O ESTADO SEGUNDO A COSMOVISÃO CRISTÃ – BREVE ANÁLISE POR NORMA BRAGA



De acordo com uma cosmovisão genuinamente bíblica, todos nós estamos diante de Deus, igualmente, de modo individual e também como instituições. Abraham Kuyper, em seu livro Calvinismo (que, apesar do título, não trata tanto de teologia, mas sim de cultura e cosmovisão), explicita uma noção bíblica que precisamos resgatar e valorizar: a soberania das “esferas”. A família é uma esfera; a igreja, outra; o governo, outra; o comercio, outra, e assim por diante. Cada esfera tem sua atribuição e está diante de Deus em pé de igualdade com as outras. A família nutre emocionalmente, transmite valores e prepara os indivíduos para a vida. A igreja testemunha Cristo no mundo, através da evangelização, do ensino, do acompanhamento pastoral etc. O comercio supre as necessidades concretas das pessoas, promove a prosperidade e faz a economia crescer. O governo tem poder da “espada”, como explica Paulo em Romanos 13: as leis servem a Deus na medida em que atuam para reprimir o mal, através da coação pela força e punição (e é por isso que o apostolo ordena a sujeição a autoridade, a não ser que a ordem seja contraria aos mandamentos de Deus.
Em todos os países comunistas e socialistas, os cristãos são brutalmente perseguidos ou, no mínimo, reprimidos. A simples crença em Deus, o simples consenso da existência do Deus cristão, que é autoridade sobre toda terra, torna relativo o poder do Estado, pois os homens são vistos como iguais perante uma autoridade suprema, Quando essa crença se esvai, o autoritarismo cresce, e isso é o que tem acontecido em todo o mundo ocidental, não do modo antigo, soviético ou chinês, mas através da ideologia politicamente correta.
O modo mais claramente autoritário de opressão política está desaparecendo na medida em que o pensamento politicamente correto se afirmar, pois é bem mais fácil controlar um povo que deseja ser controlado. De que forma isto é feito? Assim como no comunismo, a ideologia politicamente correta estabelece como prioridade o cuidado com grupos sociais considerados minorias, frágeis e necessitadas de proteção como negro, pobre, mulheres e homossexuais, quanto mais esses grupos se percebem como vítimas e exige proteção, mais o Estado pode crescer, estabelecendo leis, transformando valores a força e punindo o pensamento dissidente.
Líderes desonestos e autoritários podem assim usar o ressentimento desses grupos vulneráveis para implantar políticas assistencialistas (bolsas, direito ao aborto, cotas nas universidades etc.). Já vivemos em uma cultura que faz de tudo para não discriminar ninguém. E foi o cristianismo que permitiu essa liberdade ao criar espaço para a consciência individual: todo ser humano é responsável por si diante de Deus.
Abordaremos de forma objetiva, 4 aspectos que caracterizam a perversidade da famosa idolatria ao estado: fim da responsabilidade individual, paternalismo estatal, atomização da sociedade e o igualitarismo.

·      Fim da responsabilidade individual: A responsabilidade individual é uma noção bíblica, cada pessoa comparece diante de Deus com seus pecados, para perdão ou condenação. Transposta para a política, essa noção serviu de base para as modernas instituições jurídicas, que penalizam cada culpado por seu crime, de modo proposicional. Mas uma cultura que se seculariza sempre anda para trás. Hoje, o politicamente correto tem solapado a noção de responsabilidade individual, culpabilizando os considerados “ grupos opressores” (ricos, brancos, homens, pais, policia, cristãos) e justificando os grupos considerados “oprimidos” (pobres, negros, mulheres, filhos, bandidos, não-cristãos). O fim da responsabilidade pessoal cria uma atmosfera insuportável, em que o ladrão, o corrupto, o estuprador, o assassino etc. está sempre justificado caso tenham tido uma infância pobre e difícil. Desse jeito as pessoas não são culpadas por ações concretas, mas por pertencerem a classes.
·      Paternalismo Estatal: Alguns cristãos de esquerda justificam sua opção política mencionando a ideia que o Estado deve ser uma espécie de “pai” (Mt 17. 24-27), Mas há uma diferença importante. Herbert Schlossberg diferencia o cuidado paterno do paternalismo da seguinte forma, “ Os bons pais são aqueles que preparam os filhos para a independência, treinando-os para tomar decisões responsáveis, e sabem que prejudicam os filhos quando não os ajudam a sair de casa. O Estado paternal não. Ele perde poder, desse modo o Estado acaba se tornando um parasita. O estado e seus dependentes marcham simbolicamente para a destruição. ” Rousseau afirma que os homens nascem bons, mas a sociedade os corrompe. O povo é visto como uma massa de crianças que precisam ser educadas, tendo cuidado com a chantagem emocional que fazem conosco quando somos corretamente contra certas intervenções de um governo paternalista, sendo chamados de racistas, odiadores de pobres, homofóbicos etc.  Devemos entender que quando o Estado ocupa o papel de segurança paternalista ele deixa de ocupar o seu verdadeiro papel, aquele que Deus lhe dá, que é o da justiça, e ainda se torna gerador de mais injustiça. 
·      Atomização: Há algo muito importante que precisamos entender quando pensamos nessa dicotomia direita e esquerda, ou conservador e progressista. A oposição entre individualismo e coletivistas é falsa, Schlosseberg cita uma frase da filosofa Hannah Arendt aonde ela afirma o seguinte: “Movimentos totalitários são massas organizadas de indivíduos isolados e atomizados. ” Para exemplificar essa atomização, vamos recapitular as esferas. A mais primaria e básica de todas é a família. Nos países comunistas, é comum o controle estatal da educação, para que as crianças cresçam debaixo da doutrinação e sejam tão leais a essas doutrinas que, idealmente, denunciariam os próprios pais, caso eles mostrassem deslealdade ao Estado, dentre outras interferências na soberania das esferas. A lealdade que compete com a idolatria estatal é a que prestamos a Deus. Isso é muito triste! Da mesma forma, em nosso país, que quase sempre conta com políticos de orientação comunista ou socialista, a tendência é adotar formas de governo em que o Estado ocupa um lugar grande demais, sufocando as outras esferas.
·      Igualitarismo:
O igualitarismo parece uma bandeira democrática, mas só é válida nas mãos de Deus, o Deus que não faz acepção de pessoas. Deus sabe como ser justo em todos os sentidos. O igualitarismo a força da lei, promovido pelo Estado, só gera injustiça. Em geral, “igualitarismo” não significa elevar as pessoas a posições melhores, como geralmente se prega, mas sim rebaixar os que estão acima. Ou seja, condenar a todos a mesma pobreza, ao mesmo controle, a mesma mentalidade, aos mesmos valores. Isso já foi documentado em muitos países onde se implantaram regimes comunistas. Há outro motivo para que nós cristãos tomemos cuidado com o mito da igualdade: ele está na raiz do pecado original. Com o nosso desejo de querer ser “como Deus” desobedecendo a Deus (Gn 3), a diferença entre Criador e criatura foi destruída no nosso coração, e nós passamos a adorar a criatura no lugar do Criador. E, como nós refletimos nossos ídolos, passamos a nos confundir com aspectos da criatura (Rm 1).

A ideologia politicamente correta é como um mutante que produz mutantes: absorve as três tendências pós-modernas, cientificismo, paganismo e marxismo, na pretensão de formar o “homem novo”. Uma cultura como a nossa, que coloca toda a esperança de mudança, prosperidade, educação e paz nas lideranças políticas está realizando um culto profano que é mais perigoso que o culto pagão antigo, pois hoje a ambição de poder total se alia a uma tecnologia e uma falsificação filosófica mais sofisticada, fomentando ainda mais a pretensão humana de ser Deus e agir de modo autônomo e soberano.
Nesse momento, você leitor, pode pensar: “Eu não participo da idolatria ao Estado, porque vivo reclamando do governo. ” Isso de certa forma também caracteriza-se como uma adoração negativa que parte de pessoas que desejo ver no governo este salvador da pátria que ele não foi vocacionado a ser. É muito difícil escapar disso aqui no Brasil, onde temos historicamente o habito de lideranças paternalistas, que prometem esse tipo de redenção. Mas Deus é poderoso para nos transformar!

NORMA BRAGA
Extraído do livreto visão cristã sobre cristianismo e cultura
Ed. Visão Cristã  


FIGURAS DE LINGUAGEM NA BÍBLIA



1  O que é uma figura de linguagem?

Figura de linguagem é simplesmente uma palavra ou frase usada fora de seu emprego ou sentido original.

2  Por que se utilizam figuras de linguagem?

2.1  As figuras de linguagem acrescentam cor e vida
“O Senhor é a minha rocha” (Sl. 18:2) é uma forma viva de se dizer que podemos confiar no Senhor, pois ele é forte e inabalável.
2.2  As figuras de linguagem chamam a atenção
O interesse do ouvinte ou leitor é despertado. Isso fica nítido na advertência de Paulo em Fp. 3:2, cuidado com esses cães.
2.3  As figuras de linguagem tornam os conceitos abstratos mais concretos
A frase: “por baixo de ti estende os braços eternos” (Dt. 33:27) certamente transmite uma idéia mais concreta do que “O senhor te sustentará”.
2.4  As figuras de linguagem ficam mais registradas na memória
A afirmação de Oséias “Como vaca rebelde se rebelou Israel…” (Os. 4:16) é mais fácil de lembrar do que se  tivesse escrito: “Israel é extremamente teimoso”.
2.5  As figuras de linguagem sintetizam uma idéia
Elas captam a idéia de forma mais abreviada, elas dizem muito em poucas palavras. A famosa metáfora: “O Senhor é meu Pastor…” (Sl 23:1) nos transmite rapidamente a idéia do cuidado de um pastor com suas ovelhas.
2.6  As figuras de linguagem estimulam a reflexão
As figuras de linguagem levam o leitor a parar e pensar. Quando lemos Salmos 52:8 – “quanto a mim, porém, sou como a oliveira verdejante, casa de Deus…” – somos desafiados a meditar nas semelhanças que este símile nos traz à mente.

3  Como saber se uma expressão apresenta sentido figurado ou literal?

Em geral, uma expressão está em sentido figurado quando destoa do assunto, ou quando não combina com os fatos, experiência ou observação. Quando o Cleber Machado narra um jogo de futebol e diz que o “Porco” venceu o “Leão”, não quis dizer realmente que um porco (animal) venceu um leão (animal), mas sim que o Palmeiras venceu o Sport, ou seja, naquele contexto (futebol) faz todo sentido.

As regras abaixo nos ajudam a identificar as figuras de linguagem.

1. Adote sempre o estilo literal das passagens, a menos que hajam boas razões para não fazê-lo. Por exemplo, quando João disse que 144.000 serão selados – 12.000 de cada uma das 12 tribos de Israel –  não há razão para não respeitarmos o sentido normal, literal (Ap. 7:4-8). No entanto, no verso seguinte o apóstolo faz menção do “Cordeiro” (v. 9), o que, obviamente é uma referência a Jesus, não a um animal, como João 1:29 deixa claro.
2. Se o sentido literal resultar numa impossibilidade, o sentido verdadeiro é o figurado. O Senhor disse para jeremias que o havia posto como “coluna de ferro e por muros de bronze” (Jr. 1:18).
3. O sentido é o figurado se o literal resultar em um absurdo, como no caso das árvores baterem palmas (Is. 55:12).
4. Adote o sentido figurado se o literal sugerir imoralidade. Com seria um ato de canibalismo comer a carne de Jesus e beber seu sangue, é evidente que ele estava usando o sentido figurado (Jo. 6:53-58).
5. Veja se a expressão figurada vem acompanhada de uma explicação literal. Aqueles que dormem (1 Ts. 4:13-15) logo em seguida são chamados de “os mortos” (v. 16).
6. Às vezes uma figura é realçada por um adjetivo qualitativo, como Pai celeste (Mt. 6:14), “o verdadeiro pão” (Jo. 6:32), a pedra que vive (1 Pe. 2:4). Isso indica que o substantivo anterior não deve ser entendido em seu sentido literal.

4  A linguagem figurada é oposto da interpretação literal?

Não devemos achar que o sentido figurado seja o oposto do sentido literal. O sentido figurado transmite a verdade literal, ou seja, o autor apenas escreveu a mensagem literal de outra forma, para reforçar seu sentido; mas, os fatos são literais. Não devemos confundir com a alegorização, que já foi vista na aula 03 deste módulo.
Por exemplo, quando dizemos: “Fulano virou um bicho quando soube”, claro que não quer dizer que virou um animal, mas ficou furioso. Porém a verdade é literal, seja falando de uma forma ou de outra.

5  Alguns tipos de figuras de linguagem

5.1  As figuras de linguagem que transmitem comparação
Símile – É uma comparação que lembra outra explicitamente. Pedro usou um símile quando disse que “…toda carne é como a erva…” (1 Pe. 1:24). Jesus também fez uso do símile quando disse: “…eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. A dificuldade dos símiles é descobrir as semelhanças entre os dois elementos. Em que aspecto a carne é como a erva. De que forma os cristãos são como cordeiros?
Metáfora – É uma comparação em que um elemento representa outro, sendo que os dois são essencialmente diferentes. Em uma metáfora a comparação está implícita. Temos um exemplo disso em Isaías 40:6: “Toda a carne é erva”. Note que é diferente da expressão em 1 Pedro, acima. Jesus comparou seus seguidores ao sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt. 5:13). Quando Jesus afirmou: “Eu sou a porta” (Jo. 10:7-9), “Eu sou o bom pastor” (vv. 11-14) e “Eu sou o pão da vida” (6:48), ele estava fazendo comparações. O leitor é levado a pensar de que forma Jesus assemelha-se a tais elementos.
Hipocatástase – Não é uma figura de linguagem tão conhecida, mas também faz uma comparação, na qual a semelhança é indicada diretamente. Davi, no Salmos 22: 16, disse: “Cães me cercam…”. Ele não estava se referindo aos caninos, mas sim aos seus inimigos. Os falsos mestres também são chamados de cães em Filipenses 3:2, e lobos vorazes em Atos 20:29. Em João 1:29, João Batista fez uso de uma hipocatástase quando exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus”.

5.2  As figuras de linguagem que transmitem substituição
Metonímia – A metonímia consiste em trocar uma palavra por outra. Por exemplo, quando afirmamos que o Congresso tomou uma decisão, queremos dizer que os deputados e senadores tomaram a decisão. Pode ser também que a causa seja usada em lugar do efeito. Os opositores de Jeremias disseram: “…vinda, firamo-lo com a língua…” (Jr. 18:18). Como seria absurdo produzir ferimentos com a língua, é claro que eles estavam referindo-se a palavras. Em Atos 11:23, temos outro exemplo quando fala de Barnabé: “…e, vendo a graça de Deus…”. O sentido aqui só pode ser o do efeito da graça, pois a graça, na realidade não pode ser vista. Temos exemplos de substituição de elementos relacionados ou semelhantes. quando Paulo disse: “Não podeis beber o cálice do Senhor…” (1 Co. 10:21), ele não estava se referindo ao cálice propriamente dito, mas sim ao conteúdo do cálice. Quando o Senhor disse para Oséias que “a terra se prostituiu…”, a palavra terra diz respeito à população.
Sinédoque – É a substituição do todo pela parte, ou da parte pelo todo. Em Lucas 2:1, a Bíblia nos diz que o imperador César Augusto emitiu um decreto de que deveria ser feito o censo “do mundo todo”. Ele falou do todo, mas estava se referindo ao Império Romano. É óbvio que Provérbios 1:16 – “…os seus pés correm para o mal…” – não significa que somente os pés corriam para o mal. Os pés são a parte que representa o todo. Áquila e Priscila arriscaram suas próprias cabeças (Rm 16:4). Nesta sinédoque, “suas cabeças” representa suas vidas, o todo.
Personificação – É a atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados, a conceitos ou animais. A alegria é uma emoção atribuída ao deserto, em Isaías 35:1. Isaías 55:12 fala de montes cantando e árvores batendo palmas. A morte personifica-se em Romanos 6:9 e em 1 Corintios 15:55.
Antropomorfismo –  é a atribuição de qualidades ou ações humanas a Deus, como ocorre nas referências aos dedos de Deus (Sl. 8:3), a seus ouvidos (31:2) e a seus olhos (2 Cr. 16:9).
Antropopatia – Esta figura de linguagem atribui emoções humanas a Deus, como vemos em Zacarias 8:2: “…tenho grandes zelos de Sião”.
Zoomorfismo – Se o antropomorfismo atribui qualidades humanas a Deus, o zoomorfismo atribui características animais a Deus (ou outros). Em Salmos 91:4, faz-se referência a penas e asas. Jó descreveu o que ele considerou como ira de Deus contra ele quando disse: “…contra mim rangeu os dentes…” (Jó 16:9).
Apóstrofe – É uma referência direta a um obejto como se fosse uma pessoa, ou uma pessoa ausente ou imaginária, como se estivesse presente. O salmista empregou um apóstrofe em Salmos 114:5: “Que tens, ó mar, que assim foges?…” Miquéias fala diretamente à terra, em Miquéias 1:2: “Ouvi, todos os povos, prestai atenção, ó terra…”. Em Salmos 6:8, o salmista fala como se seus inimigos estivessem presentes: “Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade…”.
Eufemismo – Consiste na substituição de uma expressão desagradável por outra mais suave. Falamos da morte mediante eufemismos: “passou desta para melhor”, “bateu as botas”. A Bíblia fala da morte dos cristãos como um adormecimento (At. 7:60; 1 Ts. 4:13-15).
5.3  As figuras de linguagem que transmitem omissão ou supressão
Elipse – é uma supressão de uma palavra facilmente subentendida. É a omissão intencional de um termo facilmente identificável pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase.Em 1 Co. 15:5, “os doze”, representa “os doze apóstolos”.
Pergunta retórica –  Uma pergunta retórica é aquela que não exige resposta; seu objetivo é forçar o leitor a respondê-la mentalmente e avaliar suas implicações. Quando Deus perguntou para Abraão: “Acaso para Deus há algo muito difícil?…” (Gn. 18:14), ele não esperava ouvir uma resposta. A intenção era que o patriarca refletisse mentalmente. Paulo fez uma pergunta retórica em Romanos 8:31: “… se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Estas perguntas são formas de se transmitir informações.
5.4  As figuras de linguagem que transmitem exageros ou atenuações
Hipérbole – É uma afirmação exagerada em que se diz mais do que o significado literal, com o objetivo de dar ênfase. Vejamos em Deuteronômio 1:28 a resposta dos espias israelitas sobre a tomada de Canaã: “”…as cidades são grandes e fortificadas até os céus…”
Litotes – É uma frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação. É o oposto da hipérbole. Quando dizemos: “Ele não é um mal goleiro”, na realidade queremos dizer que ele é um goleiro muito bom. Esta atenuação dá ênfase à frase. Em Atos 21:39, Paulo disse: “… eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante”, quis dizer que Tarso era uma cidade importante.
Ironia – É uma forma de ridicularizar indiretamente sob a forma de elogio. Geralmente vem marcada pelo tom de voz da pessoa que fala, para que os ouvintes percebam. Por isso, às vezes é difícil saber se algo escrito é, ou não, uma ironia. O contexto nos ajuda a perceber isso. Por exemplo Mical, filha do rei Saul, disse a Davi: “… que bela figura fez o rei de Israel…” (2 Sm. 6:20). O versículo 22 nos mostra que o sentido pretendido era o oposto, ou seja, o rei havia se humilhado agindo daquela maneira. Em 1 Reis capítulo 18, no episódio de Elias contra os profetas de baal, vemos que Elias ironizou a baal várias vezes.
Pleonasmo – Consiste na repetição de palavras ou no acréscimo de palavras semelhantes. Atos 2:30 quer dizer literalmente “Deus lhe havia jurado com juramento”. Como para nossa língua é uma repetição desnecessária a  NTLH traduziu sem esta repetição.
5.5  As figuras de linguagem que transmitem incoerências
Oxímoro – Consiste na combinação de dois termos opostos ou contraditórios. Quando falamos, por exemplo, “um silêncio eloqüente”, empregamos um oxímoro. Em Fp. 3:19, Paulo diz que a glória dos inimigos de Cristo está em sua infâmia; em Romanos 12:1 somos desafiados a sermos “sacrifícios vivos”.
Paradoxo – É uma afirmação aparentemente absurda ou contrária ao bom senso. Um paradoxo não é uma contradição; é simplesmente algo que parece ser o oposto do que em geral se sabe. Jesus utilizou muitos paradoxos em seus ensinos. Um deles nos diz que quem quiser salvar sua vida deve perdê-la. Os humilhados serão exaltados. O maior no reino de Deus é o menor. Se você quiser viver então morra.

6  Como devemos interpretar as figuras de linguagem?

6.1  Descobrir se existe alguma figura de linguagem
Às vezes a figura de linguagem não é reconhecida no texto, causando um grande problema de interpretação. Quando Paulo falou sobre suportar as adversidades como um bom soldado, competir com um atleta e receber os frutos da safra como um fazendeiro (2 Tm. 2:3-6), ele não estava instruindo soldados, atletas ou fazendeiros.
Quando Jesus disse: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis para os porcos as vossas pérolas…” (Mt. 7:6), não estava se referindo a cães ou porcos literalmente. Cães e porcos eram considerados animais impuros. Portanto o que deve ser entendido aqui é que não devemos confiar as coisas santas aos ímpios.
Em Jó 38:7, não devemos entender que as estrelas realmente cantam. Devemos entender que a criação se alegrou com a obra criadora de Deus (personificação).
Por outro lado, às vezes uma declaração normal é confundida com figura de linguagem. Em Amós 4:9, não há motivo para crermos de se tratar de adversidades espirituais, pois de fato estas coisas aconteceram.
6.2  Descobrir a imagem e o objeto na figura de linguagem
Em certos casos, ambos são evidentes no versículo, como acontece em Isaías 8:7. A princípio pode-se ficar na dúvida se a inundação é real ou figurada. A resposta está no verso seguinte. Portanto, podemos afirmar que a imagem são as águas impetuosas e o objeto é o rei da Assíria. Contudo, algumas vezes, o objeto não é especificado e pode até ser confundido. Foi o que aconteceu com as palavras de Jesus em João 2:19: “Destruí este santuário…”. Santuário era a imagem e os leitores (e ouvintes) pensaram que o objeto fosse o templo de Herodes, quando na realidade, Jesus estava falando de seu próprio corpo.
6.3  Especificar o elemento de comparação
Muitas vezes a imagem está expressa, porém, o objeto embora não esteja explícito, é indicado pelo contexto. Em Lucas 5:34 não diz que o noivo é Jesus, mas o significado está implícito, já que no verso seguinte Jesus diz que o noivo seria tirado deles.
6.4  Não presumir que uma figura sempre signifique a mesma coisa
Em Oséias 6:4, o orvalho simboliza a brevidade do amor de Judá, enquanto em 14:5 fala da benção do Senhor sobre Israel.
6.5  Sujeitar as figuras a limites por meio da lógica e da comunicação
Quando Jesus falou para a igreja de Sardes “…virei como um ladrão…” (Ap. 3:3), não quis dizer que viria para roubar.No caso, o elemento de comparação é que viria repentinamente. Quando Jó falou das “colunas” da terra se estremecendo (Jó 9:6), estava falando das montanhas, não como se a terra se apoiasse em colunas.



DIFERENÇAS ENTRE COMUNISMO E SOCIALISMO - BREVE ANÁLISE



Socialismo é o processo de coletivização, estatização e centralização de um país, e, por conseguinte, de supressão da vida social independente nas esferas da economia, cultura, educação, imprensa, etc., enquanto todas as empresas e instituições se tornam estatais ou dependentes do Estado, sendo tudo isso justificado e legitimado com alguma variante da ideologia marxista. “Comunismo” é quando o processo chega a um ponto alto, ou seja, é socialismo ao extremo. “Socialismo” é, portanto, a antessala do comunismo.

O avanço do socialismo pode levar vários anos; e uma a uma as esferas e instituições vão caindo. Em seu livro “Liberdade de escolher”, de 1980, Rose e Milton Friedman examinam os 14 Pontos do Programa do Partido Socialista dos Estados Unidos, de 1928. E ao lado de cada um deles, anotam o ano em que foi aprovado, começando com a criação do Banco Central, em 1913. Esse partido socialista nunca se tornou governo nos Estados Unidos, nem teve maioria no Congresso, porém teve enorme influência ideológica no partido Democrata, e até no Republicano. Seus 14 Pontos estão todos em voga. 

E se isso aconteceu nos Estados Unidos, o que podemos esperar na América Latina?
A tática é simples: primeiro decretam uma série de medidas socialistas, com as quais criam desordem, desajuste, e conflito. Então jogam a culpa no “capitalismo selvagem, explorador e desumano”. E como “remédio” ditam outras tantas medidas socialistas! Assim se produz mais desordem, desajuste e conflito. E assim vai. Três grandes “ondas” de políticas e medidas socialistas se sucederam, praticamente em todo o mundo, mais ou menos coincidentes com cada um dos três terços em que podemos dividir o século 20.

1 – Na primeira onda se abandona o padrão ouro e é fundado o Banco Central, com moeda de papel e banco de reserva fracionária. Isso gera o típico “ciclo” econômico de auge fictício com inflação, e queda da economia em bruscas crises recessivas. As pessoas começam a empobrecer. E os socialistas aproveitam para ditar suas leis trabalhistas e primeiras “medidas sociais”. Com isso a situação piora, e com um agravante: o Estado descuida de suas funções próprias, e passa a faltar segurança, justiça e obras de infraestrutura.

2 – Pretendendo auxiliar aos pobres, na segunda onda o Estado oferece “educação e saúde grátis”, para o que decreta altas nos impostos, que aumentam a deterioração da economia. Com um agravante: o ensino deteriora muito, e a “educação” não passa de doutrinação no coletivismo. Assim, as pessoas mais “educadas” pelo estatismo são as que têm menos possibilidade de entender a realidade.

3 – Na terceira onda, o socialismo já entra de cheio e com confiança em todas as frentes da economia produtiva: reformas agrárias, “nacionalizações”, leis trabalhistas que geram desemprego, criação de ineficientes empresas estatais — e altos impostos e muito crédito para financiá-las — com regulamentação asfixiante para as empresas privadas. Resultado: criminalidade sem limites, corrupção judicial e falta de obras públicas, impostos excessivos, regulamentações absurdas, poupança inexistente ou negativa, desinvestimento privado com inatividade econômica generalizada e desemprego involuntário, cidades capitais superpovoadas, êxodo de empresas, de cérebros, de mão de obra, e um extenso et cetera aqui.  Além do óbvio: crises políticas crônicas.

Com o século 21 houve uma mudança importante: o marxismo passou de econômico a cultural. De Lênin, Martov e Bernstein, a Gramsci, Lukacs e às Escolas de Frankfurt e de Birmingham. Como isso se deu? Se você ler o Manifesto Comunista de 1848, vai ver que seus autores estão contra o matrimônio e a família, porque são instituições muito ligadas à propriedade privada e ao capitalismo. Porém não há medidas concretas contra o matrimônio e a família, nem contra as igrejas ou a religião. Há só um programa “mínimo” de dez pontos, todos relativos à economia exceto por um ponto: educação pública. É que primeiro era necessário aplicar o marxismo econômico para empobrecer as pessoas; então vem a catequese “educativa” para idiotizá-las. Marx e Engels deixaram para o futuro a investida contra o matrimônio e a família; e contra a religião, em especial o cristianismo.
E esse futuro acabou de chegar! O marxismo econômico já não pode ir mais longe, porque aí o parasita mataria o hospedeiro por asfixia ou anemia. Por isso agora é a hora das demandas do marxismo cultural: a ofensiva em favor da legalização do aborto e da eutanásia; da desnaturalização do matrimônio e até mesmo da sexualidade, através da promoção ativa do divórcio e do homossexualismo pelo Estado. Da “guerra às drogas” se passa à estatização da oferta de narcóticos e imbecilizantes. E o Estado entende agora o laicismo como antirreligião, declarando guerra à Religião, ditando suas próprias e novas normas a todas as igrejas e ministros religiosos, e a todas as famílias e escolas cristãs.

Tudo isso é o “marxismo cultural” que Mao Tsé Tung e Pol Pot começaram a aplicar na China e Camboja. E Herbert Marcuse em Berkeley, Califórnia. Agora ele chegou completo nos Estados Unidos com Obama. E na América Latina também, com o Foro de São Paulo. Com um agravante: em estreita aliança com o islamismo. Porém, isso já é outro assunto. Até a próxima.

Texto originalmente publicado no jornal boliviano El Día.
Alberto Mansueti é advogado e cientista político.

Tradução: Márcio Santana Sobrinho


QUE É SER SOCIALISTA? - ARTIGO DO PROFESSOR OLAVO DE CARVALHO



Olavo de Carvalho
Jornal da Tarde, 28 de outubro de 1999

O socialismo matou mais de 100 milhões de dissidentes e espalhou o terror, a miséria e a fome por um quarto da superfície da Terra. Todos os terremotos, furacões, epidemias, tiranias e guerras dos últimos quatro séculos, somados, não produziram resultados tão devastadores. Isto é um fato puro e simples, ao alcance de qualquer pessoa capaz de consultar O Livro Negro do Comunismo e fazer um cálculo elementar.

Como, porém, o que determina as nossas crenças não são os fatos e sim as interpretações, resta sempre ao socialista devoto o subterfúgio de explicar essa formidável sucessão de calamidades como o efeito de acasos fortuitos sem relação com a essência da doutrina socialista, a qual assim conservaria, imune a toda a miséria das suas realizações, a beleza e a dignidade de um ideal superior.

Até que ponto essa alegação é intelectualmente respeitável e moralmente admissível?
O ideal socialista é, em essência, a atenuação ou eliminação das diferenças de poder econômico por meio do poder político. Mas ninguém pode arbitrar eficazmente diferenças entre o mais poderoso e o menos poderoso sem ser mais poderoso que ambos: o socialismo tem de concentrar um poder capaz não apenas de se impor aos pobres, mas de enfrentar vitoriosamente o conjunto dos ricos. Não lhe é possível, portanto, nivelar as diferenças de poder econômico sem criar desníveis ainda maiores de poder político. 

E como a estrutura de poder político não se sustenta no ar mas custa dinheiro, não se vê como o poder político poderia subjugar o poder econômico sem absorvê-lo em si, tomando as riquezas dos ricos e administrando-as diretamente. Daí que no socialismo, exatamente ao contrário do que se passa no capitalismo, não haja diferença entre o poder político e o domínio sobre as riquezas: quanto mais alta a posição de um indivíduo e de um grupo na hierarquia política, mais riqueza estará à sua inteira e direta mercê: não haverá classe mais rica do que os governantes. Logo, os desníveis econômicos não apenas terão aumentado necessariamente, mas, consolidados pela unidade de poder político e econômico, terão se tornado impossíveis de eliminar exceto pela destruição completa do sistema socialista. E mesmo esta destruição já não resolverá o problema, porque, não havendo classe rica fora da nomenklatura , esta última conservará o poder econômico em suas mãos, simplesmente trocando de legitimação jurídica e autodenominando-se, agora, classe burguesa. 

A experiência socialista, quando não se congela na oligarquia burocrática, dissolve-se em capitalismo selvagem. Tertium non datur . O socialismo consiste na promessa de obter um resultado pelos meios que produzem necessariamente o resultado inverso.
Basta compreender isso para perceber, de imediato, que o aparecimento de uma elite burocrática dotada de poder político tirânico e riqueza nababesca não é um acidente de percurso, mas a conseqüência lógica e inevitável do princípio mesmo da idéia socialista.
Este raciocínio está ao alcance de qualquer pessoa medianamente dotada, mas, dada uma certa propensão das mentes mais fracas para acreditar antes nos desejos do que na razão, ainda se poderia perdoar a essas criaturas que cedessem à tentação de “fazer uma fezinha” na loteria da realidade, apostando no acaso contra a necessidade lógica.
Ainda que imensamente cretino, isso é humano. É humanamente burro insistir em aprender com a experiência própria, quando fomos dotados de raciocínio lógico justamente para poder reduzir a quantidade de experiência necessária ao aprendizado.

O que não é humano de maneira alguma é rejeitar a um tempo a lição da lógica que nos mostra a autocontradição de um projeto e a lição de uma experiência que, para redescobrir o que a lógica já lhe havia ensinado, causou a morte de 100 milhões de pessoas.
Nenhum ser humano intelectualmente são tem o direito de apegar-se tão obstinadamente a uma idéia ao ponto de exigir que a humanidade sacrifique, no altar das suas promessas, não apenas a inteligência racional, mas o próprio instinto de sobrevivência.

Tamanha incapacidade ou recusa de aprender denuncia, na mente do socialista, o rebaixamento voluntário e perverso da inteligência a um nível infra-humano, a renúncia consciente àquela capacidade de discernimento básico que é a condição mesma da hominidade do homem. Ser socialista é recusar-se, por orgulho, a assumir as responsabilidades de uma consciência humana.



A REFORMA PROTESTANTE E A MÚSICA NA IGREJA



Além de estar no centro de um novo movimento teológico, Lutero estava também no centro de um novo movimento musical. Martim Lutero foi, dentre os reformadores do seu tempo, o único a reconhecer o valor inestimável da Música e de recebê-la de braços abertos. Lutero pensou, trabalhou e utilizou a Música de modo singular na sua época, dispensando especial atenção para o uso e a função que a mesma passaria a ter na Igreja. É certo que ele apreciava todas as artes, a pintura, a escultura, a arquitetura. Isto porque ele entendia e enfatizava as expressões artísticas como parte da criação de Deus, uma dádiva de Deus para ser usada na proclamação da Palavra.

Entretanto, é certo também que, sobretudo, Lutero amava a Música e, em suas preleções sobre Gênesis (1535-1545), escreveu: Os milagres que se apresentam aos nossos olhos são muito menores do que aqueles que apreendemos com os nossos ouvidos. Sobre a Música, disse também, em 1538, no prefácio que escreveu para uma coleção de canções intituladaSymphoniae iucundae (que quer dizer ´Música agradável´) e que é um dos seus escritos mais completos e ´sistemáticos´ sobre Música: A Música é uma esplêndida dádiva de Deus e eu gostaria de exaltá-la com todo o meu coração e recomendá-la a todos [...] e, por mais que eu queira exaltá-la [a Música], a minha exaltação será insuficiente e inadequada.

Com base nessa particular e profunda perspectiva, Lutero iniciou, sem meios termos, a ´sacudida´ mais completa que a música sacra já recebera, ou seja, estabelecer o canto comunitário como ingrediente vital do culto, colocando a música nos lábios e nos ouvidos das pessoas e, consequentemente, nos seus corações e na sua estima.

A partir deste conceito reformador, Lutero possibilitou que a Música e o canto comunitário, uma atividade que era apenas tolerada e aparecia em raríssimas ocasiões na Igreja medieval, adquirisse um novo status, o status de elemento central e indispensável no culto da Reforma Luterana. Assim Lutero o fez, porque estava convicto que não era suficiente que as pessoas estivessem apenas presentes às missas (cultos), mas as suas súplicas deveriam ressoar dos seus próprios lábios por meio de canções que pudessem traduzir o arrependimento e a contrição das suas almas e a sua fé e o seu louvor irromperem jubilosos em canto e música. Martim Lutero vislumbrou isso de modo especial por meio do que mais tarde foi denominado Coral Luterano, colocando em textos poéticos, na língua comum e em melodias cantáveis e bem compostas, a Palavra e a fé evangélica. Rapidamente, os hinos da Reforma espalharam-se pela cultura oral da Alemanha do século XVI.

Não há dúvidas de que um dos maiores aportes de Lutero foi o seu entendimento de que a música da Reforma deveria falar sobre o Evangelho diretamente para as pessoas. Ele estava convicto de que o tipo de hino que uma congregação canta determina o tipo de Teologia/espiritualidade destas pessoas. Caso se queira que esta Teologia/espiritualidade reflita o Evangelho, então, há que se ter em alta consideração e se cuidar muito bem daquilo que está sendo cantado pelas pessoas. Lutero pôs as mãos à obra, cercando-se da ajuda e do conhecimento dos melhores Poetas e Músicos da época, que ele fez questão de escolher a dedo. Lutero e os seus colaboradores não rejeitaram as tradições musicais da sua época. Pelo contrário, de forma genuína e genial, usaram e incorporaram à música das Igrejas da Reforma as práxis musicais existentes! Atentemos para algumas dessas principais práxis.

A música da Reforma Luterana herdou a grande tradição musical da Idade Média e da Renascença, que consistia basicamente da música polifônica e do canto gregoriano. Nestas ricas tradições, praticamente não havia espaço para o canto congregacional de cunho popular. Diferentemente, outra grande tradição musical da época da Reforma, a versão metrificada dos Salmos cantada em uníssono e a cappella (sem acompanhamento), abria vastas possibilidades para o canto congregacional. Nesta tradição, não havia espaço para uma arte musical mais elaborada. Lutero e as gerações de Músicos luteranos que o seguiram nos séculos posteriores fizeram uso de ambas as correntes, combinando a tradição musical mais artística e elaborada com o canto congregacional de cunho popular.

O resultado musical desta combinação foi o Coral Luterano, com os seus textos poéticos centrados no Evangelho e escritos no vernáculo (na língua local) e não mais em Latim, com melodias vigorosas e com saltos e extensões de voz pensadas para o canto grupal, com cadências (pontos de repouso) ao final das diversas frases, com estruturas rítmicas fortes e baseadas em padrões de ritmo recorrentes. No seu conjunto, estas características resultaram em composições musicais em que texto e melodia formam uma totalidade, permitiram que o Coral Luterano fosse percebido como algo familiar e possibilitaram que comunidade, Coros e Instrumentistas se sentissem confortáveis, ´em casa´, enquanto cantavam e tocavam.

Lutero levou adiante a sua reforma na Música, ocupando-se não apenas com resultados musicais finais, como adaptação e composição de novos hinos, escritos sobre Música, publicações de hinários, missas cantadas, etc., mas, como educador que era, preocupou-se igualmente com a base, com a formação e o ensino. Lutero tinha clareza que a Música deveria ser uma parte integral da educação das crianças e da formação de Professores e Ministros e foi inflexível em acentuar essa importante tarefa. Dentre várias das suas falas a respeito, salienta-se: A necessidade exige que a Música permaneça nas escolas. Um Professor deve saber cantar, do contrário não o considerarei. Antes que um jovem seja admitido ao Ministério, ele deve praticar Música na escola.

Martim Lutero agiu diretamente com as instâncias públicas, responsáveis pela educação e formação de lideranças. Em 1524, Lutero escreveu e fez recomendações ´Aos Conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas´, destacando sobre a Música: Falo por mim mesmo, se eu tivesse filhos e tivesse condições, não deveriam aprender apenas Línguas e História, mas também deveriam aprender a cantar e estudar Música. Mais tarde, já pai, ele escreveu ao Reitor Marcus Crodel: Estou lhe enviando meu filho João para que seja incluído no grupo de meninos que serão instruídos em Gramática e Música [...]. E diga a Johann Walther que eu oro por seu bem estar e que confio meu filho a ele para aprender Música, pois eu, é claro, formo Teólogos, mas gostaria também de formar Filósofos e Músicos.

Johann Walther, a quem Lutero enviou o seu filho para estudar Música, é considerado o primeiro chantre (Diretor Musical) luterano e foi um dos grandes Compositores e Poetas da época, além de conselheiro musical e amigo pessoal de Lutero. Em 1538, Walther publicou uma obra em rimas, de cunho didático, intitulada ´Louvor e Exaltação à Arte da Música´, na qual desenvolveu toda uma Teologia da Música. Para esta publicação, ele pediu a Lutero que escrevesse um prefácio. Acompanhando o espírito do escrito de Walther, Lutero escreveu em versos o ´Prefácio a Todos os Bons Hinários´ e, seguindo o costume de Poetas, Pintores e Escultores da época, de representar a Música como uma figura feminina, colocou os seus versos nos lábios da ´Dama Música´ (citado em um fragmento abaixo), exaltando as suas qualidades, expressando a sua admiração e libertando a Música de uma gama de ideias que limitava o seu uso e as suas possibilidades, tendo-a como uma atividade essencial e vivificante na Igreja, uma legitima viva vox Evangelii, a viva voz do Evangelho.
A Dama Música [assim diz]: Dentre todos os prazeres sobre a terra não há maior que seja dado a alguém do que aquele que eu proporciono com meu canto e com doces sonoridades. Não pode haver má intenção onde houver companheiros cantando bem, ali não há zanga, briga, ódio nem inveja; toda mágoa tem que ceder, mesquinhez, preocupação e o que mais atribular não mais oprimem o coração. [...] E, [a música] rainha de todos, rouxinol que o coração de todos alegrará com o seu canto maravilhoso. Por isso, devemos ser-lhe sempre agradecidos. mas primeiro a Deus, nosso Senhor, que por sua Palavra a criou para ser sua própria cantora e da música amante. Para nosso querido Senhor ela entoa seu cântico, em seu louvor noite e dia, a ele eu ofereço meu canto e agradeço por toda a eternidade.

Prof. Dr. Werner Ewald
(formado em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre/RS, Doutor em Etnomusicologia/Musicologia, em Chicago, nos Estados Unidos, trabalha como Professor Adjunto, em regime de dedicação exclusiva, no Centro de Artes-Bacharelados em Música, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), dedica-se à pesquisa na área de Música e imigração, Música e religiosidade e hinologia, é autor e tradutor de livros e artigos sobre Música e etnia, Música e religião e sobre Música e protestantismo em obras nacionais e internacionais, sendo, ainda, integrante da Comissão do Hinário da IECLB)
Fonte: 
Jornal Evangélico Luterano, 2012, outubro - Portal Luteranos

AVIVAMENTO SEGUNDO O AVIVALISTA JONATHAS EDWARDS




Jonathas Edwards, um avido defensor do Grande Despertar, também conhecido como o movimento avivalista da época, estava ciente das preocupações levantadas pelos puritanos da “antiga geração”, como Charles Chauncy. Em julho de 1741, quando Edwards pregou seu mais famoso sermão, “pecadores nas mãos de um Deus irado”, a resposta do público foi tão intensa que ele não conseguiu sequer terminar a mensagem. George Marsden relatou que grande foi o tumulto à medida que a plateia era tomada por gritos, gemidos e clamores: “O que devo fazer para ser salvo? Oh, eu estou indo para o inferno. Oh, o que eu devo fazer por Cristo? ” Pouco dias antes, Edwards pregara em um culto em Suffield Connecticut, onde a resposta também foi igualmente emotiva.
Ao defender o Grande Despertar dos seus críticos, Edwards reconheceu que precisava resolver suas preocupações sobre esses tipos de explosões emocionais. Ele fez isso no final do verão de 1741, lidando diretamente com o assunto na mensagem de cerimônia que ele proferiu na universidade onde estudou, Yale. Mensagem que mais tarde foi publicada com o título “A marcas distintivas da obra do Espirito Santo de Deus”, ele vai explicar que legitimidade de um avivamento não pode ser determinado com base em respostas emocionais, ele vai alegar através da sua compreensível e habitual compreensão logica, que os fenômenos físicos intensos não provam nada, de uma forma ou de outra, acerca da legitimidade de um avivamento.
Ao analisar e expor 1 João 4.1, ele chega à conclusão de que a verdadeira obra do Espirito Santo só pode ser medida com base em critérios bíblicos. A partir daí ele encontra suas “marcas distintivas” do que é e do que não é, ele também vai alegar que existem alguns falsos sinais que parecem ser da verdadeira obra do Espirito Santo, mas na verdade é obra de hipocrisia.
Na época de Jonathas Edwards, os cristãos norte-americanos estavam tentando determinar se o Grande Despertar foi uma verdadeira obra do Espirito Santo. Edwards responde examinando as Sagradas Escrituras afim de fazer tal avaliação. Avaliar questões como estas fundamentados na Palavra de Deus, Escrituras inspiradas pelo Espirito que são atemporais, nos deixam mais confiantes em relação a lisura dos seus resultados.
Iremos a partir de então, de forma objetiva, expor os critérios que segundo Jonathas Edwards, identificam a verdadeira ação do Espirito Santo, como também a hipocrisia das manifestações que visam usurpar a autoridade do mesmo.

1.     Ele deve exaltar o verdadeiro Cristo

O verdadeiro mover do Espirito Santo exalta única e exclusivamente a Cristo, ele acende os holofotes para o salvador, apontando e distinguindo dos falsos mestres e profetas que diminuem e distorcem a verdade sobre ele. O texto bíblico é claro, se alguém prega uma falsa versão de Jesus, assim como os gnósticos da época de João, esta pessoa é um falso profeta e seu ministério não vem de Deus. Edwards vai afirmar:

“Quando o espirito que está operando entre o povo for visto agindo de tal forma que aumente o respeito das pessoas por Jesus, que nasceu da Virgem Maria, e foi crucificado fora dos portões de Jerusalém; e parece estar confirmando mais e estabelecendo em suas mentes a verdade daquilo que o evangelho nos diz sobre ele ser o filho de Deus e salvador dos homens; este é um sinal claro de que esse espirito é o Espirito Santo. ”

O glorioso proposito e prioridade do Espirito Santo é conduzir pessoas a Jesus Cristo. Como o próprio Jesus vai nos ensinar: “O Conselheiro, o Espirito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu disse. [...] Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” qualquer ministério ou movimento que o Senhor autorize terá a mesma prioridade e clareza.
Muitos meios carismáticos e neopentecostal, fixam suas atenções nas bênçãos e nas dadivas do Espirito Santo, obscurecendo o foco em Cristo e na sua obra redentora no calvário, preferindo refletir sobre suas próprias experiências no movimento.
O Espirito opera na igreja para que os homens possam ver Jesus como Senhor, reconhecendo a sua autoridade e submetendo-se a sua vontade (1 Co 12.3; Fl 2.9-13). Ele não só dirige a nossa atenção ao Senhor como nos ajuda a ser imagem dele. O Dr. Martyn Lloyd-Jones declara:

O Espirito não glorifica a si mesmo, ele glorifica o Filho [...] Esta é, para mim, uma das coisas mais surpreendentes e notáveis sobre a doutrina bíblica do Espirito Santo. ”    


2.     Ele deve se opor ao Mundanismo

Dentro de boa parte do contexto carismático, quase todas as experiências subjetivas são interpretadas como mover do Espirito Santo. Apesar do que é comumente enfatizado nos círculos carismáticos, a evidencia da genuína influência do Espirito Santo não tem a ver com prosperidade material, emocionalismo irracional nem tão pouco supostos milagres montados. Tal mover tem a ver com a santificação verdadeira que produz crescimento cristão e maturidade espiritual.
Quando um movimento é caracterizado por propriedades mundanas e atividades carnais, está em desacordo com a vontade de Deus, mas quando ele atua contra os interesses do reino das trevas, que está incentivando e estabelecendo o pecado e aprecia as paixões mundanas dos homens, isto é um sinal claro de que é um verdadeiro, e não um falso espírito. A verdadeira obra do Espirito Santo não seduz as pessoas com atividades vazias ou os desejos da carne; em lugar disso, promove a santidade pessoal e resiste aos desejos mundanos.
É sabido que impropriedades financeiras e falhas morais podem surgir ao longo do tempo, mesmo na mais sólida das igrejas. Mas alguém poderia pensar que tais escândalos deveriam ocorrer com menor frequência e não com tanta, entre aqueles que afirmam ter alcançado níveis mais altos de espiritualidade. É aí que reside a cerne do problema. Ao definir a “espiritualidade” em termos de sinais prodígios e experiências espetaculares e permitindo que o materialismo grosseiro do evangelho da prosperidade floresça dentro de suas fronteiras, o movimento carismático tem negligenciado o caminho do verdadeiro crescimento espiritual. Padrões falsos de espiritualidade não são capazes de coibir a carne.
Uma verdadeira obra do Espirito produz santidade na vida das pessoas. Quando a liderança de um movimento é continuamente manchada por escândalos e corrupção, isso coloca em questão as forças espirituais por trás dele. O Espirito Santo está ativamente envolvido em santificar seu povo, capacitando-o para combater a carne enquanto se torna semelhante a Cristo. Desejos carnais desenfreados, por outro lado são características dos falsos mestres (1 Pedro 2. 10,19).

3.     Ele deve conduzir as pessoas as Escrituras

Uma terceira marca distintiva de uma verdadeira obra do Espirito Santo é que ela direciona as pessoas para a Palavra de Deus. Jonathas Edwards explicou: “Esse espirito que opera de tal forma a ponto de levar os homens a respeitar mais as Escrituras Sagradas, e melhor defini-las em sua verdade e divindade, é certamente o Espirito de Deus. ”
A Bíblia revela uma ligação inseparável entre o Espirito Santo e as Escrituras que ele inspirou (2 Pedro 1.20-21). Os profetas do Antigo Testamento foram movidos por ele para predizer a vinda o Senhor Jesus Cristo (1 Pedro 1.10-11; Atos 1.16; 3.18). Os apóstolos foram igualmente inspirados pelo Espirito para compor os Evangelhos e para escrever as cartas do Novo Testamento (João 14.25-26, 15.26).
Quem é a fonte de poder por trás da revelação bíblica? Se olhar-mos para trás, para o relato de Pedro na transfiguração, vemos que ele responde a essa pergunta apenas dois versículos depois: “A profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espirito Santo. ” (2 Pedro 1.21 ARC). Quando nos submetemos a Palavra de Deus como autoridade, estamos nos submetendo ao próprio Espirito, pois ele inspirou cada palavra nela contida. Nenhum verdadeiro trabalho do Espirito irá contradizer, desvalorizar, ou adicionar nova revelação as Escrituras (Apocalipse 22.17-19). Em lugar disso, elevará a verdade bíblica nos corações e nas mentes dos cristãos.


4.     Ele deve promover a Verdade

Em 1 João 4.6, o apostolo João escreve simplesmente: “ Desta forma reconhecemos o Espirito da verdade e o espirito do erro. “ O Espirito Santo, que é definido pela verdade está em um contraste gritante com os falsos espíritos de ilusão que se caracteriza pelo erro e pela falsidade. Quando um movimento espiritual é conhecido por defender uma teologia fundamentada, denunciando os falsos ensinos e desprezando uma adequação superficial, estes são fortes indícios de que é uma verdadeira obra do Espirito Santo. Por outro lado, os cristãos devem ser cautelosos com qualquer sistema religioso que ignore a sã doutrina, propagando falsidade, ou sente-se feliz em endossar um compromisso ecumênico.
Os carismáticos reconhecem que uma queixa comum contra eles é que “primeiro eles experimentam algo e em seguida, depois do fato ocorrido, vão as Escrituras em busca de uma justificativa para o que aconteceu com eles.”
Um desses autores diz o seguinte: “ Não assuma o controle, não resista, não analise a experiência mais tarde, renda-se ao amor.” Mas isso é ser completamente negligente. Devemos começar com a Palavra de Deus, permitindo que uma verdadeira obra do Espirito Santo prospere com a sã doutrina. Ela promove a verdade bíblica; não rejeita ou vê como uma ameaça. Uma vez  que a experiência tem a permissão para ser o teste decisivo para a verdade, o subjetivismo se torna dominante e nem a doutrina nem a pratica é definida pelo padrão divino das Escrituras.
Boa parte dos movimentos carismáticos pós modernos minimizam a doutrina pela mesma razão que despreciam a Bíblia: eles acham eu qualquer preocupação com o atemporal, com a verdade objetiva, sufoca a obra do Espirito. Eles visualizam o ministério do Espirito como algo totalmente livre, infinitamente flexível, tão subjetivo quanto desafiar a definição.
 Essa é uma afirmação chocante. Na realidade, a única coisa que reprime a boa teologia é o erro, é por isso que a sã doutrina é o único grande antidoto para os desvios carismáticos. Lembre-se, o Espirito Santo é o Espirito da verdade (João 16.13) qualquer obra dele elevará a verdade bíblica e a sã doutrina nos corações e nas mentes do povo.


5.     Ele produz amor a Deus e ao próximo

Jonathas Edwards articulou o quinto e último teste afim de avaliar qualquer movimento espiritual: uma verdadeira obra do Espirito aumenta o amor das pessoas a Deus e aos outros. Edwards tirou esse princípio de 1 João 4.7-8. O principal fruto do Espirito é o amor (Gálatas 5.21), se existe amor verdadeiro é evidencia de uma genuína obra do Espirito Santo.
Uma verdadeira obra do Espirito produz o amor a Deus que se expressa em adoração e louvor sensatos. Esta é a definição de adoração bíblica. A adoração é uma expressão de amor a Deus e, portanto, por sua natureza, envolve a alma. A maioria dos cristãos entende isso, pelo menos de uma forma rudimentar.
O tipo de louvor que o Pai procura não é uma cacofonia de desordem sem sentido. A adoração não são meros delírios e sentimentos. “É necessário que seus adoradores o adorem em espirito e em verdade” (João 4.24).
Jonathas Edwards afirma que a verdadeira adoração bíblica deve conduzir as pessoas “a pensamentos elevados e de exaltação do ser divino e de suas gloriosas perfeições, trabalha neles uma admiração, uma agradável sensação da excelência de Jesus Cristo. O efeito é que nos tornamos pessoas inteiramente novas.
Muitos entusiastas do movimento carismático moderno não concordariam com os princípios de avaliação de Jonathas Edwards, e não queremos colocá-lo como uma autoridade infalível para determinar tais movimentos e mistérios espirituais, mas quando lembramos o que as Escrituras dizem sobre o lugar essencial da verdade no culto que honra a Deus e comparamos com a natureza caótica e desenfreada  de certos movimentos carismáticos, ou quando colocamos a definição do amor da Escrituras ao lado da ênfase egoísta inerente a teologia carismática, serias questões surgem.
Precisamos desenvolver uma espiritualidade fundamentada nas Escrituras Sagradas e não em nossas experiências sobrenaturais. O Espirito Santo só se manifesta através da exposição bíblica genuína. Estamos vivendo um mover muito, místico, mítico e magico, fora da realidade do nosso proposito como servos do Senhor. Precisamos voltar ao primeiro amor e a pratica das primeiras obras com o objetivo de produzirmos frutos dignos de arrependimento.



       DEUS VOA ABENÇOE!!   

Fonte: Livro Fogo Estranho