INTRODUÇÃO
Sem dúvida alguma, atualmente a grande massa de evangélicos no século 21 seguem a visão escatológica pré-milenista (predominantemente pré-tribulacionista), algumas vezes chamada de “quiliasmo”. Corrente esta, que ensina que a segunda vinda pessoal e visível de Cristo se dará antes do milênio – governo de literalmente mil anos de paz, prosperidade e justiça mundial, no qual a sede do governo será em Jerusalém. Assim, a segunda vinda de Cristo é anterior ao milênio e antecedendo (intervalo de tempo, em média, 1000 anos) o fim da raça humana.
O Pré-Milenismo é baseado numa interpretação literal de Apocalipse 20. Fazendo cronologicamente os capítulos 19 e 20 de Apocalipse sua interpretação. Muitos pré-milenistas não conhecem uma interpretação Amilenista. O pré-milenismo se tornou a visão dominante após a publicação, em 1909, da Bíblia de Referência Scofield. Os pré-milenistas freqüentemente não estão cientes dos muitos e sérios problemas teológicos e exegéticos que acompanham a interpretação deles.
Seria uma visão coerente com as Sagradas Escrituras dizer que após a Segunda Vinda de Cristo ficarão pessoas na terra e que estas ainda terão chance de salvação à luz de 1Co 15. 23-24; 2Ts 1. 7-10? Ou ainda, seria correto afirmar, à luz de Jo 16:8-13; Ef 2. 1,4, que apesar do Espírito Santo ser retirado da terra neste período (segundo afirma esta doutrina), muitos pecadores ainda se arrependerão e se converterão? Como isso pode ser uma verdade bíblica se é através do ministério do Espírito que o homem perdido é convencido do pecado, da justiça e do juízo? E como coadunar este ensinamento errôneo com a doutrina calvinista da depravação total do ser humano? (CALISTO, 2001).
1. PRINCIPAIS ENSINAMENTOS DO PRÉ-MILENISMO
Os pré-milenistas ensinam que Cristo virá nas nuvens visivelmente com os anjos e com os santos – aqueles que foram arrebatados antes do período da grande tribulação - para buscar os retos, vivos e mortos, que participaram da grande tribulação (Mt 24.21). Estes receberão corpos glorificados e imortais, a fim de encontrarem com o Senhor nos ares e a retornar a terra para inauguração do reino milenar. Ainda afirmam que grandes quantidades de ímpios (não glorificados) estarão também durante o milênio na terra. No final desse período, Satanás será solto de sua prisão para enganar as nações. Inúmeros exércitos atacarão a Cristo e os santos em Jerusalém; esses exércitos serão então destruídos por fogo decido do céu, que consumarão a todos. Após a derrota dos exércitos rebeldes, acontecerá o juízo final, bem como a ressurreição dos ímpios para o castigo eterno preparado para satanás e os seus anjos.
· Veja o resumo dos eventos descritos acima:
Após esse breve resumo dos principais pontos da doutrina pré-milenista, analisemos criticamente seus ensinamentos a luz da hermenêutica e exegética bíblica:
2. O DIA DO SENHOR
Segundo a doutrina pré-milenista, Cristo retornará visivelmente em pessoa, ressuscitará os santos para o milênio, e ressuscitará os ímpios após os mil anos, para então ocorrer o julgamento final – este, reservado para os ímpios e Satanás com seus anjos. Note que segundo os pré-milenistas há um intervalo de tempo de 1000 anos entre a segunda vinda de Cristo e o julgamento final, bem como o mesmo intervalo para a ressurreição dos santos (dos que participarem da grande tribulação) e dos ímpios. A pergunta a ser feita é: Será que a Bíblia ensina que haverá os intervalos de tempo acima citados? “se tiver, por favor, me prove”! Realmente não há tais intervalos de tempo entre esses eventos na veracidade da bíblia, porém tanto os evangelhos quanto as epístolas mostram que esses eventos irão tomar lugar no mesmo dia, O Dia do Senhor. Segundo o apóstolo Paulo aos tessalonicenses, a segunda vinda de Cristo a terra virá com vingança e ira sobre os ímpios, os quais padecerão eterna perdição ante a face do Senhor glorificado e admirado a todos os que creram. (II Ts 1. 7-10). A glorificação dos retos e a punição dos ímpios são acontecimentos inter-relacionados no tempo. Aqui, portanto, há uma separação de 1000 anos entre a glorificação dos justos e a destruição dos ímpios? Não, ambos ocorrem no mesmo dia. Certamente também não há espaço para uma possível retirada da igreja em secreto e depois sete anos de tribulação precedido o governo milenar de Cristo; mostrando também que não sobram ímpios sobreviventes (após a segunda vinda de cristo) para um possível reino milenar com o Senhor. “Mas precisam existir ímpios vivos presentes nos mil anos com o Senhor, segundo a perspectiva do pré-milenismo”. O próprio Jesus declara que a sua segunda vinda e o juízo final irão ocorrer no mesmo dia (Mt 25. 31-46). Note que não há intervalo de tempo de 1000 anos entre a segunda vinda e o juízo. Após Jesus voltar a terra, ocorrerá, imediatamente, à separação dos bodes e das ovelhas.
Quanto a ressurreição dos ímpios e dos justos, os pré-milenistas afirmam que haverá pelo menos 3 ressurreições, a saber: no Arrebatamento, na Grande Tribulação, e após o Milênio (aqui só para os ímpios). Contudo, João inspirado pelo Espírito Santo, afirma que tanto a ressurreição dos retos quanto dos ímpios irão acontecer num único dia, simultaneamente; na 2°vinda de Cristo a terra, quandotodos os que estiverem no sepulcro ouvirem a sua voz (Jo 5. 27-29). Note que o texto não fala de n ressurreições (Plural), nem muito menos de intervalo(s) de tempo(s) entre os dois eventos; ambos ocorrerão no mesmo dia (singular): Na segunda vinda de Cristo, O Dia do Senhor ou o Último Dia. Veja também: Jo 11. 24; 6.39; 12.48.
Em Mateus 25, Cristo conduz aos seus discípulos a acreditarem que imediatamente o seu retorno inaugurará o juízo final, separando os bodes das ovelhas. Veja que não há nenhum intervalo de tempo entre a sua vinda e o juízo final, de consideravelmente 1000 anos. Podemos observar também, que Jesus não fez separação do mesmo Delta temporal para a glorificação dos justos e dos ímpios, como também da ressurreição dos retos e dos condenados. Esta mesma idéia aparece quando Jesus fala a respeito da ressurreição dos ímpios e dos justos no evangelho de João (Jo 5. 27-29), veja que quando “ouvirem” a voz do Senhor Jesus em sua vinda. Quem? Todos os que estiverem mortos, ressuscitarão! Quando? No Último Dia – o dia do julgamento!
3. A QUESTÃO DO ARREBATAMENTO SECRETO
Os pré-milenistas, em especial os pré-tribulacionistas, acreditam que a segunda vinda de Cristo se dará em duas fases. A primeira, quando Cristo vier só para a Igreja em secreto (os santos – salvos); não á terra, mas sairá do céu; e, invisivelmente as nações transladarão os salvos – vivos e/ou mortos – para o seu encontro nos ares onde irão participar das Bodas do Cordeiro, julgando cada um segundo as suas obras e distribuindo-lhes galardões para quem o merecer. A segunda será após a “grande Tribulação”; visivelmente e pessoalmente a toda às nações, com os santos anjos e a igreja dantes arrebatada. Apóiam principalmente seus argumentos em I Ts 4. 17 e Mt 24 40-41.
Certamente, ocorre um fato chamado de arrebatamento na segunda vinda de Cristo! Porém, será que este evento se dará de forma invisível a todas as nações de modo que só os santos salvos participarão secretamente, mortos ou vivos, durante o tocante da última Trombeta? E o restante da raça humana, ficará aqui na terra para participar da “Grande” e terrível “Tribulação”?
Na parábola do campo e do moinho (Mt 24:41-44), a ênfase repousa na necessidade de vigilância para o retorno de Cristo – o qual será para ajustar contas com os seus servos. “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor”. Logo, o foco do ensino não está no fato de um ser levado e o outro continuarem na terra, mas no fato de um está preparado e vigiando para a volta de Jesus (mesmo em meio ao labores desta vida) e o outro não. (CALISTO, 2001).
Isto é atestado pela análise semântica dos verbos empregados nessa parábola. O verbo grego “paralambáno” que é traduzido na passagem por tomar, não tem essa idéia de movimento, de mudança de local (levar para cima – a qual está contida no verbo ekballo), mas uma idéia de mudança de status – literalmente receber ao lado. Portanto, a idéia que o texto nos passa não é de uma retirada, mas de uma separação (bodes das ovelhas); Jesus recebe em seu lado os eleitos, e “deixa” (afíemi - abandona) do outro lado os ímpios. (CALISTO, 2001).
O texto de 1 ts 4. 17 decorre de um arrebatamento da igreja com Cristo. Contudo, é o único texto bíblico que se refere ao verbo arrebatar do grego arpadzo (arrebatar, levar, roubar, apoderar). Aqui Paulo se refere a um evento concomitantemente ao julgamento dos ímpios, veja o cap.5 de 1 Ts no verso 2 e 3, como contexto a Volta de Cristo ( o v.2 – o dia do Senhor), nos diz que “quando andarem (os ímpios) falando de paz lhe sobrevirá repentina destruição..., e de modo nenhum escaparão”. E Paulo, no v.4, contrasta a posição dos irmãos que “nesse dia” (dia do Senhor) não serão pegos de surpresa, antes, estarão vigilantes a espera do Senhor. Note que paz e segurança, está no contexto de Mt 24. 37-38, que assim como nos dias de Noé comiam, casavam, e davam-se em casamento... até que veio o dilúvio e os levou a todos...assim será na vinda do filho do homem; Mas nesse dia em comparação com Noé e sua família nós, os salvos, devemos estar vigilantes a sermos salvos da destruição dos ímpios no Último Dia ou na Segunda Vinda de Cristo. Portanto, não há aqui espaço para um roubo secreto dos salvos, visto que na segunda vinda de Cristo, ocorrerá tanto a destruição dos ímpios – vivos ou mortos - quanto à salvação dos justos – vivos ou mortos - sendo assim eventos únicos, bem como o juízo final da raça humana. Além do mais, O texto de tessalonicenses relata que na vinda de Cristo irá ocorrer “barulhos” de “vozes” de arcanjo e detrombetas, realmente será o evento mais estrondoso que a terra já mencionou, então como poderia ser (segundo os pré-milenistas) um evento secreto nesta passagem? Certamente, aqui na presente passagem pode apresentar “tudo” menos algo secreto ou silencioso.
Embora a idéia de um arrebatamento seja bíblica, nada tem haver com o arrebatamento que os pré-milenistas apregoam. Aquele se refere ao encontro da igreja com Cristo nos ares e logo então a condenação dos ímpios e o juízo final. Este, se referindo a um arrebatamento secreto preparado só para a igreja, deixando o restante da raça humana para passar pela “Grande Tribulação”. Além disso, como poderia existir arrebatamento secreto se o próprio Paulo escrevendo a Tito aguardava a esperança e o aparecimento de Cristo em sua Grande Glória nos céus (Tt 2.13)? Pois assim como o vistes subir (Jesus), também o verão descendo do céu (At 1.11).
4. O MITO A INTERPRETAÇÃO LITERAL VS. NÃO-LITERAL
De acordo com Brian Schwertley, os pré-milenistas argumentam que eles sustentam uma interpretação literal da Escritura, enquanto acusam seus oponentes teológicos (e.g., pós-milenistas) de terem uma tendência de espiritualizar passagens proféticas. A verdade é que pré-milenistas, Amilenistas e pós-milenitas─ todos eles ─ crêem que a Escritura deve ser interpretada literalmente, às vezes, e simbolicamente em outras ocasiões, dependendo do contexto da passagem e da intenção do autor. Os autores pré-milenistas dizem aos seus leitores que eles interpretam a Bíblia literalmente. Mas se você ler os seus livros, cenas com arcos, flechas e cavalos tornam-se futuras batalhas com tanques, helicópteros e aeronaves. A marca da besta se torna um chip de computador ou um código de barra. Os gafanhotos do abismo (Apocalipse 9) supostamente se tornam ataques de helicópteros, e assim por diante. Há algum autor ou comentarista pré-milenista que creia que a besta do mar com sete cabeças e dez chifres (Apocalipse 13) é uma criatura literal? O ponto é: pré-milenistas, amilenistas e pós-milenitas ─ todos eles─ interpretam algumas passagens simbolicamente e alguma passagens literalmente. A única forma de determinar qual é a melhor interpretação é usando princípios bíblicos saudáveis de interpretação ao examinar as passagens em questão. Isso significa que o contexto, a audiência, a intenção do autor, o tempo da escrita, e assim por diante, devem ser considerados. Além do mais, a Escritura não pode contradizer a Escritura; portanto, quando duas passagens parecem estar em conflito uma com a outra, a passagem mais clara deve ser usada para interpretar a menos clara. Esse princípio é muito importante, pois há muitas passagens claras no Novo Testamento que ensinam algo sobre a segunda vinda de Cristo.
O método de interpretação seguido pelos aderentes deste sistema é um defeituoso. Uma regra saída é que as passagens difíceis da Palavra, e certamente Apocalipse 20 o é, devem ser explicada à luz de textos mais simples. Contudo, alguém não pode escapar do sentimento de que com esta visão, uma teoria preconcebida é trazida à Escritura, passagens difíceis são apeladas como prova e então, se tenta fazer com que as passagens mais simples se encaixem com a teoria. O resultado é uma divisão violenta da Palavra e, portanto, da obra redentora de Deus! Sua Palavra é uma (apresentada em dois testamentos, profecia e cumprimento), e a redenção de Jesus Cristo é uma! (KUIPER, 2004)
5. “O FRACASSO DA ÚLTIMA BATALHA”
Os pré-milenistas afirmam à veracidade da Bíblia na passagem de apocalipse 20.8, que a batalha final, que ocorrerá no fim do milênio - quando Satanás será solto por um pouco de tempo - será de forma literal, ou seja, a partir do momento em que o opositor for solto a enganar a muitos na terra, voltará os olhos para Jerusalém – sede do milênio – para atacar a Cristo e os santos com tanques de guerra, armas de guerra, mísseis, aviões etc. Contudo, como Cristo e seus santos estarão com corpos glorificados e espirituais, poderão ser atacados com armas de homens? Como o próprio Deus glorificado aqui na terra, poderá ser pelo menos arranhado com uma bala ou um míssil, ou coisa semelhante a esta? É claro que não podem ser, nem se quer tocado com tais artifícios humanos, já que estão glorificados em seus corpos e espiritualmente transformados. Jesus quando foi glorificado na ressurreição, pôde atravessar portas (Jo 20. 19). Como pode então ser intimidado por armas humanas? Certamente esta interpretação é absurdamente patética, fora do campo do bom senso e da racionalidade até de um leigo em teologia.
Além disso, eles interpretam apocalipse 19 e 20 como eventos que ocorrem cronológico/literal, ou seja, os eventos do capítulo vinte complementam cronologicamente os eventos citados no capítulo 19. Segundo os pré-milenistas, o capítulo 19 fala a respeito da segunda vinda de Cristo, enquanto que o capítulo 20 relata a inauguração do reino milenar na terra. De acordo com eles, o texto do capítulo dezenove, a partir da segunda metade em diante, Cristo retorna e julga as nações e no capítulo vinte, Cristo reina sobre as nações. Mas se o capítulo dezenove é tomado todo literalmente, não há mais nações para governar no capítulo vinte, pois segundo o texto a besta e o falso profeta foram lançados no lago de fogo e enxofre, e, os demais (todos) foram mortos pelo que estava assentado no cavalo com a espada que saiu de sua boca (Ap. 19. 15-21). Os pré-milenistas dizem que isso é uma batalha literal, com corpos mortos no campo de batalha, e aves voando fartando de suas carnes. Notemos que o capítulo vinte não tem nenhum sentido; pois, quando vamos para o capítulo vinte no verso 3, observamos que Satanás é lançado no abismo, para assim impedi-lo de enganar as nações. Contudo, como é que Satanás pode enganar as nações se estas foram destruídas no final do capítulo 19? O verso 21 do capítulo 19 mostra que Cristo destruiu a todos os demais que estavam contra ele, ou seja, a passagem enfatiza que Cristo matou a todos os que estavam a favor do inimigo. Se Cristo eliminou todas as nações e todos os ímpios, como pode então ainda governar por mil anos com eles? O capítulo vinte ainda mostra que todas as nações existem. Como podemos ver a interpretação dos pré-milenistas para estes dois capítulos é extremamente equivocada.
6. O GOVERNO DE CRISTO É CELESTIAL E NÃO TERRENO
As escrituras ensinam que o reino de Cristo é de forma terrena? Com os santos e alguns ímpios morando com grande paz e regozijo ao lado do cordeiro de Deus em Jerusalém na palestina? O reino de Cristo é adiado até a segunda vinda? O próprio Cristo afirmou: “meu reino não é deste mundo” (Jo 18. 36). O reino de Cristo não procede de uma Jerusalém terrena, mas Celeste. Podemos observar em Mt 28. 18, que o reino do messias não é adiado até a sua segunda vinda, porém iniciou-se após a Sua ressurreição – “foi me dada toda autoridade no céu e na terra”. Paulo e Pedro assumiram esta postura de Mateus em Rm1. 4 e At 2. 34-35, respectivamente. Daniel profetizou que o reino de Deus jamais será destruído (Dn 2. 44).
Jesus pregou que o reino de Deus estava próximo (Mt 3. 2; Mc 1. 15; Lc 4. 43).Jesus declarava não um reino terreno, à aproximadamente 2000 mil anos futuramente, mas de um reino espiritual que se iniciaria após a Sua ressurreição. Se realmente fosse bíblico um reinado terreno, então porque Jesus rejeitou enfaticamente este “reino”, quando os judeus o ofereceram um governo plenamente terrestre (Jo 6. 15)? A bíblia não ensina que devemos ansiar um reinado terrestre; antes, afirma que Cristo já é rei e que governa do céu: “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1. 20-21). Jesus Cristo tem domínio universal. O que ele realizou definitivamente pela sua morte e ressurreição é agora progressivamente realizado por toda a terra (SCHWERTLEY, 2006).
Algumas perguntas devem ser feitas para aqueles que interpretam apocalipse 20.9 de forma literal. Primeiro, será que os cristãos da era apostólica acreditavam e ansiavam que Cristo iria reinar (juntamente com os santos e alguns ímpios) numa Jerusalém terrena por um período de mil anos? Segundo, será que os cristãos esperavam por uma cidade aqui na terra, no qual iriam morar com o próprio Deus, que fez o universo e tudo o que nele há? É claro que não! Paulo escrevendo aos Hebreus afirmou: Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura (Hb 13. 14). Observamos que sem dúvida alguma, os cristãos ansiavam com veemência e todo o vigor, por uma cidade preparada por Deus, não feita por mãos de homens e terrena, mas sim, uma Jerusalém celestial. Em hebreus 11.16, a ênfase para esta exortação de Paulo é a mesma: Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade. Vemos que Deus não se envergonha de se chamar o seu Deus, pois, já lhes preparou uma Cidade. Na cidade de Filipos, Paulo exortando os filipenses afirmou: Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fl 3. 20). A única cidade que os Cristãos ansiavam para o seu futuro com Cristo era a celestial; por que então devemos esperar por uma cidade terrena? Aqueles que afirmam que devemos guardá-la, se fundamentando em um único texto - Ap 20. 9 – se deparam com um novo testamento repleto de afirmações contrárias.
Calvino não fomentava em seu coração nenhuma esperança milenar que fizesse parte desta presente ordem existencial das coisas, o que seria embair-se por um positivismo simplístico e apriorístico. Antes, via no milênio, o domínio espiritual de Cristo sobre sua igreja. O qual é nesta atual conjuntura limitado pelas contingências, mas que terá sua plenitude a partir da mirífica volta de Cristo (CALISTO, 2001).
Em sua explanação do Reino de Cristo em suas Institutas, mostra que o reino de Cristo é eterno e de natureza espiritual. Para Calvino, Jesus estabeleceu o seu Reino já em seu ministério terreno (Lc 1:33), e tem mantido o domínio do seu Reino sobre a igreja e seus membros, guardando-a das vicissitudes e restos desta presente ordem, de tal forma que ela permaneça sã e salva.
Uma terceira pergunta é necessária. A quem se refere João no apocalipse, com relação à cidade amada e o arraial dos santos (Ap 20. 9)? Certamente ao Povo de Deus, e a Igreja, respectivamente. Eles representam toda a igreja de Deus em sua universalidade, no mundo e no céu. João também diz que a Jerusalém é a noiva adornada de Cristo (Ap 21. 2) – uma referencia óbvia a igreja de Deus – e a esposa do Cordeiro ( Ap 21. 9-10) - a noiva adornada, a nova Jerusalém. “Antes da segunda vinda, a noiva adornada de Cristo existe no céu e na terra”. Assim, João numa linguagem apocalíptica está descrevendo o ataque final das forças de Satanás contra a igreja. As nações de Gogue e Magogue, cercando e dirigindo-se a batalha contra a cristandade no sentido mais amplo certamente intentam destruir a ‘Cidade Amada’, a causa de Cristo, e tornar o paganismo supremo no mundo (SCHWERTLEY, 2006).
7. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO SE DARÁ EM CHAMAS FLAMEJANTES
Os pré-milenistas afirmam que Cristo estará na terra quando então for inaugurado o milênio. E que no fim deste, Satanás e o Seu exército cercará Jesus e os Santos nos muros de Jerusalém na Palestina. Então, após isso, descerá do céu um fogo consumidor (de Deus) para salvar Jesus e sua igreja. “Mas que interpretação incoerente com as escrituras”! Como pode Jesus em seu pleno poder juntamente com os Santos glorificados passar por outra humilhação; em que é necessário, Deus salvar seu filho da pressão de Satanás! Além do mais, ser salvo por um ataque de Armas e tanques de guerra! Certamente, a bíblia não ensina esta doutrina. Pois, Ap 20.9, se refere a segunda vinda de Cristo em chamas flamejantes: E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou. Esta idéia da segunda vinda de cristo comparado em um retorno com chamas flamejantes, ou seja, com ira sobre os que não aceitaram a Cristo está em outros textos escrituristicos: Veja: Is 66. 15-16; 2 Ts 1. 8; 2 Pe 3. 10; 1 Co 3. 13-15. Onde, pois estará Cristo quando descer fogo do céu no julgamento dos ímpios? Na terra, em Jerusalém, como alegam os pré-milenistas? Não, pois Ele retornará em chamas flamejantes. Assim, Ap 20. 9 se refere à segunda vinda de Cristo. Portanto, Cristo retornará definitivamente em um único evento após o milênio, ou seja, ao término dos mil anos com Cristo.
8. O JUÍZO SERÁ UM SÓ EVENTO (LUIZ BERKHOF)
Os pré-milenistas dos nossos dias falam de três diferentes juízos futuros. Eles distinguem: (a) Um juízo para os santos ressurretos e para os santos vivos, quando da parousia ou da vinda do Senhor, para vindicação pública dos santos, para dar recompensa a cada um segundo as suas obras e para determinar os seus respectivos lugares no reino milenar vindouro. (b) Um juízo por ocasião da revelação de Cristo (no dia do senhor), imediatamente após a grande tribulação, no qual, conforme o conceito predominante, as nações gentílicas serão julgadas como nações, de acordo com a atitude que elas assumiram para com o evangelizante remanescente de Israel (os irmãos menores do Senhor). A entrada dessas nações no reino dependerá do resultado do julgamento. Este é o juízo mencionado em Mt 25.31- 46 estará separado do anterior por um período de sete anos. (c) Um julgamento dos ímpios mortos, perante o grande trono branco descrito em Ap 20.11-15. Os mortos serão julgados segundo as suas obras, e estas determinarão o grau da punição que eles receberão. Este juízo ocorrerá mais de mil anos depois do juízo das nações.
Devemos notar, porém, que a Bíblia sempre fala do juízo futuro com um só evento. Ela nos ensina a aguardar, não dias, mas o dia do juízo, Jo 5.28, 29; At 17.31; 2 Pe 3.7, também chamado “aquele dia”, Mt 7.22; 2 Tm 4.8, e “o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”, Rm 2.5. Os pré-milenistas sentem a força deste argumento, pois replicam que esse pode ser um dia de mil 726 anos. Além disso, há passagens da escritura que evidenciam abundantemente que os justos e os ímpios comparecerão juntos no juízo para uma separação final, Mt 7.22, 23; 25.31-46; Rm 2.5-7; Ap 11.18; 20.11-15. Ademais, deve-se notar que o julgamento dos ímpios é descrito como um concomitante da parousia e também da revelação, 2 Ts 1.7-10; 2 Pe 3.4-7. E, finalmente, deve-se ter em mente que Deus não julga as nações como nações quando estão em jogo questões eternas, mas somente indivíduos; e que uma separação final dos justos e dos ímpios não tem a menor possibilidade de ser feita antes do fim do mundo. É difícil ver como alguém pode fazer uma interpretação tolerável e coerente de Mt 25.31-46, a não ser partindo do pressuposto de que o juízo a que o texto se refere é o juízo universal de todos os homens, e de que estes serão julgados, não como nações, mas como indivíduos. Até Meyer e Alford, eles próprios pré-milenistas, consideram que esta é a única explanação sustentável.
NOTA DO AUTOR:
Espero que o verdadeiro significado da interpretação Bíblica e escriturística, no que concerne a essência da mente de Deus, revelada para Sua igreja, adentrem nos nossos corações e na nossa mente pura e agradável todos os dias de nossas vidas, esperando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Positivamente, vivemos perto do fim do que Apocalipse chama de “mil anos”. Este milênio começou no primeiro advento de Cristo e terminará quando o tempo e a história terminarem. Cristo retornará pessoalmente e visivelmente, chamará os mortos dos sepulcros e dos mares, julgará todos os homens de acordo com suas obras, e colocará Suas ovelhas num só rebanho, a casa celestial com muitas moradas! Que a verdade Reformada continue sendo proclamada que “o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isto Ele fez por seu Espírito e sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim” (Catecismo de Heidelberg, Domingo XXI). Benditos aqueles são membros vivos dela!
ISAAC PEREIRA DINIZ.