A VISÃO DO TRONO DE DEUS (APOCALIPSE 4.1-11)



Depois de terminar as cartas aos anjos das sete igrejas, João passa para uma nova parte da revelação. Os capítulos 4 e 5 mostram a glória de Deus, apresentando primeiro o Pai no seu trono e, depois, o Filho glorificado ao lado dele. A cena nestes dois capítulos pode ser comparada especialmente com a de Daniel 7:9-14.

4:1 – Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas.

Depois destas coisas, olhei: Chegamos a uma transição na mensagem do Apocalipse. Jesus já ditou as suas cartas a cada uma das sete igrejas. O resto do livro pertence a todas elas e, obviamente, serve para a instrução de outros discípulos em outros lugares e em outras épocas.
João olhou e viu, frisando novamente a natureza desta revelação. Deus continuou mostrando visões ao apóstolo.
Uma porta aberta no céu: Que privilégio! João viu uma porta aberta dando-lhe acesso ao céu! Aqui a ênfase não está no acesso ao céu em termos da salvação final e eterna dele, nem no sentido de entrar em comunhão com Deus (sentidos encontrados em trechos como João 1:51; Atos 7:55-56; veja também Efésios 2:6; Filipenses 3:20). João viu o céu aberto porque Deus queria lhe mostrar as coisas que estavam acontecendo lá (compare Ezequiel 1:1). Jesus já falou, transmitindo-lhe mensagens importantes para as igrejas. Agora, João subirá ao céu, nestas visões, para buscar outras mensagens para os servos do Senhor na terra.
A primeira voz que ouvi, como de trombeta: A mesma voz de 1:10. Naquele trecho, João virou para ver quem falava e viu Jesus no meio dos candeeiros.
Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas: O Filho de Deus convida João para ver, no céu, as coisas que iam acontecer. Em 1:19, ele falou para João escrever o que ele viu, o que estava acontecendo naquele momento, e o que ia acontecer depois. Tudo isso ainda está dentro dos limites de tempo de “em breve” e “próximo” (veja comentários na segunda lição sobre limites de tempo). Jesus já falou sobre o estado das igrejas naquele momento (capítulos 2 e 3), e agora começa a falar sobre as coisas que estes discípulos ainda teriam de enfrentar. Interpretações que procuram inserir milhares de anos entre os capítulos 3 e 4 não têm nenhuma base aqui. “Depois” simplesmente sugere uma seqüência de transição entre o que já passou e o que ia acontecer.

4:2 – Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado;

Imediatamente, eu me achei em espírito: A mesma expressão que João usou em 1:10, frisando seu estado de receber revelações por meio de visões.
Armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado: Um trono no céu. Muitos vizinhos dos cristãos da Ásia achavam que o trono principal do universo estivesse em Roma, e que o imperador sentado nele fosse o deus supremo. Outros vizinhos adoravam outros diversos deuses e deusas. Mas João convida todos os seus leitores a enxergarem, por meio desta visão, o trono no céu e o verdadeiro Deus sentado nele. O trono de Deus é mencionado 38 vezes no Apocalipse, repetidamente frisando o tema da soberania de Deus e do seu domínio sobre os reinos da terra. A descrição da pessoa sentada no trono e do seu ambiente no céu vem nos versículos seguintes.

4:3 – e esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda.

Eesse que se acha assentado é semelhante, no aspecto: João jamais acharia palavras adequadas para descrever perfeitamente a aparência de Deus. Ele começa a explicar, usando comparações com coisas conhecidas, a visão que ele teve do Soberano no seu trono celestial.
Pedra de jaspe e de sardônio...arco-íris semelhante...a esmeralda: Duas pedras brilhantes refletem sua luz e produzem o efeito de um arco-iris ao redor do trono. Como é o caso de muitas pedras precisosas, as cores de jaspe e sardônio não são únicas e absolutas. Alguns comentaristas sugerem jaspe branco (veja 21:11, que fala de “jaspe cristalina”) e sardônio vermelho (possivelmente sárdonix), assim sugerindo, respectivamente, a santidade e a justiça de Deus. O salmista disse que “justiça e juízo” ou “justiça e direito são o fundamento” do trono de Deus (Salmo 89:14; 97:2). Outros sugerem que o jaspe fosse verde, a cor mais comum desta pedra, uma explicação que combina com a cor de esmeralda do arco-íris. Independente das cores refletidas, certamente a luz da glória de Deus e o fogo de seu poder saem do seu trono (veja Isaías 60:1-2; Daniel 7:9-10; Ezequiel 1:26-28; 10:1; Salmo 97:2-3). Esta luz mostra seu poder para julgar e castigar. O arco-íris nos lembra, também, da benevolência de um Deus que faz aliança com as suas criaturas (Gênesis 9:12-13; Ezequiel 1:28).

4:4 – Ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro.

Ao redor do trono: João começa com a figura central, aquele sentado no trono, e começa a olhar ao redor. Tudo começa com Deus.
Vinte e quatro tronos ... vinte e quatro anciãos: Vinte e quatro tronos representam aqueles que reinam com Deus, uma descrição da igreja, dos vencedores vestidos de branco que recebem suas coroas e reinam com o Senhor (2:10,26-27; 3:4-5,11,21). Qual o significado do número 24? Duas explicações diferentes chegam à mesma conclusão. Alguns entendem 12 tribos, representando o povo de Deus no Velho Testamento, mais 12 apóstolos, representando o povo dele no Novo Testamento, dando um total de 24. Outros sugerem 24 como o número de turnos de sacerdotes no Velho Testamento (veja 1 Crônicas 24:1,7-19). Assim entendemos o reino de sacerdotes (1:6) ou sacerdócio real (1 Pedro 2:9) composto de pessoas que entram “na Casa do Senhor” (1 Crônicas 24:19). No final, estas duas interpretações do significado dos 24 anciãos chegam ao mesmo entendimento prático – representam o povo de Deus. São nobres nos seus tronos sujeitos ao Soberano Rei no trono principal.
Vestidos de branco: A santidade e a pureza dos servos fiéis. As únicas vestimentas adequadas aos vencedores.
Coroas de ouro: Coroa, aqui, vem da palavra grega stephanos, usada no Apocalipse para identificar as coroas dos vencedores (2:10; 3:11; 4:4; 4:10; 6:2; 12:1; 14:14). Encontraremos uma outra palavra, diadema, usada tanto para falar dos falsos líderes (12:3; 13:1) como para descrever o verdadeiro Rei (19:12). Uma vez, stephanos se encontra na descrição dos inimigos de Deus, mas o próprio versículo sugere a falsidade da nobreza deles: “havendo como que coroas parecendo de ouro” (9:7). Os anciãos sentados nos 24 tronos têm todo direito de usar coroas verdadeiras.

4:5 – Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus.

Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões: Sai do trono de Deus o poder para falar, julgar e castigar (veja Salmo 18:13-14; 144:6; Êxodo 19:16-19). Estas manifestações do poder de Deus são características da última fase das séries de sete selos (8:5), sete trombetas (11:19) e sete taças (16:18).
Sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus: As tochas diante do trono são identificadas como os sete Espíritos de Deus, o Espírito Santo (veja 1:4). Ele ilumina ao homem e vai para onde Deus o envia. As sete tochas mostram a onisciência e a onipresença de Deus (5:6).

4:6 – Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás.

Mar de vidro, semelhante ao cristal: O Deus imortal “habita em luz inacessível” (1 Timóteo 6:16), separado dos outros por um mar de vidro. No Velho Testamento, os sacerdotes tinham de se lavar no mar de fundição antes de chegar perto de Deus com os sacrifícios (2 Crônicas 4:1-6), assim sugerindo a importância da santificação. Deus é santo, separado de suas criaturas. Mas, na imagem de comunhão perfeita com os vitoriosos no final do livro, “o mar já não existe” (21:1).
Quatro seres viventes cheios de olhos: Veremos melhor as características dos quatro seres viventes nos versículos 7 e 8. Aqui observamos o fato de estarem cheios de olhos, novamente enfatizando a capacidade de ver tudo. Ao redor de Deus estão servos capazes de ver tudo o que acontece. Nada escapa ao conhecimento do Soberano Deus.

4:7-8a – O primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo, semelhante a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando.
E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro;...

Os quatro seres viventes nos lembram de outras passagens que descrevem a presença do Deus glorioso. As visões de Ezequiel são especialmente relevantes, pois falam de quatro seres viventes com quatro rostos diferentes, rostos que correspondem às quatro criaturas vistas aqui (Ezequiel 1:5-14). Ele chama os seres viventes de querubins (Ezequiel 10:9-17) e mostra o papel deles em defender e levar o trono de Deus conforme a vontade do Soberano. Entendendo que os seres viventes são os querubins , lembramos também dos querubins que ficavam acima da arca da aliança. Na visão de João, os seres viventes são semelhantes a quatro criaturas:
Leão: O forte predador, o símbolo de realeza.
Novilho: Em Ezequiel, o boi. Animais conhecidos por sua força.
Homem: A figura do homem acrescenta uma outra característica, juntando à força a inteligência.
Águia: Um predador rápido, capaz de localizar e atacar a sua vítima.
João continua sua descrição de outras características dos seres viventes:
Seis asas: Capazes de se locomover, e de transportar o trono de Deus (Ezequiel 1:20). Também usavam as asas para cobrir a arca da aliança (1 Crônicas 28:18). Os serafins de Isaías 6:2-3, como os seres viventes do Apocalipse, tinham seis asas, enquanto os querubins de Ezequiel tinham quatro. Devemos evitar a tendência de forçar os textos para achar alguma igualdade perfeita nos símbolos destas visões proféticas. Independente de pequenas diferenças, todas mostram servos de alta posição servindo a Deus, fazendo tudo que ele manda.
Estão cheios de olhos: Como as rodas que acompanhavam os querubins em Ezequiel, estes seres estavam cheios de olhos e capazes de ver em todas as direções.

4:8b - não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir.

Não tem descanso: Servem e adoram a Deus em todo momento. Deus descansou, no sétimo dia, de seu trabalho da criação, mas continuou agindo para manter o universo que ele domina. Os judeus descansavam, no sábado, de seus trabalhos, mas se dedicavam naquele dia ao serviço de Deus. Nós aguardamos o descanso eterno no céu (Hebreus 4:1,11), mas entendemos que serviremos e adoraremos a Deus eternamente. Não nos surpreende, então, achar estes seres viventes servindo constantemente, sem descansar.
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus: Esta expressão de louvor se encontra somente aqui e em Isaías 6:3. A mesma palavra repetida três vezes dá grande ênfase, especialmente no hebraico (Velho Testamento). Ele está acima, e separado, de todas as suas criaturas.
O Todo-Poderoso: Deus recebe louvor, também, como o Onipotente. A descrição “Todo-Poderoso” se encontra em quase 60 versículos na Bíblia, de Gênesis aoApocalipse. Ele dá vida (Jó 33:4) e sabedoria (Jó 32:8). Ele abençoa os homens (Gênesis 48:3; 49:25). Nos profetas e nos evangelhos, esta descrição de Deus aparece freqüentemente em passagens que falam do castigo divino (veja Isaías 13:6; Joel 1:5; Marcos 14:62). Para os fiéis, é uma garantia confortante de proteção (2 Coríntios 6:18). Os exércitos humanos podem mostrar algum poder, mas Deus tem poder absoluto. Este fato traz grande conforto aos fiéis que são protegidos por ele, e aterroriza os seus inimigos.
Aquele que era, que é e que há de vir: Deus eterno (1:4).

4:9-11 – Quando esses seres viventes derem glória, honra e ações de graças ao que se encontra sentado no trono, ao que vive pelos séculos dos séculos,
os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando:
Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.
Glória, honra e ações de graças...: Os seres viventes adoram a Deus, pois ele merece toda a honra e glória.
Os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão: Os 24 anciãos, representando o povo de Deus, participam entusiasticamente do louvor a Deus.
Despositarão as suas coroas diante do trono: Mesmo as coroas que receberam de Deus servem para a glória do Criador, não das criaturas. Eles livremente entregam toda a sua glória a Deus. Sem Deus, eles seriam nada. Sem Deus, nós seríamos nada!
Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber...: Deus merece:
A glória: Esplendor, majestade, exaltação.
A honra: Reverência devida à posição.
O poder: Força, habilidade. Obviamente, Deus é o Todo-Poderoso, mas os seus servos voluntariamente lhe cedem poder sobre as suas vidas.
Porque todas as coisas tu criaste...: Neste capítulo, que focaliza a posição de Deus Pai, o principal motivo de louvor é a criação. É o motivo citado muitas vezes no Antigo Testamento.

Conclusão

Não pode haver dúvida. Deus está no controle. Ele é a personagem principal no céu, e é o Soberano absoluto que criou e domina o universo. Ele merece a adoração e a obediência absoluta de todas as suas criaturas, até dos mais exaltados seres viventes no céu. É o Deus Santo e Todo-Poderoso. Sem dúvida alguma, ele é eterno. Da presença dele saem trovões, vozes, relâmpagos, e a luz resplandecente que reflete no mar de sua santidade. Que privilégio Deus concedeu a João quando o convidou ao céu numa visão! Que privilégio ele nos deu quando relatou toda a cena aos seus servos!