GENESIS, CAPÍTULO 1 - UMA INTRODUÇÃO A EXEGESE DO TEXTO



O relato de Gênesis, cap. 1 é um "todo" identificado. Já observa-se isto no início do vs. 1: "No princípio criou Deus os céus e a terra". Este todo identificado é um recurso característico da poética hebraica. Logo, os dias em Gênesis não significam muito, literalmente...
Infelizmente, este recurso tornou-se pouco conhecido por aqueles que defendem a religião cristã, em todas as suas facetas.. mas, nem sempre foi assim. Atualmente, o acesso à informação tem proporcionado um redescobrimento desta e de outras informações pertinentes inclusive de leigos no assunto.
O problema cosmológico ficará melhor entendido quando observamos capítulo 2, vs. 4 de Gênesis: "Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o SENHOR Deus fez a terra e os céus". O termo "yom" (dia ou era), presente nos dois capítulos, indica a dificuldade: São "7" ou foi "1" de Criação...
Quando se entende algo de hebraico, e se compreende algo sobre poética hebraica, observa-se que o autor está falando de períodos de tempo intrínsecos, convergentes, e que jamais pode-se entender de acordo com os padrões da atualidade.
Quando vejo alguém, por exemplo, dizendo que isto é uma "contradição", de imediato percebo que tal indivíduo não tem, com certeza absoluta, o conhecimento que muitas vezes alega possuir.
Pois, o autor ou editores do primeiro livro da Bíblia, tinha ou tinham de ser muito relapso(s) para não ver(em) que no primeiro capítulo há 7 "yom" e no capítulo 2, há 1 "yom".
Obviamente isto foi visto, e o que disseram está certo!!.... Errado, com infinita maior probabilidade, é o que nós muitas vezes temos interpretado, hoje.... (aquela conversa do conhecimento que fica esquecido, em muitos meios cristãos, e é mal trabalhado...).

Quando nós observamos os três primeiros dias da criação, de Gênesis, vemos que a ordem é:
Luz - 1º Dia
Separação das águas sobre o firmamento (céu) - 2º Dia
Separação das águas e da terra e criação das plantas - 3º Dia

Os outros 3 "dias" da Criação estão assim relacionados:
Lumiares no céu - 4º Dia
Anfíbios, peixes e aves - 5º Dia
Animais terrestres e o homem - 6º Dia
Há uma correlação (observável na poética), que chamamos de "paralelismo" nas idéias do autor do livro primeiro da Bíblia. Como o hebraico é escrito da direita para a esquerda, na superestrutura literária da narrativa, percebe-se que o mais importante no texto é o que ficará "embaixo", sendo o ápice (que seria o dia 7º da Criação, ou o descanso de Deus). A relação pode ser melhor vista quando esboçamos:

Luz - 1º Dia ---------------------------------------- Lumiares no céu - 4º Dia
Separação das águas - 2º Dia ---------------------------- Anfíbios, peixes e aves - 5º Dia
Separação águas/terra e criação das plantas - 3º Dia -- Animais terrestres e o homem - 6º Dia
"Descanso" - 7º Dia → O ápice da Criação

Logo, em termos de poética hebraica, a superestrutura do texto segue uma linha de paralelismos que culminam no dia 7º, o dia do "Descanso", o mais importante de toda a criação. O "todo" identificado, portanto, é uma correlação lógica inspirada ao autor de Gênesis mostrando sentido, propósito à Criação, mostrando que a Criação é fruto de inteligência, de mente. Este é o propósito de Gênesis; tudo o que se infere do livro, hoje, é especulativo e não vai fazer jus ao mesmo, pois para o(s) seu(s) autor(es) não havia quaisquer tipos de paradoxos ou contradições ou problemas cosmológicos... isto existe para os céticos, na atualidade.

Assim, o autor de Gênesis diz, em sua cosmovisão da Criação, no capítulo 2:4 "...Esta é a gênese dos céus e da terra no dia em que o Senhor os criou". Ele está falando de um merisma, um todo unificado, e a sequência (que pode, inclusive, indicar uma simultaneidade - esta, de acordo com alguns bons estudiosos, é o mais provável!!!), nada vale...

Logo, não "importa", na poética hebraica, se foram 1, 6, 7 ou 3 dias (pela correlação!), mas o fato de a Criação apontar para um dia de descanso, um número que viesse a representar o fim de uma obra... um número que se ajustasse ao calendário (fizesse sentido), às luas novas (o calendário hebreu é lunar), à agricultura, etc.. a base de todo o sistema de contagem do tempo.. uma semana de 7 dias (observe que os Mayas, por exemplo, chegaram à mesma conclusão, com um calendário cerca de 30 ´´ mais preciso do que o nosso, aparentemente sozinhos... e não somente os Mayas, mas inúmeros outros povos antigos, com suas gêneses girando em torno do número da semana, ou de ciclos de precessão, ou baseados em ciclos lunares, etc).

A base de todos estes sistemas é uma semana de 7 ou 3 dias: Os dois números estão presentes na cosmovisão do primeiro livro da Bíblia, seja numa contagem linear, seja (impressionantemente) na correlação lógica da poética hebraica com o paralelismo de dias. Isto ainda é reforçado pelo versículo 2 do capítulo 2: "E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito". Aqui, o autor diz que terminou "no dia 7", ou seja, no número que completa a obra.

Isto, obviamente, é metafórico... Se é metafórico, não se deve entender as "tardes e manhãs" dos "dias" da Criação de forma estritamente literal, pois incorremos paradoxos sem resposta. Na poética, portanto, a metáfora e a narrativa devem ser assimiladas e seus sentidos levadas em consideração.

Em Cristo Jesus
Pr. Artur Eduardo