Introdução
Na
mesma proporção em que valorizamos o evangelho, sejamos zelosos em
segurar as línguas [bíblicas]. Pois não foi sem propósito que Deus fez
com que Suas Escrituras fossem estabelecidas nessas duas línguas somente
– o Antigo Testamento em Hebraico1,
o Novo em Grego. Agora, se Deus não desprezou-as mas escolheu-as sobre
todas outras línguas deste mundo, então nós também deveríamos honrá-las
sobre todas as outras. S. Paulo declarou era uma glória peculiar e
distinta do hebraico, o fato de que a Palavra de Deus foi dada nesta
língua, quando ele disse em Romanos 3, “Que vantagem ou lucro têm os que
são circuncidados? Muitos em muitas coisas. Primeiramente porque a
Palavra de Deus foi confiada a eles.” O Rei Davi também gloria-se no
Salmo 147, “Ele declara sua Palavra a Jacó, seus estatutos e ordenanças a
Israel. Não fez assim com nenhuma outra nação ou revelou a elas suas
ordenanças”. Desta forma, também, A língua hebraica é chamada sagrada. E
S. Paulo, em Romanos 1, chama-a “as santas escrituras”, certamente
levando em conta a santa palavra de Deus a qual é aqui compreendida.
Similarmente, a língua Grega também pode ser chamada sagrada, porque ela
foi escolhida sobre todas as outras como a língua na qual o Novo
Testamento foi escrito, e porque por isso outras línguas também tem sido
santificadas como se o Grego estendesse sua santidade a elas como uma
fonte em meio a tradução. (Martinho Lutero. The Importance das Línguas Bíblicas. Tirado de: To the Councilment of All Cities in Germany That They Estabilish and Maintain Christian Schools” (1524)).2
Eclesiastes 3.1
`~yIm"V'h; tx;T;î#p,xe-lk'l. t[ew> !m"z> lKol;
laKKöl zümän wü`ët lükol-Hëºpec TaºHat haššämäºyim
Há para tudo tempo específico e momento, Há para tudo, vontade debaixo dos céus
Daniel 4.32
`HN:)nIT.yI aBec.yI yDI-!m;l.W av'n"a] tWkl.m;B. ay"L'[i jyLiv;-yDI( [D:n>ti-yDI( d[;
`ad Dî|-tinDa` Dî|-šallî† `illäyä´ Bümalkût ´ánäšä´ ûlüman-Dî yicBë´ yiTTüninnah 3
...até que conheças que o poder [é] do Altíssimo no reino do homem e a quem quiser dará
Gálatas 4.4
o]te
de, h=lqe to. plh,rwma tou/ cro,nou evxape,steilen o` Qeo.j to.n Ui`o.n
auvtou/ geno,menon evk gunaiko,j geno,menon u`po. no,mon
hóté dé êlthé tó plêróma tú chrónu éksapéstéilén hó Théós tón Huión autú guénóménon ék guinaikós guenóménón hypó nómón
quando, porém, ao chegar a plenitude do tempo, enviou Deus o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob lei...
Todos
esses textos indicam o senhorio de Deus sobre a história humana, todos
os acontecimentos estão no controle e sob a direção Dele. Principalmente
em Gl 4.4 entendemos que o acontecimento de maior importância
histórica, o nascimento de Jesus, a encarnação do verbo se deu no que o
apóstolo chama de Plenitude do Tempo (to. plh,rwma tou/ cro,nou tó plêróma tú chrónu), embora essa expressão ainda seja motivo de debate4, a idéia mais importante é que o nascimento de Cristo é o cumprimento (to. plh,rwma tó plêróma), a completude, do tempo (tou/ cro,nou tú chrónu).
A visão do Antigo Testamento é que Deus tem um tempo determinado para
todas as coisas e tudo se cumpre conforme o tempo de Deus, em termos
escatológicos, há um tempo determinado para o cumprimento dos propósitos
redentores de Deus. O momento escatológico mais importante nessa visão é
a vinda do Messias, o Cristo, o ungido de Deus. Esse é o tempo exposto
por Paulo, denominado de Plenitude do Tempo.
Não
temos escritos inspirados antes de Moisés, embora o próprio Moisés
possa ter recebido as tradições sobre o Gênesis e as histórias
patriarcais de forma escrita5 , de qualquer forma, Deus não escolheu nenhuma dessas línguas pré-mosaicas para inspirar suas Escrituras Sagradas6,
mas no momento preciso da história, quando o hebraico já era língua
desenvolvida, Deus utilizou-se de Moisés como instrumento de sua
inspiração, e a língua escolhida foi o hebraico.7
1.1 o hebraico bíblico
O hebraico bíblico8
tem características peculiares para o tipo de revelação necessária para
aquele momento histórico, é uma língua objetiva na sua construção
nominal, ou seja, possui poucas construções adjetivais, tornando a
expressão linguística mais direta e menos subjetiva; a ênfase da língua
está em suas construções verbais de profunda riqueza estilística e
características próprias inigualáveis.
O verbo no hebraico bíblico possui nuanças inexistentes em outras
línguas o que a torna sui generis, somente após alguns anos de estudo é
que se pode entender as peculiaridades dessa língua e as aplicações da
mesma na interpretação e aplicação da mensagem do Antigo Testamento.
Essas características tornaram a mensagem bíblica do AT muito direta, clara e precisa, evitando que a subjetividade humana9 interferisse na compreensão dessa mensagem e preparando o caminho para a vinda do Messias.
1.2 o aramaico bíblico
Quanto ao aramaico bíblico10, somente pequenas porções das Escrituras Sagradas foram escritas nesse idioma, Gn 31.47 (duas palavras); Jr 10.11; Dn 2.4-7.28; Ed 4.8-6.18;
7.12-26; contudo, há um misto de influências aramaicas em algumas
outras construções estilísticas e de vocabulário do hebraico bíblico.
O aramaico bíblico mantém as peculiaridades do hebraico bíblico com
algumas diferenças gramaticais, vocabulares e de estilo. Foi usada em um
período em que a língua aramaica era a língua franca de comunicação
internacional, como depois viria a ser o grego koiné. Tem importância
principalmente escatológica, principalmente nos texto de Daniel, mas sua
abrangência envolve o entendimento de várias outras passagens da Bíblia
Hebraica e ainda no estudo das construções, vocabulário, sintaxe e
outras influências linguísticas no grego do NT.11
1.3 O grego do Novo Testamento
O grego do Novo Testamento12,
chamado de koiné ou helenístico, era a língua usada pelo império grego e
depois absorvida pelo romano como língua internacional. Foi a língua
usada na revelação das Escrituras Sagradas do Novo Testamento13.
Embora compartilhe de todas as características do grego koiné de sua
época e posteriores, possui outras peculiaridades distintas de outras
literaturas em koiné.
Algumas observações sobre essas peculiaridades são óbvias; todos os escritores do NT, exceto Lucas14,
são judeus, dessa forma, ainda que tenham escrito em koiné suas formas
de pensamento e língua materna era o aramaico e sua influência teológica
e também linguística-escriturística era o hebraico bíblico; tais
características são claramente perceptíveis em um estudo mais detalhado
no grego do NT.15
Observando o que foi dito acima, o grego do NT mantém muitas das
características linguísticas do hebraico e aramaico bíblicos, mas usa
também das particularidades específicas da língua grega, ou seja, o
conceito de casos, ausente no hebraico e aramaico bíblico é utilizado no
grego do NT como expressão precisa e ampla de significados. Também o
sistema verbal do grego do NT é profundo em sentidos de ação verbal,
tornando a mensagem do Evangelho Cristo profunda e marcante.
- As línguas bíblicas como veículo de compreensão da mensagem divina
A Bíblia é a mente do Altíssimo expressa em linguagem humana e se
queremos entender a mente de Cristo precisamos entender a linguagem em
que ela está expressa. As traduções da Bíblia permitem a todos o acesso
ao conhecimento da vontade de Deus para o homem, suas lições,
mandamentos, ações na história. Mas pelo fato de Deus ter escolhido as
línguas originais (grego, hebraico e aramaico) como instrumentos de
comunicação, são essa línguas que precisam ser entendidas para se
entender precisamente o que o Senhor quis nos ensinar nas Escrituras.
Muitos fazem um uso errado das línguas originais, utilizam dela para
demonstrar conhecimentos, ostentar status social, desenvolver ensinos
duvidosos16
e até promover facções e heresias. Outros pensam ser desnecessário o
uso dos estudos das línguas originais já que temos traduções confiáveis e
muitos comentário exegéticos já foram feitos, basta consultá-los.
Há ainda aqueles que querem escolher o caminho mais fácil e dizem que
muito estudo teológico não leva a nada, um discurso que na verdade
esconde preguiça e desleixo com a aplicação e esmero na dedicação ao
ministério.17
Mas se entendermos o estudo das línguas originais como necessidade de
entendimento, com precisão, da mensagem divina, talvez nos apliquemos
mais ao estudo e deixemos de lado as desculpas “esfarrapadas”. Então
conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a
alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que
rega a terra. (Os 6.3).
As línguas originais possibilitam um entendimento mais profundo da
mensagem divina e um contato mais de perto com a cultura e pano de fundo
histórico dos autores e leitores dessa mensagem, possibilitando assim
uma maior facilidade de transmissão e aplicação dessa mensagem em nosso
viver diário, em nossa pregação e ensino.
- A compreensão das línguas bíblicas como instrumento apologético
É notório que as seitas se utilizam em larga escala das línguas
bíblicas para defender suas ideias e falsos ensinos. Embora o uso que
fazem dessas línguas seja ingênuo e desvirtuado, acaba por ser um
instrumento para engano do incautos e neófitos e algumas vezes até dos
mais conhecedores e experientes, que desconhecendo as línguas originais
também se deixam levar pelos argumentos dos líderes dessas seitas.
Quem nunca se deparou com um TJ à porta de sua casa utilizando-se dos
“originais” para alegar que as nossas traduções estão erradas e a deles é
a mais correta porque no “original” é assim ou assado. Como uma grande
parte das pessoas desconhecem esse tal “original” não têm como responder
às alegações desses russellitas e a discussão pende para o lado deles.18
Adventistas, discípulos de Yehoshua, homossexuais e espíritas19 utilizam-se das línguas bíblicas para validar seus discursos contra a interpretação de textos feita pelos evangélicos.
Vejamos alguns exemplos:
SILVA (2002, p. 84) diz o seguinte:
~yti(Meh;-la, vrEÞdow> = Vedorêsh el-hametim20 (significa e quem exija a presença dos “mortos”):
A maioria traduz dorêsh él-hametim como consulta aos “mortos”, no entanto, acima já existe o verbo consultar (shoel) utilizado antes das palavras “necromantes e adivinho”. Porém, antes da palavra “mortos” observe que o verbo muda para (lidrôsh) e o primeiro significado do verbo lidrôsh, em hebraico, é EXIGIR, daí, a tradução correta do texto se: exigir a presença dos mortos. Se este verbo tivesse o mesmo significado de consultar, não teria razão de, no versículo, o autor sagrado troca o verbo “shoêl por dorêsh” antes da palavra “hametim”, (mortos).
O
argumento parece consistente, mas a falácia está em escolher uma das
possíveis traduções de um verbo para defender a doutrina, mas façamos
uma breve análise do texto:
Deuteronômio 18.11
`~yti(Meh;-la, vrEÞdow> ynIë[oD>yIw> ‘bAa laeîvow> rb,x'_ rbEßxow>
Possíveis traduções:
[nem
com] o que ajunta um encantamento e [nem com] o que consulta (o que
pergunta, o que requer, o que pede) espírito familiar (era considerado
um tipo de magia, necromante) e [nem com] o que é sábio (do tipo que usa
de conhecimentos para entrar em contato com o mundo invisível) e [nem
com] o que procura (consulta, investiga, inquire, investiga) os mortos.
A versão grega Grega do AT (chamada Septuaginta ou LXX)21 traduz a expressão ~yti(Meh;-la, vrEÞdow> como ...evperwtw/n tou.j nekrou,j (dos consultadores, questionadores, buscadores dos mortos e a versão latina do AT (chamada Vulgata) traduz a mesma expressão como ...et quaerat a mortuis veritatem (os
que buscam, procuram dos mortos a verdade). Não há como negar a
proibição de qualquer contato com os mortos no texto. É evidente que
haviam variações de práticas religiosas de consulta aos mortos,
entretanto, a Bíblia proíbe todas as formas, o que inclui hoje os vários
tipos de espiritismo e qualquer outra religião que queria praticar
isso.
Outro exemplo, os Tjs fazem a seguinte tradução do texto de João 1.1:
No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus, e a Palavra era [um] deus.22
Esequias Soares da SILVA (2007, p. 123), diz sobre a justificativa dessa tradução dada pelos Tjs no Apêndice da Interlinear do Reino, edição de 1969 23,
Razão pela qual eles vertem a palavra grega para “divino” e não “Deus”, é porque se trata de substantivo grego theos sem o artigo definido, portanto, um theos anartros. O Deus com quem estava originalmente a Palavra ou Logos é designado aqui pela expressão grega o` Qeo,vj theos precedido pelo artigo definido ho, portanto, um theos articular.
Tradutores cuidadosos reconhecem que a construção articular do
substantivo aponta para uma identidade, uma personalidade, enquanto que
uma construção não articular uma qualidade acerca de alguém. Isso é o
que indica A Manual Grammar of the Greek New Testament por
Dana e Mantey, faz notar na página 140, parágrafo vii. De igual modo,
na página 148, parágrafo (3), diz esta mesma publicação, a respeito do
sujeito duma oração copulativa que, por vezes, numa oração copulativa o
artigo torna o sujeito distinto do predicativo.
O texto original é como segue:
VEn avrch/| h=n o` lo,goj( kai. o` lo,goj h=n pro.j to.n qeo,n( kai. qeo.j h=n o` lo,gojÅ
O argumento acima exposto pelos Tjs é que por não haver o artigo o` (hó) antes do substantivo qeo.j (Théós), justifica a tradução um deus.
Pela lógica dos Tjs sempre que se omite o artigo deve-se subentender
que não se trata do único Deus e deve-se colocar o artigo indefinido um.
Também parece um argumento razoável, mas é da mesma forma uma falácia, vejamos, em Jo 1.6 a Tradução do Novo Mundo traz:
Surgiu um homem enviado como representante de Deus: seu nome era João.24
O original traz:
VEge,neto a;nqrwpoj avpestalme,noj para. qeou/( o;noma auvtw/| VIwa,nnhjÅ
Nessa passagem, também não há artigo25 antes de Théós e mesmo assim os Tjs não traduziram da parte de um deus. Percebe-se a falácia da seita para tentar encontrar subsídio para suas ideias heréticas.26
Por meio desses exemplos fica evidente que os que não se dedicarem ao
estudo das línguas originais estarão desarmados no debate e na
evangelização de grupos sectários e em alguns casos serão até
envergonhados.
Há uma frase muito profunda do Instituto Cristão de Pesquisas: Vamos fazer pela verdade o que as seitas fazem pela mentira.
- A compreensão das línguas bíblicas como instrumento de ensino do Evangelho de Cristo
Todos os que ensinam Bíblia sabem das dificuldades de alguns textos e
vez por outra nos sentimos constrangidos pelos alunos a responder
questões a respeito do significado de certas passagens obscuras ou
polêmicas. O conhecimento da hermenêutica ajuda a resolver grande parte
dos problemas, mas uma hermenêutica sem as línguas originais é uma
hermenêutica “caolha”, resolve alguns problemas e às vezes cria outros
dois, como no mito grego da hidra
A hermenêutica com o conhecimento das línguas originais ajuda-nos a minimizar os problemas de interpretação27 e a resolver algumas dúvidas de nossos alunos na Escola Dominical ou em qualquer tipo de ensino.
Temos hoje uma infinidade de versões da Bíblia, alguns acham um avanço
na compreensão dos textos bíblicos, eu creio ser um problema para os
professores e pastores. A falta de concordância nas versões torna
difícil o ensino na igreja. Quem nunca teve algum tipo de problema com
algum aluno dizendo: “pastor, na minha Bíblia está diferente.” É quando
lembramos da necessidade de ter estudado as línguas originais.
MOREIRA (2009, in: http://teo-filo-lit-wm.blogspot.com/2009/07/por-que-estudar-as-linguas-biblicas.html28) faz uma importante reflexão sobre essa questão:
A
primeira razão é porque, existindo mesmo muitas e boas traduções,
quando elas diferem entre si, como se saberá com precisão qual delas
reflete melhor o texto original? Isto não é simplesmente um assunto que
se resolva com uma votação para que a escolha da melhor tradução fique à
mercê de uma maioria. Uma comunidade cristã espera que o seu líder
esteja habilitado para ajudá-la a compreender o texto. Daí a necessidade
do exegeta saber avaliar qual a melhor ou melhores traduções.
Cada dia mais isso é uma verdade, em uma mundo de alta tecnologia e de
muitos avanços em todas as áreas da ciência, o crescimento da quantidade
de informação disponível e a facilidade de acesso às multimídias dos
tempos pós-modernos. Tudo isso traz ao ensinador cristão uma necessidade
de preparo cada vez maior e direta ou indiretamente os membros das
igrejas exigem de seus discipuladores a capacitação inerente ao
exercício do cargo.
- A compreensão das línguas bíblicas como instrumento homilético na pregação do Evangelho de Cristo
Os pregadores expositivos estão em extinção, aliás, os pregadores estão
em extinção. O que temos são contadores de histórias (verdadeiros
Forest Gumps da fé), curandeiros, brincalhões, contadores de piadas
evangélicas, marqueteiros da fé, vendedores de ilusões, místicos da
música, da pregação, um verdadeiro show da fé.29
Não estamos nem exigindo profundos pregadores exegetas, já que a
velocidade da vida atual impede que nos dediquemos como “spurgeons”, e
poucas igrejas conseguem na atualidade bancar um pastor integralmente
com um salário digno.30
Os padrões de pregação estão em baixa, não se ensina a Bíblia, os
ministros não a leem e muito menos os membros. A pregação não é mais uma
“feijoada” em que possamos sair de nossas igrejas de barriga cheia,
está mais próxima de um “miojo” ou comida de micro-ondas, não é mais
aquela comida da mamãe ou da vovó, é o self-service da fé em que você
pode escolher que tipo de alimento quer.
O padrão de pregações está em um nível tão baixo que quando alguém usa
um texto qualquer e prega um sermão tópico, muitos já se sente
alimentado, pois já é um “miojo” com uma lata de sardinha. Não sustenta
mas pelo menos já engana o estomago. O profeta Oseias nos diz:
O
meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu
rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas
sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus,
também eu me esquecerei de teus filhos. (Os 4.6)
A ênfase desse texto sempre é dada na questão do povo não conhecer, mas
no contexto da passagem a ênfase é sobre o sacerdote que rejeita o
conhecimento, visto que os sacerdotes e levitas eram responsáveis pelo
ensino da Palavra do Senhor ao povo; na época de Oseias o ministério
sacerdotal estava corrompido pela corrupção moral e espiritual31,
assim, pelo fato do sacerdote rejeitar o conhecimento isso gerava um
povo sem conhecimento bíblico, o texto original deixa claro que o
resultado da falta de conhecimento do povo é a rejeição da busca de
conhecimento pelo sacerdote.
Alguns entendem erroneamente os objetivos da compreensão dos textos
originais para a pregação, pensam que devem aprender o grego, aramaico e
o hebraico para ficar pronunciando palavras estranhas para seu público,
longe disso.
A importância do estudo das línguas originais não é uma forma de
demonstração de conhecimento, nem mais uma ferramenta para insuflar o
ego; estudamos as línguas originais para compreender a mensagem original
do autor sagrado, para saber como os ouvintes daquela mensagem a
entenderam e quais as aplicações dessa mensagem sagrada para nossa vida
prática hoje.
Muitos acham que é extremamente trabalhoso preparar uma mensagem
expositiva com base nas línguas originais e o tempo gasto seria inviável
e impossível de realizar semanalmente. Em parte concordamos, mas a
verdade é que ao preparar uma mensagem expositiva com base nas línguas
originais teremos material para vários sermões e ainda sobra para muitos
estudos.
O maior benefício, entretanto, da pregação expositiva com base nos
textos originais é o crescimento espiritual do pregador e da igreja na
qual ele exerce seu ministério, uma igreja bem alimentada tem menos
problemas em todas as áreas; uma igreja “raquítica” de Bíblia inventa
problemas.
- A compreensão das línguas bíblicas como instrumento de reflexão teológica
A quantidade de material de reflexão teológica em terras brasileiras é
vergonhosa, estamos começando a ler materiais publicados há cerca de 100
anos atrás (é o caso da Teologia Sistemática de Strong).
Em vias de normalidade lemos reflexões teológicas e material de
qualidade em todas as áreas do conhecimento com cerca de 5 anos de
atraso e é muito simples fazer essa verificação, basta pegar qualquer
livro de Teologia ou outra área do conhecimento e verificar o ano de
copyright do original e o ano de publicação em português. Graças a Deus
esse atraso tem diminuído em alguns casos para 2 ou 3 anos.
Quando queremos nos aprofundar em qualquer área do conhecimento temos
que aprender o inglês, francês ou alemão, línguas nas quais estão
escritas ou traduzidas as maiores e melhores obras do conhecimento
humano e na área teológica as principais obras estão em inglês.
Por que a realidade é essa? São várias as respostas. Primeiro, teólogos
americanos, ingleses e alemães são muito melhor preparados nas escolas
teológicas de alta qualidade e nível universitário elevados. Segundo, é
possível ser teólogo nos Estados Unidos e na Alemanha e sobreviver com a
renda da profissão, enquanto que no Brasil poucos são os teólogos que
têm o privilégio de poderem se dedicar em tempo integral à produzir
material acadêmico, muitas vezes temos que ser professores, escritores,
pastores e juntando todos os salários conseguimos só pagar as contas
rotineiras.32
A compreensão das línguas originais, entra aqui como um subsídio eficaz
na produção de material teológico de qualidade, com profundidade
reflexiva. Caso não formemos conhecedores das línguas originais, seremos
cada vez mais dependentes de material estrangeiro e termos uma reflexão
teológicas de segunda ou terceira mão.
Poucas editoras brasileiras produzem material nacional de qualidade
acadêmica e com uso correto das línguas originais da Bíblia. Fazendo um
ranking básico temos: Cultura Cristã (Presbiteriana, em geral ortodoxa),
com material nacional de alta qualidade nas línguas originais, quase
isento de erros; Vida Nova (Batista de linha tradicional, em geral
ortodoxa) no mesmo nível; Editora Vida (Interdenominacional, geralmente
ortodoxa, mas com alguns materiais de linha liberal); IBR (Batista,
também de linha tradicional ortodoxa) material de alto nível e Sociedade
Bíblica do Brasil (Interdenominacional, em geral liberal).
As outras editoras, em geral, fazem má tradução de obras estrangeiras e
“assassinam” as línguas originais, há dicionários de línguas bíblicas
que saíram com o alfabeto hebraico completamente errado, palavras
escritas de forma errada, etc, etc.
Só poderemos produzir material teológico de alto nível quando essas
questões forem resolvidas ou pelo menos minimizadas, caso contrário
continuaremos conhecidos como a terra do samba, do futebol e de lindas
mulheres, mas sem nenhum conteúdo importante para as futuras gerações.
- Mais nobres que os demais – o caso bereano e o filtro teológico
Ora,
estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a
palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para
ver se as coisas eram, de fato, assim. (At 17.11)
Há
uma última questão importante, que tipo de crentes queremos ser, os de
Tessalônica, que se converteram e viviam sua vida cristã com
dificuldades por causa de sua dificuldade de entender a mensagem do
Evangelho33 ou seremos bereanos, mais nobres34 que os demais.
A
mediocridade faz parte da mentalidade pós-moderna, em todas as áreas, o
amor ao dinheiro tornou o homem contemporâneo refém do pragmatismo
mercadológico, produtor de resultados instantâneos e lucrativos.
Queremos clicar e ver as coisas acontecer, aliás, não queremos nem mais
clicar, a moda agora é o touch screen,
ou seja, tocar na tela, pois o mouse demora muito. Os novos videogames
percebem nosso movimento e repetem nos jogos. A tecnologia de comandos
de voz já é presente e será cada vez mais. Não precisaremos mais
digitar, programas já entendem o que falamos e transportam para o editor
de textos. Não pesquisamos mais em livros, existe o google para
pesquisar para nós, e nos limitamos aos 10 primeiros links.
Há quantidade assombrosas de informação, só no meu computador tenho
informação que não conseguirei absorver nos próximos 10 anos. Mas
quantidade de informação não é igual a conhecimento, e conhecimento não é
igual a aplicação de conhecimento e vida cristã autêntica.
Precisamos ser e formar os formadores de opinião que sejam espécies de
filtros teológicos para uma igreja cheia de informação mas vazia de
conteúdo moral e espiritual. A compreensão das línguas bíblicas permitem
que compreendamos o texto bíblico e sejamos os bereanos da era
pós-moderna.
Conclusão
Fique
claro que não esperamos que todos os líderes, pastores, obreiros e
professores de nossas igrejas sejam profundos conhecedores da línguas
originais da Bíblia (embora seja evidente que precisaremos que alguns
com vocação possam ser). Esperamos sim que eles tenham conhecimento
suficiente para:
- Compreenderem corretamente a mensagem divina;
- Serem ensinadores profundos da mensagem divina;
- Serem pregadores produtores de alimento saudável para a Igreja de Cristo;
- Serem apologistas eficazes contra os argumentos das seitas;
- Produzir reflexão teológica de qualidade;
- Serem mais nobre que os demais.