UMA TEOLOGIA CRISTÃ ORTODOXA RELEVANTE NA PÓS-MODERNIDADE DEVE SER BÍBLICA - 2º PARTE




Um dos lemas centrais da Reforma Protestante é o Sola Scriptura, termo em latim que significa somente as Escrituras. Este em especial serve como fundamento não somente aos demais solas (Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Glória), como também a toda conjuntura teológica evangélica que cremos e confessamos. Infelizmente em nossos dias, por conta da permissividade pós-moderna que traveste as heresias com o manto da religiosidade hipócrita que é politicamente correta e espiritualmente profana, temos sistematicamente abandonado nossas raízes Bíblicas tendo como consequência debates teológicos medíocres e vazios. Em seu livro pilares da fé o Pr. Franklin Ferreira escreve:

“Isso é algo que, de fato, me espanta. Alguns escritores propõem revisões do ensino cristão, mas na maioria das vezes em ruptura com a tradição cristã acerca da doutrina de Deus e da salvação e sem demonstrar a menor preocupação em remeter seus leitores (ou, pelo menos, seus seguidores mais fieis) as páginas da Escritura.”

O Pr. Paulo Anglada em seu livro Sola Scriptura. A doutrina reformada das Escrituras, também escreve algo importante sobre este assunto:

“Quando consideramos a diversidade doutrinária, litúrgica e prática que, em geral, caracteriza o evangelicalismo brasileiro, não é descabido questionar se alguma denominação evangélica no Brasil ainda pode, como instituição, ser considerada herdeira legítima da doutrina, culto e práticas reformadas. Pode haver muitas razões para essa situação. Entretanto, sem duvida, o relaxamento para com a autoridade e suficiência das Escrituras é uma delas.

As Escrituras Sagradas são a principal fonte da nossa teologia. Em seu livro Pregação e Pregador o Dr. Martyn Lloyd-Jones escreve o seguinte:
  Se a igreja cristã quiser manter um testemunho ativo nesta geração, e se os crentes em Cristo desejarem crescer e torna-se cristãos maduros e eficientes, então é da maior importância que os pastores, mestres e outros líderes providenciem para o seu povo o “leite sincero da Palavra” mediante a mensagens centralizadas na Bíblia e dela derivadas.”
Estamos em uma época aonde não temos consciência da real riqueza que nos legou a reforma, redescobrindo o evangelho através não somente do livre exame como também por meio da interpretação precisa da Palavra. Desenvolvemos uma “cultura evangélica” sem compromisso com o evangelho, baseada unicamente em nossas experiências e tradições, teologizando suas implicações através da manipulação espúria dos textos sagrados. Sobre isso o Pr. Renato Vargens em seu livro reforma agora escreve:

“Lamentavelmente, alguns dos pastores e mestres tupiniquins não possuem mais nenhuma ligação com aqueles que os precederam. Os púlpitos das igrejas e as salas de aula dos seminários teológicos estão sendo ocupadas por homens desconhecedores das mais profundas e básicas verdades sustentadas na Reforma. Se não bastasse isso, boa parte destes relativizaram as Escrituras afirmando não serem elas a Palavra revelada de Deus.”

Precisamos retomar a centralidade das Escrituras em nossas vidas, para que então nossa teologia seja contagiada e contagiante. Vejamos alguns pontos importantes que devem nortear nossa relação enquanto teólogos com a Bíblia:

1.  A Bíblia precisa ser lida devocionalmente: O teólogo, antes de qualquer coisa, é um cristão e como tal precisa não somente analisar as Escrituras, como também se deixar analisar e ser trabalhado por ela. A Leitura devocional é uma forma disciplinada de devoção e não mais um método de estudo bíblico. Ela é feita pura e simplesmente para conhecer a Deus, colocar-se diante da Sua Palavra e ouvi-lo. Esta atitude de silêncio, reverência, meditação e contemplação define a postura de quem deseja aproximar-se da Palavra de Deus. O exemplo bíblico desta postura encontramos em Maria, irmã de Marta, que “quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos” (Lucas 10:39), “enquanto sua irmã agitava-se de um lado para o outro, ocupada em muitos serviços” (Lucas 10:40). Há muitos outros exemplos de devoção que encontramos na Bíblia, de pessoas que simplesmente se punham diante do Senhor, sem esboçar uma única palavra, sem apresentar um único pedido, apenas ouvindo, meditando e contemplando.

2.  A Bíblia precisa ser conhecida bibliologicamente: Não basta somente ser um leitor apaixonado das Escrituras, precisamos conhecer os fatores que contribuíram para que ela chegasse até nós. Afinal, quando ela se originou? Quando e como assumiu a forma atual? Por que afirmamos que ela é um livro divinamente inspirado? O campo que estuda estas questões e chamado na teologia de Bibliologia ou Introdução Bíblica, ele irá tratar não apenas do significado do nome Bíblia e sua organização (testamento, capítulos, versículos, e etc) como também de assuntos pertinentes a doutrina das Escrituras (Ex. Inspiração, inerrância, canonicidade e etc). Este conhecimento, hoje mais do que nunca, é importantíssimo pois é a partir dele todos os demais aspectos da nossa teologia estarão firmados.

3.  A Bíblia precisa ser interpretada Hermenêuticamente:  Começarei falando da necessidade da hermenêutica bíblica. Como Osborne em seu livro A Espiral Hermenêutica, eu acredito sim que o propósito da hermenêutica é nos levar finalmente à pregação da Palavra de Deus. Contudo, antes de pregarmos, precisamos interpretar as Escrituras. Não é simplesmente abrir a Bíblia e dizer o que ela está dizendo. Nem todo mundo se apercebe do fato de que a leitura de qualquer texto sempre envolve um processo de interpretação. Ou seja, não é possível compreender um texto, qualquer que seja, sem que haja antes um processo interpretativo ― quer esse texto seja um jornal, quer seja a Revista Veja, quer seja a Bíblia.  A leitura sempre envolverá um processo de interpretação ― ainda que esse processo seja inconsciente e nem sempre as pessoas estejam alertas para o fato de que um processo de compreensão está em andamento. A Bíblia é um texto. Ela é a Palavra de Deus, mas ela é um texto. Como tal, ela não foge a essa regra. (Texto original do Rev. Augustus Nicodemos Lopes)

O teólogo relevante em primeiro lugar é Bíblico, por entender que sem a Bíblia não é possível fazer uma teologia cristã ortodoxa. O protagonismo das Escrituras é um fator inegociável e prioritário, principalmente em um tempo de relativismos aonde os valores e princípios cristãos tem sido bombardeados por toda sorte de engano conveniente aos interesses de quem não sujeita-se a soberana vontade de Deus. Somente o retorno as Escrituras pode potencializar nosso conhecimento de forma transformadora e abençoadora. Foi assim com os reformadores do passado e precisa ser assim com os do presente.  


Deus vos Abençoe!


Obs: Esta é a segunda parte da série de artigos sobre: 
A RELEVANCIA DA TEOLOGIA CRISTÃ ORTODOXA EM MEIO A PÓS-MODERNIDADE – 1º PARTE