Todos nós precisamos de modelos para viver. Aprendemos pela
observação. Quando seguimos as pegadas daqueles que percorrem as veredas da
probidade, visamos aos objetivos de uma vida bem aventurada; mas, quando
seguimos os modelos errados, colhemos frutos amargos de uma dolorosa decepção.
São referencias e marcos balizadores em nosso caminho. Eles são como espelhos
para nós, o espelho nos mostra quem somos e aponta-nos em que precisamos
melhorar a nossa imagem. Analisemos algumas características interessantes do
espelho.
Em primeiro lugar, ele nos mostra quem somos não através do som,
mas da imagem, ele não discursa, revela, não alardeia; reflete. O seu sermão
mais eloquente não é o pregado no púlpito, mas o que é vivido no lar, na igreja
e na sociedade. Ele não prega apenas aos ouvidos, mas também aos olhos.
Em segundo lugar, o espelho deve ser limpo. Um espelho embaçado e
sujo não pode refletir a imagem com clareza. Quando o pregador vivi em
duplicidade, quando usa mascaras vivendo tal um ator, quando fala uma coisa e
vivi outra, quando há um abismo entre o que professa e o que pratica, quando
seus atos reprovam as suas palavras, então ficamos confusos e decepcionados. Um
pregador impuro no púlpito é como um médico que começa a cirurgia sem fazer
assepsia das mãos. Ele causará mais mal do que bem.
Em terceiro lugar, o espelho precisa ser plano. Um espelho côncavo
ou convexo distorce e altera a imagem. Precisamos ver no pregador um exemplo de
vida ilibada e irrepreensível. O pecado do líder é mais grave, mais hipocrisia
e mais danoso em suas consequências. Mais grave, porque os pecados do mestre
são os mestres do pecado. É mais hipócrita, porque ao mesmo tempo em que ele
combate o pecado em publico, ele o pratica em secreto. Ao mesmo tempo em que
condena isso nos outros, capitula-se a sua força e abriga-o no coração. É mais
danoso em suas consequências porque, ao pecar contra um maior conhecimento, o
líder tem uma queda mais escandalosa.
Finalmente, o espelho precisa ser iluminado. Sem luz, mesmo que
tenhamos espelho e olhos, ainda assim ficarmos imersos em trevas espessas. Deus
é luz. Sua Palavra é luz. Sempre que um líder se afasta de Deus e da sua
Palavra a sua luz apaga-se e todos aqueles que o miravam ficam perdidos e
confusos.
A crise avassaladora que atinge a sociedade também alcança a
igreja. Embora estejamos assistindo a uma explosão de crescimento da igreja
evangélica brasileira, não temos visto a correspondente transformação na
sociedade. Muitos pastores, no afã de buscar o crescimento de suas igrejas, abandonam
o genuíno evangelho e rendem-se ao pragmatismo que prevalece na cultura pós
moderna. Não pregam todo o conselho de Deus, mas doutrinas engendradas pelos
homens. Não pregam as Escrituras, mas as revelações de seus próprios corações,
fazendo do púlpito um balcão de negócio, uma praça de barganha, governando as
ovelhas de Cristo com dureza e rigor.
A crise teológica e doutrinária deságua na crise moral, uma crise
que, como bem disse Dietrich Bohoeffer, transforma a graça de Deus em graça
barata, justificando o pecado e não o pecador. A graça barata é a pregação do
perdão sem arrependimento do pecador, é o batismo sem disciplina eclesiástica,
é a comunhão sem confissão de pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A
graça barata é a graça sem discipulado, sem cruz e sem Jesus Cristo Vivo e
encarnado.
1. A VIDA DO
MINISTRO É A VIDA DO SEU MINISTÉRIO
Uma das áreas mais importantes da pregação é a vida do pregador.
John Stott afirma que a prática da pregação jamais pode ser divorciada da
pessoa do pregador. A pregação com consistente exegese, sólida teologia e
brilhante apresentação não glorifica a Deus, não alcança os perdidos, nem
edifica os crentes sem um homem santo no púlpito.
O que nós precisamos desesperadamente nestes dias não é apenas de
pregadores eruditos, mas sobretudo, pregadores piedosos. Piedade é um caminho
de vida. Isto inclui vida domestica e relacionamento do marido com a esposa e
do pai com os filhos (1Tm 3.5). Assim um ministro sem piedade não tem
autoridade para pregar o santo evangelho. Não atrai pessoas para a igreja,
antes as repele, não construindo pontes para aproximar-se das pessoas, mas
abismos que as afasta do Senhor.
O pregador não sobe ao púlpito para entreter ou agradar seus
ouvintes, mas para anunciar-lhes todo o desígnio de Deus. Sem pregação fiel não
há santidade, sem santidade não há salvação, pois sem santidade ninguém verá a
Deus. Há muitas igrejas cheias de pessoas vazias e vazias de pessoas cheias de
Deus, porque os pastores estão produzindo discípulos que se conformam com sua
própria imagem e semelhança, cheios de motivações hipócritas e egocêntricas
isso gera como resultado sermões secos e sem vida.
2. FOME POR
DEUS
O pregador deve ser prioritariamente um homem de oração e jejum. O
relacionamento do pregador com Deus é a insígnia e a credencial do seu
ministério público. O pastor Paulo Anglada ao citar Thomas Murphy em seu livro
“Introdução a Pregação Reformada” faz a seguinte afirmação: Há dois lugares
onde, sem ser visto pelo mundo, o pregador recebe força e habilidade para a
obra monumental a que foi ordenado, o quarto de meditação e o gabinete de
estudo, primeiro o quarto aonde se cultiva o coração e depois o gabinete onde
se cultiva a cabeça. É a regra de vida da qual o ministro do evangelho jamais
deveria se afastar”.
O Espirito de Deus não inspirará um homem sem que ele próprio se
esforce, pois o Espirito opera através do uso diligente de meios humanos.
Spurgeon declara que nós somos, em certo sentido, as nossas próprias
ferramentas e, portanto, devemos guardar-nos em ordem. Nosso espírito, alma,
corpo e vida interior são as nossas mais íntimas ferramentas para o serviço
sagrado. A chave para uma robusta pregação poderosa é uma robusta piedade
pessoal.
A oração precisa ser prioridade tanto na vida do pregador quanto
na agenda da igreja. A profundidade de um ministério é medido não pelo sucesso
diante dos homens, mas pela intimidade com Deus. Spurgeon conclui que “se uma
igreja não ora ela está morta”. Muitos pregadores pregam sermões eruditos,
porem sem poder do Espirito Santo. Eles tem luz na mente, mas lhes falta fogo
no coração. Para Jesus a oração era mais
importante do que o sucesso no ministério. Os maiores e mais conhecidos pregadores
da historia foram homens de oração.
Outro habito importante para um ministério de pregação abençoado e
abençoador é o jejum, ele é um importante exercício espiritual. Se desejamos
pregas com poder, o jejum não pode ser esquecido em nossa vida devocional. Há
um apetite por Deus em nossas almas. Deus colocou a eternidade em nosso coração
e somente ele pode satisfazer essa nossa necessidade. John Piper define o jejum
como fome de Deus, ele fala que o maior inimigo da fome de Deus não é o veneno
mortífero, mas uma torta de maçã. O maior adversário do amor de Deus não são
seus inimigos, mas seus dons e os mais mortíferos apetites não são pelos
venenos do mal, mas pelos simples prazeres da terra.
3. FOME PELA
PALAVRA DE DEUS
É impossível ser um pregador bíblico eficaz sem que haja profunda
dedicação aos estudos. “O pregador deve ser um estudante.”
John MacArthur diz que um pregador deve ser um diligente estudante
da Escritura, o que João Calvino reforça ao dizer que o pregador precisa ser um
pesquisador. Spurgeon escreve que, “aquele que cessa de aprender cessa de
ensinar, aquele que não semeia nos estudos, não colhe nos púlpitos”.
O pregador enfrenta o constante perigo da preguiça dentro das
quatro paredes de seu escritório. A ordem do apostolo Paulo é sumamente
pertinente: “procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do
que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
A Bíblia é o grande e inesgotável reservatório da verdade cristã,
uma imensa e infindável mina de ouro. John Wesley revelou o seu compromisso com
a Escritura, ao dizer: “Oh! Dá-me o livro. Por qualquer preço, dá-me o livro de
Deus! Nele há conhecimento para mim, Deixe-me ser o homem de um só livro!”
Em seu livro da série Um
perfil de homens piedosos aonde fala sobre o zelo evangelístico de George
Whitefield, o Rev. Steven J. Lawson vai fazer a seguinte análise sobre a
imersão nas Escrituras de George:
“A devoção
espiritual de Whitefield foi estabelecida sobre seu compromisso inabalável com
a Bíblia. Uma vez que se converteu, a Escritura imediatamente tornou-se seu
alimento necessário e acendeu o fogo de sua alma por Deus. Quanto mais se
imergia na Bíblia, mais profunda era sua dedicação por conhecer a Deus e promover
o seu reino.”
O pregador precisa ler não apenas a Palavra,
como também o mundo ao seu redor; precisa ler o texto antigo e a nova sociedade
a sua volta. John Stott comenta que “nós devemos estudar tanto o texto antigo
quanto a cena moderna, tanto a Escritura quanto a cultura, tanto a Palavra
quanto o mundo.
Martyn Lloyd-Jones recomenda que cada
pregador deve ler toda a Bíblia pelo menos uma vez por ano. Além da Bíblia,
todo pregador deve ser um serio estudante de teologia enquanto viver. Deve
também estudar historia da igreja, biografias, apologética, bem como outros
tipos de leituras. Deus mesmo promete dar lideres a sua igreja (Jr. 3.15). Se
os pregadores não forem homens de conhecimento, jamais poderão realizar o
ministério de ensino e instrução ao povo de Deus.É impossível ter graça no
coração e luz na mente. É impossível ter experiências gloriosas sem o
conhecimento das Escrituras.
A Palavra de Deus é eterna, não muda, não se
torna ultrapassada nem desatualizada. Ela foi o instrumento que Deus usou para
trazer grandes reavivamentos na história. A Palavra de Deus produziu a reforma
nos dias do rei Josias. Semelhantemente, a Palavra de Deus trouxe vida a Israel
quando a nação era como um vale de ossos secos. A Palavra de Deus produziu uma
grande restauração nos dias de Esdras e Neemias. Em Jerusalém, o reavivamento
espalhou-se quando a Palavra de Deus foi proclamada com o poder do Espirito
Santo. Quando a Palavra de Deus foi proclamada pelos crentes, o reavivamento
espalhou-se para além das fronteiras de Jerusalém (At 8. 1-4). O reavivamento
de Éfeso foi resultado do crescimento da Palavra de Deus (At 19.20).
Devemos orar para que os pregadores sejam
homens da Palavra! Os pregadores precisam desesperadamente retornar a Palavra
de Deus. Todo pregador precisa ter paixão pela Palavra de Deus. Ele deve lê-la,
conhece-la, obedecer a ela e pregá-la com autoridade, no poder do Espirito
Santo.
Em seu livro sobre a soberania de Deus na
pregação, John Piper faz uma análise sobre a pregação Jonathas Edwards mostrando
10 características marcantes deste que foi um dos maiores avivalitas na
historia da igreja e que serve de desafio para a nossa geração de pregadores,
observemos a seguir:
·
Desperte sentimentos santos:Uma boa pregação tem como objetivo encorajar “emoções santas” tais como
ódio do pecado, deleite em Deus, esperança em suas promessas, gratidão por sua
misericórdia, desejo de santidade e compaixão terna.
·
Ilumina as mentes: É crucial levar luz a mente porque os sentimentos que não são
provenientes de seu entendimento da verdade não são afetos santos.
·
Sature com as Escrituras: Afirmo que uma boa pregação é “saturada com as Escrituras” e não
“baseado nas Escrituras”, pois as Escrituras são mais (e não menos) do que a
base para uma boa pregação.
·
Empregue analogias e imagens: A experiência e as Escrituras nos revelam que o coração é tocado de
forma poderosa, não quando a mente se encontra absorta em ideias abstratas, mas
quando é preenchida com imagens vividas da realidade estupenda.
·
Use ameaças e advertências: Edwards conhecia seu inferno, mas melhor ainda seu céu. Boas mensagens
bíblicas incluem advertências a congregação.
·
Peça uma resposta: Não somos meramente passivos, nem Deus faz alguma coisa e nós, o
resto. Deus faz tudo, e nós fazemos tudo. Deus fornece tudo, e nós desempenhamos
tudo. Porque é isto que ele produz, a saber nossas próprias ações.
·
Sonde as operações do coração: A pregação poderosa é como uma cirurgia. Sob a unção do Espirito
Santo, ela localiza, perfura e remove a infecção do pecado.
·
Submeta-se ao Espirito Santo em Oração: O pregador deve labutar em oração para colocar sua pregação sob a
influência divina.
·
Tenha um coração quebrantado e
compassivo: Uma boa pregação procede de um espirito
quebrantado e dócil. Apesar de toda sua autoridade e poder, Jesus era
cativante, pois era manso e humilde de coração.
·
Seja intenso: Uma pregação que compele os ouvintes produz a impressão de que algo
grandioso está em jogo. Com a visão de Edwards sobre a realidade do céu e do
inferno, e da necessidade de perseverar em uma vida de santos afetos e piedade,
a eternidade estava em jogo no domingo.
Tais características nos mostram não
somente as qualidades de Edwards como grande pregador, como também seu
comprometimento pessoal com a causa do evangelho. Uma boa pregação começa a
partir de uma vida regenerada, esta verdade é fundamental, principalmente em
tempos de crise nos púlpitos, aonde muitos tem transformado o anuncio das boas
novas do evangelho e mero discurso religioso motivado, ou por uma
espiritualidade espetaculosa, ou por uma erudição morta em suas tradições e
dogmas, visando sua autopromoção e o famigerado mercadejamento da fé.
Precisamos como pregadores do Evangelho
da Cruz, levar em consideração os conselhos do apostolo Paulo aonde ele diz que
devemos não somente nos auto examinar como ter cuidado conosco mesmo e com a
doutrina (Sagradas Escrituras) para que a nossa vida fale mais alto do que o
nosso discurso.