Em
tempos aonde ser relevante tornou-se sinônimo de ser popular a tarefa do
teólogo cristão torna-se ainda mais desafiadora, pois todos os dias somos tentados
a apostatar da fé nos desviando da sã doutrina por acharmos a simplicidade do
evangelho simples demais para as nossas pretensões intelectuais e até mesmo
nossas particularidades espirituais.
Porem.
Não basta saber o significado do nome teologia nem dos complexos conceitos que
a constitui, precisamos entender o lugar dela em relação ao conjunto da obra
que Deus tem a realizar em nós e através de nós, só assim encontraremos sua
real relevância no tocante a edificação dos santos e a proclamação das boas
novas de salvação.
Estudar
teologia é conhecer a sã doutrina revelada em Jesus Cristo e registrada por divina
inspiração nas Sagradas Escrituras (Bíblia). Muitos confundem o significado da
palavra com o seu conceito, a teologia não estuda Deus, ela estuda aquilo que
pela graça ele nos apresenta sobre sua pessoa e obra. Anselmo, um dos pais da
igreja, vai nos ensinar que teologia é “a fé em busca de entendimento.” Por que
então há tanto desentendimento e inutilidade em nossos debates teológicos?
Grant R. Osborne vai escrever em tom de alerta o seguinte sobre esta questão:
“Não sabemos ao certo como determinar um
dogma, especialmente como obtê-lo a partir das Escrituras; e não sabemos como
distinguir doutrinas centrais daquelas doutrinas sobre as quais devemos
concordar em discordar. Existem mais caçadores de heresias por aí do que jamais
existiu na historia recente, e ainda assim existe menos consciência teológica
na maioria das igrejas do que em qualquer outro período do ultimo século. É uma
dicotomia estranha, temos mais material sobre Bíblia e a teologia do que nunca,
mais interesse em estudos bíblicos, e ainda assim temos menos conhecimento da
Bíblia e de teologia.” (Fonte: citação extraída do livro pilares da fé do Pr.
Franklin Ferreira Ed. Vida Nova – pag 35).
Segundo o Rev. Roberto Schuler, ao escrever
sobre o fazer teológico e as tendências contemporâneas de mudança, o grande
problema das nossas irrelevantes discursões se dá pela perda da nossa
identidade no tocante ao caráter protestante, a teologia pública e a relevância
profética. Ele escreve:
“O que eu quero dizer é que a reforma protestante
nasceu de um protesto, ou seja, de um apelo por reforma na estrutura da igreja
e da sociedade. Essa é a nossa tradição e foi por isso que na historia ganhamos
o nome de protestantes. O fato de não termos que protestar mais hoje contra as
indulgencias e os desvios no tocante a doutrina da salvação não significa a
cessação da nossa vocação protestante, até porque outros problemas surgiram,
talvez não tanto de ordem doutrinária e confessional, mas sim de ordem prática
e social.” (Artigo extraído do livro A Teologia e os Desafios Contemporâneos Ed
Reflexão – Pag 23)
A falta do devido cuidado com
a doutrina é um dos reflexos da nossa condição desleixada diante de Deus. Como
o próprio Rev. Schuler coloca: Na prática
nós nos tornamos cada dia mais “conformantes” que protestantes. Isso porque
aos poucos a nossa teologia abandonou sua tradição profética, se fechando em
uma redoma cheia de dogmas religiosos e movimentos místicos vazios da
verdadeira essência do evangelho. Como resultado disso, nossa teologia publica,
ou seja, nossa participação na sociedade tem comunicado um cristianismo sem
Cristo em boa parte das ocasiões aonde a igreja precisa se posicionar de forma
relevante.
Nossa irrelevância teológica
denuncia nossa falta de compromisso com o evangelho de Jesus Cristo
principalmente no tocante a sua natureza prática, até porque, tudo que somos e
realizamos enquanto cristãos deve ser um reflexo da nossa submissão à sã doutrina,
fora disso nosso trabalho é anátema (nulo). Estamos passando por uma crise
teológica tão grave que, como escreveu Ian Ramsey alguns anos antes de sua
morte, “A igreja não só está sem
teologia, mas a teologia está sem Deus.” Algumas coisas nesta época entre
os teólogos profissionais mudaram, mas o abismo entre o seu acadêmico
vocabulário e a mentalidade da igreja só fizeram aumentar deixando-a (teologia)
a margem da vida evangélica, mas deslocada do seu centro. Em seu livro “sem
lugar para a verdade”, David F. Wells escreve:
“É nesse sentido que é apropriado falar
do desaparecimento da teologia. Não é que os elementos do credo evangélico
tenham se desvanecido; eles não se desvaneceram. O fato de eles serem
professados, no entanto, não significa necessariamente que a estrutura da fé
protestante histórica ainda está intacta. A razão é que simplesmente enquanto
esses itens da crença são professados, eles estão cada vez mais distantes do
centro da vida evangélica em que definiam o que era essa vida, e eles agora são
relegados à periferia, na qual perdeu seu poder de definir como deve ser a vida
evangélica.”
Como consequência desta crise a
missão da igreja tem sido comprometida em vários aspectos. Quando o
conhecimento não é administrado com sabedoria do alto à tendência é o desvio da
verdade e o desequilíbrio orgânico que desemboca ou no fideísmo (conhecimento
de Deus sem evidencias) ou no racionalismo (conhecimento de Deus somente com
evidencias). O labor teológico relevante alia esses dois extremos por meio da
fé que compreende e reconhece o importante papel da razão na busca pelo
conhecimento de Deus. Porém, tal conhecimento deve se manifestar através de
práticas piedosas, piedade que tem a vê com gratidão e não com razão. Em seu
livro Inteligência humilhada o Rev. Jonas Madureira escreve: “A razão faz teólogos inteligentes, mas
somente a gratidão torna-os piedosos e inteligentes”.
O que a igreja tem que dizer e
fazer com exclusividade não pode ser reduzido à filosofia e política. A
responsabilidade exclusiva da igreja é proclamar e praticar o evangelho, dando
no discurso e na vida testemunho da realidade, da presença e da ação de Deus em
Jesus Cristo e no Espirito Santo. A responsabilidade exclusiva do teólogo é
garantir que o discurso e a ação da igreja correspondam a Palavra de Deus,
regra de fé e prática do cristão.
Com base nessas informações
iremos tratar nos próximos artigos três aspectos fundamentais que caracterizam
o perfil de uma teologia cristã ortodoxa relevante em meio a realidade pós-moderna.
São eles: BÍBLICO, CRISTOCÊNTRICO e PRÁTICO. Espero que este material cause inquietação em seu coração
e desejo por um conhecimento teológico capaz de gerar frutos dignos de
arrependimento para a glória de Deus.
DEUS VOS ABENÇOE!
Vicente Leão