Por Alex Belmonte
Por séculos, a Igreja de Cristo usou a mais potente
arma de exposição das Sagradas Escrituras, a Hermenêutica, a segura forma de
esclarecer os mais importantes relatos descritos na Bíblia.
O termo Hermenêutica procede do verbo grego hermeneuein,
usualmente traduzido por “interpretar”, e do substantivohermeneia que
significa “interpretação”. Tanto o verbo quanto o substantivo
podem significar “traduzir, tradução”. Junto ao estudo da
hermenêutica está a Exegese, o estudo cuidadoso e sistemático de um texto para
comentários, visando o esclarecimento ou interpretação do mesmo. É o estudo
objetivando subsidiar o passo da interpretação do método analítico da
hermenêutica. Este estudo é desenvolvido sob as indagações de um contexto
histórico e literário. Sendo assim, a hermenêutica é a ferramenta de
interpretação e a exegese, a maneira como usar essa ferramenta. A palavra Exegese,
do grego eksegesis, cujo significado é “explicar, interpretar,
contar, descrever, relatar”. Significa, segundo o contexto, narrativa,
explicação, interpretação.
A hermenêutica é a ciência que estabelece os
princípios, leis e métodos de interpretação. Em sua abrangência trata da teoria
da interpretação de sinais, símbolos de uma cultura e leis. A hermenêutica não
é apenas teológica, mas jurídica e filológica.
Uma das grandes deficiências de nossos muitos
pregadores é a falta do conhecimento das regras da hermenêutica para a pregação
da palavra. Com isso é comum ouvirmos determinados absurdos, que, muitas vezes,
acabam causando até enormes contradições doutrinárias e até mesmo as famosas
“heresias de púlpito”.
Desejamos que este pequeno artigo te desperte a
atenção para os cuidados na interpretação da Bíblia.
Métodos e regras fundamentais para interpretar a Bíblia
Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa.
É um procedimento seguido passo a passo com o objetivo de alcançar um
resultado.
Durante séculos os eruditos religiosos procuraram
todos os métodos possíveis para desvendar os tesouros da Bíblia e arquitetar
meios de descobrir os seus segredos.
1. Método Analítico
É o método utilizado nos estudos pormenorizados com
anotações de detalhes, por insignificantes que pareçam com a finalidade de
descrevê-los e estudá-los em todas as suas formas. Os passos básicos deste
método são:
a) Observação – É o passo que nos
leva a extrair do texto o que realmente descreve os fatos, levando também em
conta a importância das declarações e o contexto;
b) Interpretação – É o passo que nos
leva a buscar a explicação e o significado (tanto para o autor quanto para o
leitor) para entender a mensagem central do texto lido. A interpretação deverá
ser conduzida dentro do contexto textual e histórico com oração e dependência
total do Espírito Santo, analisando o significado das palavras e frases chaves,
avaliando os fatos, investigando os pontos difíceis ou incertos, resumindo a
mensagem do autor a seus leitores originais e fazer a contextualização (trazer
a mensagem a nossa época ou ao nosso contexto);
c) Correlação – É o passo que nos
leva a comparar narrativas ou mensagem de um fato escrito por vários autores,
em épocas distintas em que cada um narra o fato, em ângulos não coincidentes
como por exemplo a mesma narrativa descrita em Mc 10.46 e Lc 18.35, onde o
primeiro descreve “saindo de Jericó” e o segundo “chegando em Jericó”;
d) Aplicação – É o passo que nos leva
a buscar mudanças de atitudes e de ações em função da verdade descoberta. É a
resposta através da ação prática daquilo que se aprendeu.
Um exemplo de aplicação é o de pedir perdão e
reconciliar-se com alguém ou mesmo o de adoração à Deus.
2. Método Sintético
É o método utilizado nos estudos que abordam cada
livro como uma unidade inteira e procura o seu sentido como um todo, de forma
global. Neste caso determina-se as ênfases principais do livro ou seja, as
palavras repetidas em todo o livro, mesmo em sinônimo e com isto a
palavra-chave desenvolve o tema do livro estudado. Outra maneira de determinar
a ênfase ou característica de um livro é observar o espaço dedicado a certo
assunto. Como por exemplo, o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus enfatiza a fé
e em todos os demais capítulos ela enfatiza a palavra SUPERIOR. (De acordo com
a versão Almeida Revista e Atualizada – ARA).
Superior:
a) Aos anjos – 1.4; f) Ao sacrifício – 9.23; l) Ao sacerdócio – 5 a 7;
b) A aliança – 7.22; g) Ao patrimônio – 10.34;
c) A bênção – 7.7.; h) A ressurreição – 11.35;
d) A esperança – 7.19; i) A pátria – 11.16;
e) A promessa – 8.6; j) A Moisés – 3.1 a 4;
b) A aliança – 7.22; g) Ao patrimônio – 10.34;
c) A bênção – 7.7.; h) A ressurreição – 11.35;
d) A esperança – 7.19; i) A pátria – 11.16;
e) A promessa – 8.6; j) A Moisés – 3.1 a 4;
3. Método Temático
É o método utilizado para estudar um livro com um
assunto específico, ou seja, no estudo do livro terá um tema específico
definido. Como exemplo temos a FÉ:
a) Salvadora – Ef. 2.8; d) Grande – Mt 15.21 a 28;
b) Comum – Tt 1.4; Jd 3; e) Vencedora – I Jo 5.4;
c) Pequena – Mt 14.28 a 31; f) Crescente – II Ts 1.3.
b) Comum – Tt 1.4; Jd 3; e) Vencedora – I Jo 5.4;
c) Pequena – Mt 14.28 a 31; f) Crescente – II Ts 1.3.
4. Método Biográfico de Estudo da Bíblia
Esta espécie de estudo bíblico é divertida, pois você tem a oportunidade
de sondar o caráter das pessoas que o Espírito Santo colocou na Bíblia, e de
aprender de suas vidas. Paulo, escrevendo aos Coríntios, disse: “Estas cousas
lhes sobrevieram como exemplo, e foram escritas para advertência nossa, de nós
outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.” (I Cor. 10.11)
Sobre alguns personagens bíblicos muito foi escrito. Quando você estuda pessoas como Jesus, Abraão e Moisés, pode precisar restringir o estudo a áreas como, “A vida de Jesus como nos é revelada no Evangelho de João”, “Moisés durante o Êxodo”, ou “Que diz o Novo Testamento sobre Abraão”. Lute sempre para manter os seus estudos bíblicos em tamanho manejável.
Sobre alguns personagens bíblicos muito foi escrito. Quando você estuda pessoas como Jesus, Abraão e Moisés, pode precisar restringir o estudo a áreas como, “A vida de Jesus como nos é revelada no Evangelho de João”, “Moisés durante o Êxodo”, ou “Que diz o Novo Testamento sobre Abraão”. Lute sempre para manter os seus estudos bíblicos em tamanho manejável.
a) Estudo Biográfico Básico.
Passo Um – Escolha a pessoa que você quer estudar e
estabeleça os limites do estudo (por exemplo, “Vida de Davi, antes de tornar-se
rei”). Usando uma concordância ou um índice enciclopédico, localize as
referências que têm relação com a pessoa do estudo. Leia-as várias vezes e faça
resumo de cada uma delas.
1) – Observações – Anote todo e
qualquer pormenor que notar sobre essa pessoa. Quem era? O que fazia? Onde
morava? Quando viveu? Por que fez o que fez? Como levou a efeito? Anote
minúcias sobre ela e seu caráter.
2) Dificuldades – Escreva o que você
não entende acerca dessa pessoa e de acontecimentos de sua vida.
3) Aplicações possíveis – Anote
várias destas durante o transcurso do seu estudo, e escreva um “A” na margem.
Ao concluir o seu estudo, você voltará a estas aplicações possíveis e escolherá
aquela que o Espírito Santo destacar.
Passo dois – Com divisão em parágrafos, escreva um
breve esboço da vida da pessoa. Inclua os acontecimentos e características
importantes, declarando os fatos, sem interpretação. Quando possível, mantenha
o material em ordem cronológica.
b) Estudo Biográfico Avançado.
Os seguintes passos podem ser acrescentados quando você achar que o
ajudarão em seus estudos biográficos. São facultativos e só devem ser incluídos
progressivamente, à medida que você ganhe confiança e prática.
Trace o fundo histórico da pessoa. Use um dicionário bíblico para ampliar este passo somente quando necessário. As seguintes perguntas haverão de estimular o seu pensamento.
Trace o fundo histórico da pessoa. Use um dicionário bíblico para ampliar este passo somente quando necessário. As seguintes perguntas haverão de estimular o seu pensamento.
1) – Quando viveu a pessoa? Quais eram as condições políticas, sociais,
religiosas e econômicas da sua época?
2) – Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa de incomum em torno do seu nascimento e da sua infância?
3) – Qual a sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra ocupação? Isto influenciou o seu ministério posterior? Como?
4) – Quem foi seu cônjuge? Tiveram filhos? Como eram eles? Ajudaram ou estorvaram a sua vida e o seu ministério?
5) – Faça um gráfico das viagens da pessoa. Aonde ela foi? Por que? Que fez?
6) – Como a pessoa morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?
2) – Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa de incomum em torno do seu nascimento e da sua infância?
3) – Qual a sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra ocupação? Isto influenciou o seu ministério posterior? Como?
4) – Quem foi seu cônjuge? Tiveram filhos? Como eram eles? Ajudaram ou estorvaram a sua vida e o seu ministério?
5) – Faça um gráfico das viagens da pessoa. Aonde ela foi? Por que? Que fez?
6) – Como a pessoa morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?
Hermenêutica Contextual
“A lei do contexto é uma das primeiras leis que regem a interpretação.
Muitas interpretações errôneas tem sua origem na desconsideração desta norma
tão obvia”. Esdras C. Bentho.
Num texto, ou uma seqüência de textos, o contexto é constituído pela
seqüência de parágrafos ou blocos que precedem e seguem imediatamente o texto.
Um dos grandes problemas hermenêuticos são os chamados textos de “prova”.
Textos isolados do contextos usados por determinados interpretes. Causam erros
e equívocos.
Erros a se evitar na interpretação da Bíblia
Os cristãos devem estar comprometidos no conhecer e
obedecer à Palavra de Deus. É essencial, então, que saibamos como interpretar a
Bíblia corretamente, e evitar aqueles erros que poderiam nos conduzir a
conclusões incorretas. O que se segue são alguns princípios que te ajudarão a
interpretar a Bíblia no que ela realmente diz e alguns exemplos do que tem
ocorrido quando esses princípios são violados. Reafirmo que, muitos destes
princípios são seriamente ignorados principalmente por nossos pregadores.
1. Não espiritualize o texto
Espiritualizar (ou alegorizar) é ir além do plano
semântico da passagem em busca de um significado mais profundo ou oculto. O
perigo com esse método é que não há como se checar uma interpretação
extravagante. O único padrão torna-se a mente do intérprete. Prende-se ao
pretenso sentido do texto.
2. Não demonstrar sem contexto
Demonstrar sem contexto é amarrar uma série não
apropriada ou inadequada de versículos bíblicos para provar nossa teologia.
“Pôr em outra forma – é sedutor, mas errôneo – para se compor um fragmento
teológico de um completo estudo indutivo das Escrituras. É errado, tendo feito
isso, começar procurando textos bíblicos que parecem sustentar nossas conclusões,
todas sem a cuidadosa interpretação do texto para o que nós apelamos” (Richard
Mayhue, How to Interpret the Bible for Yourself (Como Interpretar a Bíblia Por
Você Mesmo), BMH Books, p. 75).
3. Não isolar textos de seus contextos
Interpretar um texto fora de seu contexto pode
conduzir a erro. A Escritura não pode ser divorciada de sua circunvizinhança
imediata.
4.Não aplique promessas específicas, feitas a Israel, à outras nações
Evite pegar promessas específicas a Israel e
aplicá-las a outros países como os Estados Unidos.
5. Não substitua Israel pela igreja. (Teologia da Substituição)
A Bíblia nunca confunde Israel com a igreja. Ainda
que haja similaridades entre a nação de Israel e a igreja, a promessa
incondicional e eterna à nação de Israel não deve ser espiritualizada e
transferida à igreja.
6. Não injete pensamentos correntes dentro do texto bíblico
Filosofias modernas ou atuais não devem ser usadas
como base para reinterpretação do texto bíblico.
A Hermenêutica Material
Hermenêutica Material é todo um conjunto de
literatura, que compreende um verdadeiro auxílio exegético na interpretação das
Escrituras.
Como podemos perceber, a hermenêutica é uma
disciplina que requer de seus praticantes total atenção, cuidado e dedicação,
não só na interpretação simples mas também na pregação do evangelho e na defesa
da fé (apologética).
A hermenêutica material hoje é fundamental a todo o
estudante da Palavra de Deus, mas ainda existe um grave problema enfrentados
por alguns: O mal uso do grande arsenal literário apresentado ao povo
evangélico.
Não baste possuir armas potentes para promover a
boa exegese bíblica. É preciso saber quais as melhores e como usá-las. Este é o
propósito deste capítulo.
Chaves e Concordâncias Bíblicas
Concordância Bíblica é uma compilação em ordem
alfabética, de termos bíblicos, que remete ás passagens da Bíblia.
A palavra concordância se refere as passagens
bíblicas cujas idéias estão em acordo as palavras e assuntos procurados.
A concordância foi criada em 1230 pelo cardeal
dominicano Hugo Caro, cujo material de destaque bíblico foi a tradução vulgata.
Tipos de Concordâncias Bíblicas
Há dois tipos de concordância:
Concordâncias verbais: relacionam palavras e são
chamadas também de Chaves Bíblicas. Muitas Bíblias expõem ao final as chaves.
Outras possuem abreviaturas nos rodapés.
Concordâncias reais: Estas não só possuem palavras,
mas também idéias quanto ao texto. Existem apenas no Brasil cinco concordâncias
bíblicas evangélicas, as quais são:
1. Concordância Bíblica – ARA da
Sociedade Bíblica do Brasil, que compreende cerca de 7.000 verbetes, com mais
de 45.000 referencias a passagens bíblicas e 51 biografia de personagens da
Bíblia.
2. A Chave Bíblica baseada na ARC da
Sociedade Bíblica do Brasil.
3. A Concordância Bíblica Abreviada da
IBB – Imprensa Bíblica Brasileira.
4. A Concordância Bíblica Abreviada
baseada na Edição Contemporânea da Editora Vida.
5. A Concordância Bíblica Exaustiva.
Esta é a maior e mais completa concordância bíblica já editada no Brasil.
Baseada na ACF – Almeida, Corrigida, Fiel da Sociedade Bíblica Trinitariana do
Brasil.
Dicionários e Enciclopédias
Não confunda dicionário com concordância, e estas
com enciclopédias ou vice versa. Os dicionários apresentam o assunto com maior
amplidão.
Dicionário, tal como é o seu étimo latino ditionariu, é
um conjunto de vocábulos e termos de uma língua, dispostos em ordem alfabética
com seus respectivos significados. As enciclopédias bíblicas, entretanto, não
se prestam a verificar o significado dos termos, ainda que muitos se achem
nela, mas abranger todos os ramos do conhecimento bíblico e teológico.
Dicionários
1. O Novo Dicionário da Bíblia, editado por J.D. Douglas
(Editora Vida).
2. O Novo Dicionário Internacional de
Teologia do Novo Testamento editado por Colin Brown (Vida Nova).
3. Dicionário Internacional de Teologia
do Antigo Testamento, de R. L. Harris, G. L. Archer Jr e B. K. Waltke.
4. Dicionário Bíblico Jonh Davis.
5. Dicionário Bíblico Wycliffe
(CPAD)
6. Dicionário Vine
7. Dicionário de Religiões, Crenças e
Ocultismo (Vida)
Enciclopédias
1. Pequena Enciclopédia Bíblica, de O.S. Boyer (CPAD)
2. Manual Bíblico, por Henry H. Halley (Vida
Nova).
3. Enciclopédia Histórico-Teológica da
Igreja Cristã, editado por
Walter A. Elwell (Vida Nova).
4. Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, de Gleason Archer (Editora Vida).
5. Enciclopédia de Apologética, de Norman Geisler. (Editora Vida).
Considerações Finais
O interprete da Bíblia possui qualidade especiais e que devem ser
expressos e vividos dia após dia. Qualidades essenciais que fazem do crente o
verdadeiro “amante” da leitura da Palavra de Deus.
Maturidade Espiritual
Deve o “hermeneuta” possuir qualidades espirituais,
principalmente o temor e a reverencia ao Espírito Santo.
O homem espiritual, segundo Paulo, é o crente que
tem capacidade de julgar, de discernir, de compreender todas as verdades
espirituais. O crente maduro sabe se comportar frente aos desafios que a interpretação
bíblica requer.
Comunhão com o Espírito Santo
Estar cheio do Espírito é ter uma vida de
comunhão e intimidade com Deus. Para conhecer profundamente o significado
da Bíblia, o crente deve entender que o conhecimento vem pelo Espírito Santo.
A carência de sensibilidade com o Espírito Santo
incapacita o exegeta para captar com profundidade o significado das passagens
bíblicas.
Mente Sã e Equilibrada
O interprete deve evitar o raciocínio defeituoso e
a extravagância da imaginação, a perversão do raciocínio e as idéias
vagas. Deve ter discernimento de uma passagem para a boa aplicação pessoal.
Apreciador das Línguas Originais
O hermeneuta reconhece o valor das línguas
sagradas. Sabe que uma consistente extração da verdade depende, a certo ponto,
do conhecimento das línguas bíblicas.
Possui Cultura Geral
Não somente o conhecimento da gramática e do
vernáculo de sua língua pátria, mas também da história dos povos bíblicos, da
geografia palestina, arqueologia do Oriente Médio, etc.