Não raramente
ouço alguém esbravejar: “Se Jesus vivesse em nossa época o chamariam de
socialista, ativista social. Ele era um revolucionário” e blá blá blá.
O socialismo é,
basicamente, a ideia de que nossa sociedade é divida em dois tipos de
indivíduos: oprimidos e opressores. Seu objetivo é criar uma distribuição igual
de bens para todos, suprir a necessidade daqueles que estão à margem da
sociedade – sejam deficientes físicos, negros, pobres ou qualquer outro
tipo de pessoas caracterizado pela esquerda como “oprimidos” – a fim de criar
uma sociedade perfeita, onde não existam divisões de classes. É como uma
tentativa de realizar o céu na terra que, inevitavelmente, diz o filósofo
inglês Roger Scruton, nos levaria ao inferno. Dividindo a realidade em
infraestrutura e superestrutura, o socialismo conclama a unificação – que
resulta na concentração de poder político e econômico. Esse fato é negado por
quem adota a ideologia, mas tem sido claramente visto nos países que foram ou
são socialistas.
Que Jesus era
revolucionário, eu não tenho dúvida. Até mesmo A. W. Tozer já afirmou que “a
cruz foi a coisa mais revolucionária que apareceu entre os homens”. Cristo realmente
causou grande revolução em sua época, mas não como ativista social ou coisa do
tipo. Jesus foi revolucionário em pregar o Evangelho da Graça, a salvação como
dom de Deus, a renúncia dos pecados e desejos da carne. Sabemos que Ele se
importava, sim, com os pobres, as prostitutas e os mais excluídos da sociedade.
Ele realmente se relacionava com pecadores e isso era escandaloso. Seu
relacionamento com pecadores não se dava pelo seu “ativismo social”, Ele estava
realmente preocupado com a salvação destes. Sua teologia não tinha como
prioridade o saciar do corpo mortal, mas em dar-lhes o alimento que traria vida
eterna: Ele mesmo.
Entendo o quão
importante é auxiliar o pobre em sua necessidade e sei que ninguém está a fim
de ouvir o Evangelho de barriga vazia. Contudo, o problema não é alimentar o
pobre – isso nunca será problema. O que causa divergência entre o cristianismo
ortodoxo e essa nova “teologia de cuidado ao pobre” é que esta carrega em si
inúmeras heresias. As quais, entre elas, a mais prejudicial para a fé cristã: a
relativização das Escrituras.
Diferente do
que os pensadores-cristãos-modernos pregam em sua teologia, Cristo não
relativizava as Escrituras, pelo contrário, por inúmeras vezes afirmou sua
veracidade:
“Porquanto vos
digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito (…) Porque o que
está escrito de mim terá cumprimento.”
(Lc
22.37)
Quando Satanás
veio tentá-lo, não o tratou como vítima da sociedade angelical branca de olhos
claros, mas voltou a afirmar a veracidade bíblica:
“E Jesus lhe
respondeu, dizendo: Está escrito…” (Lc 4.4)
“E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito…”
(Lc 4.8)
“E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Dito está…” (Lc 4.12)
Sendo
questionado por Satanás, três vezes relatadas por Lucas, num mesmo capítulo,
Cristo respondeu sempre através das Escrituras. Caracterizar Jesus como
socialista pelo seu cuidado com os pobres é desonestidade. É criar um deus para
si mesmo e substituir o verdadeiro Cristo por um ídolo. Ele alimentava,
sim, os pobres, se importava, sim, com os oprimidos pelo duro governo de Roma e
sim, andava com os piores tipos de homens. Mas não tinha em mente criar uma
sociedade perfeita, aqui e agora, onde todos dividiriam o pão. E não, ele não
odiava os ricos. Na verdade, se assentava para pregar o Evangelho até ao pior
destes:
“E eis que
havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era
rico.” (Lc 19.2)
“E quando Jesus
chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce
depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.” (Lc 19.5)
“E, vendo todos
isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.”
(Lc 19.7)
Cristo afirmou
que os pobres sempre estariam entre nós (Jo 12.8). E que aqueles que os
convidam para cear são bem-aventurados (Lc 14.13). Isso não O tornava
socialista, mas demonstrava Sua misericórdia. Aqueles que criam em Sua palavra
vendiam e repartiam com prazer com os que necessitavam, não precisavam ser
obrigados pelo governo (At 2.44-45).
Seus atos e
ensinamentos eram santos e justos. Grande é o Seu poder e governará sobre todos
para sempre. Longe de se enquadrar em fictícios ensinos humanos, Ele
transcendia tudo isso e vivia uma vida real. Não foi um ativista político
vestido de vermelho gritando “não vai ter golpe” por aí. Não se adapta aos
ensinamentos humanos, não era de direita ou esquerda. Nele estão escondidos
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cl 2.3). Bendito seja seu
nome para todo sempre. Amém!
LEITURAS
SUGERIDAS
SCRUTON, Roger.
Como ser um conservador. Tradução de Bruno Garschagen; revisão técnica de
Márcia Xavier de Brito. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2015.
WILLIAMSON,
Kevin D. O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo. Tradução
de Roberto Fernando Muggiati. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Agir, 2013.