línguas originais da Bíblia se tornaram difíceis
para nações que entraram em contato com o judaísmo e o cristianismo.
VERSÕES
ANTIGAS
1)
VERSÕES SEMÍTICAS
Entre
estas versões devem ser colocadas em primeiro lugar os Targuns, embora nem
sempre sejam versões, mas simples paráfrases em aramaico do texto bíblico.
QUE
SÃO TARGUNS
Os
judeus ao regressarem do cativeiro babilônico estavam muito esquecidos do
hebraico e para que o entendessem, era necessário explicar-lhes em aramaico a
significação do texto, como se deduz de Neemias 8:8. Esta explicação ou tradução
interpretativa de alguma parte do Antigo Testamento recebia o nome de Targum –
interpretação. O vocábulo é hebraico, mas não se encontra no Velho Testamento.
Nas
sinagogas nasceu a prática de acompanhar a leitura da lei com uma tradução
aramaica do trecho lido; este método foi usado, especialmente para o
Pentateuco, considerada a parte mais importante das Escrituras pelos judeus. No
início, este trabalho era feito oralmente, mas com o passar dos anos começou a
ser feito por escrito, surgindo assim uma série de Targuns, dos quais alguns
chegaram até nós.
Dentre
estes os dois mais importantes são:
a) O
Targun de Onquelos, conservador e muito aproximado do original.
b) O Targun de Jerusalém, muito interpretativo, não passando o original de
um veículo de histórias populares de personagens e acontecimentos bíblicos.
Estes
targuns nos ajudam na compreensão do texto bíblico, informando-nos ainda das
várias interpretações que os judeus davam aos livros do Velho Testamento.
2)
PENTATEUCO SAMARITANO
Origem
dos Samaritanos
Em
722 a.C. os assírios conquistaram Samaria, levando para o cativeiro 27.290
israelitas. Para repovoar a região vieram outros povos, como nos declara II
Reis 17:24. De acordo com Esdras 4:2, 9 e 10 posteriormente chegaram outras
pessoas com esta mesma finalidade. A mistura destes povos com os israelitas
resultou nos samaritanos. Ver Profetas e Reis, pág. 567.
Por
questões de discórdia com os judeus os samaritanos fundaram um sacerdócio rival
no Monte Gerizim, perto de Siquém, hoje Nablus. Nesta ocasião o Pentateuco foi
levado a Samaria por Manassés. Pelo fato de possuírem apenas o Pentateuco
(Torá), alguns teólogos liberais querem deduzir que somente os cinco livros de
Moisés estavam canonizados em 432 a.C.
O
sacerdote rebelde não levou para os samaritanos livros dos profetas porque
estes aprovavam o templo em Jerusalém como o verdadeiro centro de adoração de
Jeová.
A
pena inspirada de Ellen G. White, D.T.N. página 193 adiciona razões para a
rejeição de outros livros.
“O
fato de haverem os judeus interpretado mal os últimos profetas, atribuindo ao
primeiro advento a glória da segunda vinda de Cristo, levara os samaritanos a
desprezar todos os sagrados escritos, com exceção dos que foram dados por meio
de Moisés.”
Ira
Price, no livro The Ancestry of our English Bible, páginas 43 e 44, dá-nos a
seguinte informação sobre este Pentateuco:
“É
um texto hebraico, que se tem mantido muito independente da tradição judaica
desde o IV século a.C., mas escrito com letras similares aos caracteres
hebraicos. Portanto ele provém de tempos mais afastados de nós do que qualquer
outro texto bíblico, com exceção do texto hebraico em si.”
Hoje
os samaritanos estão muito reduzidos, vivendo todos na colônia de Nablus,
composta de mais ou menos 800 pessoas. Eles estão desaparecendo, por se casarem
entre si, vindo em conseqüência deste casamento incestuoso uma multiplicidade
de deficiências físicas, sendo muitos aleijados, mudos, imbecis. Outra fonte
nos informa que há apenas 477 samaritanos em todo o mundo. Na época da páscoa
todos eles se dirigem ao monte Gerizim.
Pelo
menos três cópias do Pentateuco Samaritano são hoje conhecidas:
1ª) A
da Biblioteca de John Rylands, em Manchester Inglaterra. É a mais velha, pois
tem a data de 1212;
2ª) A da Biblioteca Municipal de Nova York, com data de 1232;
3ª) A cópia considerada mais sagrada, que se encontra na sinagoga
samaritana em Nablus (Monte Gerizim). Ouvi do Sumo sacerdote que esta cópia foi
preparada pelo neto de Arão, 13 anos depois da entrada dos filhos de Israel em
Canaã. Para os ouvintes suas afirmações não passam de uma história fantasiosa,
fato confirmado pela paleografia que nos cientifica ter sido este manuscrito
copiado no século XIII da nossa era.
DIFERENÇAS
ENTRE O PENTATEUCO SAMARITANO E O MASSORÉTICO
Uma
pergunta natural vem à nossa mente: há diferenças entre o Pentateuco Samaritano
e o Pentateuco do Texto Massorético? Existem variantes que se justificam como
erros dos copistas, porque não havia entre os samaritanos copistas treinados
para aquele elevado mister e muito menos um trabalho sério de Crítica Textual
para livrá-lo de muitas incorreções.
De
acordo com a apostila Introdução ao Velho Testamento do Professor Justsen, as
divergências mais significativas entre os dois textos seriam as seguintes:
a) Correções
para a concordância de passagens paralelas. No Pentateuco Samaritano há várias
interpolações para que o Êxodo 20 e o Deuteronômio cinco possam concordar.
b) Adições
explanatórias ao texto: Às palavras de Gênesis 7:3 “Também das aves dos
céus” o Pentateuco Samaritano acrescenta a frase “que são limpas”.
c) Mudança
de algumas letras para conseguirem um melhor sentido: em Gênesis 49:10
encontra-se “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre os seus
pés, até que venha Siló”. Mudando a letra D para R, o Pentateuco Samaritano
alterou a frase “dentre seus pés” para “dentre seus padrões”.
d) Mudanças
visando resolver problemas históricos, No Texto Massorético Êxodo 12:40 afirma
“o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de 430 anos”. O Pentateuco
Samaritano adicionou a frase “e na terra de Canaã”, depois da palavra Egito.
e) Encontram-se
21 mudanças deliberadas, que apoiam as idéias sectárias dos samaritanos. Assim
a frase “Monte Ebal”, de Deut. 27: 4 foi mudada para “Monte Gerizim” etc.
Houve
célebre polêmica entre eruditos, uns defendendo a superioridade do Pentateuco
Massorético, outros a do Samaritano, até que Gesenius, inquestionavelmente o
mais erudito hebraísta da Alemanha. provou que o texto massorético lhe é
superior.
3)
SEPTUAGINTA
Bastante
conhecida através da sigla LXX, é a mais importante tradução grega do Velho
Testamento.
Seria
interessante pensar por alguns instantes qual a razão de um livro hebraico ser
traduzido para o grego numa cidade do Egito? A História nos confirma que Alexandre
Magno, com suas extraordinárias conquistas levou o grego a quase todas as
partes do mundo conhecido. Sua morte prematura em 323 a.C. fez com que seu
império fosse dividido. Cabendo a Ptolomeu I (323-285) governar o Egito,
iniciando assim a dinastia dos reis gregos no Egito. Calcula-se que no tempo de
Ptolomeu II, a cidade de Alexandria era composta por um terço de judeus. Como
era de se esperar esses imigrantes judeus facilmente adotaram a língua dos
gregos. Os judeus perceberam que a única maneira de preservar o judaísmo em
Alexandria era traduzir o Velho Testamento para o grego.
Flávio
Josefo, em História Antiga dos Judeus, Livro 12, capítulo 2, citado por A. Dias
Gomes, em Bíblia Poliglota Portuguesa, páginas 26 e 28 fornece-nos pormenores
úteis sobre a origem desta antiga tradução. Eis uma síntese de suas palavras:
“Demétrio
Palério, bibliotecário de Ptolomeu Filadelfo, trabalhava com extremo cuidado e
grande curiosidade para reunir de todas as partes do mundo os livros de mérito
e que julgava serem agradáveis ao príncipe. Certo dia o príncipe perguntou-lhe
quantos livros já havia na Biblioteca e soube que mais ou menos 200.000.
Notificou também ao rei a existência entre os judeus de livros dignos de
figurarem na soberba biblioteca, mas dariam muito trabalho traduzi-los para o
grego. Acrescentou que este trabalho poderia ser feito porque sua majestade não
olhava a gastos.
O
rei, persuadido pelo ilustre bibliotecário, fez um apelo ao sumo-sacerdote de
Jerusalém para que lhe enviasse os livros e pessoas capacitadas para os
traduzir. O pedido foi imediatamente atendido, talvez, porque acompanhando-o
havia grande soma de dinheiro e pedras preciosas. Ptolomeu, recebeu através de
uma carta a seguinte notificação: “Escolhemos, Senhor, seis homens de cada tribo
para vos levar as santas leis e esperamos da vossa bondade, quando não tenhais
mais necessidade deles, que vos dignareis remetê-los com os que vão em sua
companhia.” Eleazar.
Quando
a obra foi acabada (segundo alguns em 72 dias), Demétrio reuniu todos os judeus
para que ouvissem a leitura da tradução, na presença dos 72 tradutores. A
tradução foi aprovada e Demétrio elogiado por ter concebido um desígnio que
lhes era tão vantajoso.”
Para
alguns esta história. é lendária, sendo a verdadeira razão para a origem da
Septuaginta a seguinte: Havendo em Alexandria muitos judeus que não podiam ler
o Velho Testamento no original hebraico, uma tradução em grego lhes foi
preparada. Por causa do número de tradutores essa extraordinária tradução se
tornou conhecida (um tanto inexatamente) como Septuaginta.
O
Dicionário de Davis no verbete Versões assim se expressa sobre a Septuaginta:
“Esta
tradução é a mais célebre do Antigo Testamento hebraico e a mais antiga e a
mais completa que se conhece.
A
tradução é obra de muitos tradutores, como se vê pela diferença de estilo e de
método. Em várias partes existem notáveis desigualdades e muitas incorreções. A
tradução do pentateuco, exceto lugares poéticos Gên. cap. 49; Deut. caps. 22 e
23, é a melhor parte da obra, e o todo revela uma tradução fiel, se bem que não
é literal. Os tradutores dos Provérbios e de Jó mostram-se peritos no estilo
grego, mas pouco proficientes no hebraico que em alguns lugares traduziram um
pouco arbitrariamente. Fizeram a tradução de Provérbios sobre um texto hebreu,
muito diferente do atual texto massorético. O sentido geral dos Salmos é muito
bem reproduzido. O Eclesiastes está servilmente traduzido; a de Amós e Ezequiel
é sofrível; a de Isaías deixa muito a desejar; a de Jeremias parece ter sido feita
sobre outro texto que não o massorético. De todos os livros do Antigo
Testamento, o de Daniel é o mais pobremente traduzido, de modo que os antigos
doutores, a começar por Irineu e Hipólito, substituíram-no pela versão de
Teodócio.”
Ellen
G. White em O Desejado de Todas as Nações faz referências à Septuaginta nos
seguintes termos:
“Fazia
séculos que as Escrituras haviam sido traduzidas para o grego, então vastamente
falado no império romano. Os judeus estavam espalhados por toda parte, e sua
expectação da vinda do Messias era, até certo ponto, partilhada pelos gentios.”
[p. 33]
Os
milhares de judeus espalhados através do vasto Império Romano, sabiam falar
grego, e esta tradução foi aceita como a sua Bíblia; tornando-se ainda a
Septuaginta um ponto de ligação entre a cultura hebraica e a grega.
Tornou-se
a Bíblia dos cristãos nos primeiros séculos da era cristã, por isso quase todas
as citações do Velho Testamento são tiradas da Septuaginta e não do texto
hebraico.
Até
nossos dias continua sendo a versão oficial da Igreja Ortodoxa Grega.
LINGUAGEM
DA SEPTUAGINTA
Devíamos
esperar um trabalho esmerado, uma obra que condissesse com seus elevados
objetivos, mas a realidade é outra muito diferente. Em seu livro History of
Interpretation, página 117 F. W. Farrar, afirma que se pode distinguir pelo
menos quinze tradutores diferentes na LXX. Cada um destes levou para a sua obra
vários tipos e graus de capacidade.
Os
entendidos apontam-lhe diversas deficiências, como as seguintes:
a) Há
idiomatismos hebraicos, traduzidos ao pé da letra, que nem de longe transmitem
a idéia do original;
b) Existem
certos livros como Ester, Jó e Provérbios que não foram traduzidos, mas
parafraseados;
c) Muitos
sentimentos hebraicos foram alterados para se adaptarem à mentalidade grega;
d) Seguiam
o método de transliterar muitas palavras, em vez de traduzi-las;
e) Seu
estilo é bastante variável, evidentemente, isto tinha que ser uma realidade,
por ser obra de muitos autores.
Exemplos
e mais exemplos poderiam ser citados para comprovarem algumas das afirmativas
anteriores, mas estes dois são suficientes:
1) Em
Daniel 11 onde aparece “rei do Norte”, e “rei do Sul”, os tradutores puseram
“Rei da Assíria” e “Rei do Egito”;
2) Em
Êxodo 28:30, “Urim” e “Tumim” aparecem na Septuaginta por “Manifestação e
Verdade”, para concordar com os nomes correspondentes das pedras usadas nas
vestimentas dos sacerdotes do Egito.
De
um modo geral pode ser dito que a tradução dos setenta não é muito fiel ao
texto hebraico, aparecendo em algumas partes interpolações e em outras
traduções perifrásticas.
Estas
deficiências, somadas a crescente hostilidade dos judeus para com o
cristianismo e para toda a cultura não judaica, fizeram com que os judeus
condenassem a sua própria versão. Os rabinos chegaram a afirmar que a
Septuaginta tornara-se em Israel uma catástrofe idêntica à feitura do bezerro
de ouro.
Diante
desta situação, revisões da Septuaginta e novas traduções do hebraico para o
grego apareceram, como as seguintes:
a) A
Versão de Áquila.
O rabino Áquila tentou no Concílio de Jamnia obter uma proibição para o uso de
todas as versões do hebraico. Embora não conseguisse este objetivo, conseguiu
uma autorização para que seu principal aluno Áquila preparasse uma nova
tradução do Velho Testamento para o grego. Esta versão apareceu por volta de
130 AD. Foi este trabalho superior à Septuaginta?
A
resposta precisa ser uma enfática negativa. É um trabalho deficiente porque
traduziu literalmente o hebraico. Desta tradução afirma Ira Price:
“Ele
freqüentemente seguiu o idioma hebraico, que é diferente do grego; colocou
novas palavras que lhe conviesse, violando ainda princípios gramaticais.”
Apesar
destas deficiências a versão de Áquila se tornou a Bíblia oficial do judaísmo.
Áquila
tentou fazer uma tradução literal do hebraico objetivando contrariar o emprego
que os cristãos faziam dos Setenta para fundamentar as suas doutrinas. A
tradução era tão servilmente literal que em muitos casos se tornava obscura aos
leitores que não conheciam bem o hebreu como o grego.
b)
Versão de Teodócio.
Preparou uma tradução em grego entre 180-192 AD. Teodócio deu uma interpretação
livre ao hebraico, valorizando o idioma grego. Seu objetivo foi melhorar o
grego de Áquila, valendo-se da tradução deste e do hebraico.
c)
Versão de Símaco.
Esta versão não passa de uma revisão da versão de Áquila. O grego usado por
Símaco é corretíssimo e seu estilo bastante elegante. É uma tradução também
elegante, mas perifrástica.
Comentando
estas três versões, afirmou São Jerônimo: “Áquila traduziu palavra por palavra,
Símaco seguiu o sentido, e Teodócio difere levemente da Septuaginta.
d)
Hexapla de Orígenes.
Dentre as revisões do Velho Testamento a maior e mais importante foi a de
Orígenes. Filho de pais cristãos, foi instruído desde menino por seus genitores
nas Escrituras Sagradas. Dedicou-se de modo acentuado ao estudo da Crítica
Textual e de Exegese Bíblica, tornando-se, segundo Ira Price o “Maior perito
bíblico dos primeiros séculos”. The Ancestry of our English Bible, pág. 74.
Primeira
coluna – O texto hebraico;
Segunda coluna – A transliteração do hebraico por letras gregas;
Terceira coluna – A tradução grega de Áquila;
Quarta coluna – A tradução de Símaco;
Quinta coluna – A Septuaginta revisada por ele próprio;
Sexta coluna – A tradução de Teodócio.
Os
vinte e oito anos gastos na sua elaboração e as doze mil páginas resultantes
são a comprovação máxima da pujança da obra.
O
seu propósito, com sua própria coluna, não foi restaurar o texto da
Septuaginta, mas corrigi-lo e representar o original hebraico. A quinta coluna
da sua revisão era a mais importante das seis. . . Em sua revisão, onde os
manuscritos divergiam, escolheu ele a melhor tradução que pôde conseguir dos
originais hebraicos. Onde as palavras não constavam na LXX ele inseriu por
asterisco, a tradução que encontrara numa das três traduções, com preferência a
de Teodócio. Onde uma palavra ou expressão era encontrada na Septuaginta sem
equivalente no hebraico, ele as marcou com uma cruz. A sua coluna está baseada
no hebraico do seu tempo, isto é, o texto hebraico da primeira metade do
terceiro século.
Esta
grande obra foi depositada na Biblioteca de Cesaréia até ser destruída pelos
muçulmanos, em 639, excetuando-se a quinta coluna, que foi publicada
separadamente pelo historiador Eusébio, atualmente representada, por alguns
manuscritos, sendo o mais conhecido um do 8º século que se encontra na
Biblioteca Ambrosina de Milão. Jerônimo a consultou no quarto século e ainda
existia no século sexto.
REVISÕES
DEPOIS DA HEXAPLA
Fizeram
ainda revisões na Septuaginta:
a)
Luciano – fez seu trabalho mais ou menos pelo ano 300, pois foi
martirizado em 311. Para esta revisão usou manuscritos hebraicos superiores aos
usados por Orígenes.
b)
Hesíquio – Sua revisão se processou na cidade de Alexandria e foi somente
aceita no Egito.
4)
VERSÕES SIRÍACAS
É
provável que a primeira versão do Novo Testamento tenha sido feita na língua
siríaca.
Dentre
as versões siríacas são dignas de nota as seguintes:
a)
Siríaca Antiga.
É uma versão dos quatro Evangelhos, conservada hoje com grandes lacunas nestes
dois manuscritos:
1) O
editado por Cureton em 1852, encontrado hoje no Museu Britânico.
2) O palimpsesto descoberto por Smith Lewis no Mosteiro Santa Catarina em
1892.
Embora
estes manuscritos fossem copiados no 5º e 4º séculos respectivamente, a forma
de texto que eles preservam data do fim do segundo século ou início do
terceiro.
O
texto dos Evangelhos sofreu influências do Diatessaron de Taciano. Seu tipo de
texto pertence ao grupo Ocidental.
b)
Versão Peshita.
Em siríaco a palavra peshita significa simples, comum, vulgar.
Não
há informações fidedignas do autor ou autores desta tradução nem do tempo em
que o trabalho foi feito. Crêem alguns que a tradução foi feita por Rabbula,
bispo de Edessa (411-432), cognominado o São Jerônimo da Igreja Síria. Outros
afirmam que o autor é desconhecido, mas que a tradução foi feita para que o
cristianismo pudesse propagar-se entre aquele povo.
Por
ser um trabalho muito bem feito, foi chamada “a rainha das versões”.
Contém
todo o Velho Testamento sem os livros apócrifos. Do Novo Testamento não foram
traduzidos II e III João, II Pedro, Judas e Apocalipse.
Mais
de 350 manuscritos da Peshita são conhecidos hoje, diversos dos quais datam do
5º e 6º séculos.
c)
Versão Filoxênia.
Esta é outra tradução bastante difícil de ser explicada pela Crítica Textual.
Crê-se que Filóxeno, bispo de Mabugue, comissionou a tradução da Bíblia inteira
baseada no grego, em 508 AD. Dessa tradução temos apenas fragmentos do Novo
Testamento e do Saltério.
d)
Versão Siríaca da Palestina.
É conhecida principalmente por um dicionário dos Evangelhos. Crêem os
entendidos que seja uma tradução do quinto século.
5)
DIATESSARON
Taciano
combinou o texto dos quatro Evangelhos, dando-lhe o nome de Diatessaron (em
grego, através dos quatro), a fim de formar uma só narração contínua. A obra
foi escrita provavelmente em grego (170 AD) e traduzida pelo próprio Taciano
para o siríaco. A tese de um original siríaco tem sido abandonada, desde que se
descobriu no ano de 1933, em Dura-Eutropos nas margens do Eufrates, um
fragmento grego do Diatessaron, datando de cerca de 220 AD.
Estudos
recentes parecem ter demonstrado que o Diatessaron foi a forma mais antiga em
que os Evangelhos foram conhecidos na Igreja Siríaca.
Esta
Harmonia dos Evangelhos tornou-se muito popular, pois quando Teodoreto, era
Bispo da Síria em 423 achou muitas cópias em sus diocese. Em virtude de Taciano
tornar-se herético no final de sua vida, Teodoreto achou que os cristãos
estariam em perigo por usarem sua obra, assim destruiu todas as cópias do
Diatessaron que pôde encontrar (mais ou menos 200), colocando em seu lugar
Evangelhos separados.
Como
resultado do zelo do Bispo Teodoreto, e quem sabe de outros mais, nenhuma cópia
completa desta obra é encontrada hoje. Porções desta obra são conhecidas
através de citações dos Pais da Igreja, especialmente, dos comentários, que
Santo Efraim, do quarto século, escreveu sobre a Harmonia de Taciano.
As
evidências indicam que Taciano levou a cabo seu trabalho com grande diligência,
provavelmente, trabalhando com quatro manuscritos separados, sendo um de cada
Evangelho.
Alguns
peritos em Crítica Textual, entre eles Von Soden, têm afirmado que o
Diatessaron contribuiu para contaminar os manuscritos ocidentais. Esta idéia
exagerada não é aceita por outros, embora admitam que há influência Taciana em
certos manuscritos.
6)
VERSÕES LATINAS
Quando
e onde as primeiras tentativas foram feitas para a tradução da Bíblia em latim
é assunto bastante controvertido. Como em Roma, por volta do ano 200, ainda
predominava o grego, os entendidos neste campo, afirmaram que as primeiras
traduções para o latim foram feitas em Cartago, ao Norte da África. De algumas
citações de Tertuliano se conclui que por volta do ano 200 vários livros da
Bíblia já estavam traduzidos para o latim. Em 250 circulava uma versão latina
em Cartago, centro do Cristianismo no Norte da África. Outras versões
apareceram bem cedo em Roma, Gália e Espanha.
Estas
traduções, muitas vezes, são denominadas de Ítala, nome genérico para todas as
traduções latinas.
As
versões latinas são importantes, não tanto pelo número, mas muito mais pela
antigüidade de seus manuscritos. Elas devem ter tido uma difusão enorme, porque
os documentos que delas se conservam são muito divergentes, a ponto de não se poder
dizer se provém de uma ou várias versões primitivas. Nenhum códice inteiro das
velhas versões latinas é encontrado hoje.
Encontram-se
entre os mais destacados documentos, destas versões os seguintes:
a) Códice
Palatino.
Manuscrito do quinto século contendo partes dos quatro Evangelhos. Escrito com
letras prateadas sobre pergaminho purpúreo.
b)
Códice Vercelense.
Guardado na Catedral de Verceli, na Itália. De acordo com velha tradição foi
escrito por Eusébio Bispo de Verceli martirizado em 370. Talvez seja o mais
velho manuscrito dos quatro Evangelhos das versões latinas.
c)
Códice de Veronense.
Encontra-se na Biblioteca da Catedral de Verona, na Itália. Contém os quatro
Evangelhos na seguinte ordem: Mateus, João, Marcos e Lucas.
d)
Códice Gigante.
É um dos maiores manuscritos do mundo, por isso apropriadamente recebeu o nome
de Gigante. Encontra-se na Biblioteca de Estocolmo. Mede 87 centímetros de
altura e a largura das duas páginas abertas mede 108 centímetros.
A
falta de exatidão destas velhas versões latinas, que se iniciaram em meados do
segundo século, a extrema diversidade de alguns textos e o estado de corrupção
dos exemplares que existiam, mostravam a necessidade urgente, já no quarto
século de uma revisão profunda sobre os originais. Desta tarefa foi incumbido o
sábio monge e homem de letras – São Jerônimo.
7)
A VULGATA LATINA
Na
história dos textos bíblicos, recebe o nome de Vulgata, a Bíblia latina
preparada pelo Pai da Igreja São Jerônimo, entre os anos 391 e 406 A.D.
Após
a conquista do mundo helenístico pelos romanos, em virtude da superioridade da
cultura e língua gregas, a língua de Homero continuou dominando o mundo, porém,
passando-se os anos, e Roma crescendo em influência, a língua latina prevaleceu
sobre a grega nascendo daí a necessidade de traduzir a Bíblia para o latim.
Durante
o terceiro século, muitas versões latinas já circulavam na Europa e no Norte da
África, por isso as versões latinas são classificadas em dois grupos:
a) Versões
africanas,
b) Versões européias.
As
palavras de Santo Agostinho, na obra De Doctrina Christiana, 11:11 nos ajudam a
compreender melhor o problema destas traduções e a necessidade de revisá-las:
“Os
que têm traduzido as Escrituras do hebraico para o grego podem ser enumerados,
mas os tradutores latinos não o podem, pois cada um, em cujas mãos caía um
manuscrito grego, nos primeiros períodos da fé cristã, e que imaginava ter
alguma facilidade nas duas línguas, se aventurava a traduzir.”
Desta
declaração concluímos que a existência de muitas versões latinas criou sérios
problemas para o texto bíblico, chegando Bruce M. Metzger a nos mostrar que em
Lucas 24 4 e 5 existiam pelo menos 27 variantes de leitura nos fragmentos dos
velhos manuscritos latinos. Ira Price nos esclarece mais:
“Há
tantos textos variantes como o número de manuscritos. A existência de muitas
versões latinas, diferindo amplamente em seus textos, em virtude da falta de
cuidado no copiar ou traduzir, ou em ambos, logo levantou acusações e agitou a
fé da Igreja no valor autoritário dos manuscritos.”
Esta
introdução nos ajudará a compreender porque o papa Dâmaso sentiu a necessidade
de uma revisão das várias traduções existentes, a fim de que surgisse um texto
mais fiel ao original.
A
escolha recaiu sobre a pessoa mais erudita em línguas bíblicas e crítica
textual, que vivia naquele tempo – Sofrônio Eusébio Jerônimo. Jerônimo nasceu
em Stridon, Iugoslávia em 340, passando sua vida em Roma e no Oriente, e
finalmente em Belém, onde veio a falecer em 420. Bem dotado e bafejado pela
fortuna, recebeu uma educação que o capacitaria para esta sublime empreitada.
Iniciou seu trabalho em 382, vindo a terminá-lo em 404, sendo que na opinião de
alguns estudiosos ele traduziu do Novo Testamento apenas os quatro Evangelhos.
Ver The Text of the New Testament de Bruce Metzger, página 76.
Começou
seu trabalho conferindo velhas traduções latinas, mas verificando que estas
apresentavam muitas falhas, sendo uma delas, basearem-se não no texto hebraico,
mas na Septuaginta; concluiu então que o melhor caminho seria fazer não uma
revisão, mas uma tradução que se baseasse nas línguas originais. Com este
objetivo dirigiu-se a Belém, onde passou 21 anos dedicados a este importante
trabalho. Ali podia ele consultar rabinos israelitas, profundos conhecedores
das Escrituras e obter os manuscritos hebraicos necessários à sua tradução.
Há
muita divergência a respeito da obra de revisão e tradução de São Jerônimo, mas
a despeito das idéias díspares, quase todos concluem que o seu trabalho foi de
muito valor e correspondeu plenamente às expectativas. Quando terminou sua
obra, ficou profundamente chocado ao perceber que até ministros e teólogos
discordavam frontalmente do trabalho que tinha feito.
Merril
Unger escreve:
“Uma
real tempestade de oposição caiu quando as traduções do Velho Testamento do
original hebraico começaram a aparecer. A grande maioria de leigos e clérigos
estava satisfeita com as versões existentes, especialmente a LXX, que era
olhada com uma quase supersticiosa reverência. Trazer uma versão rival que
tinha pouca ou nenhuma consideração para com ela, foi para muitas pessoas um
grande ultraje.”
Este
Pai da Igreja foi considerado por muitos um revolucionário, herege, destruidor
da fé, corruptor da Bíblia, etc. A razão principal para estes achincalhes
talvez tenha sido a familiarização com as velhas traduções latinas, mas houve
outras e entre estas está aquela que muitos textos usados para defenderem
pontos de vista pessoais tinham sido alteradas. O autor da Vulgata rebateu as
críticas com toda a veemência que lhe era própria, chegando a dizer numa carta
íntima a Marcelo: “é vão pretender tocar lira diante de burros”.
São
Jerônimo, com proficiência, justificou e defendeu a superioridade dos
manuscritos originais sobre a Septuaginta.
Em
580 o Papa Gregório aceitou a tradução de Jerônimo como sendo do mesmo nível da
velha versão latina.
O
Concilio de Trento em 1546 dispôs o seguinte:
“Considerando
que poderia resultar muito grande utilidade para a Igreja de Deus em conhecer a
edição dos livros Santos que se encontram em curso, o Santo Concílio estabelece
e declara que é a Vulgata, aprovada pelo longo uso da própria Igreja, durante
séculos, que deve ter-se como autêntica nas lições, discussões, pregações e
exposições públicas, e que ninguém deve ter a audácia ou a presunção de a
rejeitar sobre nenhum pretexto. Quem a rejeitar será anátema.”
Após
o Concílio de Trento houve um esforço do Papa Sisto VI e mais tarde de Clemente
VIII na revisão da Vulgata. Este trabalho concluído em 1592, publicado pela
tipografia do Vaticano tornou-se conhecido como a Vulgata Clementina.
Desde
1907 os sábios beneditinos estão preparando uma nova edição da Vulgata,
esperando concluir o trabalho em 1985. O jornal Zero Hora, 28-4-1979, do Rio
Grande do Sul, trouxe a seguinte informação:
Nova
Bíblia Pronta e Aprovada
“O
Papa João Paulo II recebeu ontem uma nova edição, oficial e latina, da Bíblia,
através da constituição apostólica Scripturarum Thesaurus. A última edição,
chamada Vulgata, data da época de São Jerônimo, que traduziu do hebraico e
grego os textos sagrados, entre os anos 391 e 406. Onze séculos mais tarde, o
Concílio de Trento declarou solenemente que a Vulgata era “autêntica e
doutrinariamente segura”. No dia 29 de novembro de 1965, o Papa Paulo VI
encarregou uma comissão de especialistas para preparar uma Nova Vulgata. Pela
primeira vez, a Igreja tomava a iniciativa de fazer uma tradução oficial, em
latim da Bíblia, com textos originais aramaicos, hebraicos e gregos. Esta
Bíblia servirá de modelo para toda tradução nas línguas modernas, faladas pelos
700 milhões de católicos do mundo. “Creio que o próprio São Jerônimo ficaria
contente com este trabalho”, comentou o Papa ao receber o presidente da
Comissão, Monsenhor Eduardo Schick, e seus 46 membros e peritos, que lhe
entregaram o primeiro exemplar da Nova Vulgata.”
Não
são conhecidos os manuscritos latinos que Jerônimo usou como base para o seu
trabalho, mas a Crítica Textual conclui que estes pertenciam à forma européia
do Velho Latim. Os manuscritos gregos pertenciam ao tipo Alexandrino de Texto.
Embora
existam mais de 8.000 manuscritos da Vulgata, não há nenhum manuscrito do tempo
de São Jerônimo. Possivelmente, de todos os manuscritos, o melhor para se
determinar o da Vulgata da forma do autógrafo é o Códice Amiatino, que foi dado
de presente em 761 ao Papa pelo Abade Ceolfrid, como uma oferta votiva. Foi
copiado a pedido deste mesmo Abade entre os anos 700 e 716. De Roma passou para
o mosteiro do Monte Amiata, de onde lhe vem o nome. Contém 1030 páginas, onde
se encontram o Velho e o Novo Testamento, além de prólogos e sumários.
Repetindo
quase as mesmas idéias, porém em linguagem diferente, Davis assim se expressou
sobre a pendência em torno da Vulgata em seu Dicionário, pág. 614:
“Os
homens de seu tempo não lhe deram o valor merecido, nem reconheceram o grande
serviço que lhes havia prestado o eminente padre, cujo temperamento não era dos
mais tolerantes; retribuiu com o maior desprezo as agressões da ignorância. Com
o decorrer do tempo, a sua obra, que não era feita para uma geração, e sim para
os séculos futuros, tem merecido a consagração devida. A Vulgata passou a ser a
Bíblia da igreja do Ocidente na Idade Média, e, não obstante as traduções em
vernáculo, ainda é a Bíblia da Igreja Católica Romana. Por ordem do imperador
Carlos Magno, no ano 802, Alcuíno passou-a em revista. A Vulgata Latina foi a
primeira obra impressa logo depois da invenção da tipografia, saindo à luz no
ano de 1455. No ano de 1546, a 8 de abril, resolveu o Concílio de Trento que se
fizesse nova revisão, demoraram-se em fazê-la, até que finalmente, um pontífice
de vontade férrea, o papa Sisto V, meteu mãos à obra, tomando parte pessoal no
seu acabamento. A nova revisão saiu publicada em 1590. Outra edição veio à luz
sob os auspícios do papa Clemente VIII em 1592; muito melhorada, sem contudo
prejudicar a edição Sistina. Ambas continuam em uso. Muitos termos técnicos
usados na teologia, saíram da Vulgata, como por exemplo as palavras sacramento,
justificação e santificação.”
8)
VERSÃO ETIÓPICA
As
opiniões diferem bastante quanto à data e origem desta versão. Não há certeza
se o tradutor ou tradutores se basearam num original grego ou siríaco. Uma
idéia aceita por muitos é que Frumêncio, apóstolo da Etiópia, fez uma tradução
no quarto século. A História Eclesiástica coloca a conversão da Etiópia no ano
330 AD, portanto nesse século ou no seguinte foi feita a tradução.
9)
VERSÕES CÓPTICAS
O
cóptico ou Menfítico é uma versão para a língua religiosa dos cristãos egípcios.
O copta apresentava-se em vários dialetos, sendo para as versões bíblicas os
dois mais importantes o saídico e o boaírico.
Dentre
todos os comentários feitos sobre estas versões, talvez o mais digno de nota
seja o seguinte: há pouco tempo Martim Bodmer adquiriu um papiro do quarto
século no dialeto boaírico, contendo partes de Gênesis e do Evangelho de João.
Neste manuscrito não se encontra a “perícope da mulher adúltera”, nem o relato
do movimento da água pelo anjo no Tanque de Betesda em S. João 5:4.
10)
VERSÃO GÓTICA
Feita
por Úlfilas, o apóstolo dos godos, que estudou latim e grego em Constantinopla.
Voltando ao seu país em 340, traduziu-lhes a Bíblia, menos os livros dos Reis
porque tratavam de guerras, e os godos, disse ele, já sabiam muito de guerra.
O
Velho Testamento é uma tradução da Septuaginta e o Novo de manuscritos gregos.
Para levar a efeito esta obra criou o alfabeto gótico. A versão Gótica é o
primeiro monumento literário conhecido em um dialeto germânico.
11)
VERSÃO ARMÊNIA
Apareceu
no início do 5º século. Foi baseada na Versão Siríaca (peshita) e na
Septuaginta. É considerada uma das mais belas e a mais exata entre as primeiras
traduções da Bíblia. Vários nomes têm sido apresentados entre os possíveis
tradutores.
Com
exceção da Vulgata Latina, esta versão é a que apresenta maior número de
manuscritos conhecidos. (1244).
UM
MILÊNIO POBRE EM TRADUÇÕES
Os
próximos dez séculos foram muito pobres em traduções da Palavra de Deus. Além
da Versão para o povo da Geórgia, no VI século e de versões para o árabe entre
o VIII e o X séculos mais nada se conhece. O único fato conhecido é o seguinte:
Quando a imprensa foi inventada (século XV), a Bíblia ou parte dela havia sido
traduzida em menos de vinte línguas. Deve-se ter em mente que foi o período da
Idade Média, e que durante estes séculos a Igreja Católica se opôs tenazmente a
que a Palavra de Deus fosse divulgada.
TRADUÇÕES
MODERNAS
Apenas
serão estudadas aquelas que nos interessam mais de perto.
1)
ALEMÃ
Inegavelmente
a mais famosa e mais conhecida é a tradução de Lutero. Em 1522 apareceu o Novo
Testamento e 10 anos depois é publicado o Velho Testamento. Lutero muito
trabalhou no aperfeiçoamento de sua tradução até 1544, tendo para auxiliá-lo
uma comissão de eruditos, sendo os dois mais notáveis, Melanchthon e
Bugenhagen. Esta versão foi extraordinária, não apenas no campo religioso,
contribuindo para a propagação da Reforma, mas também no terreno lingüístico,
fixando a língua germânica e dando-lhe forma literária.
O
reformador alemão, graças a sua cultura e profunda experiência na arte de
traduzir, ajudou a muitos tradutores protestantes em outros países. Sua Bíblia
foi a base das seguintes traduções: sueca em 1541; dinamarquesa em 1550;
islandesa em 1584; uma velha versão holandesa em 1560; finlandesa e dialetos
cognatos em 1642.
Outra
tradução para a língua alemã que merece menção honrosa é a de Wette, por ser
uma obra literária de grande valor. O trabalho foi feito de 1809 a 1814. A
erudição e experiência exegética de De Wette até hoje não foram ultrapassadas.
2)
TRADUÇÕES INGLESAS
Em
nenhuma outra língua tem havido tantas traduções e revisões da Bíblia,
calculando-se que este número já ultrapassa de 200.
a)
João Wycliffe.
A primeira tradução de toda a Bíblia para o Inglês foi feita por John Wycliffe
(1330-1384) o mais eminente teólogo de Oxford, em seus dias Levantaram-se
tremendas dificuldades para a divulgação desta Bíblia, pois em 1408 foi
decretado que nenhum livro das Escrituras Sagradas fosse lido em público ou
particularmente, se não tivesse aprovação eclesiástica, sob pena de excomunhão.
A tradução de Wycliffe foi conservada em manuscritos até o século XIX, quando
foi impressa em 1848. É uma tradução literal da Vulgata Latina. O secretário de
Wycliffe, John Purvey, revisou esta tradução, fazendo a defesa do trabalho do
mestre num Prólogo Geral.
b)
O Novo Testamento de Tyndale.
William Tyndale traduziu para o inglês, do Novo Testamento de Erasmo com o
auxílio da Vulgata e da tradução de Lutero o Novo Testamento em 1525.
Quando
o trabalho estava sendo realizado intimaram-no a não prosseguir em tal
empreendimento. Sendo severamente perseguido fugiu para a Alemanha, onde a
reforma de Lutero estava progredindo. Em Worms terminou a sua tradução. Os
exemplares foram enviados à Inglaterra secretamente em peças de fazenda, sacas
de farinha de trigo, etc.
Tunstall,
bispo de Londres, e Thomas More envidaram os maiores esforços para comprar e
queimar as cópias do Novo Testamento impresso, mas o resultado desse ato de
intolerância foi que Tyndale se viu com recursos para publicar uma nova edição
maior e muito melhor. Os inimigos da Palavra de Deus não se deram por vencidos;
não podendo queimar todas as cópias do Novo Testamento, em 1536 queimaram o
tradutor da obra. Antes do último suspiro este grande reformador rogou “Deus,
abre os olhos do Rei da Inglaterra”. Àqueles que queimaram a Bíblia de Tyndale
mal supunham que três anos depois o rei dissesse: “Em nome de Deus deixo a
Bíblia ser espalhada entre o povo”. A nova tradução que ele fez circular foi
conhecida como a Grande Bíblia, devido ao seu tamanho. Infelizmente, mais
tarde, o rei Henrique VIII proibiu a circulação das Escrituras na Inglaterra.
c)
Miles de Coverdale.
Este autor traduziu do alemão e latim a primeira Bíblia completa a ser impressa
na Inglaterra (1535). O Novo Testamento e a maior parte do Antigo, são
visivelmente influenciados pela tradução de Tyndale.
d)
A Grande Bíblia.
É também conhecida como a Bíblia de Cranmer.
Vem-lhe
o nome do formato com que apareceu em 1539. Era a mesma tradução de Coverdale,
revista por ele com a ajuda de Cromvell. Teve caloroso acolhimento, pois
rapidamente se esgotaram sete edições.
e)
A Bíblia de Genebra.
A destruição de Bíblias na Inglaterra era tremenda. Devido às inclementes
perseguições dos católicos, alguns reformadores fugiram para Genebra, onde três
deles empreenderam uma nova tradução da Bíblia, conhecida como a Bíblia de
Genebra (1560).
É
a primeira tradução inglesa baseada nos originais hebraico e grego. Esta era a
Bíblia de Shakespeare. Foi a primeira com a divisão em versos.
f)
A Bíblia dos Bispos.
Sendo que a Bíblia de Genebra não agradou aos bispos, eles resolveram,
liderados pelo arcebispo Parker, fazer uma revisão da Grande Bíblia. A primeira
edição apareceu em 1568. Diversas correções e alterações foram feitas na
segunda edição de 1569. Esta Bíblia serviu de base para a King James Version.
g)
King James Version.
Em nossa língua chamar-se-ia a Versão do Rei Tiago.
Em
1603 foi elevado ao trono da Inglaterra o Rei Tiago I. O Dr. John Reynolds, da
universidade de Oxford, propôs-lhe que se fizesse uma nova tradução da Bíblia,
porque dizia ele, ainda não vi uma tradução bem feita para o Inglês.
Uma
comissão de 47 pessoas credenciadas para tão grande mister foi formada e depois
de quatro anos de dedicado trabalho se completou a obra. Os 47 elementos foram
organizados em seis grupos, sendo três responsáveis pela tradução do Velho
Testamento, dois pelo Novo Testamento e um pelos Livros Apócrifos.
The
Bishops’ Bible serviu de base para esta nova tradução, que foi impressa em
1611, com uma dedicação dos tradutores ao Rei Tiago. É comumente conhecida como
King Version (K.J.V.) ou Versão Autorizada. Durante anos coexistiu com as
outras Bíblias vindo depois a tornar-se a Bíblia por excelência da língua
inglesa.
Embora
esta versão fosse considerada “a melhor do mundo” acharam-se nela alguns erros,
e de diversos sábios partiram propostas para que ela sofresse uma revisão. O
problema de uma revisão não foi fácil, pois se alguns defendiam com entusiasmo
esta idéia, muitos outros a ela se opunham tenazmente.
Dois
fatores preponderantes contribuíram para que esta revisão fosse feita:
1º) A
descoberta de melhores manuscritos e muito mais antigos;
2º) A necessidade de atualização da linguagem.
Depois
do problema ser muito debatido por teólogos e eruditos, duas comissões de
revisores foram formadas na Inglaterra e duas nos Estados Unidos, sendo uma
para o Velho Testamento e outra para o Novo em cada país. Eram ao todo 101
pessoas, sendo 77 da Inglaterra e 34 da América do Norte.
Embora
tenha havido um cuidadoso exame dos textos originais, baseado em novos
manuscritos e nas idéias da moderna Crítica Textual, trata-se de uma revisão e
não de uma nova tradução. O Novo Testamento foi publicado em 1946 e o Velho
Testamento em 1952.
h)
The New English Bible.
A Assembléia Geral de Scotland em 1946 sugeriu que uma tradução, completamente
nova, da Bíblia, devia ser empreendida. Esta tradução é uma das mais fiéis ao
original, além disso muito importante por ter recebido o auxilio de toda
experiência da Crítica Textual.
3)
TRADUÇÕES CASTELHANAS
A
primeira tradução que se fez em castelhano foi o Novo Testamento surgido em
1543. Foi obra do jovem reformador Francisco de Enzinas. Filho de pais nobres e
ricos foi enviado a estudar nos Países Baixos, onde recebeu decisiva influência
dos reformadores. Dirigiu-se posteriormente à Alemanha para conhecer
Melanchton, em cuja casa se hospedou. Estudando na Universidade de Wittenberg e
encorajado por Melanchton dedicou-se à sublime tarefa de traduzir o Novo
Testamento do original grego para a sua língua nativa.
A
segunda tradução para o espanhol é a conhecida “Bíblia de Ferrara” que em
realidade não contém senão o Antigo Testamento. Esta versão foi obra de certos
eruditos judeus, que por questões religiosas foram desterrados da Península
Ibérica. Radicaram-se na Itália, onde havia maior liberdade em questões
religiosas. Reunidos em Ferrara quatro bons conhecedores do hebraico e do espanhol,
com manuscritos originais a sua disposição não lhes foi muito difícil concluir
a tarefa a que se propuseram.
A
primeira tradução completa da Bíblia para a língua castelhana foi obra de
Casiodoro de Reina, que nascera ao sul da Espanha em 1520.
Após
ter estudado para sacerdote, tornou-se pregador evangélico, razão porque teve
de fugir da Espanha. Trabalhou 12 anos nesta tradução, que foi publicada em
Basiléia no ano de 1569. Baseou seu trabalho em manuscritos originais, mas teve
auxílio de traduções anteriores, como a grande versão de Ferrara (1533).
4)
TRADUÇÕES PORTUGUESAS
Até
o fim do século XVI não havia nenhuma tradução completa das Escrituras em
Português.
Dona
Leonor, esposa de D. João II, mandou publicar em 1505 os Atos dos Apóstolos e
as Epístolas de Tiago, Pedro, João e Judas. Esta nobre senhora faleceu em 1525
e por uma reação do clero essas partes da Bíblia desapareceram das bibliotecas.
a)
Tradução de João Ferreira de Almeida.
A Edição Comemorativa do Terceiro Centenário da Tradução da Bíblia em língua
portuguesa, apresentou para João Ferreira de Almeida as seguintes informações:
“Nascido
em Torres de Tavares, Conselho de Mangualde, Portugal, em 1628, faleceu, João
Ferreira de Almeida, em 1691. Temos aqui 63 anos que se dignificaram na vida do
consagrado servo de Deus. É, consagrado no campo da cultura secular, versado na
lingüística, incansável na comparação das línguas que aprendeu e usou, valeu-se
de sua língua nativa, a portuguesa, para a expressão geral e ampla de suas
obras principais, destacando-se, dentre elas, a tradução que fez da Bíblia, dos
originais hebraico e grego para a 1íngua portuguesa.
João
Ferreira de Almeida foi quem primeiro traduziu a Bíblia para o nosso vernáculo.
Português ele, de três séculos idos, é certo que ainda falando e escrevendo
corretamente, com segura inteligência das proposições, das frases e das
palavras teve linguagem que hoje seria distante e até, não raro, diferente para
as sucessivas edições da Bíblia, segundo ele a traduziu, porque a evolução semântica
da linguagem, por vezes, impõe mudanças de palavras para que se não mude o
sentido das mensagens.
Há
300 anos (1681) João Ferreira de Almeida traduziu o Novo Testamento, em
Amsterdão; e daí avante, sua publicação (Batávia, 1693), novamente em Amsterdão
(1712); em Trangambar,1760; e outra vez em Batávia, 1773.
Incansável
no trabalho, traduziu também o Antigo Testamento, mas até o versículo 12 do
capítulo 48 de Ezequiel.
Na
apreciação das traduções da Bíblia feitas por João Ferreira de Almeida, não
falte a palavra oportuna à sua digna esposa, filha de pastor holandês, pela
expressiva ajuda intelectual nos trabalhos lingüísticos do esposo, traduções e
originais, assim como no pastoreado lhe foi ajudadora generosamente cristã.
Em
1656, Almeida foi ordenado pastor da Igreja Reformada, mas sempre desejoso de
promover a Reforma em Portugal. De 1656 até 1658 foi missionário no Ceilão,
depois na Índia, e foi o primeiro ordenado a pregar em português, De volta a
Batávia, pastoreou a comunidade portuguesa ali existente.
Faleceu,
dissemos, em 1691, todavia João Ferreira de Almeida até hoje influi com as
traduções que deixou da Bíblia. A mais antiga versão usual no Brasil, entre os
evangélicos, mereceu da Sociedade Bíblica do Brasil certa atualização na
linguagem, pois dista três séculos a tradução do Almeida.
Na
seção de Livros Raros da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, há um exemplar
do Novo Testamento impresso em Amsterdão (1712).
Nossa
palavra comemorativa de 300 anos, pondera de início a realidade singular de
vitorioso empenho, por fé, cultura, disposição, ideal e constância, aliás
trabalho sagrado com vista ao alcance e proveito da mensagem divina para a
humanidade.
Vitorioso
empenho dissemos, cujos benefícios, através dos anos, não se contam, porque são
inúmeros; mas é fácil imaginar e dar graças a Deus. Imaginar até onde, e como,
e para quem e com que bênçãos vem significando o merecimento da vida de João
Ferreira de Almeida, em toda a expressão de suas atividades, outrora sim, mas
até hoje, através de gerações, com as verdades da lição divina, no ensino
inspirado, por ele posto em nossa linguagem, e que nos vem sendo motivo de
profunda gratidão.
E
que as nossas mãos se ergam, reverentemente, para dar graças a Deus porque a
Sociedade Bíblica do Brasil, ano após ano, supera a generosidade de seus
cálculos de publicação, e aumenta, e dobra, e multiplica o número de exemplares
do sagrado volume, portador da revelação divina, inspiradamente.
Dotado
de impressionante atividade intelectual, traduz para a nossa 1íngua o Novo
Testamento (1644-1645). Valeu-se da versão latina de Beza, da espanhola, da
francesa, e da italiana.
O
nosso Ferreira de Almeida revelou sempre grande piedade e espírito missionário;
na cidade, percorria diariamente os hospitais e casas onde houvesse enfermos,
para confortá-los com orações e palavras de animação e graças.”
Há
muitas informações contraditórias sobre o preparo intelectual de Almeida. Onde
estudou ele hebraico e grego suficiente para se desincumbir de responsabilidade
tão grandiosa?
Menendez
Pelayo, em sua obra História dos Heterodoxos Espanhóis declara que ele possuía
conhecimento das línguas originais, e que auxiliado, especialmente, pela
tradução de Cipriano de Valera levou a cabo o seu intento.
Afirmam
outros que o Novo Testamento é tradução direta do grego, e o Velho Testamento
do hebraico. Não há muita certeza de quanto hebraico e grego Almeida conhecia e
de que fontes se valeu para a sua tradução. Há apenas suposições de que se
valeu do Texto Massorético, do grego do “Textus Receptus”, da Vulgata
Clementina e do auxílio de alguma tradução moderna.
Saindo
do terreno das hipóteses e conjeturas, para o da realidade, diga-se, devemos a
este dedicado e consagrado servo de Deus a primeira tradução completa da Bíblia
em nossa língua.
Desta
versão disse Teófilo Braga:
“É esta tradução o maior e mais importante documento para se estudar o estado
da língua portuguesa no século XVIII.”
a)
A TRADUÇÃO DE ALMEIDA REVISADA
Duas
entidades – Comissão Revisora e Comissão Consultiva – foram organizadas entre
nós, sob os auspícios das Sociedades Bíblicas Unidas para se desincumbirem da
sagrada responsabilidade de rever a Tradução de Almeida e atualizar a sua
linguagem.
Estas
duas comissões em sua reunião inaugural, no dia 14 de abril de 1943, sob a
presidência do destacado Pastor César Dacorso Filho, tratavam das “Razões por
que necessitamos de uma revisão das atuais versões da Bíblia em Português”.
Os brasileiros contaram com o apoio irrestrito e a sábia experiência dos Secretários
Executivos das Sociedades Bíblicas Unidas nesta primeira reunião, mas
posteriormente o Secretário de Tradução da Sociedade Bíblica Americana, Dr.
Eugene A. Nida visitou o nosso país com a finalidade precípua de orientar os
trabalhos de tradução e revisão.
Depois
de ponderados e minuciosos estudos das três traduções mais divulgadas no
Brasil, ou sejam: Almeida, Figueiredo e da Tradução Brasileira de 1917, a
comissão decidiu pela revisão da tradução Almeida, observando os seguintes
tópicos:
1º) Fidelidade
ao texto original;
2º) Tradução e não interpretação;
3º) Clareza, correção e elegância de linguagem;
4º) Cunho espiritual da linguagem;
5º) Aproveitamento de outras versões e acesso às línguas originais.
Os
membros da Comissão Revisora faziam parte das seguintes igrejas: Batista,
Congregacional, Episcopal, Metodista, Presbiteriana Independente,
Presbiteriana, Evangélica e Luterana.
De
acordo com a Sociedade Bíblica do Brasil, o trabalho feito não foi uma nova
tradução, mas uma revisão da tradução de João Ferreira de Almeida. Os textos
originais foram Nestle, para o Novo Testamento e Letteris para o Velho
Testamento.
As
modificações feitas em Almeida se basearam, especialmente, nestes aspectos:
1º) Infidelidade
ao original, ou em desacordo com o melhor texto;
2º) Palavra ou frase antiquada demais;
3º) Palavra ou frase que apresentasse alguma impropriedade;
4º) Construção gramatical inferior.
Nesta
revisão, talvez tenha permanecido, no máximo, 30% da linguagem de Almeida, não
sendo de admirar este corte se levarmos em consideração que a linguagem de
Almeida, que estava sendo atualizada, tinha quase 200 anos.
O
renomado vernaculista, Antônio de Campos Gonçalves, secretário e relator da
Comissão nos científica de que a Sociedade Bíblica do Brasil desejou conservar
o mais possível a linguagem de Almeida, mas este objetivo era difícil de ser
alcançado, por ser muito antiga a sua linguagem e por serem diferentes os
originais seguidos por Almeida (Textus Receptus) e pela Comissão Revisora
(Letteris e Nestle).
A
Revista da Sociedade Bíblica do Brasil, faz várias referências à Revisão
Autorizada, mas deve-se ter em mente que é a mesma Edição Revista e Atualizada
no Brasil.
O
Reverendo Antônio de Campos Gonçalves na primorosa Conferência: Evolução
Semântica na Linguagem da Bíblia, pronunciada no Palácio da Cultura, no Rio de
Janeiro, em 8 de dezembro de 1973, a que tivemos o privilégio de assistir,
tratou com eficiência da eliminação da cacofonia na Edição Revista e Atualizada
no Brasil.
A
título de elucidação poderíamos mencionar os seguintes cacófatos dos quais a
Edição Revista e Atualizada no Brasil foi escoimada:
Fé
de Abraão,
Homem de pouca fé,
Alegra-te tu terra,
Embora a cidade esteja já dada,
E todo o Israel que ali se achou,
Estas são, estes são, para ti, como mudo, deste então, vinde então,
Uma mão, como a minha casa,
Manda-me já.
Outros
aspecto contestado por entendidos na arte de traduzir sobre a Almeida
Atualizada são os termos eruditos e rebuscados, desconhecidos até por pessoas
cultas. Preciosismos literários idênticos aos seguintes deveriam ser evitados:
coudelaria (Est. 8:10), excogitar (Sal. 64:6), acrisolar (Sal. 66:10), espelta
(Isa. 28:25), sachar (Isa. 5:2), prevaricações (Ezeq. 33:10), gazofiláceo (Mar.
12:41), recalcitrar (Atos 26:14), inculcando-se ( Rom. 1:22), adágio (II Ped.
2:22).
Não
nos esqueçamos de que a linguagem é correta e o estilo agradável de se ler.
Como bem destacou o Dr. Bittencourt, no livro O Novo Testamento, páginas 244 e
245:
“Nenhuma
tradução é perfeita, nem quanto ao presente, nem futuro. E a última revisão de
Almeida não poderia escapar a este destino.
A
crítica aponta-lhe sérios lapsos de tradução, que seria cansativo enumerar. O
presente autor indica uns poucos exemplos que ele mesmo registrou na Revista
Teológica, publicação do Seminário Teológico Presbiteriano de Campinas, em
1963-64. E, ao comentar o fato sobre o Antigo Testamento com ilustre professor
de línguas da Universidade de São Paulo, ele disse que os Salmos,
especialmente, poderiam ser bem melhorados, quer quanto à tradução propriamente
dita, quer quanto à métrica.
A
própria base grega que serviu à presente revisão pode dar-lhe outro tom quando
melhorada, e é o que acontece no momento com a obra que a American Bible
Society prepara nos Estados Unidos e que virá a lume dentro em pouco. E há
pontos no texto grego, onde só um profundo conhecimento de crítica textual
daria ao revisor os elementos para uma composição final.
Embora
a espaços largos no correr do tempo, a semântica de alguns vocábulos varia.
Novos vocábulos vão sendo criados e outros abandonados, tornando-se arcaicos.
E
para que determinada tradução não envelheça, ela deve ser revista, não só
quanto à língua, mas quanto à tradução propriamente dita, levando-se em conta
as descobertas no campo da crítica textual que sempre trazem novo material para
o aperfeiçoamento do texto sagrado nas línguas originais.
E
esta revisão, tão recente, já pede outros labores que a tornem bem melhor.”
Seria
bom lembrar, que o livro acima mencionado, foi publicado em São Paulo no ano
1965, e que o Novo Testamento tinha sido publicado em 1952, mas a Bíblia
completa apenas o foi em 1959
.
b)
TRADUÇÃO DE FIGUEIREDO
Por
um decreto de 1757, no tempo do Papa Bento XIV, a Bíblia era reconhecida como
útil para robustecer a fé. Esta nova atitude da Igreja Católica Romana deu
impulso à tradução da Bíblia com a Vulgata como base. Entre estes se encontrava
o Padre Antônio Pereira de Figueiredo, nascido perto de Lisboa em 1725.
Por
ser exímio latinista, e como ele mesmo confessa:
“Não
sendo eu nem ainda medianamente instruído nas línguas originais, hebraica e
grega, em que foram escritos, respectivamente, o Velho Testamento e os
Evangelhos, mal poderia sair exata e perfeita esta minha tradução.”
A
sua tradução se baseou na Vulgata.
Por
18 anos ocupou-se deste trabalho, que foi submetido a duas revisões cuidadosas
antes de ser publicado. A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778 em
seis volumes e o Velho Testamento foi publicado em 17 volumes, seguidamente,
desde 1783 a 1790.
A
edição de sete volumes completada em 1819 é considerada o padrão das versões de
Figueiredo. A tradução de Figueiredo em um só volume foi publicada pela
primeira vez em 1821.
A
primeira edição de Figueiredo traz uma introdução notável, onde ele defende a
leitura da Bíblia entre os leigos com as seguintes palavras:
“Ora
se os Sagrados Apóstolos, inspirados sem dúvida, pelo Espírito Santo, queriam e
mandavam que todos lessem as suas cartas, homens, mulheres, grande e pequenos,
eclesiásticos e seculares, quem pode duvidar que a toda a classe de pessoas, de
um e de outro sexo, seja de suma utilidade a leitura das Sagradas Escrituras?
Se, quando a fé dos crentes cristãos estava tenra, como em leite, julgavam
estes primeiros Mestres de Religião, que nenhum mal lhes poderia causar, mas
antes contribuiria muito esta leitura para os confirmar na, fé e para excitar
em todos eles a piedade e o amor de Deus: que perigo pode haver hoje na leitura
dos Evangelhos e Cartas dos mesmos apóstolos, quando a fé está enraizada no
coração de todos os verdadeiros Católicos Romanos e quando as Letras Divinas,
se encontram tão explanadas nos escritos dos Santos Padres e nos comentários de
tantos expositores doutíssimos?”
A
linguagem castiça de Figueiredo lhe deu o título de clássico tanto em Portugal
como no Brasil.
A
principal objeção que se faz à Bíblia de Figueiredo é esta: apresenta
deficiências que se verificam numa tradução de tradução.
Dr.
Benedito P. Bittencourt apresentou ainda as seguintes falhas nesta tradução:
“O
uso de algumas palavras em Português demonstra como foi tendenciosa a tradução
de Figueiredo. Em 1 Pedro 5:5 ele traduz: ‘apoiando a honra dos padres’. Nas
revisões feitas pelas sociedades Bíblicas esta tradução foi mudada para
‘obedecei aos mais velhos’ em harmonia com o original. Em João 11:57 ele traduz
‘pontífice’ em lugar de ‘sumo-sacerdote’, bem como na maioria dos lugares em
que o termo aparece na carta aos Hebreus. A palavra padre, no sentido usado
pela Igreja Romana, é usada, como no exemplo dado, para traduzir a palavra
grega presbíteros em muitos lugares, o que não representa o sentido original.
Figueiredo foi acusado de tradução perifrástica e livre. Em II Cor. 4:8b ele
traduz: ‘Somos cercados de dificuldades insuperáveis e a nenhuma sucumbimos’,
que Almeida revista traduz: ‘perplexos, porém não desanimados’. Não é somente
tradução perifrástica, mas a segunda parte não guarda o significado original.
Ele faz duas pequenas sentenças coordenadas em vez de adversativas. Não foi
influência da Vulgata que ele tinha diante de si, pois esta traz: aporiamur,
sed non destituimur, mas seu próprio modo de traduzir. . . Dezenas de exemplos
se poderiam citar, mas estes poucos dão idéia de como Figueiredo fez sua
tradução: melhor linguagem que a de Almeida, mas pior tradução.” (O Novo
Testamento. Cânon – Língua – Texto, p. 220).
A
tradução de Figueiredo foi a primeira a verter a expressão “kuriakê hemera” de
Apoc. 1:10 para domingo.
Almeida
e Figueiredo continuam as Bíblias mais divulgadas em língua portuguesa por
causa da sua vernaculidade e agradável estilo.
c)
EDIÇÃO TRINITÁRIA DE 1883
Sobre
esta tradução. assim se expressou Arnaldo Christianini:
“Tão
logo se fundou a Trinitarian Bible Society, em Londres, cuidou de verter o
Livro Santo em vários idiomas, inclusive em português, que saiu a lume em 1883.
Esta primeira edição da Trinitária é muito disputada pelos adventistas da fala
portuguesa, ao ponto de se pagarem somas fabulosas por um exemplar, hoje
raríssimo. E por que? Porque ela registra assim S. Lucas 23:43: ‘E Jesus lhe
disse: Na verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso’. E Apoc. 22:14:
‘Bem-aventurados aqueles que guardam os seus Mandamentos, para que tenham
acesso à árvore da vida, e para que entrem na cidade pelas portas’. E assim I
S. João 3:4: ‘… pecado é quebrantamento da Lei’. Estes três textos, assim
traduzidos, casam-se maravilhosamente com certos aspectos da doutrina
adventista. Também Isa. 42:21: ‘… engrandecerá Ele a Lei, e a fará ilustre’.
Entretanto,
tirando esta aparente vantagem, a tradução, nos demais, do ponto de vista
técnico e diante de novas descobertas da Crítica Textual, deixa muito a
desejar, não é recomendável como um todo. A crítica especialmente aponta-lhe
sérios deslizes tradutórios no Velho Testamento, principalmente em alguns
Salmos. A parte do Novo Testamento baseou-se no texto Receptus de 1624, que não
é bom, e foi superado pelo trabalho de Tischendorf e posteriormente por
Westcott and Hort, pelos papiros de Beatty, e mais recentemente pelo famoso e
atualíssimo texto de Ebberard Nestle. Ora, os textos gregos modernos estão
escoimados de interpolações e inexatidão dos textos antigos, pois o trabalho da
Crítica Textual consiste em restaurar, tanto quanto possível o texto original.
À guisa de exemplo, citemos a interpolação de 1 João 5:7 e 8, denominada, entre
os estudiosos, de comma johanneum, e que consiste nas seguintes palavras: ‘no
Céu, o Pai, o Verbo, e o Espírito Santo: e estes três são um. E três são os que
dão testemunho na terra’. Estas expressões foram colocadas na margem de uma
cópia por um escriba, como comentário exegético, e outro copista as inseriu no texto.
O fato é que nenhum manuscrito grego antigo a contém. Embora Erasmo a tenha
registrado no seu texto, mas devido a uma fraude de que foi vítima. Só depois
dos séculos 15 e 16 é que apareceu, com freqüência a ‘Comma Johanneum’, embora
a Vulgata a tenha inserido antes.
A
Versão Trinitária traz, embora em grito, a ‘comma johanneum’, falsa base para a
prova da doutrina da Trindade.
O
português desta primeira edição da Trinitária é simplesmente horroroso,
arcaicíssimo e deselegante. É freqüente o emprego de termos obsoletos e
desusados, como, ‘capros’ (Lev. 16:8), ‘hum’, ‘humo’ (em vários passos),
‘olíbano’ (Isa. 66: 3), ‘graça’ (Sal. 1:4) . . . e sobretudo a inadmissível
grafia dos verbos no futuro (‘virão’, por exemplo).
Cacófatos
dos piores encontram-se por exemplo em II Sam. 1:3; Gên. 25:30; Eze. 45:24;
46:11; Sal. 102:6; Isa. 62:8; II Cor. 11:33; Heb. 11:27. E um verbo de sentido
chulo em S. Lucas 2:6 e 7. A Versão Trinitária em 1883 jamais é referida pelos
eruditos, que a consideram destituída de valor crítico. Contudo, para nós
adventistas, possui ela valor inestimável por causa da redação de alguns textos
que nos são caros.
TRINITÁRIA
REVISADA
Circula
em Portugal, há algum tempo, uma edição revista da Trinitária, com a linguagem
melhorada e atualizada, de acordo com a reforma ortográfica oficializada pela
Academia de Ciências de Lisboa. Mas não melhorou o conteúdo, e foram alteradas
certas redações, inclusive de S. Luc. 23:43, que agora está como as demais
versões: “na verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”. E ainda conserva
boa parte dos cacófatos, e incorreções tradutórias. Os próprios evangélicos
brasileiros não a apreciam.
Fundou-se
recentemente em nosso país, a Sociedade Trinitariana do Brasil, com sede em São
Paulo, com permissão de fazer nova revisão da Bíblia Trinitária. No entanto,
esta entidade, composta de fundamentalistas extremados e agressivos, ao que
indicam suas circulares e publicações, propuseram-se a fazer uma versão bíblica
para satisfazer determinada corrente de pensamento evangélico. Não creio que
nós, adventistas, iremos lucrar com essa anunciada versão. No entanto,
aguardamos.” (Revista Adventista, dezembro de 1969, pp. 14 e 15).
d)
VERSÃO BRASILEIRA DE 1917
Preparada
no Brasil sob os auspícios da Sociedade Bíblica Americana e da Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira. O trabalho foi levado a efeito por uma
comissão de estrangeiros e nacionais. Na comissão do Brasil estavam Antônio B.
Trajano, Eduardo Carlos Pereira e Hipólito de Oliveira Campos, aos quais se
associaram Vergílio Várzea e Alberto Meyer.
Como
amostra da primeira tentativa desta tradução foram publicados em 1904 os
Evangelhos de Mateus e Marcos. Sendo que o trabalho não teve a acolhida que
esperavam, eles resolveram melhorar a tradução de Mateus, que apareceu
novamente em 1905. Outros livros foram sendo publicados, sucessivamente, até
que em 1917 foi publicada a edição final da Bíblia completa. Afirmam os
entendidos na arte de traduzir que esta tradução apresentou algumas
deficiências, como as seguintes:
1º) Translitera
os nomes próprios em vez de os traduzir;
2º) Sua linguagem fica aquém do padrão de excelência;
3º) Apresenta certa tendência para interpretar em lugar de traduzir;
4º) Aparecimento de vários erros que deixaram de ser corrigidos.
Por
estas e outras desvantagens, não foi bem aceita pelos evangélicos do Brasil e a
Sociedade Bíblica não mais a publica.
e)
TRADUÇÕES CATÓLICAS NO BRASIL
1) Dentre
as traduções portuguesas uma das mais difundidas no Brasil, encontra-se a de
Matos Soares, feita em Portugal em 1933, mas divulgada entre nós desde 1942,
quando foi publicada pelas Edições Paulinas. Como a de Figueiredo também foi
traduzida da Vulgata.
Arnaldo
Christianini indicou os seguintes pontos negativos nesta tradução: Dentre suas
notas explicativas no rodapé algumas são absurdas e outras até ingênuas, mas
ali são apresentadas com o evidente objetivo de marcar a teologia romana. O
próprio texto é entremeado de palavras acrescentadas em grifo, entre
parêntesis, aparentemente para elucidar o sentido, mas na verdade para forçar a
teologia católica. Por exemplo: para querer provar a vingança de Deus, assim
verte II Tim. 2:13: “Se não cremos (se formos infiéis), ele permanece fiel (às
suas promessas e às suas ameaças), não pode negar-se a si mesmo (deixando de
nos castigar). Afirmações absurdas.
Coisas
piores há nessa versão. Muda arbitrariamente o tempo dos verbos em I Tim. 3:12;
3:2 e Tito 1:6, dizendo que o bispo e o diácono “tenham desposado” uma só
mulher, ou “tenha tido” uma só mulher, sugerindo que, no momento da ordenação,
deviam estar viúvos. Isto para combinar com o dogma do celibato clerical. Estes
poucos exemplos são suficientes para provar que é uma tradução tendenciosa.
2) Bíblia
Sagrada, tradução de Frei João Maredsous, conhecida entre nós por “Bíblia da
Ave Maria”.
3) outra
tradução realizada aqui no Brasil, e esta baseada nas línguas originais, por um
grupo de professores de exegese, é a Santa Bíblia.
4) Em
1965 iniciou-se a publicação de uma Bíblia artística, a Bíblia mais bela do mundo,
em 8 volumes, obra concluída em 1968.
5) Em
1967 as Edições Paulinas organizaram sobre a versão italiana feita diretamente
dos originais pelo Pontifício Instituto Bíblico, uma nova tradução do texto
sagrado, em edição artística (3 volumes) e em edição popular em um só volume.
6) A
Bíblia de Jerusalém. É um dos mais significativos projetos intelectuais em
matéria da Bíblia. Traduzida diretamente dos textos originais, seguindo a
crítica textual da Escola Bíblica de Jerusalém. Além do texto sagrado apresenta
útil subsídio lingüístico, histórico e arqueológico.
A
Bíblia em Quadrinhos.
Conhecida
também como A Mais Bela História. Possui mais de 800 ilustrações, onde a
História Sagrada é apresentada de maneira dinâmica e agradável. Já foram
vendidos no Brasil quase cem mil exemplares.