Prezados leitores, nesta oportunidade
gostaria de refletir com vocês sobre a relevante influencia da teologia
reformada para o publico assembleiano e também comentar algumas postagens do
Pr. Altair Germano (vice-presidente da COMADALPE), aonde em seu blog ele
publicou artigos sobre a necessidade da Assembleia de Deus se desfazer desta
influencia com a motivação de fortalecer a sua identidade teológica arminiana.
A centenária igreja Assembleia de Deus
teve sua historia marcada pelas manifestações do Espírito Santo, pela busca dos
dons espirituais e pela luta e empenho dos seus fundadores e primeiros irmãos
que sofreram duras perseguições devido a sua forma de servir e adorar a Deus,
até mesmo por muitas igrejas reformadas históricas que por não entenderem o
trabalhar de Deus através deste povo acabaram por tentar impedir o crescimento
desta nova denominação que se destacava pela ação sobrenatural do Espírito
Santo na vida dos irmãos, mas esta igreja rompeu as barreiras e se tornou em
100 anos a maior denominação evangélica do país e uma das mais influentes na
sociedade. A igreja cresceu através do trabalho evangelístico, abertura de
congregações, principalmente em áreas inóspitas pregando a Jesus Cristo e a
busca pelo batismo com o Espírito Santo através da evidencia do falar em
línguas estranhas, mas na história desses 100 anos, são poucas as vezes que
você vai ouvir falar sobre a identidade teológica da igreja, no tocante ao
debate entre arminianos e calvinistas, a Assembleia de Deus passou muito tempo
sendo vista por muitos como uma igreja a parte desta questão, mesmo porque seu
foco era outro, o publico assembleiano não era conhecido pela sua profundidade
bíblica, mas pela sua busca espiritual, até hoje este legado tem sido uma
realidade em nosso meio, esta igreja cresceu ensinando o povo a orar muito,
jejuar muito e ler pouco a Bíblia, ou somente o necessário para não se desviar,
como existia e existe uma predisposição para que a igreja continue crescendo e
abrindo congregações, isso em alguns aspectos não lhe permitiu como não lhe permite
ter o tempo necessário para preparar biblicamente seus obreiros e
consequentemente o seu rebanho.
Com o tempo, a necessidade de uma
identidade teológica foi crescendo e a igreja teve que assumir um lado e o lado
escolhido foi o da teologia arminiana, uma decisão que em primeira instancia,
pareceu mais uma atitude tomada para responder a seus críticos teológicos do
que propriamente aderir a uma identidade teológica, mesmo porque na prática não
mudou muita coisa, o conhecimento teológico da sua identidade arminiana era tão
rasa quanto seu conhecimento bíblico. A Assembleias de Deus nunca tratou como
prioridade a instrução bíblica, nem tão pouco a teológica de fato, quando
existia algum embate, a resposta de muitos assembleianos antigamente era
ignorar tais questões e deixar a cargo do Espírito Santo as respostas, as áreas
de ensino bíblico e teológico em muitas convenções vinculadas a CGADB, ainda
hoje são levadas em banho maria e por conta disso, não somente a identidade
teológica da igreja esta comprometida, mas principalmente a identidade dos
cristãos com a Palavra de Deus. Quero deixar bem claro que este artigo não é
uma defesa da teologia reformada, mas estou tentando explicar que a falta de
identidade teológica existente hoje na Assembleia de Deus é fruto de uma
historia vivida a margem da instrução bíblica teológica desta tão importante
denominação, isso é uma realidade histórica. Existem crianças em formação
cristã em uma igreja reformada que dão banho de conhecimento teológico em
muitos assembleistas centenários, mesmo porque a maioria não sabe nem quem foi
Jacob Armínio, existem seminaristas da Assembleia de Deus que nunca leram
autores arminianos, depois de 100 anos a CPAD esta se mobilizando em publicar
obras arminianas.
Meus irmãos não podemos pensar em dar uma
identidade teológica a Assembleia de Deus com este sistema de igreja que
funcionou muito no passado, mas que hoje necessita de uma reforma profunda
principalmente no seu aspecto educacional, mesmo porque, antes de formamos
cristãos bem resolvidos teologicamente, temos que formar cristãos convictos de
sua fé mediante a uma profundidade de conhecimento Bíblico relevante para lhes
servir como base espiritual, só a partir desta situação teremos condições de
termos uma identidade teológica bem fundamentada, mas até lá, cobrar tal coisa
é chover no molhado, é uma questão cultural e toda mudança nesse sentido requer
tempo e principalmente vontade da liderança em fazer diferente.
Sobre a influencia da teologia reformada,
eu acredito que a Assembleia de Deus tem uma grande divida de gratidão com os
teólogos reformados, graças a eles não estamos em uma situação teológica pior e
graças a sua influencia a igreja tem produzido bons teólogos e pensadores
cristãos, mesmo porque é inegável a qualidade daqueles que são influenciados,
sejam como pregadores, lideres professores e tantas outras funções, por
reformados como Calvino, Spurgeon, Hernandes Dias Lopes, Augustus Nicodemos,
John Piper, Dr. Martyn L. Jones, dentre outros que fizeram e fazem historia como
teólogos reformados. Não estou dizendo que a teologia reformada é perfeita,
assim como a arminiana não é, não concordo em aceitar uma e desprezar
categoricamente a outra a considerando, em alguns casos, como heresia, isto, na
minha humilde opinião é uma postura tendenciosa e desonesta, mesmo porque tanto
uma como a outra tem fundamentações bíblicas, mas a reformada sai na frente
pelo fato de ser melhor estruturada e trazer uma ideia mais querente com o
plano de salvação, mas isso não me da o direito de renegar alguém que tem uma
posição teológica arminiana, ele também é meu irmão em Cristo e esse tipo de
debate deve se limitar a questões e ambientes determinados, não deve ser algo
que influencie o meu jeito de tratar as pessoas na igreja, mesmo porque esse tipo
de disputa não fará diferença em relação a minha salvação e a minha condição
diante de Deus, continuo pobre, miserável, carente do socorro divino em minha
vida, assim como Calvino e Arminio o eram, acredito que o problema todo está em
entendermos isso e acabarmos com esta rivalidade besta que não nos edifica nem
nos leva a lugar nenhum.
Em relação a influencia da literatura
reformada na CPAD, acredito que não podemos culpar a editora por publicar
teologia de verdade, antes de me criticarem, me entendam, por favor. A teologia
pentecostal assembleiana é recente se compararmos com a historia da teologia
reformada, esta diferença de idade, consequentemente tem efeitos em seu
material literário isso afeta até mesmo ou autores reformados, pois as obras clássicas
se tornam um crivo teológico aonde se avalia a relevância do material produzido
em nossos dias. Por essas e outras razões não podemos descartar as obras e a
influencia dos autores reformados clássicos, por uma teologia que ainda esta
tomando forma, o certo seria criarmos um crivo assembleiano em relação às obras
reformadas, mas para criarmos este parâmetro de avaliação literária, temos que
ter uma instrução muito bem fundamentada em relação a nossa identidade
teológica. Um cristão reformado, ele le sem problemas literatura arminiana,
isso devido a uma formação cristã teológica que lhe deu uma identidade e esta
identidade, lhe faz ser capaz de ler qualquer linha teológica, sem
descaracterizar os seus fundamentos reformados, coisa que na assembleia a gente
não tem, por que nos faltou uma base que nos fundamentasse em nossa identidade
teológica, o que falei no principio do artigo.
Não podemos deixar de ler Berkhof, por exemplo, por
medo de nos desviar ou ficarmos mais frios espiritualmente, este tipo de sentimento
é algo muito medíocre para um cristão lavado e remido no sangue de Jesus, sem
falar que vamos desprezar a obra de um dos melhores teólogos reformados, tendo
a sua teologia sistemática como pai de todas, acreditar nesses perigos é o
mesmo que acreditar em bicho papão. Durante muito tempo, muitos lideres
assembleistas aterrorizavam seus membros dizendo que a teologia poderia os
matar espiritualmente e isso durante anos ganhou força e nos trouxe como
resultado esta realidade de falta de identidade teológica, a nossa ignorância
nos jogou no atraso, nos tornando cristãos superficiais e sem fundamento,
teimosos, relaxados e alienados, pois aprendemos a valorizar mas o místico e o
mítico do que a realidade de Deus para nossas vidas. Por isso que sou a favor que
a CPAD continue publicando obras de autores reformados, porque alem de oferecer
teologia de verdade ao povo, vai dar trabalho aos seus pastores em estudar mais
para formar um rebanho convicto de sua identidade teológica.
Estarei publicando outros artigos com este assunto, pois há pontos importantes a serem considerados que vão ficar para um próximo momento, nesta primeira oportunidade meu foco foi mostrar que a falta de identidade teológica na Assembleia de Deus, está ligada as limitações e deficiências em seu processo de formação cristã e uma citação em relação a contribuição teológica dos autores reformados ao publico assembleiano.
DEUS VOS
ABENÇOE!!!
Vicente Leão