Teologia Contemporânea é o estudo de Deus contextualizado
com o nosso tempo e a evolução dos dogmas e dos pensamentos formados a respeito
das doutrinas bíblicas frente aos desafios de nossos dias. A Teologia segue a
História e, pelo menos historicamente, subdivide-se tal qual os períodos
conhecidos. Para conhecermos melhor, devemos vasculhar na história da Teologia
os fundamentos da Teologia Contemporânea, ou seja, percorrer os caminhos, os
rastros ou pistas que formam o escopo da teologia do período em questão.
Um Pouco de História Antes de Kant
Um Pouco de História Antes de Kant
Teologizamos desde o Éden, mas para delimitarmos um ponto de partida é louvável que comecemos com a Teologia Patrística, isto é, a teologia desenvolvida pelos pais da igreja, os discípulos dos apóstolos e seus escritos indo até Agostinho.
Durante esse período a teologia era incipiente, com alguns erros crassos, por outro lado, dogmas que foram desenvolvidos nessa época dão sustentação, até hoje, às doutrinas mais fundamentais do Cristianismo. Nascida da necessidade de combater as heresias orientais no que diz respeito, principalmente à doutrina da Pessoa de Cristo, Sua Divindade e Sua Obra, foi responsável pela elaboração dos credos que defendiam a fé cristã, bem como pela exclusão dos hereges. Foi o berço da teologia cristã e um dos períodos áureos do saber teológico.
Mais tarde veio o papado e deu-se início ao período conhecido como Idade Média ou Idade das Trevas, como preferem alguns, porque pouco ou quase nada se descobriu na área do conhecimento científico. A Igreja tornou-se a detentora do poder religioso e temporal, logo todo saber estava sob seu controle e dizia o que era certo ou errado, como detentora do conhecimento.
Podemos dizer que Tomás de Aquino foi o mais importante teólogo da Idade Média. Usando a lógica aristotélica, procurou sintetizar os princípios da fé e da razão e provar pela razão a existência de Deus, valendo-se de argumentos racionais. Aquino entendia que o homem poderia encontrar Deus pela razão e assim desenvolveu uma teologia natural ao casar a teologia com a filosofia. Na realidade, Tomás de Aquino foi um monstro do saber e até hoje sua doutrina é utilizada pela cúria romana.
Nos tempos de Tomás, os intelectuais eram clérigos, quer dizer, tinham formação nas Universidades Católicas (um dos legados da Idade Média), logo a Europa tinha uma formação católica e nada parecia ameaçar a hegemonia da igreja do papado, pelo contrário, estava consolidada a civilização cristã, com reis e príncipes sujeitos ao bispo de Roma. Mas, não por muito tempo. A sociedade estava mudando e a igreja desse tempo não acompanhou as mudanças, ou como diz Jonh Landers: “não descobriu recursos para manter-se diante das novas realidades”. O sistema feudal havia surgido durante as invasões bárbaras, é nesse período que houve um esvaziamento nas cidades, o comércio quase desapareceu e as pessoas viviam em condições de subsistência agrícola.
A sociedade feudal era composta por três classes: nobres (cavaleiros que protegiam os lavradores e as terras), clérigos (a igreja) e camponeses (lavradores).
Com a volta da paz, as cidades voltaram a crescer e com elas os comerciantes, os artesãos. Os novos moradores da cidade não eram nem nobres, nem camponeses. Nasce então a classe média. Os comerciantes tornaram-se ricos, mas não tinham título de nobreza. Precisavam ter reconhecida sua superioridade, mas a igreja não abria as portas das universidades, senão para os clérigos, daí então, a resposta aos problemas foi: “humanitas”. Os humanistas pretendiam desenvolver toda a capacidade do indivíduo e por isso esse novo estilo de educação veio a chamar-se humanismo. Onde poderiam encontrar um currículo mais humanizante? Entenderam que Roma, que havia declinado, teve seu momento de ouro, e se retornassem aos escritos dessa era áurea poderiam reviver os dias gloriosos do Império Romano, em outras palavras alcançariam o conhecimento dos antigos apesar de pagãos.
Buscando conhecer os escritos de Virgílio, Sêneca, Cícero, Ovídio e outros, denominaram o seu próprio tempo de Renascença, em contraste com o período de mil anos de trevas de onde acabavam de emergir. Contudo, em sua busca pelos clássicos, não encontraram um modelo para a moral e a religião, mas modelos para a arte e literatura. É interessante observar que os humanistas não rejeitaram o cristianismo e a religião, e isso fez com que eles também buscassem indagações sobre a Bíblia nos originais. Descobriram pelos estudos que os padres de seu tempo não conheciam o grego e o hebraico e “mal rezavam a missa em latim”, e mais importante, descobriram que havia uma lacuna, uma distância muito grande entre o Cristianismo apresentado no Novo Testamento e a prática religiosa de sua época.
A Reforma
Com as invasões dos bárbaros e a queda de Constantinopla (1453), marcou-se o início do período da história chamado de História Moderna. Tempo das grandes navegações e conquistas de portugueses e espanhóis, tempo dos descobrimentos, tempo do renascimento artístico, literário e avanço em todas as ciências como matemática, física, entre outras.
Com o declínio de Roma, os reis que estavam sob seu cetro começavam a rejeitar a autoridade do papa como representante de Deus na terra e contestavam seu domínio temporal sobre suas terras. Dentre as muitas arbitrariedades, a venda de indulgências foi a gota d’água que faltava para eclodir a reforma.
Mas, foi do estudo das Escrituras que surgiu a Reforma Protestante. A teologia dos reformadores era também um retorno aos escritos antigos, as Escrituras. O período de Tomás de Aquino ficou conhecido como Escolasticismo ou Tomismo (sec. XIII e XIV), quando defendiam uma teologia natural onde o homem poderia encontrar Deus pela razão. A Reforma Protestante rompeu com a filosofia escolástica e voltou à Palavra. O lema dos reformadores foi: Sola Scriptura, Solus Crhistus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Gloria! Após a reforma o período de 1618 a 1648 ficou conhecido como Guerra dos Trinta Anos. Somente entre os alemães, calcula-se que morreu um terço da população. Começa-se então a questionar o valor da religião. Depois de “mil anos de trevas”, a tentativa de restauração desencadeia um genocídio jamais visto numa sociedade dita cristã. Inicia-se uma busca para solucionar o problema da guerra, contudo, a essa altura o mundo já havia mudado o suficiente para estabelecer uma idéia antropocêntrica, capaz de mudar a história e dar novo rumo à humanidade, sem Deus.
Feuerbach
Curiosamente, dois movimentos anti-religiosos mais importantes dos séc. XIX tomaram Hegel como seu ponto de partida. São as filosofias de Feuerbach e de Marx. Ludwing Feuerbach (1804-72) estudou teologia em Heidelberg, e depois foi para Berlim a fim de estudar filosofia e aprender de Hegel.
Ao passo que Hegel dissera que toda a realidade era uma manifestação do Espírito Absoluto, Feuerbach calmamente contou aos seus leitores que este espírito nada mais era senão a natureza. “A natureza, portanto, é o fundamento do homem”. Feuerbach também podia concordar com Schleiermacher que o âmago de toda a religião é um senso de dependência absoluta, mas aquilo de que o homem depende e de que se sente dependente, nada mais é senão a natureza.
O ser divino nada mais é senão o ser humano, ou melhor, a natureza humana purificada, libertada dos limites do homem individual. Todos os atributos da natureza divina são, portanto, da natureza humana. A teologia nada mais é senão a antropologia - o conhecimento de Deus nada mais é senão um conhecimento do homem.
Feuerbach não era tanto um ateu quanto um ateísta, estava protestando contra a idéia de um Deus lá fora, sobre e acima do universo, tomando Hegel como seu ponto de partida, chegou à conclusão de que o hegelianismo deve ser transcendido. Ficou com a natureza, que passou a endeusar. Fala de um Deus que é diferente da natureza.
Marx e o Materialismo Dialético
Karl Max (1818-83) nasceu na Renânia de pais judeus que mais tarde se tornaram luteranos. Hegel tinha morrido cinco anos antes de Marx ir para Berlim, mas conforme Marx disse mais tarde, seu legado intelectual “influenciava pesadamente os vivos”. Marx associou-se com um grupo de hegelianos divergentes que se chamavam espíritos livres.
Marx tinha dívidas conscientes e inconscientes para com o pensamento de Hegel. Mas ao passo que Hegel considerava toda a realidade como sendo a operação do Espírito Absoluto, Marx seguia a Feuerbach o crédito de ter “fundado o materialismo genuíno e a ciência positiva”. Ao fazer do relacionamento social entre o homem e seu próximo o princípio básico desta teoria. Mas ao invés de reinterpretar a religião, Marx passou a denunciá-la como sendo a inimiga de todo o progresso. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. O Estado e a sociedade produzem a religião. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo.
O vácuo deixado pela religião devia ser preenchido pelo materialismo. Ficou para Engels, Lenin e outros elaborarem a plena doutrina ortodoxa do Materialismo Dialético. É assim a justificativa da evolução da sociedade do feudalismo para o capitalismo, do capitalismo para o socialismo, e o socialismo para o comunismo. Em cada caso, a mudança realizou-se através de lutas das classes.
Nietzsche
Friedrich Nietzsche, filho e neto de uma família de pastores luteranos, o mesmo tem sido descrito como profeta mais do que um pensador sistemático.
Se, porém, Nietzsche era um profeta, era um porta-voz autonomeado em prol da humanidade. E o objeto do seu ataque era Deus.
O ponto de partida de Nietzsche é a não existência de Deus. O homem, portanto é deixado por conta própria. Visto que Deus não existe, o homem deve elaborar seu próprio modo de vida. Se, pois, Deus já não existe, o homem tem de enfrentar tudo sozinho.
A receita de Nietzsche achava-se nas doutrinas complementares da vontade de ter poder, da reavaliação de todos os valores, e do super-homem. O super-homem nada tem a ver com a doutrina nazista da superioridade racial. O super-homem é o homem que reconhece a situação humana que cria seus próprios valores. Ele mesmo não desconhece a angústia, mas triunfa sobre a fraqueza, e a despreza nos outros.
Não é difícil perceber por que Nietzsche foi adotado como filósofo do Socialismo Nacional. Para Nietzsche, deve haver uma limpeza total, O homem deve começar do zero, e decidir pela sua própria vontade aquilo que é certo e errado.
Darwin e a Evolução
O fator individual mais poderoso de longe, que minou a crença popular na existência de Deus nos tempos modernos foi a teoria da evolução, de Charles Darwin. Havia duas partes principais na sua teoria, a evolução, a sugestão de que a vida conforme a conhecemos desenvolveu-se paulatinamente no decurso de milhões de anos a partir de ancestrais comuns e possivelmente de um único ser protótipo, a outra, e da seleção natural, ou seja, a sobrevivência dos mais aptos. A fim de existirem, as plantas e os animais precisam alimentar-se uns dos outros. Aqueles que desenvolvem novas capacidades e se adaptam ao seu meio-ambiente com mais rapidez são aqueles que sobrevivem.
Reconhece-se que a teoria tinha de pressupor que isto acontecia às vezes de modo muito repentino, e que não ficava claro como as aves descendiam dos répteis, os mamíferos dos quadrúpedes anteriores, os quadrúpedes dos peixes, ou os vertebrados dos invertebrados. Mesmo assim, o evolucionismo veio a ser um tipo de lei que explicava o comportamento do universo. (O que buscavam os racionais do período pré-iluminismo). Além disso, embora as passagens finais de Darwin façam algumas referências respeitosas ao Criador, o impacto principal do seu pensamento estava claro. A evolução remove a necessidade de crença em Deus.
Foi em grande medida através de Herbert Spencer (1820-1903) que a evolução chegou ao homem na rua. Spencer via a luta pela existência em todas as esferas da vida. A evolução convenceu-o que não se devia interferir com a natureza, e que, portanto, ele deveria opor-se à educação estatal, às leis em prol dos pobres e à reforma habitacional tanto os capitalistas quanto os socialistas fizeram bom uso da evolução. Negociantes tais como Andrew Carnegie e J.D. Rockfeller diziam a si mesmos que, embora o indivíduo talvez sofresse no decurso dos fatos dos grandes negócios, tudo isto fazia parte integrante da lei da concorrência.
Os eclesiásticos estavam divididos entre si acerca da evolução. Havia aqueles como Deão Church e o Arcebispo Frederick Temple que acreditavam que a evolução não era incompatível com a crença no Criador. Outros, porém, tais como C.H. Spurgeon, eram francamente cépticos. Eram necessárias mais provas. Darwin ainda teria que escavar os elos que faltavam. Um efeito duradouro e lastimável do sucesso da Origin foi que os biológicos ficaram viciados em especulações incapazes de verificações.
A ALTA CRÍTICA
Do latim “altus”, significa elevado; e do grego “kriticós”, significa julgar. A Alta Critica é o nome dado ao método literário pelo qual se determina a autoria, a data, as circunstâncias, etc., em que foram compostos os livros sagrados. Por ele, também se verifica as fontes literárias e a confiabilidade histórica das Escrituras. A Alta Crítica é um método científico no qual não se leva em conta a inspiração plenária das Escrituras. Vale-se, apenas, dos meios de autenticação, como as descobertas arqueológicas, a análise histórico-cultural, os estudos geológicos. O problema é que, na Bíblia, há inúmeros episódios que não podem ser comprovados cientificamente, e é aqui que os teólogos modernistas encontram margem para pôr em descrédito as verdades sagradas.
Na verdade, o método da Alta Crítica, em si, é importante e necessário para se fazer a exegese bíblica. Mesmo os teólogos comprometidos com a inspiração plenária da Palavra de Deus o utilizam. Infelizmente, os teólogos modernistas usam-no para outra finalidade nada nobre: duvidar da inerrância das Escrituras. Vê-se que o problema não está no método, mas em sua utilização.
A Alta Crítica e o Liberalismo Teológico
O Liberalismo Teológico não é uma religião ou uma organização ideológica possuidora de templos, funcionários ou sociedades. Trata-se de uma tendência de ajustar o Cristianismo aos conceitos criados a partir da Alta Crítica da Bíblia, da ciência e das divagações filosóficas. Tal tendência apresenta-se sob diversos outros títulos: Modernismo, Racionalismo, Nova Teologia, etc.
Os Fundamentos históricos dessa tendência remontam o ano de 1753, quando Jean Astruc (1684-1766), francês, professor de Medicina em Paris, publicou, anonimamente, em Bruxelas, o livro Conjecturas Sobre as Memórias Originais que Parecem Ter Sido Usadas por Moisés na Composição do Gênesis. Astruc, que foi médico do rei Luz XV, da França, duvidou da origem mosaica do Pentateuco e de sua historicidade. Até então, a autoria de Moisés era inquestionável, e a atitude de Astruc ensejou outros questionamentos por parte de teólogos desprovidos do compromisso com a inspiração plenária da Palavra de Deus. Entende-se, todavia, que Moisés é o autor do Pentateuco, e há evidências internas e externas que comprovam isso.
Conseqüências do Mau Uso da Alta Crítica pelos Teólogos Modernistas
Em resumo, mediante a Alta Crítica, os teólogos modernistas cometem os seguintes erros:
- Questionam o inquestionável, atribuindo contradições ao texto sagrado.
- Para eles, Jesus deixa de ser Deus e Homem perfeito, para ser apenas um profeta, destituído de todos os seus atributos.
- Enfatizam o relativismo, contribuindo para o rebaixamento dos padrões morais, para o surgimento de atitudes irreverentes em relação à Divindade, além de gerarem dúvidas acerca da inspiração plenária das Escrituras.
LIBERALISMO TEOLÓGICO MODERNO
Do latim, “liberare” significa tornar livre. Movimento que, tendo início no final do século XIX na Europa e nos Estados Unidos, tinha como objetivo extirpar da Bíblia todo elemento sobrenatural, submetendo as Escrituras a uma crítica científica e humanista. No liberalismo teológico, via de regra, não há lugar para os milagres, profecias e a divindade de Cristo Jesus. O principal instrumento do liberalismo teológico não é a revelação: é a especulação. Em suma: trata-se de uma abordagem meramente filosófica da Palavra de Deus. E, como as coisas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente, explica-se pois o abismo que se forma entre a revelação e a especulação.
Nomes Principais do Liberalismo Teológico
Friedrich Schleiermacher (1768-1834) - Teólogo e filósofo alemão, embora anti-racionalista, ensinou que não há religiões falsas e verdadeiras. Todas elas, com maior ou menor grau de eficiência, têm por objetivo ligar o homem finito com o Deus infinito, sendo o Cristianismo a melhor delas. Ao harmonizar as concepções protestantes com as convicções da burguesia culta e liberal, Scheleiermacher foi considerado radical pelos ortodoxos, e visionário pelos racionalistas. Na verdade, o seu pensamento filosófico-teológico, embora considerado liberal, está mais perto do transcendentalismo de Karl Barth.
Johann David Michalis (1717-1791) - Teólogo protestante alemão, foi o primeiro a abandonar o conceito da inspiração literal das Escrituras Sagradas.
Adolf von Harnack (1851-1930) - Teólogo protestante alemão, defende sua obra principal História dos Dogmas, a evolução dos dogmas do Cristianismo pela helenização progressiva da fé cristã primitiva. Para ele, o cristão tem todo o direito de criticar livremente os dogmas, que são a tradução intelectual do evangelho. Em outra obra, A Essência do Cristianismo, reduziu a religião cristã a uma espécie de confiança em Deus, sem dogma algum e sem cristologia.
Albrecht Rtschl (1822-1889) - Teólogo alemão ensinou que a Teologia não pode seguir Georg Hegel, filósofo alemão tributário da filosofia grega, do racionalismo cartesiano e do idealismo alemão. Ritschl ressaltou o conteúdo ético da teologia cristã e afirmou que esta deve basear-se principalmente na apreciação da vida interior de Cristo.
David Friedrich Strauss (1808-1874) - Foi o teólogo alemão que maior influência exerceu no século XIX sobre os não eclesiásticos. Tornou-se professor da Universidade de Tubigen com apenas 24 anos. No ano de 1841 lançou, em dois volumes, Fé Cristã - Seu Desenvolvimento Histórico e Seu Conflito com a Ciência Moderna, negando completamente a Bíblia, a Igreja e a Dogmática. Em 1864, publicou uma segunda Vida de Jesus, quando procurou então distinguir o Jesus histórico do Cristo ideal segundo a maneira típica dos liberais do século XIX. Em sua A Antiga e a Nova Fé, publicada em 1872, procurou mostrar a impossibilidade do Cristianismo no mundo moderno, propondo então a sua substituição por um materialismo de cunho evolucionista. Suas obras exerceram grande influência sobre os intelectuais da época. Para Strauss, Jesus é mero homem. Insiste em que é necessário escolher entre uma observação imparcial e o Cristo da fé. Ensinou que é preciso julgar o que os Evangelhos dizem de Jesus pela lei lógica, histórica e filosófica, que governa todos os eventos em todos os tempos. Não achou e não procurou um âmago histórico, mas interessou-se apenas em mostrar a presença e a origem do mito nos evangelhos. Segundo seu conceito, não somos mais cristãos, mas simplesmente religiosos. Nas obras de Strauss não há lugar para o sobrenatural. Os milagres são mitos, contados para confirmar o papel necessário de Jesus, daí as referências ao Antigo Testamento. Em resumo, Jesus não é uma figura histórica, e da vida dele nada sabemos, sendo tudo mito e lenda. Philip Schaff comenta que Strauss professa admitir a verdade abstrata da cristologia ortodoxa, “a união do divino e humano, mas perverte-a, emprestando-lhe um sentido puramente intelectual, ou panteísta. Ele nega atributos e honras divinas à gloriosa Cabeça da raça, mas aplica os mesmos atributos a uma humanidade acéfala”.
Sorem Kierkegaard (1813-1855) - Teólogo e filósofo dinamarquês. Filho de um homem rico torturado por dúvidas religiosas e sentimentos de culpa, Kierkegaard adquiriu complexos de natureza psicopatológica e possíveis deficiências somáticas. Estudou Teologia na Universidade de Copenhague, licenciando-se em 1841. Atacou a filosofia de Hegel e afastou-se mais e mais da Igreja Luterana, por julgá-la muito pouco cristã. Para o teólogo dinarmaquês, entre as atitudes (fases) estética, ética e religiosa da vida, não há mediação, como na dialética de Hegel, e não há entre elas transição, no sentido de evolução. Para chegar da fase estética à fase ética ou desta à religiosa é preciso dar um salto (ser iluminado, converter-se instantaneamente) que transforme inteiramente a vida da pessoa. Para Kierkegaard, só o Cristianismo é capaz de vencer heroicamente o mundo, sendo o panteísmo cultural de Hegel impotente contra a consciência do pecado e contra o medo e temor. Criticou o hegelianismo em sua acomodação ao mundo profano, por não ser capaz de eliminar a angústia e admitir a existência de contradições irresolúveis entre o Cristianismo e o mundo, cabendo ao homem escolher existencialmente entre esta e aquela alternativa: ser cristão ou ser não-cristão.
São profundos os conceitos de Kierkegaard sobre os estágios da vida, a diferença entre ser e existir, o subjetivo e o objetivo, o desespero, os critérios positivos para a verdadeira existência, etc. Eis alguns deles: No estágio estético, o homem leva uma existência imediata e não refletida, faltando a diferenciação entre ele e o seu mundo; no estágio ético, o homem assume a responsabilidade pelo seu próprio ser, procura alcançar-se a si - o que não pode fazer, no estágio religioso, reconhece a impossibilidade de viver conforme gostaria e descobre que o pecado é não ser o que Deus deseja que seja, e que se alcança este estado proposto por Deus através de algo que vem de fora - o próprio Deus; O tempo (e espaço) trata do que o homem é, da sua existência; e a eternidade significa que, embora o homem viva no tempo e no espaço, ele não está totalmente determinado por estes elementos; a existência fala de liberdade, possibilidade, do ideal, da obrigação; o momento de decisão é quando a eternidade intercepta o tempo; O objetivo cultural é aquilo que é, enquanto o homem fica entre o que é e o que ele pode e deve ser. A ciência limita-se ao estudo do que é, o que ela chama “a verdade”; mas os fatos, claramente aceitos jamais encerram a verdade; A essência do ser humano aparece quando traz a eternidade para dentro do tempo. Cada homem há de sofrer porque vive numa realidade muito física: liberdade versus tempo; O único que realmente resolveu o paradoxo do tempo e da eternidade foi Jesus Cristo. Ele mesmo foi um paradoxo: Deus e homem; limitado e ilimitado; ignorante e conhecedor de tudo.
Curiosamente, dois movimentos anti-religiosos mais importantes dos séc. XIX tomaram Hegel como seu ponto de partida. São as filosofias de Feuerbach e de Marx. Ludwing Feuerbach (1804-72) estudou teologia em Heidelberg, e depois foi para Berlim a fim de estudar filosofia e aprender de Hegel.
Ao passo que Hegel dissera que toda a realidade era uma manifestação do Espírito Absoluto, Feuerbach calmamente contou aos seus leitores que este espírito nada mais era senão a natureza. “A natureza, portanto, é o fundamento do homem”. Feuerbach também podia concordar com Schleiermacher que o âmago de toda a religião é um senso de dependência absoluta, mas aquilo de que o homem depende e de que se sente dependente, nada mais é senão a natureza.
O ser divino nada mais é senão o ser humano, ou melhor, a natureza humana purificada, libertada dos limites do homem individual. Todos os atributos da natureza divina são, portanto, da natureza humana. A teologia nada mais é senão a antropologia - o conhecimento de Deus nada mais é senão um conhecimento do homem.
Feuerbach não era tanto um ateu quanto um ateísta, estava protestando contra a idéia de um Deus lá fora, sobre e acima do universo, tomando Hegel como seu ponto de partida, chegou à conclusão de que o hegelianismo deve ser transcendido. Ficou com a natureza, que passou a endeusar. Fala de um Deus que é diferente da natureza.
Marx e o Materialismo Dialético
Karl Max (1818-83) nasceu na Renânia de pais judeus que mais tarde se tornaram luteranos. Hegel tinha morrido cinco anos antes de Marx ir para Berlim, mas conforme Marx disse mais tarde, seu legado intelectual “influenciava pesadamente os vivos”. Marx associou-se com um grupo de hegelianos divergentes que se chamavam espíritos livres.
Marx tinha dívidas conscientes e inconscientes para com o pensamento de Hegel. Mas ao passo que Hegel considerava toda a realidade como sendo a operação do Espírito Absoluto, Marx seguia a Feuerbach o crédito de ter “fundado o materialismo genuíno e a ciência positiva”. Ao fazer do relacionamento social entre o homem e seu próximo o princípio básico desta teoria. Mas ao invés de reinterpretar a religião, Marx passou a denunciá-la como sendo a inimiga de todo o progresso. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. O Estado e a sociedade produzem a religião. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo.
O vácuo deixado pela religião devia ser preenchido pelo materialismo. Ficou para Engels, Lenin e outros elaborarem a plena doutrina ortodoxa do Materialismo Dialético. É assim a justificativa da evolução da sociedade do feudalismo para o capitalismo, do capitalismo para o socialismo, e o socialismo para o comunismo. Em cada caso, a mudança realizou-se através de lutas das classes.
Nietzsche
Friedrich Nietzsche, filho e neto de uma família de pastores luteranos, o mesmo tem sido descrito como profeta mais do que um pensador sistemático.
Se, porém, Nietzsche era um profeta, era um porta-voz autonomeado em prol da humanidade. E o objeto do seu ataque era Deus.
O ponto de partida de Nietzsche é a não existência de Deus. O homem, portanto é deixado por conta própria. Visto que Deus não existe, o homem deve elaborar seu próprio modo de vida. Se, pois, Deus já não existe, o homem tem de enfrentar tudo sozinho.
A receita de Nietzsche achava-se nas doutrinas complementares da vontade de ter poder, da reavaliação de todos os valores, e do super-homem. O super-homem nada tem a ver com a doutrina nazista da superioridade racial. O super-homem é o homem que reconhece a situação humana que cria seus próprios valores. Ele mesmo não desconhece a angústia, mas triunfa sobre a fraqueza, e a despreza nos outros.
Não é difícil perceber por que Nietzsche foi adotado como filósofo do Socialismo Nacional. Para Nietzsche, deve haver uma limpeza total, O homem deve começar do zero, e decidir pela sua própria vontade aquilo que é certo e errado.
Darwin e a Evolução
O fator individual mais poderoso de longe, que minou a crença popular na existência de Deus nos tempos modernos foi a teoria da evolução, de Charles Darwin. Havia duas partes principais na sua teoria, a evolução, a sugestão de que a vida conforme a conhecemos desenvolveu-se paulatinamente no decurso de milhões de anos a partir de ancestrais comuns e possivelmente de um único ser protótipo, a outra, e da seleção natural, ou seja, a sobrevivência dos mais aptos. A fim de existirem, as plantas e os animais precisam alimentar-se uns dos outros. Aqueles que desenvolvem novas capacidades e se adaptam ao seu meio-ambiente com mais rapidez são aqueles que sobrevivem.
Reconhece-se que a teoria tinha de pressupor que isto acontecia às vezes de modo muito repentino, e que não ficava claro como as aves descendiam dos répteis, os mamíferos dos quadrúpedes anteriores, os quadrúpedes dos peixes, ou os vertebrados dos invertebrados. Mesmo assim, o evolucionismo veio a ser um tipo de lei que explicava o comportamento do universo. (O que buscavam os racionais do período pré-iluminismo). Além disso, embora as passagens finais de Darwin façam algumas referências respeitosas ao Criador, o impacto principal do seu pensamento estava claro. A evolução remove a necessidade de crença em Deus.
Foi em grande medida através de Herbert Spencer (1820-1903) que a evolução chegou ao homem na rua. Spencer via a luta pela existência em todas as esferas da vida. A evolução convenceu-o que não se devia interferir com a natureza, e que, portanto, ele deveria opor-se à educação estatal, às leis em prol dos pobres e à reforma habitacional tanto os capitalistas quanto os socialistas fizeram bom uso da evolução. Negociantes tais como Andrew Carnegie e J.D. Rockfeller diziam a si mesmos que, embora o indivíduo talvez sofresse no decurso dos fatos dos grandes negócios, tudo isto fazia parte integrante da lei da concorrência.
Os eclesiásticos estavam divididos entre si acerca da evolução. Havia aqueles como Deão Church e o Arcebispo Frederick Temple que acreditavam que a evolução não era incompatível com a crença no Criador. Outros, porém, tais como C.H. Spurgeon, eram francamente cépticos. Eram necessárias mais provas. Darwin ainda teria que escavar os elos que faltavam. Um efeito duradouro e lastimável do sucesso da Origin foi que os biológicos ficaram viciados em especulações incapazes de verificações.
A ALTA CRÍTICA
Do latim “altus”, significa elevado; e do grego “kriticós”, significa julgar. A Alta Critica é o nome dado ao método literário pelo qual se determina a autoria, a data, as circunstâncias, etc., em que foram compostos os livros sagrados. Por ele, também se verifica as fontes literárias e a confiabilidade histórica das Escrituras. A Alta Crítica é um método científico no qual não se leva em conta a inspiração plenária das Escrituras. Vale-se, apenas, dos meios de autenticação, como as descobertas arqueológicas, a análise histórico-cultural, os estudos geológicos. O problema é que, na Bíblia, há inúmeros episódios que não podem ser comprovados cientificamente, e é aqui que os teólogos modernistas encontram margem para pôr em descrédito as verdades sagradas.
Na verdade, o método da Alta Crítica, em si, é importante e necessário para se fazer a exegese bíblica. Mesmo os teólogos comprometidos com a inspiração plenária da Palavra de Deus o utilizam. Infelizmente, os teólogos modernistas usam-no para outra finalidade nada nobre: duvidar da inerrância das Escrituras. Vê-se que o problema não está no método, mas em sua utilização.
A Alta Crítica e o Liberalismo Teológico
O Liberalismo Teológico não é uma religião ou uma organização ideológica possuidora de templos, funcionários ou sociedades. Trata-se de uma tendência de ajustar o Cristianismo aos conceitos criados a partir da Alta Crítica da Bíblia, da ciência e das divagações filosóficas. Tal tendência apresenta-se sob diversos outros títulos: Modernismo, Racionalismo, Nova Teologia, etc.
Os Fundamentos históricos dessa tendência remontam o ano de 1753, quando Jean Astruc (1684-1766), francês, professor de Medicina em Paris, publicou, anonimamente, em Bruxelas, o livro Conjecturas Sobre as Memórias Originais que Parecem Ter Sido Usadas por Moisés na Composição do Gênesis. Astruc, que foi médico do rei Luz XV, da França, duvidou da origem mosaica do Pentateuco e de sua historicidade. Até então, a autoria de Moisés era inquestionável, e a atitude de Astruc ensejou outros questionamentos por parte de teólogos desprovidos do compromisso com a inspiração plenária da Palavra de Deus. Entende-se, todavia, que Moisés é o autor do Pentateuco, e há evidências internas e externas que comprovam isso.
Conseqüências do Mau Uso da Alta Crítica pelos Teólogos Modernistas
Em resumo, mediante a Alta Crítica, os teólogos modernistas cometem os seguintes erros:
- Questionam o inquestionável, atribuindo contradições ao texto sagrado.
- Para eles, Jesus deixa de ser Deus e Homem perfeito, para ser apenas um profeta, destituído de todos os seus atributos.
- Enfatizam o relativismo, contribuindo para o rebaixamento dos padrões morais, para o surgimento de atitudes irreverentes em relação à Divindade, além de gerarem dúvidas acerca da inspiração plenária das Escrituras.
LIBERALISMO TEOLÓGICO MODERNO
Do latim, “liberare” significa tornar livre. Movimento que, tendo início no final do século XIX na Europa e nos Estados Unidos, tinha como objetivo extirpar da Bíblia todo elemento sobrenatural, submetendo as Escrituras a uma crítica científica e humanista. No liberalismo teológico, via de regra, não há lugar para os milagres, profecias e a divindade de Cristo Jesus. O principal instrumento do liberalismo teológico não é a revelação: é a especulação. Em suma: trata-se de uma abordagem meramente filosófica da Palavra de Deus. E, como as coisas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente, explica-se pois o abismo que se forma entre a revelação e a especulação.
Nomes Principais do Liberalismo Teológico
Friedrich Schleiermacher (1768-1834) - Teólogo e filósofo alemão, embora anti-racionalista, ensinou que não há religiões falsas e verdadeiras. Todas elas, com maior ou menor grau de eficiência, têm por objetivo ligar o homem finito com o Deus infinito, sendo o Cristianismo a melhor delas. Ao harmonizar as concepções protestantes com as convicções da burguesia culta e liberal, Scheleiermacher foi considerado radical pelos ortodoxos, e visionário pelos racionalistas. Na verdade, o seu pensamento filosófico-teológico, embora considerado liberal, está mais perto do transcendentalismo de Karl Barth.
Johann David Michalis (1717-1791) - Teólogo protestante alemão, foi o primeiro a abandonar o conceito da inspiração literal das Escrituras Sagradas.
Adolf von Harnack (1851-1930) - Teólogo protestante alemão, defende sua obra principal História dos Dogmas, a evolução dos dogmas do Cristianismo pela helenização progressiva da fé cristã primitiva. Para ele, o cristão tem todo o direito de criticar livremente os dogmas, que são a tradução intelectual do evangelho. Em outra obra, A Essência do Cristianismo, reduziu a religião cristã a uma espécie de confiança em Deus, sem dogma algum e sem cristologia.
Albrecht Rtschl (1822-1889) - Teólogo alemão ensinou que a Teologia não pode seguir Georg Hegel, filósofo alemão tributário da filosofia grega, do racionalismo cartesiano e do idealismo alemão. Ritschl ressaltou o conteúdo ético da teologia cristã e afirmou que esta deve basear-se principalmente na apreciação da vida interior de Cristo.
David Friedrich Strauss (1808-1874) - Foi o teólogo alemão que maior influência exerceu no século XIX sobre os não eclesiásticos. Tornou-se professor da Universidade de Tubigen com apenas 24 anos. No ano de 1841 lançou, em dois volumes, Fé Cristã - Seu Desenvolvimento Histórico e Seu Conflito com a Ciência Moderna, negando completamente a Bíblia, a Igreja e a Dogmática. Em 1864, publicou uma segunda Vida de Jesus, quando procurou então distinguir o Jesus histórico do Cristo ideal segundo a maneira típica dos liberais do século XIX. Em sua A Antiga e a Nova Fé, publicada em 1872, procurou mostrar a impossibilidade do Cristianismo no mundo moderno, propondo então a sua substituição por um materialismo de cunho evolucionista. Suas obras exerceram grande influência sobre os intelectuais da época. Para Strauss, Jesus é mero homem. Insiste em que é necessário escolher entre uma observação imparcial e o Cristo da fé. Ensinou que é preciso julgar o que os Evangelhos dizem de Jesus pela lei lógica, histórica e filosófica, que governa todos os eventos em todos os tempos. Não achou e não procurou um âmago histórico, mas interessou-se apenas em mostrar a presença e a origem do mito nos evangelhos. Segundo seu conceito, não somos mais cristãos, mas simplesmente religiosos. Nas obras de Strauss não há lugar para o sobrenatural. Os milagres são mitos, contados para confirmar o papel necessário de Jesus, daí as referências ao Antigo Testamento. Em resumo, Jesus não é uma figura histórica, e da vida dele nada sabemos, sendo tudo mito e lenda. Philip Schaff comenta que Strauss professa admitir a verdade abstrata da cristologia ortodoxa, “a união do divino e humano, mas perverte-a, emprestando-lhe um sentido puramente intelectual, ou panteísta. Ele nega atributos e honras divinas à gloriosa Cabeça da raça, mas aplica os mesmos atributos a uma humanidade acéfala”.
Sorem Kierkegaard (1813-1855) - Teólogo e filósofo dinamarquês. Filho de um homem rico torturado por dúvidas religiosas e sentimentos de culpa, Kierkegaard adquiriu complexos de natureza psicopatológica e possíveis deficiências somáticas. Estudou Teologia na Universidade de Copenhague, licenciando-se em 1841. Atacou a filosofia de Hegel e afastou-se mais e mais da Igreja Luterana, por julgá-la muito pouco cristã. Para o teólogo dinarmaquês, entre as atitudes (fases) estética, ética e religiosa da vida, não há mediação, como na dialética de Hegel, e não há entre elas transição, no sentido de evolução. Para chegar da fase estética à fase ética ou desta à religiosa é preciso dar um salto (ser iluminado, converter-se instantaneamente) que transforme inteiramente a vida da pessoa. Para Kierkegaard, só o Cristianismo é capaz de vencer heroicamente o mundo, sendo o panteísmo cultural de Hegel impotente contra a consciência do pecado e contra o medo e temor. Criticou o hegelianismo em sua acomodação ao mundo profano, por não ser capaz de eliminar a angústia e admitir a existência de contradições irresolúveis entre o Cristianismo e o mundo, cabendo ao homem escolher existencialmente entre esta e aquela alternativa: ser cristão ou ser não-cristão.
São profundos os conceitos de Kierkegaard sobre os estágios da vida, a diferença entre ser e existir, o subjetivo e o objetivo, o desespero, os critérios positivos para a verdadeira existência, etc. Eis alguns deles: No estágio estético, o homem leva uma existência imediata e não refletida, faltando a diferenciação entre ele e o seu mundo; no estágio ético, o homem assume a responsabilidade pelo seu próprio ser, procura alcançar-se a si - o que não pode fazer, no estágio religioso, reconhece a impossibilidade de viver conforme gostaria e descobre que o pecado é não ser o que Deus deseja que seja, e que se alcança este estado proposto por Deus através de algo que vem de fora - o próprio Deus; O tempo (e espaço) trata do que o homem é, da sua existência; e a eternidade significa que, embora o homem viva no tempo e no espaço, ele não está totalmente determinado por estes elementos; a existência fala de liberdade, possibilidade, do ideal, da obrigação; o momento de decisão é quando a eternidade intercepta o tempo; O objetivo cultural é aquilo que é, enquanto o homem fica entre o que é e o que ele pode e deve ser. A ciência limita-se ao estudo do que é, o que ela chama “a verdade”; mas os fatos, claramente aceitos jamais encerram a verdade; A essência do ser humano aparece quando traz a eternidade para dentro do tempo. Cada homem há de sofrer porque vive numa realidade muito física: liberdade versus tempo; O único que realmente resolveu o paradoxo do tempo e da eternidade foi Jesus Cristo. Ele mesmo foi um paradoxo: Deus e homem; limitado e ilimitado; ignorante e conhecedor de tudo.
Maranata. Ora Vem Senhor Jesus.
Deus abençoe a todos.
No Amor de Cristo!