Desde o início a
Igreja de Cristo foi confessional. O apóstolo Paulo chega a dizer: “Se creem
com o coração, tem que confessar com a boca” (Rm 10.9-10). Judas, por
exemplo, faz referência direta a algum tipo de formulação existente no seu
tempo. Ele fala da "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos"
(v. 3). O comentarista bíblico Michael Green diz que: “A palavra entregar,
Gr. Paradidomai é a palavra usada para transmitir tradição autorizada em
Israel (cf. 1Co 15.1-3; 2Ts 3.6), e Judas, portanto, está dizendo que a
tradição apostólica cristã é normativa para o povo de Deus. O ensino
apostólico, e não qualquer moda teológica que atualmente esteja em voga, é a
marca do cristianismo autêntico”.[1] Essa
“fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” é o conjunto de verdades
reveladas que estavam de alguma forma sistematizadas e eram aceitas pelos
crentes de então. O ensino e a pregação apostólica regulamentavam a igreja como
vemos em Atos 2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...”
O apóstolo Pedro
exortou aos cristãos para que estivessem sempre preparados para responder a
todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós (1Pe 3.15). O
escritor sagrado mostra-nos a necessidade do conhecimento do conteúdo da fé,
para poder explica-los a outros. Eles deveriam estar com a cabeça pronta para
esclarecer a todo aquele que pedissem uma palavra sobre a fé e o porquê de
determinadas atitudes e pontos de vista dos cristãos.[2] Pedro
insiste que o cristão saiba responder com firmeza a razão de sua fé, que seja
capaz de entender, articular e de modo bíblico possa responder a quem quer que
seja. É insensato professar uma crença sem ao menos saber o conteúdo daquilo
que se professa.
“Eu sei em quem tenho
crido...” disse o apóstolo Paulo (2Tm 1.12), mas infelizmente, muitos cristãos
hoje em dia diriam de forma contrária a declaração de Paulo. Se perguntássemos:
em que você crê? A resposta de muitos seria: “Eu não sei em quem
tenho crido!”. Eis a importância dos credos, catecismos e confissões. Eles
resumem de maneira clara e simples a verdade bíblica. São documentos históricos
que reúnem as melhores contribuições dos servos de Deus na compreensão da
verdade. Colocam diante de nós uma exposição correta da verdade bíblica
revelada. Essas declarações de fé precisavam ser, até certo ponto, completas e
simples, para que o cristão não iniciado nas questões teológicas pudesse
entender o que estava sendo dito, confrontar esse ensinamento com as Escrituras
e assim compreender biblicamente sua fé.[3]
Apesar de sua
importância teológica, doutrinária e histórica, eles tem, para o prejuízo da
própria igreja, sido abandonados. Quando falamos de credos muitos torcem o
nariz em claro sinal de desaprovação. E ao invés de voltar-se ao ensino sério,
sadio, sistemático e confessional, abraçam de maneira irrefletida e
irresponsável ensinos dos modernos liberais, que não fazem outra coisa, senão
adoecer e matar as igrejas.
Herminsten
Maia, citando o Dr. Martin Lloyd-Jones, declara a importância da doutrina
bíblica para as nossas vidas:
“Todo doutrina cristã
visa levar, e foi destinada a levar a um bom resultado prático. [...] A doutrina
visa levar-nos a Deus, e a isso foi destinada. Seu propósito é ser prática
[...] a nossa vida cristã nunca será rica, se não conhecermos e não aprendermos
a doutrina. Você não poderá ser santo se não conhecer bem a doutrina. Doutrina
é a ligação direta que leva à santidade. É somente quando compreendemos essas
verdades fundamentais que podemos atender ao apelo lógico para a conduta e o
comportamento agradáveis a Deus”.[4]
Nesse mesmo viés de
pensamento, John Stott escreve: “Desrespeitar a tradição e a teologia histórica
é desrespeitar o Espírito Santo que tem ativamente iluminado a Igreja em todos
os séculos”.[5]
Os credos não têm a
pretensão de se igualar a Palavra de Deus. Seus formuladores jamais cogitaram
que os credos fossem a Palavra de Deus. Eles são uma resposta humana a revelação
divina. Eles são recebidos e cridos enquanto permanecem fiéis a Palavra de
Deus. Por isso, não devemos tomá-los como autoridade final para definir um
ponto doutrinário: os limites da reflexão teológica estão na Palavra. Os credos
não estabelecem o limite da fé, antes a norteiam. As Escrituras sempre serão
mais ricas que qualquer pronunciamento eclesiástico, por mais bem elaborado e
mais fiel que seja à Bíblia.[6]
A Confissão Belga
declara no artigo 7:
Cremos que esta
Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente
ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus descreveu, por
extenso, toda a maneira de servi-Lo. Por isso, não é lícito aos homens, mesmo
que fossem apóstolos “ou um anjo vindo do céu”, conforme diz o apóstolo Paulo
(Gálatas 1.8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura. É
proibido “acrescentar algo a Palavra de Deus ou tirar algo dela” (Deuteronômio
1.32; Apocalipse 22.18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é
perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa. Não se pode igualar escritos
de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se
pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições
antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou
resoluções. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos
(Salmo 116.11) e “mais leves que a vaidade” (Salmo 62.9).
Por isso, rejeitamos,
de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível,
conforme os apóstolos nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de
Deus" (l João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta
doutrina, não o recebais em casa" (2 João :10).
Os credos, Catecismos
e Confissões, por sua amplitude e simplicidade teológica jamais podem ser
desmerecidos. Eles norteiam a nossa fé. Nos firma na doutrina sagrada e
fortalece a nossa mente. Nesses dias fiquei feliz ao ouvir um jovem declarar:
“O que me livrou do ateísmo na faculdade foi o meu apego pelos catecismos e
confissões reformadas”. Que muitos possam testemunhar de igual forma! Que nesse
mundo de secularização, inversão de valores, liberalismo, heresias e modismos,
possamos dizer com firmeza “Cremos e Confessamos...” Para a glória de Deus!
Rikison Moura, V. D.
M
[5] A
cruz de Cristo, p.8