MARCAS DE UMA IGREJA SAUDÁVEL

 

Pr. David Marcos 
A pluralidade de igrejas existentes hoje é algo inacreditável! Cada uma afirma ser detentora da bênção, da unção, do poder, dos privilégios espirituais... Quem está com a razão? Qual é a igreja verdadeira? Existe uma igreja verdadeira? Existe uma igreja perfeita? Qual é a mais correta? Ou qual é aquela que erra menos? Que critérios devemos utilizar para chegarmos a uma decisão tão importante? O que a Bíblia tem a nos dizer sobre isto? Quais são as marcas de uma verdadeira igreja?
Antes de falar dessas marcas que caracterizam uma igreja verdadeira, devemos lembrar ou aprender que a Bíblia nos exorta e nos estimula a analisar se uma igreja é verdadeira, não se ela é pura. Entende isto? Não existem igrejas que sejam completamente puras, isentas de pecado. A confusão entre igreja verdadeira e igreja pura tem gerado muitos problemas ao longo dos séculos. As pessoas enxergam as iniquidades dentro de uma igreja e logo dão o veredicto: “Esta não é uma igreja verdadeira”. “Se fosse verdadeira, não existiria tanta coisa errada dentro dela”. Lembre-se que Paulo chamou o grupo de Corinto de Igreja!
Uma igreja verdadeira é aquela que disciplina os membros rebeldes, ou seja, ela não deixa a impureza proliferar, ela se posiciona contra as coisas erradas. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que através de métodos piedosos consigamos purificar as iniquidades dentro da igreja. Os puritanos são exemplos de pessoas que entenderam esta missão. Contudo, não é porque existe impureza dentro de uma igreja que ela deixou de ser verdadeira, até porque, o próprio noivo advertiu que a sua noiva jamais seria completamente pura neste mundo.
Sendo assim, além daquelas que já vimos até aqui, quais seriam outras marcas, outras características da igreja idealizada pelo Novo Testamento?
Primeiro, a Igreja das Escrituras é aquela que valoriza a Palavra de Deus. Certamente que todas as igrejas concordam que este é um ponto importante. Qual é a igreja que vai abertamente afirmar que não valoriza as Escrituras? Qual é o pastor que vai dizer que outras áreas são mais importantes no seu ministério? Ninguém vai afirmar abertamente que o louvor, a coreografia, os anúncios, a construção e tantas outras coisas são mais importantes que a pregação da Palavra de Deus. Contudo, existem algumas maneiras de percebermos qual é a atenção que as Escrituras recebem numa igreja. Quanto tempo é gasto com anúncios, música, entretenimento... e quanto é gasto com a pregação? Quanto tempo semanal o pastor gasta preparando as suas mensagens? Os membros desta igreja entendem que a função principal do seu pastor é pregar as Escrituras? Os membros investem no seu pastor para que ele se aperfeiçoe cada vez mais na pregação? Escrevendo aos coríntios Paulo os exortou dizendo: “Não estamos, como tantos outros, mercadejando a Palavra de Deus”. (II Cor. 2:17) Paulo não abria mão da exposição das Escrituras por absolutamente nada! Escrevendo a Timóteo, o apóstolo disse o seguinte: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”. (I Tm. 5:17).
Os apóstolos quando foram solicitados a realizar algumas tarefas que estavam roubando o seu tempo, disseram: “Não é justo que deixemos a oração e o estudo para atender estas atividades. Nossa principal tarefa é pregar, não faremos estes serviços, arrumem outras pessoas”. Jonathan Edwards gastava em média 13 horas por dia estudando. Ele nunca praticou a visitação pastoral regular entre seu povo, ele visitava apenas os doentes.
Certo pastor ao ser convidado para uma nova igreja, respondeu ao convite da seguinte maneira: “Vocês querem meus pés ou minha cabeça?” Escrevendo a Timóteo, Paulo falou das qualificações do pastor. Ele afirmou que o pastor precisa ser “apto para ensinar”. (I Tm. 3:2) “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.  (II Tm.2:15)
Para muitas pessoas um pastor ideal é aquele que visita os membros da igreja com frequência, que domina todas as técnicas de aconselhamento, que é um especialista em administração, que tem o dom de evangelismo, que é um bom relação públicas. No entanto, qual é o momento em que ele vai parar para orar e para estudar? Quantas horas ele terá para estudar para pregar pelo menos três vezes por semana, ficar atualizado com os modismos evangélicos e mundiais, ler livros sobre teologia, oração, igreja, discipulado... estar a sós com Deus em oração. E as horas de dedicação à família e ao lazer? Quantas horas têm o dia deste pastor?
Lutero certa vez respondeu o seguinte àqueles que viviam do labor físico e consideravam moleza a vida de estudos: “Claro, seria difícil para mim ficar sentado numa sela, num cavalo. Mas, por outro lado, gostaria de ver o cavaleiro que pudesse sentar e ficar quieto um dia inteiro, com o olhar fixo num livro, sem se preocupar ou sonhar ou pensar em qualquer outra coisa. Pergunte a um pregador quão trabalhoso é falar e pregar. A caneta é muito leve, é verdade; mas, nesse trabalho, a melhor parte do corpo humano (a cabeça), o membro mais nobre (a língua) e a tarefa maior, que é falar, suportam o ímpeto da carga e trabalham com mais dureza, enquanto nos outros tipos de trabalho, a mão, o pé, as costas ou outros membros fazem a tarefa sozinhos, permitindo, desta maneira, que a pessoa possa cantar alegremente ou fazer piadas livremente, o que um escritor de sermões não pode fazer. Três dedos fazem todo serviço, mas quanto ao estudo e à pregação, o corpo inteiro e a alma devem labutar em conjunto”.
Portanto, uma das características de uma igreja saudável é a valorização da pregação da Palavra de Deus. É aquela que compreende que a tarefa principal de seu pastor é pregar o evangelho. Sabendo disto, ela tudo fará para ajudar ao seu pastor a ser um bom pregador.
Segundo, a Igreja das Escrituras é aquela onde existe adoração Reverente, Bíblica e Coletiva.
A adoração de uma Igreja a Deus precisa ser reverente. Jesus começou e terminou o seu ministério com dois protestos práticos contra a adoração irreverente. Em duas ocasiões distintas, Ele expulsou do templo os vendedores que profanavam os átrios por meio do comércio. Ele justificou o seu ato com as seguintes palavras: “A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores”. (Mt. 21:13)
Deus abomina a negligência em sua presença. A Bíblia em vários momentos nos mostra que o homem mortal deve ter um comportamento conveniente ao se aproximar do Criador Todo-Poderoso: “Retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor”. (Hb. 12:28,29) Se a nossa adoração precisa ser reverente, isto significa que não é papel da igreja promover entretenimento, mas adoração. Tudo aquilo que existe numa liturgia que visa agradar aos sentidos humanos deve ser descartado. Alguém pode alegar: “Mas é tão bonito...” Mas não foi permitido! Ou então: “Eu me sinto tão bem...” Lembre-se que o culto não é para você! Os fiéis de outras religiões também se sentem bem adorando os seus deuses. Os elementos básicos da verdadeira adoração são oração, leitura e exposição das Escrituras, cânticos, ofertas, batismo e ceia.
Paulo diz que no culto tudo deve ser feito com decência e ordem (I Cor. 14:40). Em Corinto encontramos vários detalhes sobre como deveriam ser as reuniões públicas. Naquela igreja o culto era livre demais, não existia ordem, cada um fazia o que bem entendia. O Capítulo 14 fala sobre a tentativa paulina de criar alguma ordem na igreja. Paulo se preocupa com o comportamento das mulheres nas reuniões, com a interpretação de línguas, com o estabelecimento de um limite para que apenas duas ou três pessoas falassem em línguas.
“Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”. Não devemos achar que espontaneidade é sinônimo de espiritualidade. Não há nada de errado em pedir ao Espírito Santo que nos ajude a montar o roteiro na terça-feira à tarde.
“Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”. Um culto onde existe descaso, descompromisso, desprezo, desdém... é um culto abominável. Um culto onde não existe reverência, as pessoas fazem o que querem, não existe entendimento do que está acontecendo... um culto assim é fogo estranho diante de Deus!
“Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”. Ao cultuar ao Senhor, precisamos estar cientes do que estamos fazendo, da seriedade e importância daquele momento! “Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus” Isto nos lembra a seriedade do culto. Isto não pode ser perdido jamais!
             Além de reverente e decente a adoração precisa ser bíblica. “Eles são israelitas, e deles são a adoção, a glória, as alianças, a promulgação da lei, o culto e as promessas”. (Rm. 9:4) Um dos privilégios especiais dos judeus foi que Deus tinha lhes ensinado a cultuá-lo. Isto não aconteceu com nenhuma outra nação. Todas as nações do mundo, como lembrou Paulo aos atenienses, buscavam ao Senhor: "Tateando, para tentar achá-lo". (At.17:27) Buscavam ao Senhor, mas não sabiam como fazê-lo. Os atenienses sentiam que acima de todos os seus deuses, existia um que era maior que todos os deuses deles, contudo, não o conheciam! Sendo assim, levantaram um altar ao "deus desconhecido". Paulo lhes disse: "Esse que vocês honram, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio".  "Honrais, não o conhecendo". Tentavam adorá-lo, mas o faziam na ignorância.
O que acontecia com Israel era exatamente o contrário, eles não foram deixados na ignorância. O próprio Deus lhes tinha ensinado a prestar-lhe culto. É isso que Paulo está ressaltando em Romanos: “Aos israelitas foi dado o culto”. Deus chamou Moisés ao monte e lhe deu as mais detalhadas instruções sobre como Ele devia ser adorado. A edificação de um tabernáculo, as medidas e especificações dos diferentes departamentos, como deveriam ser guardados e mobiliados, a cor, o tipo de madeira. Deus concedeu instruções para todas as coisas! Levítico é uma declaração elaborada das instruções dadas por Deus a Moisés sobre tudo o que se relaciona com a maneira de adorá-lo. Nada foi deixado ao acaso! Nada foi deixado aos cuidados da invenção ou da imaginação humana.
Não existe nada neste mundo que seja mais importante do que sabermos aproximar-nos de Deus corretamente, afinal, fazê-lo indevidamente, é fogo estranho. Portanto, é um enorme privilégio receber do próprio Deus as instruções de como adorá-lo. A marca de uma igreja saudável é prestar adoração reverente e bíblica. Por isso que os reformados criaram o chamado “princípio regulador do culto”. Ali encontramos tudo aquilo que pode ser feito, realizado e praticado no culto público.
Um culto onde não existe reverência e os padrões estabelecidos por Deus são alterados, pode acarretar problemas sérios para aqueles que estão cultuando. Quando os filhos de Israel tentaram desviar-se das ordens divinas, se deram muito mal. Coré, Datã, On e Abirão (príncipes em Israel) reuniram-se e disseram: "Por que esta questão de ir à presença de Deus fica restrita a Moisés e Arão? Temos tanto direito de fazer estas coisas como eles. Esta exclusividade não está correta". Eles persuadiram o povo de que estavam certos, e seguiu-se a rebelião de Coré. O que aconteceu? A terra abriu-se e eles foram tragados! Deus os puniu severamente!
Para colocar esta verdade na mente do povo de uma vez por todas, Deus fez com que a vara de Arão florescesse. Este acontecimento ocorreu para lembrar ao povo que somente Arão tinha direito de ir à presença de Deus como representante do povo.
A grande questão a ser percebida nisto tudo é que foi Deus que decidiu e revelou como Ele deve ser adorado e não o homem! O ser humano deve observar os métodos e orientações divinas e não partir para as suas próprias invenções. Tudo que for enxertado no culto que não é permitido nas Escrituras é fogo estranho. O princípio continua sendo aplicado nos dias de hoje. O castigo de Coré e a vara de Arão que floresceu, devem ser uma permanente lembrança para cada um de nós. Não podemos colocar no culto aquilo que Deus não nos orientou nem nos pediu. Tudo que existir no culto que não for da Sua vontade, deve ser descartado!
A igreja é de Deus e deve existir e funcionar de acordo com as regras dEle e não com os nossos gostos pessoais. Com este entendimento nos livraremos de muitos erros e de muitos problemas.
SOLI DEO GLÓRIA!
Romanos 11:36