A palavra “secularização” vem
do latim saeculus (século), e contrasta o agora com a era vindoura. A
secularização, portanto, é a filosofia de vida que prioriza o agora em
detrimento do que é eterno. A secularização é o movimento crescente de anulação
do que é sagrado, destinado à glória de Deus, substituindo pelo secular o
que é mais interessante agora.
A secularização é um processo
de mundanização, transformando aquilo que é urgente, a busca a Deus, em coisa
sem importância. Importante agora é curtir a vida e se divertir. A
secularização nos faz contentar com as alternativas da era presente, sem nos
importar com as promessas de satisfação e gozo futuros. A secularização tem
atingido o cristianismo atual, conforme a descrição que se segue.
1. A Bíblia
A Bíblia, mediante a
secularização, se torna um livro irrelevante, não lido, não praticado e alvo de
descrédito. A secularização faz com que a Bíblia receba a mesma classificação
de um outro livro qualquer, limitando a noção de sua inspiração divina, ou até
mesmo suprimindo-a. Na secularização, a Bíblia recebe críticas
desconstrucionistas, as quais buscam minimizar a força dos relatos das obras de
Deus, pondo os milagres em descrédito. A era presente ganha força como
referencial para interpretação dos relatos bíblicos. Por exemplo, se hoje não
vemos pessoas andando por sobre as águas, então a narrativa de Jesus andando
por sobre as águas é apenas uma estória mitológica, uma lenda imaginária. No
processo de secularização, as pessoas preferem dar crédito a pressuposições
naturalistas (evolucionismo) a crer na veracidade dos relatos bíblicos sobre a
criação do mundo.
2. Ética
A ética secularista também não
refletirá o padrão revelado na Escritura Sagrada. Se a Bíblia não é referencial
seguro dentro do sistema secularizado, também os mandamentos bíblicos ficam
completamente sem relevância. Mandamentos bíblicos que claramente tratam do
mundanismo, da busca pela satisfação carnal, através de festas mundanas, do
sexo livre, do consumismo, da literatura pornográfica, de programas de
televisão e de filmes que não trazem edificação, através de sites da Internet
impróprios, se tornam sem importância e desprezados. A ética secularista ensina
a fazer o que dá vontade. Se você deseja, então é legítimo. A Bíblia não ensina
assim. A Bíblia diz que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convém”
(1Co 6.12). Também diz que a amizade do mundo é inimizade contra Deus (Tg 4.4),
e que quem ama ao mundo não provou do amor do Pai Celeste (1Jo 2.15). Jesus
disse: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e
aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
manifestarei a ele” (Jo 14.21).
3. Comportamento
Se a secularização se recusa a
ouvir os mandamentos de Deus e os julga irrelevantes, logo, o comportamento das
pessoas secularizadas refletirá um padrão que não provém da Bíblia. Um
indivíduo secularizado não se importa de falar palavrões e de contar piadas
indecentes. Uma pessoa secularizada não se importa em usar roupas com decotes escandalosos,
exibindo partes do corpo que incitam a sensualidade. Também a secularização
semeia a descrença, fazendo com que as pessoas vivam como se Deus nem
existisse, como se ele não estivesse ao nosso lado contemplando os maus e os
bons. Por esta razão, o juízo de Deus é completamente ignorado e o temor de
Deus inexistente. O secularizado dá golpes no mercado, faz negócios ilícitos,
sonega impostos, deixa de devolver o dízimo porque o empregou em coisas do aqui
e do agora, para satisfazer o desejo de ter. O homem secularizado olha de modo
inconveniente para a mulher do seu próximo, a mulher secularizada se deixa
levar pelo devaneio de um coração carregado de paixões mundanas. A
secularização faz com que uma pessoa troque sem vexames o santo culto a Deus pelo
estádio de futebol ou outro entretenimento qualquer, em clara violação do
quarto mandamento, de guardar o dia do Senhor. Não somente isso, mas até mesmo
trabalhos semanais da igreja deixam de ser motivo do interesse do secularista
em troca de outros cuja relevância é duvidosa e até mesmo reprovável. Em
resumo, trocar um trabalho da igreja por momentos de diversão sejam lá quais
forem, é fazer uma opção clara por coisas do aqui e do agora em detrimento
daquelas que são relevantes aos olhos de Deus.
4. Adoração
A adoração no ambiente
secularizado se torna pretexto para entretenimento e promoção pessoal. A
secularização admite coisas no culto que a Bíblia não recomenda e muitas vezes
até condena claramente. Um culto secularizado admite a dança sensual, a performance
artística, as palmas para Jesus, a falta de ordem e decência, a irreverência,
as mensagens que não brotam de interpretação fiel das Escrituras, o som
ensurdecedor, músicas com letras em desacordo com o ensino da Palavra de Deus,
o ecumenismo e o sensacionalismo mediante promoção de fenômenos espetaculares.
5. Evangelização
A secularização elimina por
completo qualquer envolvimento com a evangelização, visto que as pessoas
secularizadas só pensam no agora e não em ser instrumentos de Deus para a salvação
dos perdidos. A secularização faz com que as pessoas não tenham tempo para
evangelização. Elas só pensam nelas. Não se preocupam em compartilhar a
mensagem do evangelho, porque, afinal, “para quê falar de vida eterna se o que
me importa é o agora?” Um dia no shopping se torna muito mais atraente do que
uma tarde na rua evangelizando as pessoas ou distribuindo folhetos. As
programações de socialização acabam ganhando preferência em relação a eventos
evangelísticos. Os secularistas nunca contribuem com missões, mas sempre
investem muito dinheiro em coisas supérfluas e sem urgência (carro, casa,
jóias, roupas, etc.). Conseqüentemente, as igrejas secularizadas mínguam a cada
ano e acabam fechando as portas, se não passarem o resto da história engatinhando
espiritualmente.
6. Comunhão
A secularização, por fim,
sepulta a comunhão da igreja no cemitério da indiferença e da insensibilidade.
As pessoas secularizadas não ligam mais umas para as outras. Aliás, demonstram
alguma preocupação na hora de falar mal. Então elas não se preocupam umas com
as outras no bom sentido da expressão, mas se ocupam em maldizer e a tecer
comentários maldosos. A comunhão morre dentro da secularização porque as
pessoas perdem a visão do significado da igreja como corpo de Cristo. Se
esquecem que possuem a vida eterna em comum, como o sangue que irriga todo o
corpo. O sacrifício de Jesus une as partes individuais tornando-as uma só alma,
indivisível. Mas o secularista insiste em semear divisão e facção dentro da
igreja, porque não se lembra mais que a herança celestial e a eternidade serão
dados ao povo de Deus, que será um só rebanho de um só pastor.
Conclusão
Talvez você esteja lendo isto
preocupado por ter se enquadrado nas descrições daqueles que são afetados pela
secularização. Isto não deve desanimá-lo. Lembre-se que todos nós estamos
inseridos numa sociedade altamente secularizada. É normal que a secularização
nos atinja de alguma forma. Agora, o que não pode acontecer é uma acomodação ao
sistema. “Não vos conformeis com este século”, disse Paulo em Romanos 12.2. Não
devemos tomar a forma do mundo, vivendo só para o agora, deixando de lado a
visão da eternidade, que é o que realmente importa. Temos é que renovar a nossa
mente com as coisas de Deus, manifestadas na sua Palavra. Temos que revigorar
nossa fé a cada dia com o alimento da esperança: a Bíblia. Não podemos abrir
espaço para que nossa visão contemple somente as coisas ilusórias do presente
século. Do contrário, seremos como Demas, o qual, “tendo amado o presente século”
(2Tm 4.10), abandonou a Cristo, e a Paulo, e foi cuidar dos seus próprios
interesses na cidade de Tessalônica.
Querido leitor, esta é a razão
porque muitos têm abandonado a igreja hoje e corrido atrás de satisfação nas
coisas do mundo: não conseguem mais crer e olhar para a eternidade que nos
aguarda. Só têm diante de si a ilusão do presente. Esqueceram-se de que fomos
criados neste mundo para glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Em
contrapartida, tentam em vão satisfazer sua alma com as coisas do aqui e do
agora. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos dê visão nítida e constante da
eternidade. Que ele nos livre dos perigos da secularização, a fim de que não
sejamos como o cavalo ou a mula, sem entendimento, mas que tenhamos nossa mente
constantemente esclarecida pela palavra do Senhor, a qual vive e é permanente.
Amém.
Pr. Charles