Oculta sob chavões acadêmicos, muitas vezes indecifráveis para o
público leigo, está a verdade latente de que o pensamento evolucionista é
escravo da filosofia naturalista, com que tem um comprometimento a priori...
Navegando pela Net,
encontrei esta definição em um artigo nada parcial sobre comportamentos
"emergentes", na ótica naturalista. Postei o que vem logo abaixo em
uma comunidade de discussão na Internet, há alguns meses. Aproveitei para fazer
5 considerações que advieram de uma análise crítica de tal definição. Este,
portanto, foi o ponto de partida para uma discussão com alguns biólogos,
teólogos, professores, filósofos e estudantes de várias áreas. Transcrevo,
agora, principalmente para os interessados nas áreas relacionadas, o texto
exposto na íntegra (salvo alumas adaptações para a publicação neste estudo) :
"Um comportamento emergente ou
propriedade emergente pode aparecer quando uma quantia de entidades (agentes)
simples operam em um ambiente, formando comportamentos complexos no coletivo. A
propriedade em si é comumente imprevisível e imprescendente, e representa um
novo nível de evolução dos sistemas. O comportamento complexo ou as
propriedades não são a propriedade de nenhuma entidade em particular, e eles
também não podem ser previstos ou deduzidos dos comportamentos das entidades em
nível baixo".
(Fonte: Artigo Wikipédia)
Esta
é uma clássica posição evolucionista que, observem, a priori, já demonstra seu comprometimento
com a filosofia
naturalista: "...O comportamento complexo ou
as propriedades não são a propriedade de nenhuma entidade em particular".
Várias observações podem ser feitas quanto a um comentário deste tipo:
1
-
Talvez não se tenha apercebido que seu comprometimento com a filosofia
naturalista é a priori. Isto NÃO é novidade para ninguém, principalmente
depois de algumas declarações que repercutiram muito na mída. Richard Dawkins,
o mais famoso militante anti-religião, afirmou: "Nosso comprometimento
filosófico com o materialismo e o reducionismo é verdadeiro",
em correspondência eletrônica com Phillip Johnson, líder do movimento chamado
"Projeto Inteligente", nos EUA. [Leia mais...] Chamamos isso em ciência de
argumentação do "é
porque é".
Richard
Lewontin, de Harvard, deixa isso claro como água, quando corajosamente
reconhece algumas implicações de causa e consequencida da teoria que defende.
No The New York Review of Books, de 1997, ele disse: "Assumimos o lado da
ciência, apesar do patente absurdo de alguns de seus constructos, a despeito de
sua falha em cumprir muitas de suas promessas extravagantes de saúde e vida, a
despeito da tolerância da comunidade científica pelas histórias do tipo "é
porque é", porque nos comprometemos previamente com o materialismo. (...) Além do mais,
este materialismo é absoluto, pois não permitir a entrada de nada que seja
divino".
Negar isto é infantilidade.... (p. ex.: negar que a "lei" do próprio Popper NÃO é científica, pois se fosse, ela mesma teria de ser falseável, o que é um absurdo, pois para que tenha alguma validade ela precisa ser "absoluta". Isto exemplifica que se a ciência quiser ser levada à sério, ela precisa saber que, inelutavelmente, está andando pelos (às vezes, sorrateiros) campos da filosofia e da lógica.
3 - A citação ainda diz: "Um comportamento emergente ou propriedade emergente pode aparecer quando uma quantia de entidades (agentes) simples operam em um ambiente, formando comportamentos complexos no coletivo".
Isto é completamente especulativo... Vide o trabalho sobre o flagelo bacteriano, por exemplo. [Leia mais...] À propósito, muita confusão se faz sobre o design inteligente. Aqui, uma interessante carta, dirigida ao leitor/público acadêmico, da SBPC: [Leia mais...] (peço-lhes que leiam com calma.. boa explanação deste leitor do Jornal da Ciência). Não se vê, em relação à matéria e à organização complexa de organismos, no universo, nada que vá do mais simples ao mais complexo. Pelo princípio entrópico, vemos o contrário: Do mais complexo ao mais simples... Tudo o que burla isto, abertamente, é a TE.
Somente na TE vemos que o mais simples vai ao mais complexo, eliminando-se retórica e filosoficamente todas as questões físicas e metafísicas ligadas à criação da vida. Se não há biogênese espontênea (geração espontânea), um problema maior inrrompe: a fatídica explicação para uma existência prévia eterna da matéria, o que é um contra-senso já combatido pelo famoso argumento kalam, que demonstra a impossibilidade de uma regressão infinita de eventos contingentes (isto é, "causados por outros"), pois, se tal regressão existisse, jamais existiria o presente, o dia de hoje.
4 - O paradoxal não termina aí. Gosto muito do Carl Sagan.. Ele foi um dos principais divulgadores da ciência.. mas, péssimo em questões de lógica e metafísica. Carl era um dos simpatizantes da teoria do "universo inflacionário", que claramente burla a impossibilidade de regressão infinita de eventos contingentes. Outra questão interessante, é que Carl afirmou em seu romance, "Contato", que uma simples sequência de números primos era o suficiente para que qualquer cientista do SETI soubesse que a mesma tinha uma origem inteligente.
Ora, na série Cosmos, Carl faz uma analogia com a nossa capacidade cerebral e a biblioteca do congresso nacional americana: Em termos de dados codificados, o volume da BCN americana está presente em nossos cérebros. O que não consigo entender é que não exista nada no universo (posição prévia de Carl) que possa originar uma sequencia de números primos... mas "não pode haver uma explicação metafísica" - uma explicação em Deus, por exemplo, mas temos que imaginar que o tempo e as forças aleatórias originaram e deram continuidade ao desenvolvimento dos processos altamente complexos da natureza (viva), levando-os até à cognição!!!
5 - E, finalmente, se o cérebro produziu a auto-consciência, este é um evento que não encontra paralelo em nenhum sistema estudado até hoje, e vai de encontro a todos os processos epistemológicos que conhecemos... Como uma "máquina" pode criar o "sofware" que irá operá-la? Isto NÃO é fato com a AI, como bem o sabemos... Adequando-se à constante de causa-efeito, a AI tem uma causa mais inteligente do que ela mesma, assim como todos os passos necessários que levaram a ela.. não vieram de uma "seleção natural", mas foram pesquisados, projetados, desenvolvidos, idealizados SEMPRE; isto sim é algo que adequa-se aos nossos sistemas epistemológicos.
Creio, sinceramente, que falta uma análise verdadeiramente crítica dos padrões estabelecidos quanto ao desenvolvimento da inteligência a partir de meios puramente naturais (naturalismo), que, penso eu, são claramente mais filosóficos do que empíricos. Na ânsia de se retirar Deus de cena, ou de se associar a metafísica à supersticiosidade, os defensores do naturalismo filosófico, declaradamente pressuposicionalistas, tornam-se aquilo que mais tentam combater!
Análise sobre o suposto paradoxo do ponto "2"
Uma leitura um pouco mais atenta verá que é inegável, no momento, fazer a seguinte pergunta: "A falseabilidade aplica-se à própria teoria do método científico (na qual há a falseabilidade)?". Para isso, penso que será importante fazemos uma reflexão breve sobre o que é paradoxo. Eis um texto interessante:
Paradoxos
e falsos paradoxos
Vamos
então ver alguns exemplos de paradoxos e de falsos paradoxos. Imagine o leitor
que encontrava a seguinte frase no jornal da manhã: «esta frase é falsa». Se o
leitor tiver o hábito, aliás saudável, de desconfiar do valor de verdade de
tudo o que lê no jornal, perguntar-se-ia certamente: será esta frase
verdadeira? Imaginemos que sim. Bom, se a frase for verdadeira, verifica-se
aquilo que ela afirma, certo? Mas a frase afirma dele mesma que é falsa. Logo,
se for verdadeira, é falsa. E se for falsa? Bom, se for falsa não se verifica
aquilo que ela afirma. Mas a frase afirma dela mesma que é falsa. Logo, se for
falsa é verdadeira. Chegámos então ao resultado paradoxal: a frase é verdadeira se for falsa e é falsa se for verdadeira. Abreviadamente, costumamos dizer que a frase é verdadeira se, e só se, for falsa. Este é o resultado que qualquer paradoxo tem de produzir; se não o produzir não é um paradoxo, apesar de poder ser confundido com um paradoxo. Por exemplo, na página 71 do manual de Fátima Alves, José Arêdes e José Carvalho, no qual se apresenta o paradoxo de Epiménides como um exemplo de uma falácia, a formulação escolhida pelos autores é a seguinte:
o sofisma de
Epiménides, poeta cretense do século VI a.C., que afirmou: «todos os cretenses
são mentirosos». Ora, atendendo a que ele próprio era cretense, será o
enunciado verdadeiro?
É
deplorável a capacidade inventiva dos autores, que os fez transformar o
conhecido paradoxo do mentiroso num «sofisma» ou falácia. O leitor já sabe que
a condição de possibilidade para que algo seja um paradoxo é não ser uma falácia, de
forma que esta confusão entre as duas categorias é um erro científico muito
grave. Mas é também interessante verificar que a formulação clássica do
paradoxo do mentiroso, apresentada pelos autores, não é, na verdade, um
paradoxo! Repare-se: Epiménides afirma que todos os cretenses são mentirosos. Mesmo que admitamos que por «mentirosos» se quer dizer «pessoas que nunca dizem a verdade» (o que constitui, convenhamos uma definição estranhíssima de mentiroso), não se consegue gerar nenhum paradoxo. Ora veja lá: admitamos que o que Epiménides disse é verdade; daí segue-se todos os cretenses são mentirosos; logo, o que ele diz, porque é cretense, é falso. Logo, se o que ele diz é verdade, é falso. Admitamos agora que o que Epiménides disse é falso. Se o que ele disse é falso, a negação do que ele disse é verdade. A negação do que ele disse é «alguns cretenses não são mentirosos». Mas não há nenhum problema em admitir que Epiménides é cretense e que alguns cretenses não são mentirosos. Na verdade, Epiménides, ao afirmar que todos os cretenses são mentirosos, está a pregar-nos uma grande mentira: a verdade é que alguns cretenses não o são. E uma vez que ele nos está a mentir, ele é que é mentiroso!
Conclusão: não se trata de um paradoxo. Se raciocinarmos disciplinada e sistematicamente descobrimos que afinal a afirmação de Epiménides tem de ser falsa. Se fosse um paradoxo, a sua afirmação não podia ser verdadeira nem falsa.
Mas então, perguntará o leitor, por que razão se formulava tradicionalmente desta forma errada o paradoxo do mentiroso? Porque se errava ao raciocinar! A negação da afirmação «todos os cretenses são mentirosos» é, como disse acima, «alguns cretenses não são mentirosos»; mas é fácil errar e pensar que a sua negação é antes «nenhum cretense é mentiroso». Por que razão esta última não é a negação da outra? É simples: a negação de uma frase qualquer tem de ter o valor de verdade oposto a essa frase, como é óbvio. Se a frase «todos os portugueses são altos» é verdadeira, a sua negação tem de ser falsa e vice-versa. Mas agora repare que, apesar de esta frase ser falsa (como é óbvio, nem todos os portugueses são altos), a frase «nenhum português é alto» é também falsa. Logo, apesar de esta última parecer intuitivamente constituir a negação da primeira, não o é de facto. Este facto simples já era conhecido por Aristóteles, que chamou «contrárias» a estas frases que não são a negação uma da outra. Às frases que se negam mutuamente chamou Aristóteles «contraditórias».". (Revista Intelecto, nº 5)
Baseado
no que foi dito acima, responda: A teoria do método científico é científica? Se
a resposta for "SIM" (o que não é o caso), então deve-se
aplicar a falseabilidade. Observe que, no mínimo, NUNCA se poderá dizer
que a teoria do método científico é plenamente confiável, pois SEMPRE HAVERÁ
A POSSIBILIDADE DE NÃO SER. Isto, por si só, não satisfaz a condição
epistemológica. Se a resposta for "NÃO", ela falha no quesito
falseabilidade e deve ser abandonada como critério científico, ou seja, falha
naquilo para o quê foi criada: separar o que é científico do quê não é. Não há
nada de paradoxal, nada ad infinitum na pergunta, portanto. O que resta
é que o "SIM" é ruim... e o "NÃO", para a
"toda-poderosa" teoria do método científico, é pior!
Por Pr. Artur Eduardo