1 O
que é uma figura de linguagem?
Figura de linguagem é simplesmente uma
palavra ou frase usada fora de seu emprego ou sentido original.
2 Por
que se utilizam figuras de linguagem?
2.1 As figuras de linguagem
acrescentam cor e vida
“O Senhor é a minha rocha” (Sl. 18:2) é
uma forma viva de se dizer que podemos confiar no Senhor, pois ele é forte e
inabalável.
2.2 As figuras de linguagem chamam
a atenção
O interesse do ouvinte ou leitor é
despertado. Isso fica nítido na advertência de Paulo em Fp. 3:2, cuidado com
esses cães.
2.3 As figuras de linguagem tornam
os conceitos abstratos mais concretos
A frase: “por baixo de ti estende os
braços eternos” (Dt. 33:27) certamente transmite uma idéia mais concreta do que
“O senhor te sustentará”.
2.4 As figuras de linguagem ficam
mais registradas na memória
A afirmação de Oséias “Como vaca rebelde
se rebelou Israel…” (Os. 4:16) é mais fácil de lembrar do que se tivesse
escrito: “Israel é extremamente teimoso”.
2.5 As figuras de linguagem
sintetizam uma idéia
Elas captam a idéia de forma mais
abreviada, elas dizem muito em poucas palavras. A famosa metáfora: “O Senhor é
meu Pastor…” (Sl 23:1) nos transmite rapidamente a idéia do cuidado de um
pastor com suas ovelhas.
2.6 As figuras de linguagem
estimulam a reflexão
As figuras de linguagem levam o leitor a
parar e pensar. Quando lemos Salmos 52:8 – “quanto a mim, porém, sou como a
oliveira verdejante, casa de Deus…” – somos desafiados a meditar nas
semelhanças que este símile nos traz à mente.
3 Como
saber se uma expressão apresenta sentido figurado ou literal?
Em geral, uma expressão está em sentido
figurado quando destoa do assunto, ou quando não combina com os fatos,
experiência ou observação. Quando o Cleber Machado narra um jogo de futebol e
diz que o “Porco” venceu o “Leão”, não quis dizer realmente que um porco
(animal) venceu um leão (animal), mas sim que o Palmeiras venceu o Sport, ou
seja, naquele contexto (futebol) faz todo sentido.
As
regras abaixo nos ajudam a identificar as figuras de linguagem.
1. Adote sempre o estilo literal das
passagens, a menos que hajam boas razões para não fazê-lo. Por exemplo, quando
João disse que 144.000 serão selados – 12.000 de cada uma das 12 tribos de
Israel – não há razão para não respeitarmos o sentido normal, literal
(Ap. 7:4-8). No entanto, no verso seguinte o apóstolo faz menção do “Cordeiro”
(v. 9), o que, obviamente é uma referência a Jesus, não a um animal, como João
1:29 deixa claro.
2. Se o sentido literal resultar numa
impossibilidade, o sentido verdadeiro é o figurado. O Senhor disse para
jeremias que o havia posto como “coluna de ferro e por muros de bronze” (Jr.
1:18).
3. O sentido é o figurado se o literal
resultar em um absurdo, como no caso das árvores baterem palmas (Is. 55:12).
4. Adote o sentido figurado se o literal
sugerir imoralidade. Com seria um ato de canibalismo comer a carne de Jesus e
beber seu sangue, é evidente que ele estava usando o sentido figurado (Jo.
6:53-58).
5. Veja se a expressão figurada vem
acompanhada de uma explicação literal. Aqueles que dormem (1 Ts. 4:13-15) logo
em seguida são chamados de “os mortos” (v. 16).
6. Às vezes uma figura é realçada por um
adjetivo qualitativo, como Pai celeste (Mt. 6:14), “o verdadeiro pão” (Jo.
6:32), a pedra que vive (1 Pe. 2:4). Isso indica que o substantivo anterior não
deve ser entendido em seu sentido literal.
4 A
linguagem figurada é oposto da interpretação literal?
Não devemos achar que o sentido figurado
seja o oposto do sentido literal. O sentido figurado transmite a verdade
literal, ou seja, o autor apenas escreveu a mensagem literal de outra forma,
para reforçar seu sentido; mas, os fatos são literais. Não devemos confundir
com a alegorização, que já foi vista na aula 03 deste módulo.
Por exemplo, quando dizemos: “Fulano
virou um bicho quando soube”, claro que não quer dizer que virou um animal, mas
ficou furioso. Porém a verdade é literal, seja falando de uma forma ou de
outra.
5 Alguns
tipos de figuras de linguagem
5.1 As figuras de linguagem que
transmitem comparação
Símile – É uma comparação que
lembra outra explicitamente. Pedro usou um símile quando disse que “…toda carne
é como a erva…” (1 Pe. 1:24). Jesus também fez uso do símile quando disse: “…eu
vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. A dificuldade dos símiles é
descobrir as semelhanças entre os dois elementos. Em que aspecto a carne é como
a erva. De que forma os cristãos são como cordeiros?
Metáfora – É uma comparação em que
um elemento representa outro, sendo que os dois são essencialmente diferentes.
Em uma metáfora a comparação está implícita. Temos um exemplo disso em Isaías
40:6: “Toda a carne é erva”. Note que é diferente da expressão em 1 Pedro,
acima. Jesus comparou seus seguidores ao sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt.
5:13). Quando Jesus afirmou: “Eu sou a porta” (Jo. 10:7-9), “Eu sou o bom
pastor” (vv. 11-14) e “Eu sou o pão da vida” (6:48), ele estava fazendo
comparações. O leitor é levado a pensar de que forma Jesus assemelha-se a tais
elementos.
Hipocatástase – Não é uma figura de
linguagem tão conhecida, mas também faz uma comparação, na qual a semelhança é
indicada diretamente. Davi, no Salmos 22: 16, disse: “Cães me cercam…”. Ele não
estava se referindo aos caninos, mas sim aos seus inimigos. Os falsos mestres
também são chamados de cães em Filipenses 3:2, e lobos vorazes em Atos 20:29.
Em João 1:29, João Batista fez uso de uma hipocatástase quando exclamou: “Eis o
Cordeiro de Deus”.
5.2 As figuras de linguagem que
transmitem substituição
Metonímia – A metonímia consiste em
trocar uma palavra por outra. Por exemplo, quando afirmamos que o Congresso
tomou uma decisão, queremos dizer que os deputados e senadores tomaram a
decisão. Pode ser também que a causa seja usada em lugar do efeito. Os
opositores de Jeremias disseram: “…vinda, firamo-lo com a língua…” (Jr. 18:18).
Como seria absurdo produzir ferimentos com a língua, é claro que eles estavam
referindo-se a palavras. Em Atos 11:23, temos outro exemplo quando fala de
Barnabé: “…e, vendo a graça de Deus…”. O sentido aqui só pode ser o do efeito
da graça, pois a graça, na realidade não pode ser vista. Temos exemplos de
substituição de elementos relacionados ou semelhantes. quando Paulo disse: “Não
podeis beber o cálice do Senhor…” (1 Co. 10:21), ele não estava se referindo ao
cálice propriamente dito, mas sim ao conteúdo do cálice. Quando o Senhor disse
para Oséias que “a terra se prostituiu…”, a palavra terra diz respeito à
população.
Sinédoque – É a substituição do
todo pela parte, ou da parte pelo todo. Em Lucas 2:1, a Bíblia nos diz que o
imperador César Augusto emitiu um decreto de que deveria ser feito o censo “do
mundo todo”. Ele falou do todo, mas estava se referindo ao Império Romano. É
óbvio que Provérbios 1:16 – “…os seus pés correm para o mal…” – não significa
que somente os pés corriam para o mal. Os pés são a parte que representa o todo.
Áquila e Priscila arriscaram suas próprias cabeças (Rm 16:4). Nesta sinédoque,
“suas cabeças” representa suas vidas, o todo.
Personificação – É a atribuição de
características ou ações humanas a objetos inanimados, a conceitos ou animais.
A alegria é uma emoção atribuída ao deserto, em Isaías 35:1. Isaías 55:12 fala
de montes cantando e árvores batendo palmas. A morte personifica-se em Romanos
6:9 e em 1 Corintios 15:55.
Antropomorfismo – é a
atribuição de qualidades ou ações humanas a Deus, como ocorre nas referências
aos dedos de Deus (Sl. 8:3), a seus ouvidos (31:2) e a seus olhos (2 Cr. 16:9).
Antropopatia – Esta figura de
linguagem atribui emoções humanas a Deus, como vemos em Zacarias 8:2: “…tenho
grandes zelos de Sião”.
Zoomorfismo – Se o antropomorfismo
atribui qualidades humanas a Deus, o zoomorfismo atribui características
animais a Deus (ou outros). Em Salmos 91:4, faz-se referência a penas e asas.
Jó descreveu o que ele considerou como ira de Deus contra ele quando disse:
“…contra mim rangeu os dentes…” (Jó 16:9).
Apóstrofe – É uma referência direta
a um obejto como se fosse uma pessoa, ou uma pessoa ausente ou imaginária, como
se estivesse presente. O salmista empregou um apóstrofe em Salmos 114:5: “Que
tens, ó mar, que assim foges?…” Miquéias fala diretamente à terra, em Miquéias
1:2: “Ouvi, todos os povos, prestai atenção, ó terra…”. Em Salmos 6:8, o
salmista fala como se seus inimigos estivessem presentes: “Apartai-vos de mim,
todos os que praticais a iniquidade…”.
Eufemismo – Consiste na substituição
de uma expressão desagradável por outra mais suave. Falamos da morte mediante
eufemismos: “passou desta para melhor”, “bateu as botas”. A Bíblia fala da
morte dos cristãos como um adormecimento (At. 7:60; 1 Ts. 4:13-15).
5.3 As figuras de linguagem que
transmitem omissão ou supressão
Elipse – é uma supressão de uma
palavra facilmente subentendida. É a omissão intencional de um termo facilmente
identificável pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase.Em
1 Co. 15:5, “os doze”, representa “os doze apóstolos”.
Pergunta retórica – Uma
pergunta retórica é aquela que não exige resposta; seu objetivo é forçar o
leitor a respondê-la mentalmente e avaliar suas implicações. Quando Deus
perguntou para Abraão: “Acaso para Deus há algo muito difícil?…” (Gn. 18:14),
ele não esperava ouvir uma resposta. A intenção era que o patriarca refletisse
mentalmente. Paulo fez uma pergunta retórica em Romanos 8:31: “… se Deus é por
nós, quem será contra nós?”. Estas perguntas são formas de se transmitir informações.
5.4 As figuras de linguagem que
transmitem exageros ou atenuações
Hipérbole – É uma afirmação
exagerada em que se diz mais do que o significado literal, com o objetivo de
dar ênfase. Vejamos em Deuteronômio 1:28 a resposta dos espias israelitas sobre
a tomada de Canaã: “”…as cidades são grandes e fortificadas até os céus…”
Litotes – É uma frase suavizada ou
negativa para expressar uma afirmação. É o oposto da hipérbole. Quando dizemos:
“Ele não é um mal goleiro”, na realidade queremos dizer que ele é um goleiro
muito bom. Esta atenuação dá ênfase à frase. Em Atos 21:39, Paulo disse: “… eu
sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante”, quis dizer que Tarso
era uma cidade importante.
Ironia – É uma forma de
ridicularizar indiretamente sob a forma de elogio. Geralmente vem marcada pelo
tom de voz da pessoa que fala, para que os ouvintes percebam. Por isso, às
vezes é difícil saber se algo escrito é, ou não, uma ironia. O contexto nos
ajuda a perceber isso. Por exemplo Mical, filha do rei Saul, disse a Davi: “…
que bela figura fez o rei de Israel…” (2 Sm. 6:20). O versículo 22 nos mostra
que o sentido pretendido era o oposto, ou seja, o rei havia se humilhado agindo
daquela maneira. Em 1 Reis capítulo 18, no episódio de Elias contra os profetas
de baal, vemos que Elias ironizou a baal várias vezes.
Pleonasmo – Consiste na repetição
de palavras ou no acréscimo de palavras semelhantes. Atos 2:30 quer dizer
literalmente “Deus lhe havia jurado com juramento”. Como para nossa língua é
uma repetição desnecessária a NTLH traduziu sem esta repetição.
5.5 As figuras de linguagem que
transmitem incoerências
Oxímoro – Consiste na combinação de
dois termos opostos ou contraditórios. Quando falamos, por exemplo, “um
silêncio eloqüente”, empregamos um oxímoro. Em Fp. 3:19, Paulo diz que a glória
dos inimigos de Cristo está em sua infâmia; em Romanos 12:1 somos desafiados a
sermos “sacrifícios vivos”.
Paradoxo – É uma afirmação
aparentemente absurda ou contrária ao bom senso. Um paradoxo não é uma
contradição; é simplesmente algo que parece ser o oposto do que em geral se
sabe. Jesus utilizou muitos paradoxos em seus ensinos. Um deles nos diz que
quem quiser salvar sua vida deve perdê-la. Os humilhados serão exaltados. O
maior no reino de Deus é o menor. Se você quiser viver então morra.
6 Como
devemos interpretar as figuras de linguagem?
6.1 Descobrir se existe alguma
figura de linguagem
Às vezes a figura de linguagem não é
reconhecida no texto, causando um grande problema de interpretação. Quando
Paulo falou sobre suportar as adversidades como um bom soldado, competir com um
atleta e receber os frutos da safra como um fazendeiro (2 Tm. 2:3-6), ele não
estava instruindo soldados, atletas ou fazendeiros.
Quando Jesus disse: “Não deis aos cães o
que é santo, nem lanceis para os porcos as vossas pérolas…” (Mt. 7:6), não
estava se referindo a cães ou porcos literalmente. Cães e porcos eram
considerados animais impuros. Portanto o que deve ser entendido aqui é que não
devemos confiar as coisas santas aos ímpios.
Em Jó 38:7, não devemos entender que as
estrelas realmente cantam. Devemos entender que a criação se alegrou com a obra
criadora de Deus (personificação).
Por outro lado, às vezes uma declaração
normal é confundida com figura de linguagem. Em Amós 4:9, não há motivo para
crermos de se tratar de adversidades espirituais, pois de fato estas coisas
aconteceram.
6.2 Descobrir a imagem e o objeto
na figura de linguagem
Em certos casos, ambos são evidentes no
versículo, como acontece em Isaías 8:7. A princípio pode-se ficar na dúvida se
a inundação é real ou figurada. A resposta está no verso seguinte. Portanto,
podemos afirmar que a imagem são as águas impetuosas e o objeto é o rei da
Assíria. Contudo, algumas vezes, o objeto não é especificado e pode até ser confundido.
Foi o que aconteceu com as palavras de Jesus em João 2:19: “Destruí este
santuário…”. Santuário era a imagem e os leitores (e ouvintes) pensaram que o
objeto fosse o templo de Herodes, quando na realidade, Jesus estava falando de
seu próprio corpo.
6.3 Especificar o elemento de
comparação
Muitas vezes a imagem está expressa,
porém, o objeto embora não esteja explícito, é indicado pelo contexto. Em Lucas
5:34 não diz que o noivo é Jesus, mas o significado está implícito, já que no
verso seguinte Jesus diz que o noivo seria tirado deles.
6.4 Não presumir que uma figura
sempre signifique a mesma coisa
Em Oséias 6:4, o orvalho simboliza a
brevidade do amor de Judá, enquanto em 14:5 fala da benção do Senhor sobre
Israel.
6.5 Sujeitar as figuras a limites
por meio da lógica e da comunicação
Quando Jesus falou para a igreja de
Sardes “…virei como um ladrão…” (Ap. 3:3), não quis dizer que viria para
roubar.No caso, o elemento de comparação é que viria repentinamente. Quando Jó
falou das “colunas” da terra se estremecendo (Jó 9:6), estava falando das
montanhas, não como se a terra se apoiasse em colunas.