Muitos céticos, agnósticos e ateus questionam a
veracidade de Jesus à luz da história. Se Jesus realmente não existiu, não há
qualquer razão para ser cristão. De fato, o Cristianismo poderia ser
considerado um belo modelo de conduta moral, mas totalmente falso, pregando o
amor àquele que não existe, que alguém que nunca existiu deu a vida por nós e
que nunca houve sua ressurreição dos mortos. Assim sendo, tudo aquilo que
envolve expiação pelos pecados, salvação e justificação pela fé seria
completamente aniquilado.
Por outro lado, se Jesus realmente existiu, já
temos um primeiro importante passo para a veracidade da fé cristã. Isso
provaria que os apóstolos não inventaram uma história em torno de Jesus Cristo.
Que alguém realmente acreditou ser o Verbo encarnado, que se fez homem, que
habitou entre nós, que morreu e que – pelo menos de acordo com esses discípulos
– teria ressuscitado dos mortos. Mas os ateus têm base histórica para negar a
existência de Jesus?
Não, eles não têm. Alguns citam um texto falsamente
atribuído ao papa Leão X, que teria dito:
“A fábula de Cristo é de tal modo lucrativa que
seria loucura advertir os ignorantes de seu erro”
Essa frase é espalhada aos montões pelos sites
ateus, como se fosse verdadeira. Na verdade, ela não passa de uma falsificação
descarada, que sites sem um mínimo de credibilidade repassam sem nem ao menos
citarem a fonte, porque ela não existe. Os poucos que citam alguma fonte
mostram como sendo da 14ª edição da Enciclopédia Britânica, volume 19, página
217. Essas páginas não só não mencionam a tal citação, como
nem mesmo aparecem no volume do artigo do papa Leão X!
A verdade por detrás dessa falsa citação que
circula nos sites ateus é que ela foi feita por John Bale, que era um
dramaturgo e satírico do século XVI. Ele escreveu muitas paródias, dentre elas
uma obra satírica chamada de O Cortejo dos Papas, que é a
verdadeira fonte da citação em questão. James Patrick Holding, em seu artigo
intitulado: “Será que o papa Leão X realmente disse que Cristo era uma fábula”,
elaborou cinco pontos simples que nenhum ateu que cita esse texto é capaz de
responder:
1º Quando é que
Leão X fez esta declaração? (o ano é suficiente)
2º Para quem
fez este comentário, e quem ouviu?
3º Qual era o
contexto que levou Leão fazer esta afirmação?
4º Em que
documentos que aqueles que o ouviram as relatou?
5º Em que obras
contemporâneas tudo isso é relatado?
A verdade é que, na inexistência de declarações
históricas que contestem a existência de Cristo ou que atestem alguma farsa em
torno da “criação” de um “mito” chamado Jesus, eles precisam desesperadamente
apelar para a falsificação de textos. Isso porque a verdade histórica é
incontestável: Jesus Cristo realmente existiu. E é isso o que veremos a partir
de agora, citando autores não-cristãos que viveram no primeiro século e
testemunharam da existência de Jesus Cristo.
• Flávio Josefo (37 – 100 d.C)
Josefo foi o mais importante historiador judeu do
século I, e seus escritos são bastante utilizados nas mais diversas áreas que
envolvem a história daquela época, mais especialmente à guerra entre Jerusalém
e Roma em 70 d.C, narrada por Josefo com detalhes. Como judeu e historiador,
ele não deixou de expor aquilo que notoriamente ocorreu na Palestina pouco
antes de ele nascer: o homem chamado Jesus. Vejamos alguns trechos de seu texto
mais conhecido e analisemos com outras cópias encontradas:
“Naquela época vivia Jesus, homem sábio, se é que o
podemos chamar de homem. Ele realizava obras extraordinárias, ensinava aqueles
que recebiam a verdade com alegria e fez-se seguir por muitos judeus e gregos.
Ele era o Cristo. E quando Pilatos o condenou à cruz, por denúncia dos maiorais
da nossa nação, aqueles que o amaram antes continuaram a manter a afeição por
ele. Assim, ao terceiro dia, ele apareceu novamente vivo para eles, conforme
fora anunciado pelos divinos profetas a seu respeito, e muitas coisas
maravilhosas aconteceram. Até a presente data subsiste o grupo dos cristãos,
assim denominado por causa dele”[1]
Alguns ateus, na inexistência de qualquer
contra-argumento satisfatório a este texto, afirmam que ele foi simplesmente
falsificado, e que essa descrição de Jesus não passa de mera interpolação feita
por algum escriba cristão primitivo. Ocorre, contudo, que a obra de Josefo nem
cristã era. Josefo era judeu, não cristão. Sua obra não estava na posse dos
cristãos com exclusividade. Elas eram dirigidas à comunidade judaica da
Mesopotâmia, escritas em língua aramaica, posteriormente traduzida em outros
idiomas.
Como é, então, que os judeus não-cristãos da
Mesopotâmia (a quem suas obras eram dirigidas) iriam falsificar a obra de
Josefo colocando o nome de Jesus ali? O que é que eles ganhariam com essa
falsificação, se eles não eram cristãos? Ora, como todo escrito antigo, temos
diversas cópias (manuscritos) da obra de Josefo, nas mais diversas línguas. Mas
em nenhuma delas vemos a omissão da descrição de Jesus!
Se os judeus, para quem sua obra foi endereçada,
não iriam fazer cópias falsificadas de seus escritos colocando Jesus ali (já
que eles não teriam nada a ganhar com isso), então onde estão as cópias dos
manuscritos judaicos de Josefo que omitem a menção a Jesus? Esperaríamos
encontrar muitas delas, provavelmente a maioria, mas, ao invés disso, não
encontramos nada!
Além disso, eruditos como Harnack, C. Burkitt e
Emery Barnes, após longos e minuciosos estudos estilísticos e filológicos da
obra de Josefo, afirmaram que o texto de Josefo sobre Jesus é autêntico em sua
totalidade. Até mesmo quando os escribas traduziam sua obra para outros idiomas
e tinham o “pé atrás” quanto a uma citação tão explícita sobre Jesus, eles não
omitiam toda a passagem, mas a simplificavam. É por isso que o texto árabe da
obra de Josefo diz:
“Naquela época vivia Jesus, homem sábio, de
excelente conduta e virtude reconhecida. Muitos judeus e homens de outras
nações converteram-se em seus discípulos. Pilatos ordenou que fosse crucificado
e morto, mas aqueles que foram seus discípulos não voltaram atrás e afirmaram
que ele lhes havia aparecido três dias após sua crucificação: estava vivo.
Talvez ele fosse o Messias sobre o qual os profetas anunciaram coisas
maravilhosas”
Se analisarmos as diferenças, são apenas estas: um
diz que ele era o Cristo, o outro diz que talvez ele fosse; um diz que ele
ressuscitou e apareceu vivo, outro diz que os seus discípulos acreditavam em
tal fato. De qualquer modo, a existência histórica de Jesus é incontestável. Um
sábio israelita, Shlomo Peres, estudou esses diferentes manuscritos e considera
ter atingido a “versão mínima” de Flávio Josefo:
“Nesse tempo vivia um sábio chamado Jesus.
Comportava-se de uma maneira correta e era estimado pela sua virtude. Muito
foram os que, tanto Judeus como pessoas de outras nações, se tornaram seus
discípulos. Pilatos condenou-o a ser crucificado e a morrer. Mas aqueles que se
tinham tornado seus discípulos não deixaram de seguir a sua doutrina: contaram
que ele lhes tinha aparecido três dias depois da sua crucifixão e que estava
vivo. Provavelmente ele era o Messias sobre quem os profetas contaram tantas
maravilhas”
Portanto, vemos que até mesmo quando traduzida por
escribas em outros idiomas e por outros povos, que não eram cristãos e
não tinham nada a ganhar falsificando um texto para provar a existência de
Jesus, ainda assim vemos a existência histórica de Jesus Cristo sendo
confirmada irrefutavelmente.
Mas essa não foi a única menção de Josefo acerca de
Jesus. Ele também disse:
“Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia
a função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional
ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos,
eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano
concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia
morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes,
perante o qual trouxe Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, junto
com alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para
serem apedrejados”[2]
Temos aqui não apenas outra referência de Josefo
sobre Jesus, mas também a confirmação de que tinha um irmão chamado Tiago que,
obviamente, não era bem visto pelas autoridades judaicas. Não há sequer uma
única pista que este outro texto possa ser forjado, tornando tais objeções dos
ateus como mera tentativa de negar o óbvio que está diante dos seus olhos.
Na verdade, a Igreja Católica papal medieval não
teria nenhuma razão para adulterar este texto, muito pelo contrário, pois ele
diz claramente que Tiago era irmão, e não primo de
Jesus, como a Igreja Católica alega. A Igreja Católica ensina o dogma da
virgindade perpétua de Maria, segundo o qual os irmãos de Jesus não eram
irmãos, mas primos. Portanto, que razão teria a Igreja Católica em adulterar um
texto que iria contra os seus próprios dogmas? Quando muito, se tivesse
falsificado algo teria obviamente dito “primo” de Jesus, e não “irmão” dele, o
que vai contra os seus próprios dogmas!
Como os ateus respondem a mais essa evidência?
Muitos afirmam que esse Tiago não é o irmão de Jesus, pois ele teria sido morto
pela espada muito antes daquele acontecimento (At.12:2). Seria verdade? Pois
bem, vejamos o que Paulo tem a nos dizer sobre isso:
“Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para
ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos
apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gálatas 1:18,19)
Na narração citada em Atos, Paulo ainda não era
convertido ao Cristianismo, e ele não chegou a conhecer Tiago, que foi o
primeiro apóstolo mártir da Igreja. Mas como esse Tiago poderia ser o irmão de
Jesus, se depois de sua conversão Paulo se encontrou com ele? Na verdade, eles
tentam aplicar esse fato a outro Tiago, que é irmão de João, e não o irmão de
Jesus. Mas, como vimos, o Tiago que Flavio Josefo se refere é mesmo o irmão de
Jesus. Portanto, vimos aqui mais uma das provas dentro da história narrado por
um judeu não-cristão, um historiador respeitado no mundo todo até hoje, e que
vai totalmente de acordo com as narrativas dos evangelhos e das epístolas
paulinas.
Norman Geisler e Frank Turek complementam:
“Por que Josefo não fez mais referências a Jesus?
Podemos conjecturar que, como historiador do imperador, Josefo tinha de
escolher os temas e as palavras com muito cuidado. De modo mais patente,
Domiciano suspeitava de tudo o que pudesse ser associado a sedição. Esta nova
seita chamada cristianismo poderia ter sido considerada sediciosa porque os
cristãos tinham esse novo e estranho sistema de crenças e recusavam-se a adorar
César e os deuses romanos. Como resultado disso, Josefo certamente não queria
alarmar ou irritar seu chefe ao escrever um grande número de comentários
favoráveis sobre o cristianismo”[3]
Todavia, essas duas referências confirmam a
existência de Jesus e de Tiago e corrobora os relatos do Novo Testamento.
Ademais, temos também várias menções de Josefo a outro personagem bíblico
importante nas narrativas bíblicas, aquele que “abriu o caminho” para o
ministério de Jesus Cristo na terra. Trata-se de João Batista, outro que é
considerado um mito para os ateus. Primeiro há uma referência indireta a ele,
podendo, com toda a probabilidade, tratar-se de João Batista:
“Vivia tão austeramente no deserto que só se vestia
da casca das árvores e só se alimentava com o que a mesma terra produz; para se
conservar casto banhava-se várias vezes por dia e de noite, na água fria;
resolvi imitá-lo!”[4]
O texto em pauta faz irresistivelmente pensar em
João Batista. A semelhança com João, o Batista, da Bíblia Sagrada, é notável:
“Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no
deserto da Judéia [...] Usava João vestes de pêlos de camelo e cintos de couro;
a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre” (Mateus 3:1,4)
Mas não para por aqui. Josefo também faz uma referência
direta a João Batista, quando diz:
“Vários julgaram que aquela derrota do exército de
Herodes era um castigo de Deus, por causa de João, cognominado Batista.
Era um homem de grande piedade, que exortava os judeus a abraçar a virtude, a
praticar a justiça e a receber o batismo, depois de se terem
tornado agradáveis a Deus, não se contentando em só não cometer pecados, mas
unindo a pureza do corpo à pureza da alma. Assim como uma grande multidão de
povo o seguia para ouvir a sua doutrina, Herodes, temendo que o poder que ele
tinha sobre eles viesse a suscitar alguma rebelião, porque eles estavam sempre
prontos a fazer o que ele lhes ordenasse, julgou dever prevenir o mal para não
ter motivo de se arrepender por ter esperado muito para remediá-lo. Por esse
motivo mandou prendê-lo numa fortaleza de Maquera, de que acabamos de falar, e
os judeus atribuíram essa derrota de seu exército a um castigo de Deus por um
ato tão injusto”[5]
Qual seria a razão para João Batista ser um
personagem real e exatamente conforme o relato bíblico diz sobre ele: um homem
no deserto que só se vestia da casca das árvores e só se alimentava com o que a
mesma terra produz, que exortava os judeus ao arrependimento e que os batizava,
se Jesus é um mito? Se a Bíblia é falsa e Jesus é um mito criado por
charlatões, obviamente João Batista, que preparou o caminho para Cristo e que é
um personagem fatídico e crucial para a existência dele também seria um mito.
Mas, se ele realmente existiu, temos todas as evidências para crer que aquele
que é o personagem central da história de João Batista também existiu: Jesus
Cristo.
• Tácito (55 – 120 d.C)
Públio Cornélio Tácito foi governador da Ásia,
pretor, cônsul, questor, historiador romano e orador. Em seus “Anais da Roma
Imperial” mencionou Cristo e os cristãos de seus dias. No ano de 64 d.C, o
imperador Nero mandou incendiar Roma e colocou a culpa em cima dos cristãos.
Isso culminou na primeira grande perseguição aos cristãos, que levou ao
martírio milhares deles, incluindo Paulo e Pedro.
Durante os três séculos seguintes, vários
imperadores promoveram perseguições, inclusive com os espetáculos de circo,
onde os cristãos eram atirados para serem devorados pelas feras. Porém, quanto
mais eram perseguidos e martirizados, mais aumentavam em número, como bem
destacou Tertuliano (séc.II): sanguis martyrum est sêmen christianorum – “o
sangue dos mártires é semente para fazer novos cristãos”.
Tácito narra a perseguição aos cristãos no primeiro
século nas seguintes palavras:
“Para destruir o boato (que o acusava do incêndio
de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles
cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava
cristãos. Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o principado de
Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício. Reprimida
incontinenti, essa detestável superstição repontava de novo, não mais somente
na Judeia, onde nascera o mal, mas anda em Roma, pra onde tudo quanto há de
horroroso e de vergonhoso no mundo aflui e acha numerosa clientela”[6]
Tácito não era cristão. Ele considerava o
Cristianismo uma “detestável superstição”, como muitos o consideram hoje. Mas
ele admitia sua existência histórica já naqueles dias. Em seus Anais, ele
descreve o martírio desses cristãos nas seguintes palavras:
“Uma grande multidão foi condenada não apenas pelo
crime de incêndio, mas por ódio contra a raça humana. E, em suas mortes, eles
foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos de
bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes, ou
incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados para servirem de luz noturna”[7]
Em todo este quadro, vemos como é incontestável a
existência histórica de Jesus e dos cristãos, bem como da perseguição a estes,
ainda no primeiro século da era cristã. A importância deste último livro de
Tácito (Anais) e a sua autoridade são hoje reconhecidas no mundo inteiro. No 15º
livro dos Anais, a partir do parágrafo XXXVIII, Tácito começa a narrar o
terrível incêndio que quase destruiu totalmente Roma no ano 64 d.C. A seguir a
citação integral do relato de Tácito:
“Mas nem todos os socorros humanos, nem as
liberalidades do imperador, nem as orações e sacrifícios aos deuses podiam
diminuir o boato infamatório de que o incêndio não fora obra do acaso. Assim
Nero, para desviar de si as suspeitas, procurou achar culpados, e castigou com
as penas mais horrorosas a certos homens que, já dantes odiados por seus
crimes, o vulgo chamava cristãos. O autor desse seu nome foi Cristo, que no
governo de Tibério foi condenado ao último suplício pelo procurador Pôncio
Pilatos. A sua perniciosa superstição, que até ali tinha estado reprimida, já
tornava a alastrar-se não só por toda Judeia, origem deste mal, mas até dentro
de Roma, aonde todas as atrocidades do Universo, e tudo quanto há de mais
vergonhoso vem enfim acumular-se, e sempre acham acolhimento. Em primeiro lugar
se prenderam os que confessavam ser cristãos, e depois, pelas denúncias destes,
uma multidão inumerável, os quais, além de terem sido acusados como
responsáveis pelo incêndio, foram apresentados como inimigos do gênero humano.
O suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os
cobriram com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram
crucificados, ou os queimaram de noite para servirem como archotes e tochas ao
público. Nero ofereceu os seus jardins para este espetáculo, e ao mesmo tempo
dava-se os jogos do Circo, misturado com o povo em trajes de cocheiro, ou
guiando carroças. Desta forma, ainda que culpados e dignos dos últimos
suplícios, mereceram a compaixão universal por se ver que não eram imolados à
utilidade pública, mas aos passatempos atrozes de um bárbaro”[8]
À luz de mais essa confirmação do Jesus histórico,
o grande historiador inglês Edward Gibbon (1737-1794) confessou:
“A crítica mais cética deve respeitar a verdade
desse fato extraordinário e a integridade desse tão famoso texto de Tácito”[9]
Afirmar que todas essas citações de Tácito sobre
Cristo e os cristãos ainda em pleno século I foram falsificadas é não apenas
argumentar no vazio, sem nenhum fundamento para tanto, mas também desprezar
todo o contexto. As citações aos cristãos permeiam todo o contexto, não são
interpolações acrescentadas posteriormente, o que obviamente quebraria a
sequencia lógica de ideias.
Tácito deixou também em seu livro outro importante
registro relacionado ao Cristianismo quando falou do julgamento de uma mulher
pertencente à alta sociedade romana, chamada Pompônia Grecina. Essa mulher foi
acusada de ter passado a fazer parte do número de pessoas que praticavam “uma
superstição importada”:
“Pompônia Grecina, dama da alta sociedade (esposa
de Aulo Plácio, que fez jus, como já mencionado, à vocação com sua campanha
contra a Grã-Bretanha), foi acusada de aderir a uma superstição
importada; o próprio marido a entregou; segundo precedentes antigos,
apresentou aos membros da família o caso que envolvia a condição legal e
dignidade da esposa. Esta foi declarada inocente. Pompônia, porém, passou a
transcorrer sua longa vida em constante melancolia; morta Júlia, filha de
Druso, viveu ainda quarenta anos trajando luto e fartando-se de tristeza. Sua
absolvição, ocorrida em dias de Cláudio (Nero), veio a ser-lhe motivo de
glória”[10]
Tácito, neste texto, não fala explicitamente que
essa religião era a cristã, mas ele se refere a ela como sendo uma “superstição
importada”, que foi exatamente a mesma palavra que ele usou naquele
mesmo livro para se referir aos cristãos, quando disse que o Cristianismo
era uma “superstição” que começou na Judeia e na sua época já havia se
espalhado pelo mundo, por isso o termo “superstição importada” (i.e, que veio
de fora).
Prova ainda mais forte que a sua conversão de
Pompônia Grecina (de que trata o texto) foi realmente a fé cristã é o fato de
que a arqueologia comprova que ela realmente se converteu ao Cristianismo.
Foram descobertas nas Catacumbas de Roma inscrições datadas do século III,
fazendo referência à família Pompônia (gens pomponia) com vários de seus
membros convertidos ao Cristianismo, o que nos revela que esta referência
indireta da parte de Tácito trata-se de mais uma menção da existência dos
seguidores de Jesus já no primeiro século da era cristã.
• Luciano de Samosata (125 – 181 d.C)
Luciano de Samosata foi um satirista grego, que
costumava satirizar e criticar duramente os costumes e a sociedade da época. Em
uma de suas obras, conhecida como A Passagem do Peregrino, ele
zomba de Cristo e dos cristãos:
“Foi então que ele [Proteus] conheceu a
maravilhosa doutrina dos cristãos, associando-se a seus sacerdotes
e escribas na Palestina. (...) E o consideraram como protetor e o tiveram como
legislador, logo abaixo do outro [legislador], aquele que eles ainda adoram, o
homem que foi crucificado na Palestina por dar origem a este
culto (...) Os pobres infelizes estão totalmente convencidos que eles serão
imortais e terão a vida eterna, desta forma eles desprezam a morte e
voluntariamente se dão ao aprisionamento; a maior parte deles. Além disso, seu
primeiro legislador os convenceu de que eram todos irmãos, uma que vez que eles
haviam transgredido, negando os deuses gregos, e adoram o sofista
crucificado vivendo sob suas leis”[11]
Luciano diz que Peregrino (100 – 165 d.C), após ter
fugido de sua cidade natal por causa de uma acusação de assassinato, se uniu
aos cristãos e logo se tornou um profeta, presbítero e chefe de sinagoga. Na
Palestina, ele é preso e lá recebe o cuidado de seus amigos cristãos, que, de
acordo com Luciano, “tudo fizeram para livrá-lo, mas como isso não foi
possível, dispensaram assistência constante para com ele”[12].
Luciano também afirma em “A Morte do Peregrino”:
“Os cristãos, vocês sabem, adoram um homem neste
dia – a distinta personagem que lhes apresentou suas cerimônias, e foi
crucificado por esta razão”[13]
Isso indica que, naquela época, já era bem
conhecido o fato de que os cristãos cultuavam ao “homem crucificado”, o que nos
mostra que já existia culto cristão em andamento já no primeiro e segundo
século, fato este confirmado por fontes históricas cristãs e não-cristãs,
sendo, portanto, inócuo crer que Jesus seja um “mito”, uma vez que não se cria
um “mito” em tão pouco tempo.
Os ateus em sua incredulidade alegam (sem
inteiramente prova nenhuma) que o “mito” Jesus nasceu no quarto século,
contrariando todas as provas históricas cristãs e não-cristãs que provam não
somente a existência de Cristo por pessoas do primeiro e segundo século, como
também do próprio culto cristão primitivo já em vigor neste período.
Luciano de Samosata também fala de um certo
“profeta” de Asclepius, no Ponto, fazendo uso de uma cobra domesticada. Quando
os rumores estavam por desmascarar sua fraude, ele diz de forma sarcástica:
“Ele promulgou um edito com o objetivo de
assustá-los, dizendo que o Ponto estava cheio de ateus e cristãos que tinham a
audácia de pronunciar os mais vis perjúrios sobre ele; a estes, ele os
expulsaria com pedras, se quisessem ter seu deus gracioso”[14]
A existência dos cristãos, seguidores de Jesus
Cristo, ainda no segundo século, é uma prova irrefutável contra aqueles que
pregam que Jesus é um mito histórico. Isso porque, se Cristo fosse um mito, precisaria
de muito mais tempo para ser desenvolvido. Os céticos ateus que questionam a
existência do Jesus histórico apelam que Cristo é uma invenção do terceiro ou
quarto século e, portanto, não poderiam existir cristãos (seguidores de Cristo)
já no início do segundo século. Sendo assim, mesmo entre aqueles que zombavam
de Cristo e de seus seguidores, a existência destes era
indiscutível.
• Plínio, o Jovem (61 – 114 d.C)
Caio Plínio Cecílio Segundo, mais conhecido
simplesmente como “Plínio, o Jovem”, foi um orador, jurídico e governador
imperial na Bitínia. Em suas cartas ele confessa que já tinha matado muitos
homens, mulheres e crianças, e, em função dessa grande carnificina, tinha
dúvidas se deveria continuar matando. E aqui entra o detalhe que é a razão de
todo o nosso foco: essas pessoas estavam sendo mortas por se dizerem cristãs.
Seu único erro, de acordo com Plínio, era terem o
costume de se reunirem antes do amanhecer num certo dia determinado, cantando
hinos a Cristo, tratando-o como Deus, e prometendo solenemente uns aos outros a
não cometerem maldade alguma, não defraudarem, não roubarem, não adulterarem,
não mentirem e não negarem a Cristo. Os cristãos estavam sendo incitados a
amaldiçoarem a Cristo e a se prostrarem diante das imagens do imperador romano
Trajano:
“Os fez amaldiçoarem a Cristo, o que não se
consegue obrigar um cristão verdadeiro a fazer”[15]
Em suas 122 cartas trocadas com este imperador, ele
aborda várias vezes o assunto sobre como lidar com a fé dos cristãos, e diz:
“É meu costume, meu senhor, referir a ti tudo
aquilo acerca do qual tenho dúvidas... Nunca presenciei a julgamento contra os cristãos...
Eles admitem que toda sua culpa ou erro consiste nisso: que se reúnem num dia
marcado antes da alvorada, para cantar hino a Cristo como Deus... Parecia-me um
caso sobre o qual devo te consultar, sobretudo pelo número dos acusados... De
fato, muitos de toda idade, condição e sexo, são chamados em juízo e o serão. O
contágio desta superstição invadiu não somente as cidades, mas também o
interior; parece-me que ainda se possa fazer alguma coisa para parar e
corrigir”[16]
Vale lembrar que naquela região em que Plínio
governava estavam os “eleitos que são forasteiros da dispersão no Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe.1:1), a quem Pedro destinou sua
primeira epístola. Este décimo volume de Plínio, em que ele fala sobre os
cristãos e o Cristianismo, pode ser conferido em sua totalidade nas linhas que
se seguem:
“Adotei, senhor,
como regra inviolável recorrer às vossas luzes em todas as minhas dúvidas; pois
quem mais apto a remover os meus escrúpulos ou a guiar-me nas minhas incertezas
do que vossa pessoa? Nunca tendo assistido aos julgamentos de cristãos, ignoro
o método e os limites a serem observados no processo e punição deles: se, por
exemplo, alguma diferença deva ser feita com respeito à idade ou, ao contrário,
nenhuma distinção se observe entre o jovem e o adulto; se o arrependimento
admite perdão; se a um indivíduo que foi cristão aproveita retratar-se; se é
punível a mera confissão de pertencer ao Cristianismo, ainda que sem nenhum ato
criminoso, ou se só é punível o crime a ele associado. Em todos esses pontos
tenho grandes dúvidas.
Por enquanto, o
método por mim observado para com aqueles que me foram denunciados como
cristãos tem sido o seguinte: pergunto-lhes se são cristãos; se confessam,
repito duas vezes a pergunta, acrescentando uma ameaça de punição capital; se
perseveram, mando executá-los; pois estou convencido de que, qualquer que seja
a natureza do seu credo, uma obstinação contumaz e inflexível certamente merece
castigo. Outros fanáticos dessa espécie me têm sido trazidos que, por serem
cidadãos romanos, remeto para Roma. Essas acusações, pelo simples fato de estar
sendo o assunto investigado, começaram a estender-se, e várias formas do mal
vieram à luz.
Afixaram um cartaz
sem assinatura, denunciando pelo nome grande número de pessoas. Aqueles que
negaram ser ou ter sido cristãos, que repetiram comigo uma invocação aos deuses
e praticaram os ritos religiosos com vinho e incenso perante a vossa estátua (a
qual para este propósito mandei buscar juntamente com as dos deuses), e
finalmente amaldiçoaram o nome de Cristo (o que não se pode arrancar de nenhum
verdadeiro cristão), julguei acertado absorver. Outros que foram denunciados
pelo informante confessaram-se a princípio cristãos, depois o negaram; de fato,
haviam sido cristãos, mas abandonaram a crença (uns faz três anos, outros há
muito mais tempo, sendo que alguns há cerca de vinte e cinco anos).
Todos prestaram
culto à vossa estátua e às imagens dos deuses, e amaldiçoaram o nome de Cristo.
Afirmaram, contudo, que todo o seu crime ou erro se reduzia a terem se
encontrado em determinado dia antes do nascer do sol, cantando então uma
antífona (pequeno versículo cantado, antes ou depois de um salmo) como a um
Deus, ligando-se também por solene juramento de não cometer más ações, e de
nunca mentir e de nunca trair a confiança neles depositada; depois do que, era
costume se separarem, e então se reunirem novamente para tomarem em comum algum
alimento – alimento de natureza inocente (inofensiva). Todavia, até esta última
prática haviam abandonado após a publicação do meu edito, pelo qual, de acordo
com as vossas ordens, proibira eu as reuniões políticas.
Julguei necessário
empregar a tortura para ver se arrancava toda a verdade de duas escravas
chamadas diaconisas. Nada, porém, descobri, senão excessiva superstição.
Julguei por isso de bom aviso adiar qualquer resolução nesta matéria, a fim de
pedir o vosso conselho. Porque o assunto merece a vossa atenção, especialmente
se levar em conta o número de pessoas em risco: indivíduos de todas as
condições e idades, e dos dois sexos, estão e serão envolvidos no processo.
Pois esta contagiosa superstição não se confina nas cidades somente, mas
espalha-se pelas aldeias e pelos campos.
Todavia parece-me
ainda possível detê-la e curá-la. Os templos, pelo menos, que andavam quase
desertos, recomeçaram agora a ser frequentados, e as solenidades sagradas, após
uma longa interrupção, são de novo revividas; e há geral procura de animais
para os sacrifícios, para os quais até bem pouco tempo poucos compradores
apareciam. Por aí é fácil imaginar a quantidade de pessoas que se poderão
salvar do erro, se deixarmos a porta aberta ao arrependimento”
Esta carta de Plínio a Trajano prova não apenas a
existência dos cristãos no primeiro século d.C, como também nos fala a respeito
de seu culto e retrata fielmente a perseguição que eles já sofriam desde aquela
época, sendo tratados como ateus por não aceitarem o culto ao imperador romano.
• Imperador Trajano (53 – 117 d.C)
O mais interessante nesta carta de Plínio é que ela
não ficou sem resposta. Em resposta à carta de Plínio, o imperador romano
Trajano deu as seguintes orientações sobre como punir os cristãos:
“Nenhuma pesquisa deve ser feita por essas pessoas,
quando são denunciados e culpados devem ser punidos, com a restrição, porém,
que quando o partido nega-se a ser um cristão, e deve dar provas de que ele não
é (que é adorando nossos deuses), ele será absolvido no chão de arrependimento,
embora ele possa ter anteriormente efetuadas suspeitas”[17]
Essa correspondência também nos mostra a antiga
perseguição aos cristãos, que escapariam da punição somente “quando se nega a
ser um cristão” e dava provas de que ele adorava os deuses romanos. Como tal
condição era completamente contrária à prática cristã, muitos deles eram mortos
e perseguidos por causa de sua fé, já no primeiro século.
Todos esses documentos apresentados até agora são
mais do que suficientes para fazer silenciar todas as insinuações de que Jesus
Cristo nunca existiu. Que mito, que fantasma, que figura lendária seria capaz
de levar milhares de pessoas a morrerem por não negarem o seu nome? Os judeus
daquela época teriam criado uma lenda, a fim de morrerem por ela? De modo
algum!
Outras partes da resposta do imperador romano à
carta de Plínio podem ser lidas nas linhas abaixo:
“No exame de denúncias contra feitos cristãos,
querido Plínio, tomaste o caminho acertado. Não cabe formular regra dura e
inflexível, de aplicação universal. Não se pesquise. Mas se surgirem outras
denúncias que procedam, aplique-se o castigo, com essa ressalva de que se
alguém negar ser cristão e, mediante a adoração dos deuses, demonstrar não o
ser atualmente, deve ser perdoado em recompensa de sua emenda, por muito que o
acusem suspeitas relativas ao passado. Não merecem atenção panfletos anônimos
em causa alguma; além do dever de evitarem-se antecedentes iníquos, panfletos
anônimos não condizem absolutamente com os nossos tempos”[18]
Se Cristo não tivesse sido uma pessoa real,
histórica, estas duas cartas não existiriam hoje, pois não haveria cristãos no
mundo para motivá-las!
• Suetônio (69 – 141 d.C)
Caio Suetónio Tranquilo, ou simplesmente Suetônio,
foi um grande escritor latino que nasceu em 69 da era cristã, em Roma. Suetônio
era o historiador romano oficial da corte de Adriano, escritor dos anais da
Casa Imperial. Ele também faz referencia a Cristo e aos seus seguidores. Na
Vida dos Doze Césares, publicada nos anos 119-122, diz que o imperador Cláudio expulsou
os judeus de Roma por causa de um certo Cresto [Cristo]:
“Judacos, impulsore Cresto, assidue tumultuantes
Roma expulit”. Quer dizer: “O Imperador Cláudio expulsou de Roma os
Judeus que viviam em contínuas desavenças por causa de um certo Cresto”.
“Cresto” é uma variante de “Cristo”, e também era
um erro ortográfico comum naqueles dias. Também em outro texto, Suetônio cita a
perseguição aos cristãos de sua época, que eram destinados ao suplício:
“Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição
nova e perigosa, foram destinados ao suplício”[19]
E escreve novamente naquela mesma obra:
“Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de
pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica”[20]
Tal ocasião se deu exatamente no reinado do imperador
romano Nero, que sucedeu a Cláudio. Suetônio era outro que já mencionava a
perseguição aos seguidores de Cristo em sua época, isto é, no primeiro século.
Isso confirma os escritos bíblicos sobre a perseguição sofrida pelos cristãos
já no primeiro século, e mostra-nos uma surpreendente semelhança com os relatos
bíblicos sobre tais fatos:
Em Suetônio
(escritor não-cristão)
|
Na Bíblia
|
“O imperador
Cláudio expulsou de Roma os judeus que viviam em contínuas desavenças por
causa de um certo Cresto (Cristo)”
|
“E, achando um
certo judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da
Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os
judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles” (Atos 18:2)
|
“Os cristãos,
espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao
suplício”
|
“Então eles os
entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados
por todas as nações por minha causa” (Mateus 24:9)
|
• Talo (55 d.C)
Talo foi um antigo historicista samaritano que
escreveu entre os anos de 50 e 55 d.C, sendo um dos primeiros escritores
não-cristãos a mencionar Cristo. Isso é reconhecido por Julio Africano[21], Lactâncio[22], Teófilo[23], Tertuliano[24] e Justino[25]. Talo também é citado pelo judeu Flávio
Josefo[26]. No entanto, seus escritos se perderam,
e deles temos conhecimento somente através de pequenas citações feitas por
outros escritores. Um desses autores que faz menção aos escritos de Talo é
Julio Africano, quando fala da escuridão que cobriu a terra durante a
crucificação de Cristo:
“Talo, no terceiro dos seus livros que escreveu
sobre a história, explica essa escuridão como um eclipse do sol – o que me
parece ilógico”[27]
Como vemos, os não-cristãos da época de Cristo
procuravam oferecer explicações naturalmente razoáveis para as trevas que
ocorreram sobre a terra na morte de Jesus. Ao invés de simplesmente dizerem que
esse Cristo que era adorado pelos cristãos “nunca existiu”, eles sabiam da
existência histórica de Jesus e daquilo que aconteceu na cruz.
De acordo com o relato bíblico, “já era quase
a hora sexta e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até a
hora nona” (Lc.23:44; Mt.27:45; Mc.15:33). Esse fenômeno que causou a
escuridão como um dos fatos intrigantes da morte de Cristo é aludida até por
aqueles que não eram cristãos. Paul Maier fala sobre esse período de trevas que
cobriram a terra durante aquelas três horas:
“Esse fenômeno, evidentemente, foi visível em Roma,
Atenas e outras cidades do Mediterrâneo. Segundo Tertuliano foi um evento
cósmico ou mundial. Flegão, um outro grego da Cária, escreveu uma cronologia
pouco depois de 137 dC em que narra como no quarto ano das Olimpíadas de 202
(ou sejam 33dC), houve um grande eclipse solar, e que anoiteceu na sexta hora
do dia, de tal forma que até as estrelas apareceram no céu. Houve um grande
terremoto na Bitínia, e muitas coisas saíram fora de lugar em Niceia”[28]
• Flêgão (Século I)
Outro historiador do primeiro século que teve suas
crônicas perdidas com o tempo e que teve partes de suas obras preservadas em
citações de outros autores foi Flêgão, um escritor romano nascido em 80 d.C.
Ele, assim como Talo, confirmou a escuridão que tomou conta da terra durante
três horas no dia da crucificação de Cristo. Ao comentar sobre a ilógica da
escuridão, Julio Africano cita Flêgão:
“Durante o tempo de Tibério César, ocorreu um
eclipse do sol durante a lua cheia”
“E sobre essas trevas... Flêgão meciona-as em
Olimpiadas (o título do livro que escreveu)”[29]
“Flêgão mencionou o eclipse que aconteceu durante a
crucificação do Senhor Jesus Cristo e não algum outro eclipse; está claro que
ele não tinha conhecimento, a partir de suas fontes, de qualquer eclipse
(semelhante) que tivesse anteriormente ocorrido... e isso se vê nos próprios
relatos históricos sobre Tibério César”
Assim, vemos que o relato dos evangelhos acerca das
trevas que se abateram sobre a terra por ocasião da crucificação de Cristo era
bem conhecido, e exigia uma explicação naturalista por parte dos descrentes que
haviam testemunhado o acontecimento. Vários autores não-cristãos fizeram menção
a este acontecimento. Além de Talo e Flêgão, temos também Phlegon de Lydia, que
observou na época de Tibério um eclipse do sol que ocorreu durante a lua cheia.
Todas essas provas históricas nos mostram que, no
dia da morte de Cristo, houve um evento cósmico que foi conhecido em várias
partes do mundo antigo, exatamente como no relato bíblico, que os escritores
não-cristãos sabiam da crucificação de Cristo e que tentavam oferecer
explicações razoáveis e naturalistas para não inferir em alguma alegação de
veracidade à fé cristã, e nenhum deles argumentou que era impossível que isso
fizesse menção a Cristo porque Cristo “não existe”: eles sabiam da existência
dele, razão pela qual eram obrigados a oferecerem diferentes explicações para
explicar aquele fenômeno.
Outra citação de Flêgão sobre Cristo está em
suas Crônicas, onde ele diz:
“Jesus, enquanto vivo, não foi de qualquer ajuda
para si mesmo, mas, quando ressuscitou depois da morte, exibiu as marcas de sua
punição, e mostrou de que maneira suas mãos foram perfuradas pelos pregos”
Tais citações de modo algum fariam sentido caso Jesus
não tivesse sido uma pessoa real, comprovada historicamente. A existência de
Jesus e as suas aparições depois de morto eram verdadeiras e exigiam uma
resposta à altura das autoridades romanas, que, no caso, inventaram que os
discípulos roubaram o corpo (Mt.28:13-15).
• Mara Bar-Serapião (73 d.C)
Mara Bar-Serapião foi um escritor sírio e filósofo
estoico, que se tornou conhecido por uma carta que escreveu a seu filho, onde
fornece uma das primeiras referências não-judaicas e não-cristãs sobre Jesus.
No Museu Britânico está preservado um de seus manuscritos, sobre o qual F. F.
Bruce assinala:
“No museu britânico um interessante manuscrito que
preserva o texto de uma carta escrita um pouco depois de 73 A.D., embora não
possamos precisar a data. Esta carta foi enviada por um sírio de nome Mara
Bar-Serapião a seu filho Serapião. Na época Mara Bar-Serapião estava preso, mas
escreveu para incentivar o filho na busca de sabedoria, tendo ressaltado que os
que perseguiram homens sábios foram alcançados pela desgraça. Ele dá o exemplo
de Sócrates, Pitágoras e Cristo”[30]
Na carta, ele compara Jesus Cristo aos filósofos
Sócrates e Pitágoras. Ele escreveu para incentivar o filho na busca da
sabedoria, tendo ressaltado que os que perseguiram homens sábios foram
alcançados pela desgraça:
“Que vantagens os atenienses obtiveram em condenar
Sócrates à morte? Fome e peste lhes sobrevieram como castigo pelo crime que
cometeram”
“Que vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao
pôr fogo em Pitágoras? Logo depois sua terra ficou coberta de areia”
“Que vantagem os judeus obtiveram com a execução de
seu sábio Rei? Foi logo após esse acontecimento que o reino dos judeus foi
aniquilado”
E ele continua, dizendo:
«Com justiça Deus vingou a morte desses três
sábios:
• Os atenienses morreram de fome;
• Os habitantes de Samos foram surpreendidos
pelo mar;
• Os judeus, arruinados e expulsos de sua terra,
vivem completamente dispersos.
Mas...
• Sócrates não está morto; ele sobrevive nos
ensinos de Platão.
• Pitágoras não está morto; ele sobrevive na
estátua de Hera.
• Nem o sábio Rei está morto; Ele sobrevive
nos ensinos que deixou.»
Essa relíquia de 73 d.C é outra prova da existência
histórica de Jesus Cristo, e negá-la seria o mesmo que negar a existência
histórica dos outros dois mestres citados por ele: Sócrates e Pitágoras. Uma
vez que os ateus aceitam a existência destes últimos dois, por que deveriam
negar a de Jesus, que é citado naquele mesmo contexto?
Alguns ateus dizem que este “Sábio Rei” poderia se
tratar de outro que não fosse Jesus. Porém, qual a possibilidade de que até
aquela época (73 d.C) tivesse surgido um outro homem que também:
• Foi executado.
• Era sábio.
• Morreu pouco antes da destruição de Jerusalém.
• Morreu antes da dispersão dos judeus.
• Teve os judeus como responsáveis pela sua morte.
• Ainda sobrevive por meio dos ensinos que deixou.
• Foi referido como rei.
Os ateus podem pesquisar à vontade a biografia de
qualquer outro ser humano que se auto-proclamava “Messias” naqueles dias que
não encontrará nenhum que preencha perfeitamente todos esses requisitos, como
Jesus faz. A alusão de que os judeus foram destruídos “logo depois” da morte do
Sábio Rei se encaixa perfeitamente dentro da descrição bíblica da morte de
Jesus no primeiro século e na destruição de Jerusalém ainda dentro daquela
geração.
Por isso, as propostas de que o Rei Sábio citado
por Mara Bar-Serapião se trate de outro que não fosse Jesus, tais como Onias
III e o essênio Judas, não possuem qualquer respaldo histórico. Se Onias fosse
a referência, a dispersão dos judeus e a destruição de Jerusalém teria ocorrido
240 anos depois de quando realmente ocorreu (70 d.C), e se fosse o essênio
Judas seria 170 depois. Portanto, a conclusão mais razoável é aquela que
Habermas sugere:
“Dessa passagem aprendemos: (1) que Jesus era
considerado um homem virtuoso; (2) Ele é apresentado duas vezes como um Rei
Judeu, possivelmente em referência aos próprios ensinos de Cristo sobre si
mesmo, ao qual os seguidores mencionavam, ou ainda da frase escrita sobre sua
cabeça na crucificação; (3) Jesus foi executado injustamente pelos judeus que
pagaram por seus atos errados sofrendo brevemente o julgamento posteriormente,
provavelmente uma referência a queda de Jerusalém para o exército romano; (4)
Jesus vive nos ensinamentos dos cristãos primitivos, que é um indicativo de que
Mara Bar Serapião não era cristão”[31]
• Talmude
O Talmude é outra fonte de origem judaica que
confirma a existência histórica de Jesus. Ele é uma coleção de doutrinas e
comentários sobre a lei dos judeus, que começou a ser escrita a partir do
primeiro século d.C, por rabinos que decidiram colocar por escrito as tradições
que eram pregadas oralmente pelos anciãos. Apesar de os judeus tratarem Jesus
com mentiras e hostilidades, eles não negavam sua existência histórica. Uma
dessas citações sobre Jesus (Yeshua) diz que ele foi pendurado na cruz na
véspera da páscoa:
“Na véspera da páscoa, eles penduraram Yeshua (de
Nazaré), sendo que o arauto esteve diante dele por quarenta dias anunciando
(Yeshua de Nazaré) vai ser apedrejado por ter praticado feitiçaria e iludido e
desencaminhado o povo de Israel. Todos os que sabiam alguma coisa em sua defesa
vieram e suplicaram por ele. Mas nada encontraram em sua defesa e ele foi
pendurado à véspera da páscoa”[32]
Para que esse Yeshua do Talmude seja outro Jesus
que não o que conhecemos, teria que:
• Também ter vivido na mesma época de Jesus Cristo.
• Ter sido conhecido como “Yeshua de Nazaré” (Jesus
de Nazaré).
• Ter praticado “feitiçaria” (que era como os
judeus consideravam os milagres de Cristo).
• Ter sido condenado pelos romanos.
• Ter sido pendurado (na cruz) na véspera da
páscoa.
É evidente que o Jesus de Nazaré que o texto trata
é o mesmo Jesus de Nazaré que conhecemos. O Talmude não iria se referir a Jesus
como sendo “Cristo”, pois tais judeus não criam que o Messias era Jesus. Mas a
descrição de “Jesus de Nazaré” e todos os acontecimentos que o rodeiam já é
mais que o suficiente para identificarmos Jesus Cristo no Talmude.
O Talmude Babilônico se refere a Jesus como “Ben
Pandera” e “Jesus ben Pandera”, o que muitos estudiosos afirmam que é um jogo
de palavras, pois “pandera” vem da palavra grega “panthenos”, que significa
“virgem”. Em outras palavras: estaria chamando Jesus de “o filho da virgem”. O
judeu Joseph Klauser afirmou que o nascimento ilegítimo de Jesus era uma ideia
corrente entre os judeus. Ademais, o diálogo entre dois judeus registrado no
Talmude também fala da existência de Jesus:
“Mestre, tu deves ter ouvido uma palavra de minuth (heresia);
essa palavra deu-te prazer, e foi por isso que foste preso. Ele (Eliezer)
respondeu: Akiba, tu fizeste-me recordar o que se passou. Um dia que eu
percorria o mercado de Séforis, encontrei lá um dos discípulos de Jesus de
Nazaré; Tiago de Kefar Sehanya era o seu nome. Ele disse-me: está escrito na
vossa lei (Deuteronômio 23.18): Não trarás salário de prostituição nem preço de
sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto. Que fazer dele? Será
permitido usá-lo para construir uma latrina para o Sumo Sacerdote? E eu não
respondi nada. Disse-me ele: Jesus de Nazaré ensinou-me isto: o que vem de uma
prostituta, volte à prostituta; o que vem de um lugar de imundícies, volte ao
lugar de imundícies. Esta palavra agradou-me, e foi por tê-la elogiado que fui
preso como Minuth (herege)”
Sobre o texto acima, Klausner comenta:
“Não resta dúvida de que as palavras ‘um dos
discípulos de Jesus de Nazaré’ e ‘assim Jesus de Nazaré me ensinou’ são, nesta
passagem, de uma data bem antiga e também são fundamentais no contexto da
história relatada”
Estas referências no Talmude, assim como outras
(como o Sanhedrim 43ª que menciona os discípulos de Jesus), mostram que nem
mesmo os judeus que não eram cristãos questionavam a existência histórica de
Cristo. Eles sabiam que ele era conhecido por “Jesus de Nazaré”. Eles sabiam
que Jesus operava milagres, embora atribuíssem tais atos a “magia” ou
“feitiçaria”. Eles sabiam que Jesus foi pendurado numa cruz na véspera da
páscoa. Eles sabiam que ele tinha um discípulo chamado Tiago. E eles sabiam que
qualquer um que o seguisse seria preso ou morto pelas mesmas razões que Yeshua
de Nazaré foi.
• Rei Abgar V
Abgar V ou Abgarus V de Edessa reinou entre 4 a.C a
50 d.C no reino de Osroene, tendo por capital Edessa, na Mesapotâmia.
Durante escavações de arqueólogos no sul da Turquia foi encontrada uma
biblioteca do início da era cristã e fragmentos da carta de Anan, secretário do
rei Abgar, a Jesus Cristo de Jerusalém. Pastro fala sobre essa importante descoberta
arqueológica nas seguintes palavras:
“No século XIX, arqueólogos ingleses e franceses
descobriram uma biblioteca no sul da Turquia datada dos primeiros anos da era
cristã. Entre muitos textos, foram encontrados fragmentos de cartas do escrivão
Labubna relatando viagens de Anan, secretário do rei Abgar V, que reinou do ano
13 ao 50 d.C. na cidade de Edessa, atual Urfa, na Turquia”[33]
Tal documento diz:
“Abgar, toparca da cidade de Edessa, a Jesus
Cristo, o excelente médico que surgiu em Jerusalém, salve! Ouvi falar de ti e
das curas que realizas sem remédios. Contam efetivamente que fazes os cegos
ver, os coxos andar, que purificas os leprosos, expulsas os demônios e os
espíritos imundos, curas os oprimidos por longas doenças e ressuscitas os
mortos. Tendo ouvido falar de ti tudo isso, veio-me a convicção de duas coisas:
ou que és Filho daquele Deus que realiza estas coisas, ou que és o próprio
Deus. Por isso escrevi-te pedindo que venhas a mim e me cures da doença que me
aflige e venhas morar junto a mim. Com efeito, ouvi dizer que os judeus
murmuram contra ti e te querem fazer mal. Minha cidade é muito pequena, é
verdade, mas honrada e bastará aos dois para nela vivermos em paz”[34]
O historiador eclesiástico do século IV, Eusébio de
Cesareia, também registrou em sua História Eclesiástica (325
d.C) a correspondência trocada entre Abgar de Edessa e Jesus. Eusébio estava
convicto que as cartas originais, escritas em síriaco, estavam arquivadas em
Edessa, e inclui na sua obra o texto das duas cartas. Eusébio também afirma que
Jesus enviou a Abgar um dos setenta e dois discípulos, conhecido por Tadeu de
Edessa, em 29 d.C, e que Abgar teria se convertido à fé cristã.
• O ossuário do irmão de Jesus
Essa foi a primeira descoberta arqueológica
referente a Jesus e Sua família. O ossuário de Tiago, irmão de Jesus, data do
século I e traz a inscrição em aramaico: “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”
(Ya'akov bar Yosef achui d'Yeshua). O ossuário foi comprado há muito
tempo por um colecionador judeu que nem suspeitava da importância daquele
artefato. Mas quando, em Abril de 2002, o renomado estudioso francês André
Lemaire o viu em uma urna, escrito na língua falada por Jesus, logo descobriu a
sua importância.
Esse valioso achado arqueológico foi logo
desacreditado pelos ateus, que alegaram falsificação. Por isso, ele foi
submetido a testes pelo Geological Survey of State of Israel e, depois de muita
investigação, foi declarado autêntico. De acordo com o The New York
Times, “essa descoberta pode muito bem ser o mais antigo artefato
relacionado à existência de Jesus”. Submetido a análises de datação histórica,
foi constatado que ele remetia a aproximadamente 63 d.C, que,
curiosamente, é exatamente a época em que o irmão de Jesus foi
martirizado, de acordo com a tradição cristã!
O julgamento definitivo, que foi feito em 2012,
provou a autenticidade do ossuário do irmão de Jesus. A
matéria da revista norte-americana Biblical Archeological Review abordou o caso
nas seguintes palavras:
«Depois de um julgamento de mais de cinco anos com
138 testemunhas, mais de 400 exposições e uma transcrição do julgamento de
12.000 páginas, o Juiz Aharon Farkash do Tribunal Distrital de Jerusalém
inocentou os réus de todas as acusações de falsificação. Sua opinião no caso,
proferido em 14 de Março, tem 474 páginas. Os acusados Oded Golan e Robert
Deutsch foram inocentados de todas as acusações de falsificação.
Dos cinco réus indiciados originalmente em 2004,
apenas dois permaneceram no caso: Oded Golan, um colecionador de antiguidades
com uma das coleções mais importantes em Israel (ele foi considerado culpado da
acusação menor de negociação de antiguidades sem licença); e Robert Deutsch, o
mais proeminente negociante de antiguidades, em Israel, que também ensinou na
Universidade de Haifa, serviu como supervisor em escavação arqueológica de
Megiddo e é autor de livros acadêmicos, sozinho e com outros estudiosos de
renome internacional.
O mais famoso dos objetos acusados de serem
falsificações é uma inscrição em um Ossuário ou caixa de ossos em que se lê:
“Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Ele recebeu sua primeira publicação na
revista Biblical Archeological Review (Revista de Arqueologia Bíblica) em 21 de
outubro de 2002. No dia seguinte, ele estava na primeira página de quase todos
os jornais do mundo, incluindo o New York Times e Washington Post.
Análises Paleográficas e a existência de antiga
pátina sugeriram que a inscrição é autêntica. A primeira parada em qualquer
investigação sobre esta questão seria na porta dos paleógrafos – estudiosos que
podem datar e autenticar as inscrições de certos períodos históricos
específicos com base no estilo e na posição das letras. Neste caso, a inscrição
foi autenticada por duas das maiores autoridades mundiais em Paleografia da
atualidade, Andre Lemaire da Sorbonne e Ada Yardeni da Universidade Hebraica de
Jerusalém.
O que é ainda mais significativo é que nenhum
paleógrafo de qualquer reputação mesmo sugeriu que esta inscrição pode ser uma
falsificação. Não há nenhum “outro lado da questão”, falando em termos de
Paleografia.
Há outras razões, mais simples, para se crer que a
inscrição não é uma falsificação. Oded Golan possuía o Ossuário de Tiago desde
a década de 1970. Ele provou isso com fotografias antigas autenticadas por um
ex-agente do FBI nas quais é usado um tipo de papel que não é mais usado em uma
data posterior. E Golan nunca tentou vender o ossuário ou divulgar a inscrição.
Ele afirma veementemente que nem sabia que o Novo Testamento menciona Tiago
como o irmão de Jesus, ou como ele disse, “eu nunca soube que Deus poderia ter
um irmão”. Ainda mais compreensivelmente, ele não tinha ideia que o nome
Ya’acov (como está escrito no ossuário) e Jacob (para qualquer israelita) foi
traduzido como “James” no Novo Testamento em Inglês.
A imprensa mundial não deu atenção ao veredicto
deste caso. Desde o dia 14 de março último, quase nada foi noticiado pelos
canais de televisão internacionais ou nacionais, ou nos jornais ou revistas
(com exceção da BAR)»
A razão pela qual praticamente toda a grande mídia
silenciou completamente com essa grandessíssima descoberta da autenticidade do
ossuário de Tiago, o irmão de Jesus, mesmo diante de todas as alegações
contrárias e de um tribunal constituído por 138 testemunhas, mais de 400
exposições e uma transcrição do julgamento de 12.000 páginas, é muito
simples: suas implicações.
Não há qualquer vantagem em uma mídia
predominantemente ateísta e católica divulgar a autenticidade de um ossuário
que prova que Jesus teve um irmão de sangue (o que contraria o dogma católico
da virgindade perpétua de Maria) e que ele realmente existiu (o que contraria
as pretensões da parte secular e anticristã da mídia). Para a mídia, faz muito
mais sentido fazer o maior alarde com um pedaço de dente que pessoas com uma imaginação
muito fértil dizem ter sido de um ancestral humano para “provar” a teoria da
evolução (ainda que esse achado seja contestado e refutado posteriormente pelos
próprios cientistas!).
A verdade, contudo, não depende da divulgação da
grande mídia secular, depende das provas históricas, científicas e
arqueológicas, que em tudo corroboram com as crenças cristãs, inclusive, é
lógico, com a existência histórica de Jesus Cristo: que só não é incontestável
para quem tem medo das implicações óbvias que esse fato
nos leva.
• Constantino e o Concílio de Niceia
A despeito de todas as provas históricas
apresentadas aqui de autores não-cristãos atestando a existência histórica de
Cristo e de seus seguidores já no primeiro século da era cristã, os
conspiracionistas não desistem. Eles gostam muito de citar Constantino e o
Concílio de Niceia em todas as suas teorias conspiratórias.
Se você acha que Jesus é um mito, mas não tem
qualquer prova ou evidência disso, é muito simples: diga que foi inventado no
Concílio de Niceia. Se você acha que alguém começou a inventar o “mito de
Jesus”, mas não sabe quem foi nem tem a mínima ideia de quem possa ter feito
isso, não desista tão rápido de sua teoria conspiratória para enganar os
incautos e os ignorantes: é muito mais simples citar o nome de Constantino.
E já que essas pessoas a quem você
(conspiracionista) se dirige são tão ou mais ignorantes quanto você mesmo, e
tão ou mais preguiçosas de irem averiguar a verdade quanto você, obviamente
elas não vão nem ao menos se darem ao trabalho de no mínimo lerem os cânones de
Niceia. Aceitam passivamente qualquer teoria da conspiração por mais ridícula
que seja, tamanha a vontade delas em refutarem a fé cristã. E infelizmente tais
teorias conspiracionistas tem tido bastante sucesso em nosso meio, porque as
pessoas geralmente não se preocupam em se informar, mas creem cegamente em tudo
o que lhes é dito – contanto que seja algo contra a fé cristã.
Quando estava no segundo ano da faculdade, a
professora passou na sala o filme de Zeitgeist (um documentário famoso que
tenta provar que Jesus Cristo é um mito que nunca existiu e que é um plágio de
mitos pagãos), e alguns alunos começaram a omitir opiniões sobre o vídeo.
Impressionou-me o número de comentários dizendo que “Constantino criou a
Bíblia”, “o Concílio de Niceia inventou Jesus”, dentre tantos outros
comentários semelhantes. Eu pensei: “Meu Deus, esse pessoal nunca deve ter lido
um único cânon de Niceia sequer”!
E estava certo.
Quando tomei a palavra, primeiro questionei se
alguém dali já tinha lido algum cânon de Niceia. Nenhuma resposta afirmativa.
Apenas tinham lido teorias da conspiração sobre Niceia. Não Niceia.
Depois, passei a expor-lhes rapidamente como que
autores cristãos citaram a Bíblia e Jesus muito antes de Niceia. Clemente,
Justino, Tertuliano, Inácio, Policarpo, Atenágoras, Orígenes, dentre muitos
outros. Como também que autores não-cristãos citaram Jesus e os cristãos muito
antes de Niceia e ainda no século I ou início do II, como Josefo, Tacito,
Flêgão, Suetônio, Mara Bar-Serapião, Talo, Luciano de Samosota, Plínio, o
Talmude e tantos outros. E, por fim, como que pelo menos cinco mil manuscritos
gregos antigos do Novo Testamento já existiam antes de Niceia, de data bem
antiga. Por alguma razão misteriosa, a professora mudou de assunto e continuou
a aula.
A verdade é que tais conspiracionistas nunca leram
uma única linha de história antiga, nem um único cânon de qualquer concílio da
Igreja, seja o de Niceia ou qualquer outro. Inferir que Jesus foi uma criação
de Constantino no Concílio de Niceia é completamente ridículo. De onde eles
encontraram 318 bispos para se reunirem em Niceia se não existiam cristãos
naquela época? E os outros concílios que existiram antes de Niceia, como o
Concílio de Cartago (257)? E os escritores cristãos que existiram muitos séculos
antes de Niceia, e escreveram centenas de obras antigas de enorme valor
histórico?
Apenas para citar alguns do século I e II:
• Policarpo (69 - 155).
Foi bispo de Esmirna e foi discipulado pelo apóstolo João. Foi martirizado em
155 d.C e escreveu uma epístola aos Filipenses[35].
• Clemente de Roma (35 - 97).
Foi bispo de Roma e escreveu pelo menos uma carta aos coríntios ainda no final
do primeiro século[36].
• Inácio de Antioquia (35 - 107).
Foi bispo de Antioquia e nasceu ainda na primeira era apostólica, conviveu com
vários apóstolos e escreveu sete epístolas a várias igrejas da época, ainda no
primeiro século. Foi martirizado pelos romanos no início do segundo século[37].
• Justino de Roma (100 - 165).
Foi um filósofo convertido ao Cristianismo que escreveu várias obras e tratados
sobre a fé cristã, dentre elas duas Apologias e um Diálogo com Trifão sobre o
judaísmo. Viveu em meados do segundo século[38].
• Hermas (Séc.I).
Escreveu o livro do Pastor de Hermas ainda no final do primeiro século, que em
algumas comunidades fez parte do cânon bíblico junto ao Apocalipse[39].
• Aristides de Atenas (Séc.II).
Autor cristão grego do século II que escreveu a Apologia de Aristides em favor
dos cristãos[40].
• Atenágoras de Atenas (133 – 190).
Apologista cristão do segundo século. Escreveu a Petição em Favor dos Cristãos e
uma obra Sobre a Ressurreição dos Mortos[41].
• Papias de Hierápolis (70 – 155).
Bispo de Hierápolis e escritor eclesiástico, discípulo do apóstolo João e
companheiro de Policarpo, foi martirizado junto a este[42].
• Irineu de Lyon (130 – 202).
Bispo, teólogo e escritor cristão que ficou famoso por sua obra Contra as
Heresias, onde refuta as teses gnósticas[43].
• Teófilo de Antioquia (120 - 186).
Outro filósofo cristão, foi bispo de Antioquia e escreveu três cartas a
Autólico ainda no século II[44].
Existem muitos outros exemplos de muitos outros
cristãos famosos no primeiro e no segundo século, que escreveram várias obras
cristãs, tratados filosóficos, teológicos e exortações às diversas comunidades
cristãs da época. Nada disso faria sentido se tivesse sido somente em Niceia,
ou seja, no quarto século depois de Cristo, que surgiram os primeiros cristãos.
Tal conspiracionista é, no mínimo, um completo ignorante de história antiga.
Para ele, toda a História foi corrompida, a única coisa que não foi corrompida
é a mente de alguém que imagina que centenas de escritores cristãos e seculares
escreveram sobre Jesus e os cristãos muito antes de Niceia sendo que eles ainda
não existiam!
• Considerações Finais
Apenas com aquilo que possuímos de documentação
histórica de autores não-cristãos, podemos seguramente afirmar que
Jesus:
(1) Foi morto e
crucificado, mas os discípulos estavam realmente certos de que ele havia
ressuscitado (Josefo)
(2) Tinha um
irmão chamado Tiago (Josefo)
(3) Os
seguidores foram feitos objetos de esporte, foram amarrados nos esconderijos de
bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes, ou
incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados para servirem de luz
noturna (Tácito)
(4) Os cristãos
(seus seguidores) foram destinados ao suplício (Suetônio)
(5) Os judeus
foram expulsos de Roma por causa de Cristo (Suetônio)
(6) Introduziu
uma nova seita no mundo (Luciano de Samosata)
(7) Seus
seguidores continuam se reunindo regularmente para lhe prestar culto como a
Deus (Plínio)
(8) Seus
discípulos se recusavam a prestar culto aos deuses romanos (Luciano de
Samosata)
(9) Seus
seguidores se recusavam a amaldiçoá-lo, mesmo sob tortura (Plínio)
(10) Eram
castigados em caso de não se arrependerem e começassem a adorar os deuses
pagãos (Imperador Trajano)
(11) Na sua morte
ocorreu um eclipse do sol durante a lua cheia (Flêgão)
(12) É comparado
a Sócrates e Pitágoras pela sua sabedoria (Mara Bar-Serapião)
(13) Morreu
crucificado (Josefo)
(14) Pregava em
Nazaré (Talmude)
(15) Ressuscita
os mortos e cura os enfermos (Rei Abgar V)
(16) Foi
crucificado na véspera da páscoa (Talmude)
(17) Pouco depois
de sua morte, os judeus foram dispersos e destruídos (Mara Bar-Serapião)
(18) Era adorado
pelos seus seguidores (Luciano de Samosata)
(19) Foi
crucificado na Palestina (Luciano de Samosata)
(20) Tinha um
irmão chamado Tiago e um pai chamado José (Ossuário do Irmão de Jesus)
(21) Fazia os
cegos verem, os coxos andarem, purificava os leprosos, expulsava os demônios e
os espíritos imundos, curava os oprimidos por longas doenças e ressuscitava os
mortos (Rei Abgar V)
(22) Foi chamado
de “Cristo” (Josefo)
(23) Praticou
“magia”, conduzindo Israel a novos ensinamentos (Talmude)
(24) Afirmou ser
Deus e que retornaria (Eliezer)
(25) Morreu na
época da lua cheia da Páscoa (Talo)
(26) Foi
condenado por Pôncio Pilatos no governo de Tibério César (Tácito)
(27) Trevas e um
terremoto aconteceram quando ele morreu (Talo)
(28) Seus
discípulos estavam dispostos a morrer por sua crença (Plínio)
(29) Foi
pendurado a véspera da Páscoa (Sinédrio da Babilônia)
(30) Era
considerado o “Filho de Deus” (Rei Abgar V)
As evidências para a existência histórica de Cristo
são tão esmagadoras que para alguém negar honestamente a existência de Jesus
teria que fazer o mesmo com toda a história antiga, já que ele é
citado muito mais vezes do que a grande maioria dos outros nomes que conhecemos
hoje. Nomes como Sócrates, Pitágoras, Platão, Aristóteles, Alexandre o Grande e
Tibério César possuem muito menos documentação histórica da época do
que Jesus, e mesmo assim os mais céticos e ateus costumam crer na
existência histórica destes personagens.
Com Alexandre o Grande, por exemplo, que conquistou
grande parte do mundo de sua época e se tornou famoso e mundialmente
reconhecido (não só pelos gregos, mas por todas as nações), não temos
uma única fonte histórica da época em que ele vivia ou pouco após a sua morte.
Ao contrário: temos apenas fragmentos de duas obras escritas mais de cem anos
depois de sua morte. A maioria dos registros sobre os feitos de Alexandre são
de 300 a 500 anos depois de sua época, mas os ateus não questionam Alexandre,
questionam Jesus, que possui muito mais evidência histórica.
Outro exemplo: o imperador romano da época do
próprio Jesus, Tibério César. Enquanto temos no mínimo 15 fontes não-cristãs de
conhecidos escritores mencionando Jesus em um período de até 150 anos depois de
sua morte, para Tibério temos apenas nove fontes não-cristãs que abrangem essa
mesma época! Então, mesmo se nem levássemos em conta os escritos cristãos, os
que mencionaram Jesus superam aqueles que mencionaram Tibério. E, se contássemos
as fontes cristãs desta mesma época, os que mencionam Jesus superam de goleada
os que mencionam Tibério, em uma proporção de 43 para 10!
Por tudo isso, para alguém suspeitar da
historicidade de Cristo teria que, no mínimo, duvidar de toda a
história antiga. Teria que abandonar todo o conhecimento histórico que aprendeu
na escola, no colégio e na faculdade, teria que jogar no lixo todos os livros
de História e duvidar de todos os grandes nomes do passado. Isso, obviamente,
nenhum ateu faz, porque só são incrédulos em relação a Jesus, e extremamente
crédulos em todo o resto da história antiga – mesmo que isso seja um tremendo
de um contra-senso.
Paz a todos vocês
que estão em Cristo.
Por Cristo e por
Seu Reino,
Lucas Banzoli
(apologiacrista.com)
(Trecho extraído
do meu livro: "As Provas da Existência de Deus")
[8] Tácito, Anais.
Tradução de J.L. Freire de Carvalho. W.M. Jackson Inc. Rio de Janeiro. 1950. pp
405-409.
[35] Sua
obra pode ser conferida no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/147-policarpo-de-esmirna/209-policarpo-de-esmirna-carta-aos-filipenses
[36] Sua
obra pode ser conferida no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/150-clemente-romano/382-clemente-romano-primeira-carta-de-clemente-aos-corintios
[37] Suas
obras podem ser conferidas no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/149-inacio-de-antioquia
[39] Sua
obra pode ser conferida no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/151-hermas/384-hermas-pastor-de-hermas
[40] Sua
obra pode ser conferida no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/152-aristides-de-atenas/387-aristides-de-atenas-apologia
[41] Suas
obras podem ser conferidas no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/154-atenagoras-de-atenas
[42] Os
fragmentos de suas obras podem ser conferidos no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/148-papias-de-hierapolis/210-papias-de-hierapolis-fragmentos-de-papias
[44] Sua
obra pode ser conferida no seguinte endereço: http://arminianismo.com/index.php/categorias/obras/patristica/155-teofilo-de-antioquia/959-teofilo-de-antioquia-primeiro-livro-a-autolico
Postado por Lucas Banzoli às 04:55
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