Falar
sobre o milênio é tratar de um dos mais importantes temas escatológicos da
Bíblia, um assunto intrigante e cheio de particularidades interpretativas.
Embora exista 3 posições sobre o milênio defendidas ao longo da história da
igreja, uma ou outra predominou em diferentes épocas.
A ideia de uma fase áurea para o povo de
Deus, vem desde o antigo testamento sendo profetizada ao povo de Israel, o
Senhor levantou mensageiros para falar sobre um período de restauração para seu
povo após o cativeiro Babilônico, quando isso não ocorreu, imediatamente os
interpretes passaram a pensar que o retorno da Babilônia era apenas um típico e
profético modelo da restauração final de Israel em uma verdadeiro era áurea em
um futuro distante. Esse modo de interpretação foi absorvida pelos cristãos evangélicos
e enfatizada pela linha evangélica dispensacionalista. Os eruditos liberais
afirmam que o profetizado reino de Israel falhou e não há nenhuma possibilidade
de haver uma restauração futura.
Os livros de Daniel e Isaías nos mostram
uma perspectiva doutrinária a respeito do Messias, aquele que iria restaurar o
reino de Israel, essa ideia é melhor desenvolvida nos livros pseudoepígrafos,
principalmente em I Enoque, alguns desses livros são milenares e outros
amilenares, alguns falam obre uma era áurea, que acontecerá ao estado eterno,
em contrapartida, outros falam de uma era áurea que termina em destruição e um início
imediato do estado eterno sem qualquer período intermediário.
Quando paramos para analisar essas referências
dos pseudoepígrafos, podemos ver que além de não haver um consenso em relação
as posições milenista e amilenista, os milenistas diferem em relação ao milênio,
no livro de I Enoque por exemplo, ele vai falar sobre uma era áurea de 400
anos, já em um outro pseudoepígrafo milenista, o Jubileus, ele vai trazer a
ideia dos mil anos literais. No livro de IV Enoque, tal como no novo
testamento, a era áurea é combinada com a esperança messiânica, uma maneira de
equilibrar a questão com a referência dos pseudoepígrafos que antecipa qualquer
espécie de era gloriosa que antecederá ao estado eterno. Em IV Esdras a ideia
dos 400 anos volta a ser mencionada isso nos dá a ideia de algo bastante comum
no período intertestamentário.
Uma outra questão importante que surge com
esta análise do milênio é o pano de fundo judaico no que diz respeito ao
sistema de governo, existe uma abordagem rabínica que crê que Israel será o
protetor da nova civilização que será estabelecida na terra, assim como Roma
foi na Idade Média. Para os místicos contemporâneos essa visão literalizada
deve ser levada em consideração como a idade áurea do reinado milenar na terra,
Jerusalém irá ser a grande capital mundial, Jesus governará sentado no trono de
Davi, haverá sacrifícios, templo e etc, esta ideia deu origem ao conceito de
reino de Deus. Agora surge uma questão mediante a esta abordagem rabínica literal,
Se no milênio a realidade da terra será transformada, voltando ao estado da
origem, semelhante ao edem, aonde entra esses elementos da tradição judaica na história?
Qual seria a utilidade dos sacrifícios, do templo e de tantos outros símbolos nesta
nova realidade de existência? Ao meu ver, esta abordagem precisa ser analisada
com cuidado, mesmo porque estamos falando de um período de mil anos em uma nova
e restaurada realidade e nesta situação, alguns elementos da tradição judaica
vão consequentemente perder seu sentido literal neste novo contexto, eu entendo
que as coisas funcionarão no milênio, como deveriam ter funcionado no edem, com
Satanás preso no abismo a tendência da nossa natureza pecaminosa será moderada
ao ponto de vivermos um bom e longo tempo sem ter a necessidade de pecar, isso
não quer dizer que nunca pecaremos neste período, mas a tendência nesta
novidade de vida será desfrutarmos da gloria de Deus através da presença e do
governo milenial de Jesus Cristo.
A crença no milênio, como realidade
literal é bem antiga, envolvendo nomes excelentes, antigos e modernos que não
podem ser desprezados em hipótese alguma.
DEUS
VOS ABENÇOE!
Vicente
Leão
Referencia para artigo: Enciclopédia de Teologia e Filosofia - R.N. Champlin