Os estudos a respeito
do Milênio surgiram logo após a
inclusão dessa promessa na revelação dada pelo
Eterno a João em Patmos. João descreve que, após
a derrota do anticristo e do falso profeta, por ocasião da segunda
vinda de Jesus, Satanás será preso e amarrado por mil
anos (Apocalipse 19:11-21 e Apocalipse 20:1-2).
Baseados
nesses relatos apocalípticos e nas promessas inseridas no Novo Testamento a
respeito do Reino do Pai, tres posições tem surgido durante
a história, cada qual com a sua visão diferente no que
concerne à interpretação desse período:
amilenismo, pós-milenismo e pré-milenismo.
A-MILENISMO
Esse
modelo de interpretação afirma que o período
denominado "Milênio" é uma figura alegórica
da atuação da Igreja desde a morte e ressurreição
de Cristo e não um período literal de mil anos cronológicos.
Por
considerar o Milênio apenas uma figura retórica,
consequentemente, o reino milenal de Jesus também é explicado
como sendo a presença da Igreja na Terra e a sua atuação
constante de pregação das boas novas e conquista espiritual.
PÓS-MILENISMO
Esse
modelo de interpretação escatológica sustenta
que a volta gloriosa de Jesus ocorrerá após um período
de mil anos de paz.
Ou
seja, de acordo com essa linha de interpretação,
o Milênio não será uma conseqüência
direta da volta de Jesus em glória e sim da atuação
da Igreja e seu impacto evangelístico sobre o planeta, deixando-o
apto para a vinda gloriosa de Cristo.
PRÉ-MILENISMO
O
modelo pré-milenista defende a necessidade da volta de Jesus
ocorrer antes do Milênio, para que o cumprimento de todas as
promessas para esse período (paz, segurança, justiça,
restauração de Israel e reinado da Igreja) se cumpram
literalmente sobre a face da Terra, num reino visível, concreto
e real.
De
acordo com o pré-milenismo, o Milênio será uma
conseqüência direta da volta gloriosa de Jesus, para derrotar
o sistema maligno do anticristo. De acordo com este modelo, logo após
o Milênio, ocorrerá o juízo final e a criação
dos novos céus e da nova Terra.
Dentro
desses três principais modelos de interpretação
para o Milênio, existem também algumas subdivisões,
com pequenas diferenças a respeito de temas específicos.
A
seguir, daremos algumas razões para explicar porquê adotamos
o modelo pré-milenista como forma de entender o que realmente é "milênio"
e porque ele é, de acordo com o que cremos, o que mais se encaixa
no contexto das profecias para os últimos tempos.
Ao
mesmo tempo, abordamos alguns argumentos amilenistas e pós-milenistas,
mostrando sua posição à luz do contexto profético.
Para acessar mais informações sobre o milênio,
acesse a página SEGUNDA
VINDA DE JESUS.
UM REINO EXCLUSIVO
Em
João 5:19, o apóstolo nos revela que o mundo jaz
inteiramente no maligno. Por outro lado, o apóstolo Paulo descreve
Satanás como "deus deste século", cegando o
entendimento espiritual de muitos (II Coríntios 4:4).
O
clímax
dessa atuação satânica será experimentado
durante a tribulação, tornando incongruente a afirmação
de que já estaríamos vivendo o que a Bíblia denomina
como Milênio e errôneo todo esforço no sentido de
viver de acordo com os estereótipos de vida bem-sucedida que
o sistema oferece.
O
Altíssimo nos ensina a não amar
o mundo (sistema) nem o que nele há (I João 2:15), e
a não conformar-nos com o sistema (Romanos 12:2). Nossa esperança
deve ser o encontro com Jesus e sua volta gloriosa (Tito 2:13).
A
Bíblia nos revela que, por ocasião da volta gloriosa
de Jesus, o anticristo e seus exércitos serão derrotados
(II Tessalonicenses 2:8 e Apocalipse 19:11-21).
Se
o sistema maligno, no qual o mundo jaz atualmente, será derrotado por Jesus em
sua segunda vinda, então a concretização do reino
do Pai na Terra só se tornará um fato real após
esses eventos (vinda em glória e derrota do anticristo e sistema),
colocando o Milênio como uma conseqüência direta desses
eventos.
O
sistema maligno será derrotado definitivamente
para que o Reino do Senhor seja instaurado (I Coríntios 15:25).
Nesse
aspecto, é interessante notar que, quando Jesus se referiu
ao "fim do mundo" na parábola do joio e do trigo (Mateus
13:39), e quando mencionou o "mundo vindouro", em seu diálogo
com os saduceus (Lucas 20:35), é utilizado para "mundo" o
termo grego "aeon", o qual significa sistema ou era.
Tal termo não se aplica ao planeta Terra.
UM
REINO LITERAL
São muitas as passagens bíblicas que nos remetem a um
reino literal de paz e comunhão sobre a Terra (Isaias 1:25-31,
Isaias 2:1-22, Jeremias 23:5-8, Miquéias 4:1-4, Ezequiel 34:11-24,
Zacarias 14:1-21, João 3:5, Apocalipse 12:10, entre outras).
Não nos parece apropriado alegorizar essas descrições,
aplicando-as ao presente, que é violento e no qual a iniquidade
se multiplica (Mateus 24:12).
É obvio que existe o reino espiritual e eterno do Pai, do qual
somos embaixadores (II Coríntios 5:19-20). Também é certo
que, a partir do nascimento de Jesus e a delegação deixada à Igreja
de anunciar as boas novas, o reino de Deus, do ponto de vista espiritual
e profético, já existe na Terra, porém isso não
nega a concretização física desse reino.
Quando
Paulo nos mostra em I Coríntios 15:50 que, nem carne
nem sangue herdarão o reino dos céus, não está excluindo
desse reino aqueles que não receberão corpos glorificados.
Está apenas revelando que a Igreja receberá o reino como
herdeira e co-herdeira com Jesus (Tiago 2:5, Mateus 5:10, Daniel 7:22),
até porque o reino terá como sede Jerusalém (Zacarias
14:16-17), a nação israelense continuará existindo
fisicamente (sem corpos glorificados) e muitas nações
continuarão existindo, sob o governo do Mestre, mesmo algumas
daquelas que subirão contra Jerusalém no Armagedom (Zacarias
14:16, Ezequiel 36:33-36).
Não devemos confundir esse cenário
do final da tribulação (anticristo e exércitos)
com o cenário pós-milenal (Gog e exércitos), como
o fazem os pós-milenistas, pois na rebelião de Gog e
Magogue no final do milênio, todos os que marcharem contra Jerusalem
serão eternamente condenados (Apocalipse 20: 7-15).
A
Bíblia deixa claro que Jesus será o Rei dos judeus
e se assentará literalmente no trono de Israel (Lucas 1:32-33),
cumprindo literalmente a promessa feita a Davi (Salmos 89:3-4).
O
JUÍZO PRÉ-MILENAL
Uma
passagem que tem originado muita discussão encontra-se
em Mateus 25:31-46, na qual, aparentemente, o juízo final ocorre
por ocasião da volta de Jesus em glória, sustentando
assim a argumentação dos modelos amilenista e até mesmo
o pós-milenista, pois o Apocalipse revela que o juízo
final ocorre após o milênio.
Porém, analisando detalhadamente e comparando o juízo
de Mateus 25:31-46 e as passagens que descrevem o juízo final,
vemos diferenças substanciais.
O
primeiro juízo, que
ocorre imediatamente após a volta de Jesus é um juízo
dirigido às nações, ou seja, às pessoas
que estiverem vivas no momento da volta de Cristo e que não
fazem parte da Igreja (Mateus 25:32).
É um juizo destinado à separação
entre o joio, aqueles que durante a tribulação receberam
conscientemente a marca da besta e a adoraram, permanecendo vivos no
final da grande tribulação, e o trigo, os servos fiéis
do Eterno em todos os tempos, inclusive na tribulação
(Mateus 13:24-30, Apocalipse 14:9-14).
O
segundo juízo, após o Milênio, é final
(Apocalipse 20:11-15), baseia-se no livro da vida (Apocalipse 20:12),
assumindo assim um caráter essencialmente espiritual e irá requerer
uma ressurreição de todas as pessoas de todas as épocas
da humanidade que não fazem parte dos salvos (Apocalipse 20:13).
Esta é a segunda morte relatada em Apocalipse 20:6. O Apocalipse
relata que, por ocasião da volta de Jesus, ocorrerá a
primeira ressurreição, que será dos salvos mortos
de toda história, inclusive os mortos durante a grande tribulação.
Essa
diferença entre as duas ressurreições separa
mais uma vez a segunda vinda do juízo final e, consequentemente,
o juízo das nações (após a volta de Jesus)
do juízo final (após o Milênio).
Note
que, aqueles que participarão da primeira ressurreição (cristãos
ressuscitados), reinarão com Cristo durante mil anos, separando
a primeira e segunda ressurreição por esse espaço
específico de tempo.
"...E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado
o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo
testemunho de Jesus, e da palavra de Deus, e que não adoraram
a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas
nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil
anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os
mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição" (Apocalipse
20:4-6).
Neste
texto fica bastante clara a existência de um período
de mil anos entre uma ressurreição e a outra, algo que
não deve ser alegorizado.
É uma
questão de
lógica: se da primeira ressurreição participam
também aqueles que serão martirizados pela besta em
plena grande tribulação (período em que, de
acordo com o amilenismo, satanás será solto de sua
prisão), e esses mesmos martirizados durante a grande
tribulação
participarão ativamente do Milênio (Apocalipse 20:6),
consequentemente, o Milênio não pode ocorrer antes da
grande tribulação!
Afirmar
o contrário (que o
Milênio é um período anterior à grande tribulação), é forçar
a cronologia bíblica.
Outra
diferença substancial entre o julgamento que ocorrerá logo
após a volta de Jesus e aquele que terá lugar após
o Milênio, é o fato de que o diabo, quando é jogado
no lago de fogo, após a rebelião final do milênio,
já encontra no lugar tanto o anticristo quanto o falso profeta,
que já tinham sido lançados antes (Apocalipse 20:10).
Isso
indica uma diferença de tempo entre a condenação
da besta e do falso profeta e a condenação do diabo.
De
acordo com a revelação apocalíptica, essa diferença
de tempo é de mil anos. Indica também, mais uma
vez, que o Milênio ocorrerá cronológicamente após
a grande tribulação.
SATANÁS
AMARRADO
Como
conseqüência direta da volta de Jesus, Satanás
será amarrado por mil anos, o que não condiz com a realidade
atual, na qual o mistério da iniquidade opera (II Tessalonicenses
2:7) e o espírito do anticristo está atuante desde que
o mistério da redenção por Cristo foi revelado
(I João 4:3). Paulo esclarece aos coríntios que Satanás é "o
deus deste século" (II Coríntios 4:4).
O
termo grego usado por Paulo é "aeón", o
qual se refere ao sistema governamental e a influência social
deste mundo. Na carta à Igreja em Pérgamo, João
esclarece que satanás "habitava" entre as pessoas
daquela cidade (Apocalipse 2:13).
Ou
seja, isso em nada corrobora a posição a-milenista, que insinua a prisão de satanás
como uma realidade dos dias atuais.
De
acordo com o a-milenismo, Satanás
se encontra "parcialmente" inoperante e só será solto
no começo da tribulação. Tal afirmativa parece
não encontrar uma sólida argumentação bíblica.
A
revelação apocalíptica é clara em mostrar
que o objetivo da prisão do diabo é impedir que ele engane
as nações (Apocalipse 20:3). O texto não diz que
ele não enganará "muito" ou "tanto" as
nações, mais que ele não enganará "mais" as
nações por um determinado período.
Diante
de toda a atuação satânica descrita na Palavra e vista
por nós mesmos em nossos dias, vemos que a premissa a-milenista
se mostra muito frágil neste ponto. Acreditamos que essa prisão
de satanás será drástica e o impossibilitará totalmente
de interagir com as nações.
De
acordo com o texto apocalíptico,
tal prisão ocorrerá como resultado direto da vinda de
Jesus e não antes (Apocalipse 19:19-20, Apocalipse 20:1-6).
Não
se trata de uma prisão em "regime semi-aberto",
como parece insinuar o a-milenismo, mais uma impossibilidade total
de interação com os seres humanos. Em Judas 6, é descrita
a prisão de anjos no abismo.
O
texto esclarece que há uma
impossibilidade de interação entre esses anjos trancafiados
e os seres humanos, ao revelar que eles estão numa prisão
eterna, até o dia do juízo. Essa prisão é o
abismo. Satanás, de acordo com o texto apocalíptico,
será encadeado e preso no abismo por um determinado tempo (Apocalipse
20:1-3).
Cremos
que o fato de Satanás ser amarrado por mil anos ainda
acontecerá e será resultado da vinda gloriosa de Cristo
(Apocalipse 19:11-21, Apocalipse 20:1-3).
O
diabo não será amarrado
como conseqüência exclusiva da pregação do
evangelho ou antes da vinda gloriosa de Jesus, e sim após um
acontecimento concreto: a volta de Jesus em glória. A revelação
apocalíptica nos leva a esse entendimento.
PRIMEIRA
RESSURREIÇÃO
O
termo "primeira ressurreição" aparece pela única
vez no texto apocalíptico e em toda a Bíblia em Apocalipse
20:5-6.
Há uma dualidade de interpretação para
esse termo. O pre-milenismo o entende como uma ressurreição
literal, enquanto que o a-milenismo o entende como um termo simbólico,
o qual estaria descrevendo o novo nascimento experimentado por todos
os salvos.
Cremos
que, neste caso, não há razões para não
ser literal, até porque o uso de alegoria para o termo "primeira
ressurreição" traz várias incongruências
contextuais. Em primeiro lugar está o termo "mortos".
Ele aparece quando é descrita a ressurreição para
o juízo final em Apocalipse 20:13.
De
acordo com o a-milenismo tal ressurreição será literal, conceito com o
qual concordamos. Porém, vemos que o a-milenismo usa aqui um
duplo padrão.
Os
mortos de Apocalipse 20:13 são considerados
mortos literais, mas os mortos que experimentam a primeira ressurreição
são considerados "mortos espirituais", quando o termo
utilizado em Apocalipse 20:5 e 20:13 é o mesmo!
Da
mesma forma, está o termo "viveram". João
registra que: "...E viveram, e reinaram com Cristo durante mil
anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os
mil anos se completassem..." (Apocalipse 20:4-5).
Note
que a terminologia usada para a volta à vida na primeira ressurreição
e na última é similar. A mesma expressão é usada
no livro para descrever a ressurreição física
de Jesus (Apocalipse 2:8).
O
a-milenismo, ao alegorizar o "viveram" da primeira ressurreição,
volta a usar um duplo padrão dentro do mesmo contexto! Ou seja,
o "viveram" da primeira ressurreição seria
um reviver espiritual através do novo nascimento e o reviver
da ressurreição final, aí sim, seria um reviver
literal...
Cremos
que tal interpretação é temerária.
Em poucos versículos, o a-milenismo usa duas vezes um duplo
padrão, ao interpretar de duas formas distintas (alegórica
e literal) os termos "mortos" e "viveram/reviveram".
Cremos
que o literalismo em ambos os casos é a posição
mais prudente, colocando a primeira ressurreição como
uma ressurreição literal, a qual ocorrerá por
ocasião da volta de Cristo e da qual participarão todos
os salvos.
OS
SINAIS
Tanto
Jesus, quanto Paulo, nos revelam dois grandes sinais, entre outros,
que antecederiam a volta gloriosa de Jesus: a apostasia ou
esfriamento espiritual e a manifestação do anticristo
ou abominação da desolação (II Tessalonicenses
2:3, Mateus 24:12-15).
Se
a volta de Jesus ocorresse depois do Milênio,
como é defendido pelo pós-milenismo e o amilenismo, tanto
Jesus quanto Paulo teriam mencionado esse importante sinal, muito diferentes
na essência aos sinais revelados (apostasia crescente e manifestação
do anticristo).
UM REINO CONCRETO
Em
Atos 1, momentos antes da ascenção, os discípulos
perguntaram a Jesus:
"...Senhor, restaurarás tu neste tempo
o reino ?" Jesus respondeu: "Não vos pertence saber
os tempos ou as estações, que o Pai estabeleceu pelo
seu próprio poder" (Atos 1:6-7).
Como
Jesus instrui os discípulos a esperarem e anunciarem o
reino (versículo 8), reservando ao Pai o direito de revelar
quando chegaria o reino, fica subentendido que o reino de Deus será concreto
e com um tempo previsto para ser implantado e não um conceito
figurado.
O
Senhor não negou a restauração literal
do Reino de Israel, apenas deixou claro que a época em que isso
ocorreria está sob a soberania do Criador.
UM REINO DIVINO NA TERRA
Em
João 18:36, Jesus diz: "...O meu reino não é deste
mundo...". Essa declaração de Jesus foi dada a Pilatos,
pouco antes da crucificação do Mestre. De acordo com
alguns, essa declaração de Jesus descarta um reino visível
e concreto sobre o planeta após sua vinda. Porém, não é isso
que o texto revela.
Jesus
queria que Pilatos entendesse que o seu interlocutor não era rei de nenhuma nação naquele momento.
Jesus não estava referindo-se ao futuro e sim ao presente, respondendo
a Pilatos uma pergunta que tinha claras conotações políticas
(acusar Jesus como um líder político rebelde a Roma com
o objetivo de justificar sua condenação).
Ou
seja, o reino do Pai não é deste mundo (sistema),
pois não pertence ao atual sistema, que é maligno.
Quando
esse sistema for aniquilado na volta gloriosa de Cristo, então
o reino de Cristo passará a ser deste mundo e Ele reinará sobre
todos com justiça (I Coríntios 15:25, Apocalipse 19:11-21,
Miquéias 4:1-4, Isaías 11:1-12, Apocalipse 20:1-6).
UM
REINO VISÍVEL
O
reino de Jesus sobre a terra será visível e abrangerá todos
os povos, trazendo paz e justiça sobre as nações
(Zacarias 14:9-21, Apocalipse 19:15). O amilenismo geralmente baseia-se
em passagens como a contida em Lucas 17:20-21, para sustentar a concretização
desse reino terrestre apenas a nível espiritual.
O
texto mencionado diz: "...O reino de Deus não vem com aparência exterior.
Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino
de Deus está entre vós".
Antes
de comentar o texto acima, é preciso deixar claro que
o reino de Deus tem um caráter espiritual intrínseco,
como tudo o que vem do Senhor. Nós, como Igreja de Cristo, somos
embaixadores desse reino, através do ministério da reconciliação,
como já foi abordado (II Coríntios 5:18-21).
O
texto de Lucas 17:20-21 parece indicar um reino exclusivamente espiritual
e fruto da experiência pessoal com Deus. Contudo, ao analisar
detalhadamente o texto em questão, descobrimos verdades reveladoras.
A
palavra grega usada no original é "entos", que é traduzida
em algumas versões como "dentro de vós". Essa
expressão grega é traduzida de uma melhor forma para "entre
vós", referindo-se à presença do próprio
Cristo no meio daquele povo. Ou seja, Cristo é a expressão
mais íntima do próprio reino.
Quando
olhamos o contexto da passagem, vemos que Cristo estava respondendo
diretamente uma indagação maliciosa dos fariseus. Não
faria muito sentido afirmar que o reino de Deus estava "dentro" dos
fariseus e sim que tal reino estava "entre" os fariseus.
Jesus é a personificação plena do Reino.
Por
isso, o Reino estava "entre" os fariseus. Através da Igreja,
o Reino continua estando "entre" as nações,
até o momento em que será colocado "sobre" as
nações.
A
respeito do fato do reino de Deus não vir com aparência
exterior, dando uma impressão de invisibilidade, devemos esclarecer
o seguinte: Jesus estava falando da sua vinda em glória (versículo
24).
Quando
o Mestre disse que a vinda do reino do Pai seria sem aparência
exterior, não estava referindo-se a uma invisibilidade de sua
vinda em glória, para arrebatar a Igreja e instaurar o seu reino,
pois essa vinda será visível, como um relâmpago
(Lucas 17:24, Mateus 24:30).
O
próprio Jesus explica porque
a chegada do seu reino não será com aparência exterior: "...E
dir-vos-ão: Ei-lo ali!, ou: Ei-lo aqui! Não vades, nem
os sigais" (Lucas 17:23).
Ao
revelar que seu reino viria sem "aparência exterior",
Jesus estava alertando os discípulos a não serem enganados
por aparências de reino. Um reino com aparência exterior
de justiça, poder e divindade, porém sem essência.
Esse é um aviso específico ao reino do anticristo, que,
através de sinais e aparências, enganará a muitos
(Mateus 24:23). (Para maiores informações, acesse o tópico
OS SINAIS).
TRIBULAÇÃO X REBELIÃO
Existem
grandes diferenças entre a tribulação
que antecede a volta de Cristo (Mateus 24:21) e a rebelião satânica,
denominada de Gog e Magog, a qual ocorre após o reino milenal
de Cristo.
Não podemos confundir também Gog e anticristo, nem tampouco
o Gog pós-milenal (Apocalipse 20:8) com o Gog de Ezequiel 38
e 39, que está mais relacionado ao começo da tribulação.
O
Gog que vemos surgir no término do Milênio é uma
alegoria ao primeiro Gog, pois sairá dos quatro cantos da terra
(de todo o planeta), numa ação repentina de satanás,
após mil anos de inatividade. Já o Gog de Ezequiel 38
e 39, é um rei que vem "do extremo norte" (Ezequiel
38:15).
Também, há um detalhe importante: as armas do
exército do Gog de Ezequiel serão utilizadas como combustível
durante sete anos, necessidade que não condiz com a realidade
pós-milenal, na qual teremos nova Terra e novos céus,
sob o reinado do próprio Criador, e sim se aplica a uma necessidade
tribulacional, já que a tribulação durará sete
anos.
Que
necessidade haveria de usar essas armas como combustível
num cenário pós-milenal, no qual a Nova Jerusalem descerá do
céu, e a cidade não precisará de sol nem lua,
tal a grandeza da glória de Deus e da presença do Cordeiro?
(Apocalipse 21:23).
Entendemos
que
não
se pode confundir a atuação
desses dois Gog com a do anticristo, o qual não atacará Israel
até a parte final da tribulação. Ou seja, as armas
do exército do anticristo não poderiam ser queimadas
por sete anos.
Também, o anticristo não pode ser relacionado
a nenhum rei do extremo norte e sim do ocidente, de acordo com as profecias
de Daniel.
O
PROPÓSITO DAS BOAS NOVAS
Jesus,
pouco antes de ascender, deixou para a Igreja sua principal missão no mundo: o anúncio das boas novas (Atos 1:8,
Marcos 16:14-15).
O
avanço da Igreja através do evangelismo
tem como finalidade testemunhar ao mundo o nome de Jesus (Mateus 24:14)
e anunciar a todos a salvação exclusiva em Cristo (Atos
4:12).
Muitos
erram ao imaginar que o atual sistema maligno será derrotado
em função do crescimento da Igreja e de sua atuação
evangelística, alcançando todos os níveis de poder
político e social.
As
pessoas, através do novo nascimento,
são transformadas em Cristo (João 3 1-16), porém
o sistema será destruído completamente para possibilitar
a instauração do reino de Jesus (Apocalipse 19 e 20).
Ou
seja, o propósito da pregação das boas novas
não é o domínio atual no terreno político
e social, através da conversão total do planeta (Mateus
25:52, João 18:36).
Sustentar
o contrário é negar todas as profecias referentes
aos últimos tempos, as quais relatam um nível cada vez
maior de iniqüidade e maldade, inclusive de apostasia (II Tessalonicenses
2:3, I Timóteo 4:1-5, II Timóteo 3:1-9).
O
próprio
Jesus nos revela esse princípio: "E surgirão muitos
falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar
a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que
perseverar até o fim será salvo" (Mateus 24:11-13).
É necessário
que o sistema seja destruído para que o reino do Altíssimo
seja instaurado de forma concreta e visível na Terra e para
que nós reinemos com Jesus. Existe um tempo determinado para
que os santos possuam o reino (Daniel 7:22).
A
pregação do evangelho visa anunciar o arrependimento
e crença nas boas novas de salvação pessoal através
de Cristo (Marcos 1:15), anunciar a supremacia do Pai sobre tudo e
todos (João 12:28, João 18:36), revelar a proximidade
da concretização do reino divino e a destruição
do sistema satânico (João 12:31, João 16:11) e
o livramento do mundo das forças do pecado (Atos 26:18, Romanos
6:1-23).
Através da presença e atuação de seus
servos na Terra, como embaixadores, o reino do Pai já existe
pela fé, porém a sua concretização só ocorrerá a
partir da volta de Jesus em glória, como Rei e Senhor do mundo.
O
mundo, que atualmente jaz inteiramente no maligno, passará a
ser dos santos por herança, sob o domínio do Altíssimo
(I Coríntios 15:23-26).
TESTEMUNHO PRIMITIVO
Há uma tendência nos escritos primitivos que nos levam à convicção
de que os primeiros líderes da Igreja tinham uma concepção
nitidamente pré-milenista, literalista, futurista e pós-tribulacionista.
Eles,
em plena tribulação, esperavam a concretização
de todos os sinais e a volta do Mestre já em seus dias, para
livrá-los da tribulação, derrotar o iniqüo
e instaurar seu reino na Terra.
Quando
as cartas apocalípticas começaram a ser divulgadas
(a partir de 90 DC), o Milênio profetizado na revelação
mostrada a João foi, entre aqueles irmãos, interpretado
de forma literal.
A
alegorização de certas promessas
bíblicas começou a ganhar corpo no seio da igreja primitiva
somente a partir do século III, através dos escritos
de Orígenes. Posteriormente, essa tendência foi consolidada
por Agostinho.
Não vemos razões para ter uma concepção
diferente à de nossos primeiros irmãos. Eles tiveram
contato direto com os apóstolos e/ou seus sucessores imediatos.
Aquilo
que foi escrito por homens como Papias, Irineu, Justino, etc, reconhecidos
como lideranças, deve ser considerado com atenção.
É incongruente
pensar que os apóstolos, que receberam a inspiração
do Espírito Santo para escrever os livros que usamos como base
doutrinária, não tiveram o discernimento suficiente para
interpretar aquilo que estava escrito. Pelo contrário!
Os
irmãos primitivos possuiam informações escatológicas
que nos hoje não temos (II Tessalonicenses 2:5-6). Então,
se faz necessário saber qual era a concepção primitiva
a respeito do Milênio:
"...Ele diz que haverá um milênio depois da ressurreição
dos mortos, com o reino pessoal de Jesus o qual será estabelecido
nesta Terra..." (Papias 70-155 DC, citado por Eusebio, Hist. Eccl.
III, 39)
"...E, além disso, um homem entre nós, de nome
João, um dos Apóstolos de Cristo, profetizou em uma revelação
que lhe foi feita, de que aqueles que confiassem em Cristo passariam
mil anos em Jerusalém, e que depois viria a ressurreição
universal e eterna de todos, como também o juízo final..." (Justino
Mártir 110-165 DC, Diálogo com Tripo, Capítulo
LXXXI)
"Então aparecerão os sinais da verdade: primeiro,
o sinal da abertura no céu; depois, o sinal do toque da trombeta;
e, em terceiro, a ressurreição dos mortos. Sim, a ressurreição,
mas não de todos, conforme foi dito: "O Senhor virá e
todos os santos estarão com ele”. Então o mundo
assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu." (Didaquê,
Capítulo XVI, 6-8).
Jesiel
Rodrigues